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Boa noite a todos.
Uma sondagem é uma sondagem é uma sondagem. Da última vez que houve sondagens, um empate técnico emergiu das urnas transmutado em desequilíbrio inegável, e os resultados de alguns partidos acabaram por ser menores do que a própria margem de erro estatístico implícita no vaticínio.
Contudo, não seria próprio de um agnóstico, e menos ainda de quem quer pautar-se pela humildade, supor o mesmo desenlace, indutivamente, na situação actual. Com efeito, sou compelido, pelo sentimento na urbe e no campo, a crer que as sondagens hoje divulgadas traduzem a realidade expectável com um grau de fidelidade deveras apurado.
O que quer isto dizer?
Ponto primeiro, grande parte - a maior parte - do eleitorado até aqui demissionário do seu dever não possui qualquer cultura, política ou de outra sorte, e constituindo uma massa amorfa e manipulável, pronta a disparar na direcção do estímulo que se apresente mais a jeito, está prestes a reforçar a posição de partidos demagógicos e populistas, que defendem ideologias anacrónicas sem assento legítimo num Estado de Direito. Falo do BE e da CDU.
Ponto segundo, os restantes eleitores que agora se agitam para fora do longo torpor vão votar contra. Por medo do extremismo ou por simples hábito vão fazer o que sempre viram fazer. E este mimetismo vai favorecer outro partido da esquerda, o PS, cuja doutrina e capital humano pouco o separam dos seus vizinhos totalitários.
Ponto terceiro, o CDS, à conta da sua inércia e letargia, entalou-se e entalou consigo a possibilidade, única, de Portugal vir a abrir-se ao mundo moderno no que à política concerne. O abjecto vácuo no espaço que é normalmente ocupado por partidos de Direita, com valores e princípios integrados, é uma coisa que faz de Portugal um caso clínico e a chacota dos nossos parceiros Europeus, à excepção provável de Espanha onde os anos Zapatero inquinaram de tal forma o pensamento e os costumes que também lá a situação chegou onde chegou.
Em 1986, o realizador francês Leos Carax trouxe-nos a obra cujo título aproveito em epígrafe, traduzido em Portugal por "Má Raça". Conta um conto de trama simples, embora ramificada, e que parte da existência de um vírus, artificial, cuja singularidade reside em vitimar apenas casais de amantes entre os quais o sexo ocorre sem envolvimento; sem paixão, sem amor, sem atilhos que não os da mera libertação carnal.
Podemos argumentar que o sexo nunca é apenas o sexo, mas isso não vem ao caso na feitura do filme.
As personagens interpretadas por Denis Lavant (o mesmo Alex de Les Amants du Pont-Neuf) e Juliette Binoche são entretecidas por Carax num tosão surrealista e inquietante, levando o espectador às zonas limítrofes da ética e da moral.
Por alguma razão, interpreto o momento actual, na sociedade Portuguesa, como se pertencesse a este filme. Os actores fornicam entre si, com a República de permeio, sem que os tolha qualquer sensação superior ou elevada, e aos que assistem é dada apenas a escolha entre a perplexidade e a apatia.
Para mal dos nossos pecadilhos, não há nenhum vírus que leve os parasitas que infestam o complexo político-partidário, enquanto salivam pela próxima ronda.
não me resisto a aqui dela trasladar um niquinho, por tão delicioso o topar.
Deste contar do tio Cosme, singelamente lavado, fora tirando o lorde quanto é o povo fiel guardador da portuguesa linguagem, logo nisso encontrando a razão de o seu amigo Camilo tão asseadamente escrever.
E, bem se vê, esse assear não iria cair em saco roto, pois que nele encontraria herdeiro, no seio de uma escola mais vasta começada pelo homem de Seide.
que " reinventa quanto faz a grandeza e o encanto das formas mais primitivas da poesia " ( « Dicionário de Literatura » )
A imagem que guardo dele, da televisão, é a de um homem sentado num cadeirão da casa de Afife, dissertando sobre o povo que canta na sua poesia, e que é por este facilmente apreendida, logo sobreposta pelas ondas do mar que quase lhe batiam à porta...