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Poupança portuguesa

por John Wolf, em 23.06.17

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Tenho autorização para regressar à economia real? Se sim, então tomem nota do seguinte: "a poupança das famílias recuou para 3,8% do rendimento disponível no primeiro trimestre de 2017, marcando assim o valor mais baixo da série que teve início há 18 anos". Significa isto que os portugueses pouco aprenderam e que acreditam no conto do vigário. Somem a este vector o outro - o nível de dívida pública acima dos 130% do PIB e temos o cocktail perfeito para deflagrar mais um descalabro, um semelhante àquele de 2011. Nem mesmo as sucessivas tragédias incendiárias ensinam grande coisa. O comportamento colectivo é unamunaniano, suicida. A expressão saving for a rainy day não se aplica ao continente ou às regiões autónomas. Não sei qual a medida portuguesa, e não sei se a família-tipo tem reservas equivalentes a 6 salários ou se prefere ir de férias e logo se vê. Os partidos que formam o governo de Portugal não parecem ligar muito a estas leituras estatísticas. E existe uma explicação para isso - replicam os comportamentos individuais. Vivem para além das possibilidades. Nem acima nem abaixo. Vivem noutro universo desprovido de responsabilidade moral. A dívida e a falta de poupança são dissabores que ardem sem se ver. E eles querem que assim seja, que não sejam vistos ou revistos.

publicado às 20:35

A alegoria da acumulação do BE

por John Wolf, em 22.09.16

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Queria encontrar outro tema para explorar, mas regresso ao mesmo. São questões incontornáveis. São pedras no sapato. São alergias e urticárias provocadas pela audácia descarada de quem nem sequer consegue apalpar o conceito de riqueza - a ideia de que o mundo abunda em meios financeiros acumulados é totalmente falsa. A maior parte do "dinheiro" está consignada a propriedades imobiliárias (na forma de residências principais) e fundos de pensões que investem em títulos de tesouro e acções. Quando um governo ataca a sua própria base de poupança, invocando falsas teses de redistribuição de riqueza, operada pela via fiscal persecutória, omite a grande tendência de ascensão económica e social do nosso mundo. São os aforristas chineses e indianos que demonstram o caminho da sustentabilidade. São nativos desses países que têm vindo progressivamente a "pôr de parte" uma parte dos rendimentos auferidos do trabalho para dispor dos mesmos no último terço das suas vidas enquanto complemento de reforma. Ou seja, mesmo que os sistemas de pensões não entrem em falência material, estarão "minimamente" preparados para o advento do mesmo. O Bloco de Esquerda (BE) faz leitura diversa da realidade. Ao castrar a ideia de poupança e "acumulação" grande ou pequena, lança sobre os ombros da administração central um ainda maior fardo de garantia de sustentação dos seus súbditos. A riqueza acumulada a que se refere a mestrina Mortágua não está parada num cofre à tio Patinhas. Essas "fortunas" de 51 mil euros residem em aplicações dinâmicas buscando um maior ou menor retorno conforme a tolerância de risco do titular. Ora essa predisposição, essa inclinação para dar um destino ao que monetariamente nos pertence, é uma prerrogativa dos cidadãos de um Estado alegadamente democrático. São os cidadãos que devem escolher o modo como interpretam o futuro. São os pequenos ou grandes investidores que decidem quem os deve governar. Nessa medida, e atendendo à declarada autofagia do BE, encontramo-nos diante de uma profecia que realizar-se-á sem grande necessidade de nervosismo ou alarido. O radicalismo extremo encontra sempre uma saída - um beco daqueles que tão bem conhecemos.

publicado às 10:34

Portugal e a armadilha das comparações

por John Wolf, em 16.04.14

Acho péssimo o jogo das comparações. Portugal não é a Grécia. Portugal não é a Irlanda. Portugal não é isto. Portugal não é aquilo. Nem os silogismos servem a causa (argumento formado de três proposiçõesa maiora menor (premissase a conclusão deduzida da maior, por intermédio da menor). Portugal é igual a si e já basta. Este género de notícia eterniza a ideia de que Portugal deve usar a régua dos outros para medir a sua envergadura, a sua virilidade. E depois subsiste uma outra dimensão corrosiva. Assim que se transmite a ideia de que Portugal passou a ser um país de aforristas, os cidadãos, embalados pelo prémio de desempenho, começam a dar largas à imaginação. Já podemos observar as campanhas hedonistas apresentadas nos escaparates mediáticos. Ele é férias na praia dominicana. Ele é festa temática no verão que se aproxima. Ele é campeonato do mundo de futebol. E, assim, sem se dar conta, a boa notícia da poupança morde a própria cauda, come-se. É uma armadilha.


"silogismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/silogismo [consultado em 16-04-2014].

publicado às 08:02

Zero poupanças de Maria Luís Albuquerque

por John Wolf, em 18.10.13

Não devia e não pode. A ministra das finanças não pode revelar que não consegue poupar. Mesmo que seja verdade - a cara-metade do dinheiro em Portugal - não pode vir à praça pública dar um péssimo exemplo, falar das suas faltas pessoais, das suas mágoas financeiras. Se não conseguiu poupar, o problema é dela e não do resto dos portugueses. Maria Luís Albuquerque ocupa alegadamente uma posição de grande responsabilidade nos destinos da nação e, por essa simples razão, todas as afirmações que profere serão lidas à luz da realidade económica e social do país. Ao assumir o seu falhanço doméstico de um modo tão desavergonhado, mina ainda mais a parca confiança que os portugueses depositam no orçamento de Estado que lhes está a ser vendido. Como é que alguém, que pelos vistos não conseguiu criar uma almofada de segurança para os seus três filhos pequenos, pode dar esperança em relação à segurança financeira de uma nação inteira? Para além disso, se pretende colocar-se ao mesmo nível do cidadão comum, não me parece que este seja o caminho correcto - quando a esmola é grande o desempregado desconfia. A titularidade de um cargo público, deve pautar-se, na minha modesta opinião, pela excepcionalidade do discurso - pelo cuidado da afinação do guião. E há outra questão que deve ser colocada e que se relaciona com a definição do conceito de poupança. Qual a percentagem do rendimento que deve ser colocada em "reserva estratégica"? E qual a parte que deve ser atribuída a veículos de dinamização económica e não ficar parada num reles plano poupança-reforma? Uma simples frase, aparentemente inócua, deve ser escrutinada à luz das ideias decorrentes da mesma. Uma justificação pessoal não serve o país, decididamente. E há mais. Qual o número de filhos aceitável por forma a que a poupança possa ocorrer? 1, 2 ou 3? Num país falido de juventude, a ministra das finanças não ajuda a causa da natalidade. Mais uma vez (e não será a última) somos contemplados com baboseiras ditas sem que os seus autores tivéssem reflectido um pouco sobre as implicações das mesmas (são asneiradas por essa razão). Não sei qual foi o cantautor político que abriu a comporta pela primeira vez para que tudo pudesse ser dito segundo a mesma bitola de inconsequência e irresponsabilidade (não me refiro a Soares que é lider do ranking). Para além dos actos políticos, temos de sentir o peso ou a ligeireza das palavras proferidas. O país, já de si ferido pelos cortes infligidos, ainda tem de ouvir certas barbaridades. Se a ministra das finanças também está a sofrer com as medidas que afectam o nível de rendimento na função pública, deve morder a língua e aguentar a bronca como o resto dos compatriotas. Mas não é isso que acontece - fala da boca para fora. Não poupa as palavras.

publicado às 14:29

As palavras e as acções

por John Wolf, em 14.12.12

 

 

