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Dia 25 de Maio abre oficialmente em todo o país a caça ao coelho. Excepcionalmente a caça permanece aberta até final de 2015, sem defeso.
Admite-se igualmente a captura, também sem limite, de outras espécies e pragas, como a troika, mas sempre dentro de portas.
Parece que, em alguns meios da opinião publicada, Rui Rio foi erigido, repentinamente, como o novo messias da política portuguesa. Lamento desapontar-vos, mas Rui Rio, por enquanto, terá, forçosamente, de ficar recluído à espera de que piores dias venham. Sim, é certo que o PSD perdeu espaço político, ao deixar escapar de forma clamorosa algumas das principais edilidades do país, sem esquecer a verdadeira débâcle eleitoral sofrida na região do soba Jardim. Sim, é certo, também, que a partidocracia nacional sofreu um forte abalo, que não se limitou, note-se, ao PSD de Passos. Contudo, fazer destes resultados uma espécie de clamor subterrâneo pela ascensão política de Rui Rio ao leme da nação, cheira demasiado a bafio, a um bafio que eu julgava já extinto. A culpa não é, certamente, de Rui Rio, aliás, o ainda presidente da Câmara Municipal do Porto tem estado, diga-se a abono da verdade, bastante silente, porém, há certos papagaios regimentais que não aguentam, por mais que a realidade lhes dite o contrário, a legitimidade das urnas. Que Deus lhes perdoe as manigâncias. Entretanto, eppur si muove, o CDS, brilhantemente guiado por Paulo Portas, obteve um excelente score eleitoral, tendo em conta que, antes destas eleições, o partido era o parente pobre do poder local. Os centristas conquistaram 5 câmaras, ganhando, com isso, um alargamento da sua influência política nos municípios portugueses. O PS de Seguro, que Manuel Alegre, num acesso de "a mim ninguém me cala", qualificou como o grande vencedor da noite, foi, na verdade, um vencedor muito frouxo, aliás, frouxíssimo, o que, em bom rigor, é plenamente explicado pela perda de fôlego verificada nos últimos tramos da corrida às principais praças eleitorais. Quanto ao Bloco, comprovou-se, se dúvidas existissem, que, hoje em dia, o partido do caviar e do ipad para menininhos rebeldes, é uma inexistência política, que só sobrevive graças aos merdiocratas frequentadores das noitadas do Bairro Alto. Já o Partido Comunista, cujos resultados foram, infelizmente, demasiado risonhos, pode agradecer ao seu tão odiado Deus tamanha dádiva, pois, aqueles 7 a 8% de portugueses desguarnecidos de inteligência voltaram a dar, sabe-se lá como, ao partido da foice, do martelo, e do genocídio apoiado fora de portas, o comando de alguns centros urbanos de relativa importância. Os resultados eleitorais, analisados à primeira vista, oferecem, vistas bem as coisas, uma catadupa de leituras, mas o que importa relevar é que os portugueses, com algumas reticências pelo meio, manifestaram um profundo desagrado face à partidocracia reinante. Para bom entendedor meia palavra basta. O que sairá daqui só o futuro o dirá.
O ódio a Paulo Portas continua em alta. A razão de tamanha cegueira é fácil de perscrutar: o regime tem os seus favoritos, e, numa cultura de favoritismo distribuído a preceito, o ego alheio é sempre uma ameaça à estabilidade cósmica do modo-habitual-de-fazer-as-coisas. Soares é um bom exemplo do amiguismo atrás referido. Diz o papá do regime, na entrevista que deu, hoje, ao periódico I, que "a promoção do vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que Cavaco Silva teve de engolir depois de ter dito publicamente o contrário, como o país todo sabe, não augura nada de bom". Não augura nada de bom para quem? Para os fautores do amiguismo socialista? Provavelmente, não. Para o país, a resposta é, muito provavelmente, diferente. Mais à frente, Soares acrescenta que Portas não é "a pessoa indicada para discutir com a troika". Não é? Porquê? António Costa é a pessoa mais indicada? Porque é que Paulo Portas não é a personalidade política mais indicada para essa negociação? A resposta não é difícil de antolhar: se Portas conseguir, com bons resultados, acomodar os interesses nacionais nas negociações a encetar com a troika, é evidente que o peso político do actual vice-primeiro-ministro subirá em flecha. Como é simples de calcular, os donos do regime não desejam um desfecho em que Paulo Portas possa capitalizar politicamente os ganhos de uma boa negociação com os credores internacionais. O que importa a este gente é que o Governo falhe clamorosamente na concretização dos objectivos a que se propôs. Quando o ódio é assim tão pronunciado, o melhor mesmo é agir com celeridade, acautelando o que verdadeiramente interessa: o bem-estar dos portugueses.
