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José Adelino Maltez, Metodologias da Ciência Política: Relatório das provas de agregação apresentado no Outono de 1996, Lisboa, ISCSP-UTL, 2007, p. 223:
“E eis que o processo de luta entre os grupos se transforma de luta aberta em luta oculta, no qual, na nebulosa e nas brumas, conspiram, já não sociedades secretas e sociedades discretas, mas, sobretudo, grupos de amigos e muitas outras minorias militantes e feudalizantes ao serviço de programas gnósticos, por onde circulam inúmeros idiotas úteis que executam sem saberem de programação.
“Os apoios e as reivindicações, assim instrumentalizados, tendem a favorecer um crescente indiferentismo, o qual é o principal input dos actuais sistemas políticos que não sabem manter relações de troca com os outros subsistemas sociais. Tudo se joga no tabuleiro de um esotérico, onde comunistas, ex-comunistas, maçónicos e antimaçónicos, anticomunistas e anti-ex-comunistas brincam ao jogo dos iniciados, sem estabelecerem comunicação com quem é cada vez mais abstencionista, mesmo que se procure inverter a disfunção com o recurso aos populismos e às vozes tribunícias.
“É por tudo isto que Portugal se dessangra em autonomia, em identidade e em consciência. Colonizado por forças exteriores e empobrecido por forças internas, tende para uma mediocracia. A classe política caminha para um rebaixamento de fins porque o nível dos apoios e das reivindicações tende a expressar-se, de modo dominante, por minorias militantes, essas que circulam no conúbio entre a classe política e a classe mediocrática. Surge, assim, um crescente volume de indiferença abstencionista como principal forma de entrada no sistema político, o qual tende apenas a produzir decisões para quem o provoca, correndo o risco de se desenraizar do ambiente, de entrar em disfunção, mesmo que, internamente, funcione de forma correcta.”
" ... por estes campos verdes (...) senti-me tomado de um tão sereno bem-estar e de uma tal saúde ( ... ) Ahi, aonde? Em que sítio? Qual o nome do lugar? Não o sei, nem isso importa ao caso. É terra portuguesa, são lugares do Minho por onde me criei - e isso basta. " Antero de Figueiredo in Partindo da Terra Parafraseando pessoa conhecida, mais sabor tem uma sopa em Portugal que lagosta no estrangeiro. E quão melhor seria, não tivesse o torrão sido invadido pela corja. * frase roubada ao blogue Casa Portuguesa
"Concordo com o Carlos Novais: Duarte de Bragança tem vindo, com o tempo, a revelar qualidades pessoais crescentes, que seriam insuspeitas há uns ano e que fazem dele um homem capaz de representar um país com elevação e sem dificuldade para si, nem desprestígio para os representados. Seria um bom rei, em suma. E eu, que nos últimos anos tenho vindo a descobrir os encantos da monarquia constitucional, ao ponto de hoje a considerar, de longe, a forma de estado mais compatível com o parlamentarismo e com a democracia liberal, não me desagradaria que Duarte de Bragança e a sua família desempenhassem, entre nós, esse papel."
No Portugal Contemporâneo, por Pedro Arroja.
Quem escreve estas linhas foi, ao longo de toda a sua vida, ferozmente republicano e ferozmente anti-monárquico. O raciocínio era muito frágil e baseava-se, essencialmente, não na dimensão política e histórica da monarquia, mas nas tristíssimas figuras dos nossos monárquicos. Estes, verdadeiramente, são numa imensa percentagem uma grotesca legião de patetas, que confunde a monarquia com o rei e com uma pretensa fidalguia a que julgam pertencer. Na sua generalidade, os monárquicos portugueses são imensamente saloios e provincianos, quando não genuinamente parolos. Acham que a monarquia seria um regime de corte, para a qual a fidalguia, a que por sangue imaginam pertencer, seria chamada para os mais altos feitos e responsabilidades. Para além do mais, confundem aristocracia com fados, guitarradas e faenas. Têm bigodes retorcidos e falam frequentemente com vozes alteradas e aflautadas. Uns pacóvios, em suma. Todavia, o erro que esta gente comete perante a natureza do regime de que se dizem seguidores, cometia-o eu, em sentido inverso, por razões não muito distantes das deles. De facto, não se pode confundir a monarquia com os monárquicos, sequer com a pessoa do rei. Muito menos nos países onde a monarquia constitucional vigora a “fidalguia” tem assento na mesa do estado. Ao invés da nossa república, onde algum do pariato do 10 de Junho e de muitas outras distinções e reformas precoces por “altos serviços” prestados ao estado se continua a banquetear à custa do contribuinte.
