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Qual a relação entre o corte nas pensões e os lesados do BES? Ainda não consigo responder de uma forma satisfatória, nem sei se conseguirei, mas estou a tentar. Hoje mesmo, na pré-campanha da coligação em Braga e na arruada do Partido Socialista (PS), a divisa de câmbio político parece ter assente nessa premissa dialética, nesse tema que simultaneamente aproxima e afasta. Passos Coelho, que foi confrontado de um modo intenso por reclamantes do BES, não virou as costas ao assunto e, de um modo sussurrado ao freguês, até formulou um caminho para os lesados avançarem. Por seu turno, António Costa gritou, acompanhado pela fanfarra da terra onde desfilou, que com um governo socialista: "cortes nas pensões, jamais". E acrescentou que nunca faria uma coligação com um governo de Direita, mas engana-se no mapa de estradas ideológicas. A Esquerda e a Direita já não são o que eram. Nem no Reino de Sua Majestade. O momento que Portugal atravessa, a crise que tantas pessoas afecta, obriga, de um modo genérico, à adopção de entendimentos impensáveis. Os socialistas, se fossem progressistas e já se tivessem adaptado convenientemente ao novo mundo da política, já teriam percebido que vai ser necessário encontrar um compromisso, se não em todas as matérias de atrito, pelo menos em relação a alguns temas centrais. A própria coligação - o governo em funções-, já estendeu a mão à ala socialista para propor soluções mais consensuais para Portugal e que integrem ideias do PS. Já vimos que o país está politicamente rachado ao meio, mas enquanto a coligação procura colmatar as falhas, António Costa insiste na fissura maior. Enquanto isso acontece, ou se isso acontecer, Portugal apenas tem a perder. Quanto à pergunta que coloquei e a que não respondi; Os cortes nas pensões equivalem, se não aproximadamente, pelo menos paradoxalmente, às perdas dos aforristas nos produtos de ganho rápido no BES. Em suma, enquanto os depositantes tinham dinheiro em caixa, e o seu dinheiro estava a salvo, eram declaradamente de Direita, neo-liberais, amantes do mercado e tudo o que isso acarreta, mas a partir do momento que a coisa deu para o torto, filiaram-se na Esquerda para melhor vingar o mau-feitio dos exploradores capitalistas. Não sei se me faço entender, mas sinto algum oportunismo lírico e ideológico no ar. E não é apenas dos lesados. António Costa também oscila conforme lhe dá mais jeito. Mas ele lá sabe.