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E aviões anteriores a 1996 podem continuar a infestar os céus de Lisboa com ruído e gases poluentes?
A partir de amanhã deixam de poder circular na zona central de Lisboa automóveis com data de matrícula anteriores a 2000 e 1996 - os segundos com uma restrição de área maior. Com esta medida - que se deve a razões ambientais - milhares de pessoas que por razões profissionais ou familiares precisam de usar o seu automóvel nas suas deslocações diárias vão ter de deixar de o fazer se não tiverem meios para financiar uma viatura mais recente. Como uma desgraça nunca vem só, para agravar a situação os seus automóveis anteriores a 2000 desvalorizarão até ao valor de uma bota velha.
Este tipo de medidas ambientais que obrigam a deitar fora o automóvel velho e comprar o novo são sempre bastante questionáveis, uma vez que o aproveitamento de materiais recicláveis de um automóvel é uma pequena fracção do seu peso total, o que faz com que o custo ambiental do abate de uma viatura antiga seja na realidade bem maior do que a sua manutenção, mesmo apesar da sua emissão de partículas para a atmosfera (veremos que medidas terão os ambientalistas para a proliferação de ferro-velho, ou pior, plástico velho).
Mas há outra solução com vista à redução de emissões? Há. A medida adoptada por outras cidades europeias, tais como Atenas, que limita a circulação de viaturas a x dias por semana consoante a sua matrícula (algarismo par ou ímpar) é mais justa, porque é transversal a todos os automóveis, independentemente da sua gama ou data de matrícula, não afectando apenas os condutores que não têm dinheiro para comprar carro novo, ao mesmo tempo que limita o número de automóveis na cidade e, consequentemente, reduzindo emissões. Pode até dizer-se que a medida grega é até mais socialista, se bem que o "socialismo" para António Costa é um pouco como as sondagens, isto é, há para todos os gostos e vale o que vale.
(Momento de Civilização, de Nuno Castelo-Branco)
Um poema da autoria de Beatriz Oliveira, declamado por ocasião do Open Slam Jam, que teve lugar no Espaço Grooveart, a 27 de Janeiro, em Lisboa:
Poluição
Venha o cheiro e ouvido de outros homens
Venham melhores, menos fatais... normais
Venham compreender essas lâminas de ar com rosto de pessoas, que nos atravessam
Sol e tempestade, é igual, venham direitos, distraídos, de barro ou de cristal
Mas venham, sim venham...
Sossegados.
Para poluir eles cá estão,
Povo de ilusória sanidade
Vivendo cheio de medo, enredo
Sociedade sem som, sem suor.
Venham sempre pedindo,
Um Bocage e mais outros cinco
Que o poeta só polui a própria alma.
Sarcástico humor o da Natureza,
Venha ela para mostrar e despachar
Que é melhor que todos nós
Quando ela se calar, o poeta perde o amar.
Venham agora tapar olhos e ouvidos em caudais de pessoas inocentes
Poluam mentes em guerras, em religião também e construam mares de sangue,
Sejam entao felizes no meio de uma esfera de demência e tendência
Que o ar é de todos
e os amores também...
Digam então, que a razão
não existe senão
que todo o fim seja são, então
que tenham o mundo na mão....
Para poluir eles cá estão,
Povo de ilusória sanidade
Digam que é Poluição....
Beatriz Oliveira