A crise financeira que eclodiu em 2008, e rapidamente se transformou em descalabro económico em vários países desenvolvidos, arrastou para o centro da arena o debate sobre os malefícios do capitalismo, a amnésia da política em relação às questões sociais, o enriquecimento de uns versus a pobreza de tantos. Nunca na história recente das nossas sociedades o conceito de riqueza havia sido discutido de um modo tão apaixonado. Nunca haviamos sentido esta clivagem de um modo tão visceral, de um modo tão mediático e contestatário, expressivo. E desse estado "gustativo" brotaram questões que sintetizam esse mal estar. Se é imoral ou não a ascensão económica que conduz o indivíduo à fortuna incalculável? Se há dignidade na fortuna? Ou se é possível enriquecer sem cometer ilícitos? As questões que configuram uma aparente simplicidade ética, exigem uma resposta mais elaborada, mas porventura incipiente e contraditória. Desde já poderemos afirmar de um modo empírico, que nenhum ser humano é "regressivo e auto-destrutivo". O homem procura sempre mais e exige sempre algo melhor. Contudo, esse processo não é reflexivo, nem epistemológico. Não põe em causa o significado da sua missão, nem as consequências que resultam desse acto de fé. Prostrados que estamos, somos obrigados a responder a um longo inquérito de deves e haveres. A uma extensa lista de deveres adiados. No cruzamento histórico em que nos encontramos várias propostas dissonantes estão sobre a mesa. Austeridade ou estímulo económico? Despesa pública ou iniciativa privada? Nessa procura de soluções, a política monetária e a política fiscal parecem ter destronado a política no seu sentido clássico. Ou seja, a capacidade de pensar o conceito estratégico de um país. A identidade económica que distingue um país dos demais e que concede uma relativa vantagem competitiva. Mas não é essa linha de argumentação que procuro explorar neste texto. Estou mais preocupado com os efeitos psicológicos da falência. O modo como os indivíduos irão procurar um modo alternativo de compensar a falta de remuneração sem ter de emigrar, sem ter de abdicar da ligação umbilical às suas tradições, à sua história e à sua língua. Convém pensar no mundo enquanto entidade contínua. Um corpo económico interrompido por processos burocráticos, costumes locais, regulamentos, regimes políticos e comportamentos sujeitos à dinâmica de uma cultura global com origens numa terra de ninguém. Um sistema totalmente escancarado que permite transferências de energia à revelia de nacionalismos económicos ou patriotismos bacocos. E é aqui que entram as acções. Não me refiro às acções humanas. Falo de algo diverso. Uma palavra politicamente incorrigível nos dias que correm. Um termo que traz algo no bico, no pico da sua expressão, no fundo da sua queda. A materialização de todos os males do capitalismo, associada a um outro pecado, ao tabu da especulação - os títulos negociados em bolsa. As acções que causam prurido e geram malentendidos no seio de socialistas que apenas acreditam na força do trabalho como forma de sustento. O crédito, para que fique assente, precede a existência física de divisas - o dinheiro no sentido quotidiano e que tilinta nos nossos bolsos. As acções também encerram em si o "acreditar" no projecto, no edifício que alguém deseja erguer. Nesse sentido, ao adquirir acções estou a emprestar dinheiro a uma entidade que opera no mercado, na economia e que gera emprego. Do ponto de vista do investidor, corro o risco da possibilidade de ser remunerado pelo depósito de confiança que efectuo. E não vejo nenhum mal nisso. Ironicamente, deter acções é participar numa empresa na sua expressão mais colectiva. O problema que um país enfrenta, no auge de uma recessão, tem a ver com a forma como os meios financeiros são aplicados por parte de investidores, sejam pequenos ou colossais. Convém pensarmos no próximo ciclo, na fase temperada por desígnios de poupança. A questão que será colocada por aforristas prende-se com a noção de remuneração. Um país tem de criar condições de atracção de capital. Se não o fizer, as acções de empresas de outros países serão procuradas. O dinheiro não permanece trancado na penúria. Procura o destino mais aprazível. Ao comprar acções de um empresa Brasileira ou de uma holding da Malásia estamos efectivamente a gerar emprego e inovação nesses países. E é bom que se tenha isso em conta. Por vezes as acções valem mais do que as palavras...

publicado às 16:33

Menos 600 milhões para a educação

por Pedro Quartin Graça, em 05.10.11

Quando um Governo decide "brindar" a educação com menos 600 milhões está tudo dito relativamente ao futuro do País. Ninguém pensa seguramente que, com esta poupança, a educação melhorará. Uma atitude miserável.

publicado às 11:58






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