Não estejam. Cavaco é demasiado óbvio para que haja a menor surpresa com as suas doudas alocuções. Depois de ter enfiado o país na corda bamba da instabilidade política sem fim à vista, o preclaro Presidente terminou a sua louca viagem pelas terras do ódio com uma discursata em que dá luz e provimento à remodelação feita por Passos e Portas. O óbvio ululante, dirão os Marques Lopes de plantão. Talvez. O certo é que, com esta brincadeira presidencialíssima, o país perdeu alguns milhares de milhões de euros. Cavaco é, de facto, um génio da trica política. Façam, pois, o favor de tirarem os chapéus perante esta raríssima eminência política. O que se segue não é difícil de adivinhar: com um Executivo fragilizado, e uma oposição entregue ao histrionismo de um líder (?) que tem de obedecer cegamente aos ditirambos socráticos, a estabilidade política, valor tão do agrado do boliqueimense alcandorado a Presidente, é uma quimera. Os nossos credores agradecem o gesto de Cavaco. Aliás, Merkel já abriu as devidas garrafas de champanhe para celebrar o grito do Ipiranga do maior apóstolo da estabilidade tuga.
1) Os acontecimentos das últimas 48 horas têm sido alucinantes. Primeiro, Gaspar, agora, Portas. É difícil digerir as emoções causadas por tanta loucura política. Por mais que se tente racionalizar o irrazoável, a verdade é que não há justificação alguma para o caos em que o país foi subitamente mergulhado. Não há ninguém inocente nesta estória de terror. Todos os actores políticos desta patacoada concorreram alegremente para o desfecho de indecisão vigente neste preciso momento.
2) Comecemos por Passos Coelho: primeiro-ministro há 2 anos, com uma maioria absoluta no bolso, Passos foi absolutamente incapaz de fazer uma reforma de vulto no Estado. Depois de assumir o programa de resgate como a trave ideológica do seu mandato governativo, Passos aumentou brutalmente os impostos, deixando a despesa pública praticamente intocada. Mais: o Governo liderado pelo eterno jotinha falhou em todos os indicadores económicos que importam, estabelecendo recordes no défice, na dívida, e no desemprego. É certo que a responsabilidade não deve ser assacada, única e exclusivamente, a Passos, mas a verdade é que o primeiro-ministro pouco ou nada fez para evitar esta situação. Além disso, a douta eminência que lidera o Governo destratou, vezes sem conta, o parceiro de coligação, e foi totalmente inábil na relação entabulada com o líder do CDS/PP. É normal que, após a demissão de um ministro de Estado, a escolha de um novo membro do elenco governativo não seja discutida com o parceiro de coligação? É corrente e recto escolher para a chefia do ministério das Finanças uma figura de segunda linha que tem sido repetidamente envolvida em imbróglios judiciais que contendem directamente com a gestão dos dinheiros públicos? É usual, também, que um primeiro-ministro recuse um pedido de demissão? Mas que raio de país é este? Tornámo-nos nas Honduras europeias e ninguém avisou os portugueses? Os resultados da inexperiência de Passos estão à vista: o Governo está em frangalhos, e o país abeira-se do segundo resgate. O culpado número um deste festival de parvoíces tem um nome: Pedro Passos Coelho.
3) O papel de Portas nesta ópera bufa é discutível. Não o nego. O timing desta decisão é, no mínimo, dúbio. Porquê hoje e não ontem? Porque é que a decisão de demissão não foi comunicada previamente - escrevo isto com base nas informações que foram sendo ventiladas pelos media - aos órgãos do partido? Porque é que Portas não optou pela via da hipocrisia útil, pondo o interesse do país acima da verrina desajeitada de Passos? Há imensas perguntas que podem ser feitas ao líder do CDS, porém, há que sublinhar o seguinte: o mau tratamento político a que Portas foi sujeito, constante e ininterruptamente, pelo primeiro-ministro tornou a saída de cena numa inevitabilidade quântica. As coligações fazem-de de entendimentos, compromissos e sentido de Estado. Nada disso se verificou. Os entendimentos foram sempre pífios, os compromissos inexistentes, e o sentido de Estado morreu na praia. Paulo Portas tem a seu favor o facto de ter perseguido, com vigor, ao longo destes últimos dois anos, uma agenda reformista que tinha no bojo o fim do excesso confiscatório de Gaspar. Exprimiu as suas divergências e aguentou estoicamente o fardo da estabilidade. Sem embargo, a paciência esgotou-se. Urge explicar aos portugueses, o quanto antes, o porquê desta decisão. O estado de falência do país não admite mais delongas. Portas, inteligente e arguto como é e sempre foi, sabe que os credores não tolerariam um estado de caos nas elites políticas e económicas. É por isso que sei e tenho a certeza que Paulo Portas - alguém que daria um excelente primeiro-ministro - esclarecerá cabalmente os portugueses a respeito dos contornos desta decisão. Com ou sem eleições - eu não pertenço ao grupo dos que diabolizam o recurso a um acto eleitoral -, o CDS tem de esclarecer, muito rapidamente, o que defende e propõe para o futuro da governação.
4) Cavaco Silva, quo vadis? Onde anda a eminência belenense? Sim, a pergunta a fazer é mesmo essa: onde anda o Presidente da República? Mais: como é possível realizar-se a cerimónia de tomada de posse da nova ministra neste cenário deliberadamente dinamitado? A incapacidade de Cavaco está a atingir o paroxismo da falta de escrúpulos. É bom que alguém o avise que o regime não aguentará tanta suavidade de gestos.