Após a forçada implantação da república em 1910, um triunfante Teófilo Braga dizia ao Lêndea (António de Albuquerque), que ..." a sua obra, o Marquês da Bacalhoa, foi fundamental para a instauração da república em Portugal"... Num dos seus habituais momentos de sandice, o coriféu do novo regime reconhecia a difamação, a mentira e o recurso a todo o tipo de insultos e baixezas, como uma arma legítima que ao destruir reputações, abalou instituições e abriu todo um futuro de praxis política. Este "Marquês da Bacalhoa", limitou-se a passar à prelo, um já longo historial de boatos, insinuações e calúnias que os responsáveis do p.r.p. fizeram circular pelo país, manchando a honra de políticos e da dinastia e que assim conseguiram minar a resistência do próprio regime e da legalidade. O despudor canalha extravazou largamente as páginas dos opúsculos, pasquins e volantes da propaganda dissolvente, entrando impunemente e de rompante no Parlamento, pelas ruidosas e provocadoras e vulgares tiradas de Afonso Costa ou de António José de Almeida. Nada os detinha, nem mesmo o mais elementar sentido da decência, tudo servindo para o culminar da sua ambição: a conquista violenta do poder, tendo-o obtido através do crime, da coacção moral e da bomba.
Embora as trágicas consequências daquele turbulento período da vida nacional se vão esfumando na memória, vivemos outros tempos, onde existem mais apertados processos de controle daquilo que podemos dizer ou escrever. Há muito desapareceram os lápis azuis da censura, pois o próprio articulado constitucional reservado aos Direitos e Garantias é por si suficiente recurso preventivo de abusos. Um simples processo por difamação, é susceptível de conduzir à ruína dos culposos, à perda do emprego ou ao completo descrédito social. Para se afirmar categoricamente qualquer acusação dirigida a outrem, torna-se necessária a respectiva comprovação documental - ou testemunhal - de factos alegadamente ocorridos.
Entre nós, alguém que por qualquer razão sobressaia entre o comum dos mortais, encontra-se inevitavelmente exposto à ira dos anónimos, mesmo que por detrás desta discreta e conveniente suposição, se encontrem nomes bem sonantes que de forma invariável, correspondem a uma parte interessada na matéria a dissecar. Pode assim um boato ser cerzido por um marido traído, um político rival, um maníaco efabulador, ou tão só um invejoso, subespécie que curiosamente medra prodigiosamente na nossa gente.
A decadência do regime em que vivemos torna-se patente, desde os simples e quotidianos noticiários com os habituais casos de "compadrio", incompetência ou desleixo, até às irritantes guerrilhas inter-institucionais que vão esvaziando as ruas outrora animadas de militantes partidários ou desta ou daquela personalidade política. É o descrédito que prenuncia a inevitabilidade de novas regras, novos rostos.
Uma pesquisa atempada aos blogues que se reconhecem como monárquicos, oferece-nos uma grata perspectiva dessa decência que noutros sectores vai minguando assustadoramente. Os virulentos ataques à miragem republicana de hoje, jamais são acompanhados por insinuações torpes, boatos infundados ou pela maledicência corrosiva, respeitando-se no essencial, os limites que o simples bom senso aconselha. No entanto, tal não parece acontecer do outro lado da barricada, onde as campanhas destruidoras de reputações vão subindo de tom, a tudo se recorrendo para a humilhação do adversário escolhido. Impiedosos julgamentos de carácter, elaboradas construções de secretos conluios e de intimidades de contornos turvos, andam a par de historietas mirambolantes que nos remetem para a simples superstição medieval e que têm servido qualquer negra língua geração após geração. A opinião pública deleita-se com imaginativas conspirações, segredadas à meia-noite junto a uma tumba, com juras de morte e espantar de espíritos malignos. Em regra, algumas das histórias contadas já pertenceram noutros tempos, a outras identidades. O espantoso de tudo isto, reside na proficuidade imaginativa e no cego ataque sem outro fim, senão o de arrasar uma criatura que é para alguns antipática: fisicamente, partidariamente, ou apenas, o corriqueiro e irracional ódio de estimação que tão bem conhecemos.
Neste caso que aqui focamos, os monárquicos até hoje não cairam nesta mortal armadilha, cujo alçapão engole não só o alvo a abater, como também e de forma inevitável, o suposto denunciante e a causa que diz defender.
Este post apenas serve de comentário a um outro que hoje surgiu no 5 Dias, em que um exaustivo arrazoado de velhas acusações surge finalmente à luz do dia, denunciando formal e inequivocamente um dos homens fundadores do regime. Afirmações como esta, por exemplo,
..."A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos"..., devem
ser acompanhadas por irrefutável prova documental, pois de outra forma voltam a ser o esteio primordial para uma terrível situação anteriormente vivida pelos portugueses. Não pode o acusador beneficiar de total imunidade legal, após a compilação de uma tão extensa lista de supostas actividades que remetem directamente o acusado, para o simples foro criminal. Não está em causa qualquer tipo de fidelidade, simpatia ou antipatia pessoal ou partidária, mas sim uma genérica e tacitamente aceite norma de conduta pessoal que garante a vigência da Lei, a tranquilidade pública e o simples direito ao bom nome e à reserva da esfera pessoal de cada um. O contrário torna-se simplesmente, em vergonha colectiva.