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Anda por aí um argumento tão torpezinho entre a malta urbano-social que até me causa suspeitas sobre uma eventual pandemia de autismo selectivo.
Num proto-debate acerca do suicídio de um rapaz que foi vítima de bullying (aquela prática de andar à porrada na escola, agora tão obsoleta como trepar uma árvore, jogar à bola na rua, interpretar uma notícia ou encaixar bocas parvas sem ir a chorar para casa) um moço, por sinal advogado da causa LGBT (mas não deve ter nada a ver, isto sou eu que vejo conspirações e relações de causa-efeito que mais ninguém vê), perguntava-me se eu achava justo (sic) que uma pessoa levasse estalos de outras, associadas entre si ou não, e o que sugeria eu como solução para esse caso.
Já não sei dizer com exactidão o que respondi, porque estas parvoíces emanadas de aleivosos ensimesmados sem vida externa normalmente perdem-se nos meus canhenhos ao fim de dois dias. Em traços largos devo ter dito que a morte não é justa, e que por isso talvez devêssemos pedir ao Estado que interviesse junto do Ceifador no sentido de assegurar (regulamentando, certificando, quiçá até com sanções) a sua actividade.
Quanto à sugestão que me pedira, alvitrei que o mais prático, elegante e naturalmente humano seria devolver os estalos dados, com o auxílio de pedras, paus, ou quaisquer outros artefactos que estivessem à mão, até os agressores se reduzirem à sua expressão mais pura: um bando de cobardes em matilha, tentando produzir mais cobardes - intento que, diga-se de passagem, esta sociedade de enconados e igualitario-dependentes se arrisca a promover.
Para meu desespero, o tipo respondeu-me que "isso geraria um ciclo de violência que não é natural". Indiquei-lhe alguns livros de John Keegan, e vim-me embora podar citrinos.
Como é por demais evidente, qualquer pessoa de bem apresentaria as suas condolências à família, e não deixo de fazê-lo.
Entristece-me contudo que uma imensa maioria de pessoas - a quem, não esqueçamos, é conferido poder de voto - pareça pensar hoje que o combate a tragédias como esta passa por intensificar a infantilização e a dependência do cidadão face ao Estado e às Instituições, quando o naturalmente desejável seria libertá-lo desses atavismos e devolver-lhe a faculdade de pugnar por si mesmo, cada vez mais estigmatizada num mundo onde imperam os néscios e os medíocres, a quem sobretudo interessa a globalização do rebanhismo.
Ainda leremos gente de esquerda (José Vitor Malheiros, Paulo Querido, a Câncio ou equivalente) escrever coisas como "os agressores viverão para sempre com a culpa", argumento que foi usado para defender o aborto livre ("nenhuma mulher aborta de ânimo leve"), como se a) alguém pudesse saber quantos - se alguns - escrúpulos habitam a cabeça destes animais de alcateia, e b) não houvesse por aí milhares de gajos a maltratar a família inteira e de gajas a deitar bebés para o caixote do lixo, sem o menor remorso.
É o novo normal.