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Mas não deixo de, tal como o Miguel, constatar as falhas gravíssimas de um tão mitificado poder local, ainda que discorde da solução proposta pelo Miguel para uma situação que, na realidade, mostra em toda a linha uma enorme falha da sociedade portuguesa em formar e preparar elites para a gestão da coisa pública. No fundo, o que quero dizer é que não é por sermos democratas e exercermos o nosso direito de voto que temos de deixar de reconhecer e criticar as falhas do regime democrático.
Miguel Castelo-Branco, Certamente que não voto para as autárquicas:
«Que me lembre, já não voto para as legislativas desde 2005 e para as chamadas autárquicas desde 1997. Para as presidenciais - por as considerar feridas de nulidade por usurpação - nunca votei. Durante muito tempo, pela minha formação, considerei as eleições autárquicas as mais relevantes e verdadeiras, posto serem emanação das realidades locais e darem voz a essa entidade mítica que dá pelo nome de povo. Contudo, foi corrigindo a minha teimosa ingenuidade a respeito desses micro-estados que dão voz, presença, micro-poder e dinheiros a uma constelação de pequenos interesses, pequenas ambições, pequenas habilidades e enorme impreparação. Hoje, tendo presente o triste historial desse "poder local", miniatura do regime dos partidos, das comanditas e redes clientelares que chega a superar em perversidade a matriz inspiradora, julgo que a administração local é assunto demasiado sério para repousar em mãos amadoras. A gestão dos assuntos locais devia - não temo a provocação - estar integrada na administração pública preparada, isto é, profissionalizada, trabalhando por objectivos, avaliada, fiscalizada; ou seja, devia ser uma carreira confiada a quadros superiores do Estado. O poder local centuriou e feudalizou a geografia portuguesa, não exprime qualquer realidade social, não promove nem forma uma elite local, não é racional nem eficaz. É, tão só, um agente empregador de base destinado a alimentar milhares de amigos, familiares, protegidos, satisfazendo o estrato mais baixo das lideranças partidistas.»
Não contentes em diluir o estipêndio na infinita pool de imberbes que o alimenta, vem o Estado estuporar os meus impostos no sustento de acólitos a tresandar a cueiros por todos os ângulos.
Via Gremlin Literário, o horror bureau-onanista em toda a sua nefanda extensão.
Votai e pagai, pécoras.
Leitura complementar: um Bruno pagava metade disto.
Digo que desisto de escrever, e daí a pouco cá vai outro postaleco. Que era o último capítulo do calhamaço que é o poder local....; mas um comentário da Si faz-me voltar à liça: " Pena é que estas conclusões só se tirem de 4 em 4 anos e que depois delas volte tudo ao mesmo. Mas não tenhamos vergonha do nosso país."
É impossível não concluirmos por aí todos os dias. O problema é a nossa impotência: o que fazer com a nossa revolta, quando vemos o que fazem ao país criado por Grandes como estes?
Só podemos insultá-los, mentalmente.
Descaracterizam-no, fazem dele, que é um sítio naturalmente bom e bonito, um lugar mau e feio. E tudo isto nos custa, além do mais, muito dinheiro...
Não é bem vergonha, Si, é tristeza. É vontade de chorar.
E último. Porque, quando olho à minha volta, vejo tanta lama, tanta chantagem descarada, pessoas que se vendem por um prato de lentilhas, que a única coisa que tenho para dizer é que tenho vergonha de viver neste país.