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Pois é assim mesmo. Sempre que vota, ordena. Votou, ordenou. Os grupinhos mais excitados que esperem pelas próximas eleições.
Da tomada de posse do governo todos retiveram algumas promessas, umas poucas que foram interiorizadas pela população. A primeira consistiu na simbólica questão das "férias" e todos pensaram que a gente da nova maioria ia dar o exemplo - mesmo que bacoco fosse - ao prescindir do chapinhar à beira mar e prestar-se a ficar nos gabinetes de trabalho. Qual quê...ao fim de dois meses, já estão a banhos!
A segunda jura solenemente anunciada, consistiu na famosa renúncia ao alijar de culpas para outrém. Pelo que se tem visto nas últimas semanas, as boas intenções estão bem enterradas e voltámos ao normal ciclo da intriga, mentira descarada e falta de circunspecção, como por exemplo, um Ministro das Finanças que convoca uma conferência onde todos esperam anúncios à redução de despesa e sai-nos um aumento de impostos! Agora, no preciso dia em que um vigarista universal puxa os seus mafiosos cordelinhos, o Sr. Aguiar Branco pega nas serviçais Forças Armadas e coloca-as qual pedra na fisga, atirando-as para a trincheira do combalido PS. O Sr. Santos Silva responde à letra.
Definitivamente, esta gente não aprende. Entretanto, no meio desta desilusão, uma entrevista que convém ler, quase podendo imaginar alguns ditos em entrelinhas. Tentem fazê-lo.
Ainda não percebemos se se diz "viquiliques" ou "uiquiliques". Até agora, o chinfrim da roda-dentada dos media, chega pelos bons ofícios dos habituais círculos da teoria da "conspiração yankee-sionista" que além de devoradora de recursos naturais alheios, é perita em espiolhar vida intra e extra planetária. Cúmulo dos cúmulos, os americanos atrevem-se a tecer todo o tipo de considerações acerca de gente tão finamente cinzelada à Cellini, como os senhores Berlusconi, Putin, Sarkozy e sucedâneos mais ou menos cavaqueiros.
Foi uma farra ao estilo B.E. e pelos vistos, está a chegar ao fim. Sendo boas-novas provenientes de sectores da política e da finança norte-americana, espera-se sempre uma informação logicamente respeitante aos sucessos além fronteira, mencionando nomes e factos dignos de comentário por parte de diplomáticos croqueteiros enviados por Washington.
Voltando aos até agora risonhos devoradores de caviar, a tagarelice consistiu num apressado erro de cálculo, pois se à primeira vista, as compridas e afiadas línguas do Departamento de Estado involuntariamente comprometeriam a sempre atacada reputação da potência dominante, agora dá-se uma sensível mudança nas papilas gustativas.
Há uns dias, saíram novidades acerca de "dinheiros" do assunto da barragem de Cabora-Bassa. Pelos vistos, os libertadores também recebem saguates* e ficámos sem saber, se por cá alguém também beneficiou de "fundos perdidos ou compensatórios". Hoje, chega também a notícia do depósito da módica quantia de 9.000 milhões, na conta bancária do sudanês sr. Al-Bashir.
Mário Soares anda atento e não vá o diabo tecê-las, já cava trincheiras, dispõe da artilharia em losango e liga os radares, colocando o dispositivo defensivo em alerta máximo. Ao Público, declara que..."curioso é que tudo aquilo que se passa e tudo aquilo que se diz nada é contra a América, é tudo contra os outros”. Assim, num ápice, estes "expressos de fim de semana" começam a dar boa conta dos inerentes perigos que as espiolhadas informações poderão representar. Um dia destes, talvez teremos o prazer de ouvir o Dr. Almeida Santos, numa das suas proverbiais e digestivas sentenças edificantes, pós-jantarada com militantes. Com ainda mais uma posta de sorte, talvez até saberemos mais outras tantas inconfidências acerca deste alegado "co-irreponsável" do estado a que chegámos.
Afinal, tudo isto não passa de mais uma "pérfida, calculista e vergonhosa campanha dos agentes do imperialismo", enfim, da CIA. Sempre coerente e agora surpreendentemente alinhado naquilo que há uns dias aqui dissemos, Mário Soares não augura "que seja nada de muito bom”.
O problema é que por estas bandas, começamos a augurar que talvez seja algo de bom e talvez mesmo, algo de muitíssimo bom.
Como diria Soares, "õ cómance á dãcê uiquiliques!"
*Recompensa, "à moçambicana"
Depois de uma semana por Kiev, cidade que, confesso, não deixa muitas saudades, principalmente tendo em consideração a responsabilidade dos soviéticos na destruição do património histórico que a Kiev de tónica mais imperial tinha, volto a Portugal e continuo com o mesmo sentimento que já me vem assolando há algumas semanas, no que diz respeito a comentários e análises à actualidade: estou sem paciência.
Estando a trabalhar durante o dia, tendo aulas de mestrado à noite (que para mim só começam amanhã), e com muito trabalho pela frente ao longo do próximo ano, confesso que a boçalidade que caracteriza a vida pública do país se tem tornado demasiado atroz para que me digne sequer a desperdiçar o pouco tempo que me resta a comentar seja o que for. Ainda bem que o período eleitoral está terminado. Já estava a ser demais tanto espectáculo de uma pobreza franciscana, que em pouco ou nada ajuda o país.
Acrescente-se a isto as leituras de cabeceira dos últimos tempos, que, de facto, só alimentam este sentimento. Um, Pulido Valente, dá-nos um excelente retrato que permite perceber como tem vindo a funcionar o país desde 1820 (Portugal - Ensaios de História e Política). Outro, Medina Carreira, proporciona-nos uma ilustração fiel do abismo para onde nos vamos paulatinamente dirigindo (Portugal Que Futuro?).
Qualquer sentido de desinteressado serviço público, ao país e à nação, está condenado ao fracasso no contexto de degenerescência acentuada em que nos encontramos. Em grande parte fruto de uma questão cultural e educacional, como aponta Medina Carreira. Já Popper, quando se começou a aperceber da forma como o relativismo estava a afectar negativamente as democracias e os seus sistemas educacionais, tentou relembrar que a maior aspiração da democracia sempre foi a de elevar o nível educacional. Infelizmente, como tantas vezes por aqui tenho escrito, não é o que se verifica em Portugal, o que só acresce aos mais ridículos debates político-partidários a que podemos assistir quase todos os dias.
Sou um democrata e um liberal por definição, no que diz respeito a ideais, mas não posso deixar de reconhecer que a democracia portuguesa é cada vez mais, apenas e só, a demagogia de uma série de indivíduos que vão (des)governando a nação, justificando-se com a ditadura da maioria. Nada que não se pudesse antecipar, dada a democracia de inspiração jacobina que temos em Portugal. E isto exaspera-me.
Junte-se a isto o facto de sentir que muitas vezes me estou a repetir, e que preciso de usar o pouco tempo disponível para ler muito, para estudar, para reflectir, e cada vez tenho menos disposição para comentar seja o que for. Às tantas já nem sei bem o que ando aqui a fazer. Espero que as aulas do mestrado em Ciência Política me dêem novo alento para voltar a sentir aquele gosto pela escrita blogosférica que até há uns meses me animava. Até lá, peço desculpa aos amigos e leitores mas não ocuparei muito tempo a comentar a actualidade política portuguesa. Remeter-me-ei, no essencial, à política internacional e à teoria política, quando me parecer pertinente. Talvez esteja mesmo é a precisar de férias.