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Mariana Mortágua procura uma editora para sua nova obra - Dicionário de Ultra-liberais de Esquerda. A académica propõe reinventar a roda fiscal, os eixos da economia e o porta-luvas das poupanças. Com tanto entusiasmo pôs a carroça à frente do PS, mas espetou-se na primeira curva. O que declama não faz sentido. O que enuncia lembra a loucura. O que defende nem sequer é defensável. A confusão que vai naquela cabeça faz-nos temer certos desfechos. Entramos no domínio da irracionalidade pura. Mas ainda mais gritante será o modo como o Bloco de Esquerda (BE) compromete o seu património de correligionários que fez depósitos de fé na ideia de justiça económica e social. Ora o que propõe Mortágua fere de morte a ideia de poupança, de sustentabilidade, de trabalho e o conceito de esperança que deve acompanhar cada cidadão no seu processo de crescimento. Resta saber se a fiscalidade de furto a que se propõe se inscreve nas medidas de ajustamento negociadas com o Partido Socialista (PS). Naquela noite quente de desfecho eleitoral repartido, será que o PS aceitou tudo e mais alguma coisa do guião para cativar o poder? Ou será que isto não fazia parte do combinado? Em todo o caso, face à elevação da fasquia radical, o PS ficou encostado à parede. Ou alinha nestas loucuras ou perde a credencial atribuída pelo BE. No meio deste marasmo, lentamente vislumbramos a consolidação de um partido mais conservador, mais comedido. O Partido Comunista Português (PCP), se for inteligente, pode e deve capitalizar nas eleições autárquicas que se avizinham. Não tem muitas mais hipóteses. Colocar-se ainda mais à Esquerda do BE parece impossível. A régua ideológica fundamentalista acaba ali. Depois cai-se no abismo. A senhora Mortágua ainda não percebeu quais são as virtudes democráticas do capitalismo. São as transferências voluntárias de riqueza que fazem bem ao espírito da nação. São os projectos edificados por capitalistas privados que estão na base da livre expressão. Não existe construção imaterial, a não ser aquela de ordem filosófica. A realidade baseia-se nessa premissa. O BE deve rever os seus preconceitos. O BE deve repensar a sua doutrina. O BE quer acabar com a livre circulação de capitais? Não conhece os pilares da arquitectura da União Europeia? Já faltou mais para algo terrível acontecer. Quando as ideias não existem e os partidos são bens de consumo rápido, não há nada a fazer. Alguém deve ser internado. O país está a ficar louco com tanta asneira.
Podemos concluir que o jornalista Alexandre Abreu é o mérito em pessoa. O imposto sucessório é o mais justo dos impostos? A época de caça aos bens dos outros está oficialmente aberta. Até parece que o jornalista em causa não é português. E ofende tanta gente que teve uma vida honrada e suada para juntar algo para os filhos. Insulta o Sr. Ermelindo que se fez à estrada e chegou a França nos anos sessenta com pouco mais do que a quarta classe, e que trabalhou décadas a fio para montar uma empresa de construção. Uma vez tornado a Portugal com o pé-de-meia de uma vida esforçada, constrói a sua vivenda, e cumpre uma promessa antiga - ter o melhor restaurante lá na Beira-Baixa. Os filhos, amparados pelas mãos calejadas do pai, não irão conhecer a dureza do betão. Em vez disso, dão expressão intelectual às suas existências. Um forma-se em medicina e o outro conclui um MBA e pega no caminho já traçado pelo pai e abre uma pequena empresa de aluguer de equipamento de construção. Ao todo, o património do pai vale um milhão e meio de euros, mas o Sr. Abreu, numa manhã de restauros e conservações, decide bater à porta e apontar uma pistola e dizer: passa para cá 40% do teu bolo, porque os teus filhos são uns mandriões, uns preguiçosos. É isto justiça económica? Não me parece. Façam como o Hollande. Apliquem a tabela dos 70% ao património alheio para ver o que acontece.
Cumprindo a promessa de escrever sobre a saúde, abro as notícias hoje e vejo uma notícia que me agrada sobremaneira não tanto pelo assunto per se, que é sempre trágico, mas por que constato que foi publicado um estudo que comprova aquilo que era até hoje uma observação empírica. Agrada-me o conceito de Medicina Baseada na Evidência. Aliás, por vezes considero que seria benéfico a própria política começar a basear-se na evidência - será um tópico a desenvolver futuramente.
Decorre neste momento em Amsterdão um dos Congressos mais importantes de Oncologia (para os curiosos, vejam aqui) e é sempre um momento alto dos investigadores e médicos pois as novidades e notícias são mais que muitas e hão-de alimentar as conversas entre os cientistas durante os próximos meses. São encontros pautados pela excelência.
Num dos painéis do Congresso foi apresentado o resultado de um estudo que relaciona a quantidade de recursos investidos na saúde com aquele que é o derradeiro índice de qualidade do sistema de saúde: a mortalidade. Quem trabalha em saúde habitua-se a pegar nos artigos, passar pela introdução e pelos métodos na diagonal e ir directo ao assunto: a discussão e conclusão. A pergunta que habita os espíritos é quase sempre a mesma: "Mas depois disto tudo, morre-se menos?"
Como a peça jornalística está sucinta e bem escrita limito-me a retirar aquela que me parece mais pertinente, que é a conclusão:
"quanto mais dinheiro se destina à saúde, menor é o número de mortes após o diagnóstico de um cancro e que esta relação é "mais evidente" no caso do cancro da mama. Os investigadores também observaram que, apesar de todas as iniciativas para harmonizar as políticas sanitárias públicas, existe uma "diferença significativa" entre o gasto sanitário e a incidência de cancro nos 27 estados da União Europeia, que é ainda mais clara entre os países europeus orientais e ocidentais."
Este é só mais um argumento para se defenderem políticas públicas de saúde pois, sabemos bem, quando a saúde se transforma num negócio puro e simples, há os que podem e os que não podem pagar os cuidados de saúde e sobretudo verifica-se da parte dos diferentes prestadores de serviços ( e aqui refiro-me aos privados) um fenómeno que é perverso quando o lucro é um objectivo: as poupanças a todo e qualquer custo.