Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Com uma indesejável frequência, muitos dos que pastoreiam a nossa bela nação escudam-se no realismo para tentar justificar o que muitas vezes não tem justificação, em especial em matéria de política externa. Mas como, na verdade, desconhecem o que seja o realismo em política externa, ainda não aprenderam com britânicos e norte-americanos - os que mais teorizam e praticam o realismo em política externa - que lá porque seja conveniente termos relações e negócios com países com regimes políticos pouco recomendáveis, não quer dizer que tenhamos de ser capachos destes países ou, pior ainda, dedicar-lhes encómios. Aliás, nestes casos, aquilo a que o realismo obriga é a uma certa discrição - ou, mais prosaicamente, a saber que, o mais das vezes, o melhor é mesmo ouvir, ver e calar.
A onda de violência anti-ocidental que se estende já à Índia e contra representações do Reino Unido e da Alemanha recorda-nos a tensão latente que se vive desde há anos, e que explode por qualquer pretexto: cartoons, rumores de profanação de exemplares do Corão ou agora este estúpido filme amador colocado no Youtube. Com a agravante de agora os sectores radicais estarem no poder no Egipto, Tunísia e Líbia. E mesmo nos países onde não estão, os governos estão numa posição delicada por não quererem indignar a opinião pública, e estão receosos de reprimirem as manifestações com o grau de violência necessário, depois do que aconteceu aos regimes derrubados no ano passado. Isto era perfeitamente previsível e veremos até onde este processo irá.
Em Portugal, temos tendência para esquecer que, a seguir a Madrid, a capital mais próxima de Lisboa não é Paris mas sim Rabat e a seguir é Argel. O Norte de África é uma realidade que nos é muito próxima e cuja instabilidade nos pode afectar, à qual devemos estar atentos. E existe uma corrente no mundo islâmico (e não apenas entre os radicais) que reclama a reconquista do sul da Península Ibérica anteriormente sob domínio muçulmano, o Al Andaluz. Portugal mantém boas relações com Marrocos e Argélia mas nunca se sabe o que é o futuro, como as mudanças no ano passado demonstraram.