A demissão de Vítor Gaspar era, em bom rigor, uma inevitabilidade. Hoje, ontem ou amanhã, a saída do capitão Nemo do "financês" passista era uma questão de dias, semanas, ou, vá, meses. Aconteceu hoje, com alguma surpresa de permeio. Gaspar não aguentou a pressão, nem, como o próprio referiu, a falta de coesão da equipa governativa. A indirecta a Paulo Portas é clara. Entende-se bem porquê. Portas foi, durante estes dois anos de governação, o único político que tentou enfrentar, a duras penas, diga-se de passagem, a estratégia austerista de Gaspar. Não é, por ora, chegado o momento de avaliar a prestação do CDS/PP no Governo de coligação (prestação essa, com altos e baixos), contudo, é por demais evidente que a presença dos centristas na coligação evitou alguns pormaiores, como foi, por exemplo, o caso da TSU. Gaspar chegou ao Governo com uma aura tecnocrática absolutamente inabalável. Amigo e íntimo dos poderosos da alta finança europeia, Gaspar foi o verdadeiro capataz da troika em Portugal. Aumentou os impostos e aplicou o programa de ajustamento sobretudo pelo lado da receita. Por outras palavras, o ex-ministro das finanças falhou rotundamente os objectivos a que se propôs. Desde o início da minha participação neste blogue, fiz questão de sublinhar a total falta de aderência à realidade do plano de resgate. As consequências estão à vista: a economia derrapou, e o Estado continua por reformar. As responsabilidades não pertencem a uma única pessoa, ao contrário do que alguns, leviana e parvamente, fazem crer, todavia, Gaspar foi um dos principais rostos do esbulho fiscal em curso: optou deliberadamente por aumentar brutalmente os impostos, em detrimento de cortar cerce na despesa pública. Saiu tarde, é certo, mas, finalmente, saiu. Gaspar foi, no fundo, o único esperto nesta estóriazinha de austerismo selvagem. Errou, e para não se chamuscar mais, optou por abandonar a fragata a tempo. Já Passos Coelho, um primeiro-ministro que tarda em aprender os rudimentos básicos de uma liderança sã, optou pela solução fácil, chamando a terreiro uma secretária de estado, que, como é do domínio público, tem visto o seu nome constantemente envolvido em questiúnculas que contendem directamente com a gestão parcimoniosa dos dinheiros públicos. Exigia-se um pouco mais de cuidado na escolha. Passos preferiu, mais uma vez, seguir a via do facilitismo serôdio. Errou, e errou clamorosamente. É certo que dificilmente alguém se chegaria à frente, pois o serviço público não é, hoje, a via mais célere para granjear prestígio e reputação. Porém, substituir um mau ministro por alguém que, ultimamente, tem andado com a corda no pescoço é, de facto, um daqueles actos dignos de figurar numa lista negra do anedotário político. Se somarmos a isto a completa ausência de textura política da personagem escolhida para liderar o ministério das finanças, o cenário é ainda mais dantesco. Os próximos meses prometem muitas borrascas, e, com um capitão tão fraco e imprudente ao leme das operações, o melhor mesmo é buscar o quanto antes um colete salva-vidas, não vá o barco afundar-se antes do tempo fixado.
O Rafael abordou há pouco a enésima atoarda do papá da República, o decano Mário Soares. Pelos vistos, segundo o venerando ex-presidente e ex-tudo, Paulo Portas tem sido chantageado pelo Governo. Estão a ver a lógica da coisa? Imaginem o seguinte: Portas, num belo dia de Verão, resolveu juntar-se a Passos e dar-lhe , em conformidade com os parâmetros estabelecidos pelo seu partido, um apoio político bem delimitado, exigindo em troca algumas pastas ministeriais. Contudo, passado algum tempo, Passos, o suserano-mor, após uma breve indisposição, decidiu cortar as asas a Portas, chantageando-o e intimando-o. "Ou aceitas o que te digo, ou ponho cá para fora o teu envolvimento no caso dos submarinos". Sim, caríssimos leitores, não é difícil imaginar esta cena operática. Passos, um vilão torpe, passe o pleonasmo, ameaçou entalar a reputação de Portas, usando para isso a chantagem do xadrez. Ou sim, ou cadeia. Agora, um pouco mais a sério: Soares vive em que planeta? Marte? Há limites para a estultícia, ainda para mais quando é do domínio público que Soares nunca foi flor que se cheire. Mais: ouvir Soares pronunciar a palavra chantagem é quase o mesmo que associar Jorge Jesus à vitória final no campeonato. A dissonância cognitiva tem destas coisas.
Daqui a meia-hora falta um dia para o governo cair. Passado um dia faltará pouco para Portas exigir coligação pré-eleitoral a Passos Coelho. Restará uma semana para Miguel Relvas convencer Passos a ir coligado. Antes do Verão teremos um novo governo de coligação PSD / CDS. Por invenção de Cavaco, que só lá está porque não temos rei, Passos poderá ser obrigado a governar também com o PS. Seguro ou Assis? Aceitam-se apostas.