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Poderia começar este soneto com o seguinte adágio - um dia plasma, no dia seguinte papel higiénico. De uma vez por todas, para que não apareçam todos com cara de espantados e a equivalente expressão estampada na face "não sabia de nada", talvez seja o momento, embora já com um atraso enorme, para efectuar o inventário exaustivo de TODOS os contratos firmados por todos os governos de Portugal. Dêem um nome à coisa; auditoria do Estado, fiscalização continuada dos contratos firmados pelo governo, mas por favor evitemos as novelas sem fim. Para cada plasma corrompido deve haver material requisitado a outras mono-entidades. O problema fundamental prende-se com o seguinte. O regime político vigente em Portugal assenta no clientelismo, que se em tempos fora discreto, nos últimos tempos assumiu a forma descarada, sem vergonha, despudorada. Sabemos sempre à priori que nunca há culpados nem responsáveis. São coisas que acontecem. A matriz cultural do país aponta no sentido da normalização dos desvios e extravios. E essa "norma" comportamental afecta todos os quadrantes da realidade. Monopólios há muitos. Existe o monopólio do emprego dado ao sobrinho pelo director da empresa pública. Existe o monopólio dos restaurantes que ganham as estrelas Michelin. Existe o monopólio de um certo local onde é possível dar um jeito a processos burocráticos. Existe o monopólio do humor que está nas mãos de certos intervenientes que querem corrigir com uma mão a borrada feita pela outra. Existe o monopólio do agenciamento de jogadores de futebol. Existe o monopólio de grupos editoriais que dominam os manuais escolares. Existe o monopólio de críticos literários que tornam os seus amigos escritores muito mais apetecíveis. Enfim, existem monopólios sem fim que mataram a ternura e a inocência daquele jogo de tabuleiro que, bem vistas as coisas, afinal era uma ferramenta para transformar indíviduos e sociedades em meras entidades cínicas dispostas a trocar fichas humanas em nome do lucro fácil. A maralha toda que faz parte deste conluio de favores e recompensas não passa de agiotas. Venha de lá aquele programa para debater os prós e contras do plasma. Já chega.