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A RTP decidiu realizar um Prós e Contras sobre a independência da justiça, lançando a questão "Há interferência dos partidos no sistema judicial?", e um coro de protestos de destacados socialistas levantou-se para criticar a estação televisiva pública, depois de há dias António Costa ter procurado intimidar Vítor Gonçalves durante a entrevista conduzida por este. O que muitos socialistas talvez ainda não tenham percebido é que estão a tomar as dores de Sócrates e a dar razão a Paulo Rangel para suspeitar que com o PS no poder Sócrates dificilmente seria investigado. Na hora de votar, portuguesas e portugueses, não se esqueçam da fotografia. Sócrates e as suas políticas moram no Largo do Rato e em António Costa, assim como as tácticas de intimidação da comunicação social tao características dos governos socráticos.
Na passada segunda-feira foi com estupor que escutei uma esganiçada, violentamente atacando o ensino de História nos centros escolares portugueses. Num demasiadamente ignóbil portunhol de bodegón, percebi de imediato tratar-se de uma daquelas típicas libertárias que deliram em sonhos de grilhetas a apor a inimigos de classe que bem depressa ultrapassarão a bonita percentagem de 90% da nossa população. Os Descobrimentos, palavra ainda tão maldita quanto há quarenta anos o era, foi coisa própria dos "larápios, fascistas, colonialistas, escravocratas e opressores" D. Henrique, D. João II, Vasco da Gama, Duarte Pacheco Pereira, Afonso de Albuquerque, Fernão Mendes Pinto e uma infinidade de nomes bem conhecidos e que por si mesmos justificam a teimosa existência deste país. São de um passado a definitivamente erradicar da nossa memória. Por cá há quem condescenda com as exigências dos esganiçados, mas há sempre uma excepção quando logo de seguida se apontam bretões, catalães, genoveses, judeus de várias origens, mouros, calabreses ou marinheiros, cartógrafos e cosmógrafos de proveniência estrangeira. Aí sim, os Descobrimentos valeram qualquer coisa, há que falar algo acerca do assunto. A por cá aboletada espanhola era sem margem para qualquer dúvida, uma daquelas auto-nomeadas demócratas que invariavelmente encontramos em qualquer tugúrio que tenha à porta o painel com uma sigla onde surge qualquer coisa acompanhando a palavra Operário, Trabalhadores, Reconstruído, Bloco, Unidade, Unificado, Proletário ou Revolucionário. São essas mesmo libertárias que logo enlouquecem à cata de inimigos de toda a ordem, normalmente contabilizados numa percentagem correspondente à de uma eleição norte-coreana.
A espanhola vociferou contra os nefandos Descobrimentos, uma forma de contar a "história errada" que "é a história do colonialismo, da opressão e da escravatura". Isso mesmo, tudo encafifado na mesma mochila onde decerto também caberá o IPAD e uma bolsinha com o I-PHONE de último modelo. Logo foi a fulana secundada por um eventual cidadão nacional oriundo de um dos antigos territórios ultramarinos. Chispando de ódio, exigindo isto e mais aquilo, também perdigotou toda uma série de asneiras na continuidade daquilo que a intrusa já ousara cacarejar. Nada disto seria grave, se alguém tivesse posto cobro ao destempero dos dois safados. Fátima Campos Ferreira ainda balbuciou algo de ininteligível para uma assistência siderada, muda de espanto e vergonhosamente incapaz de reagir. A contínua tempestade de marteladas a que este nosso pequeno mundo português se submete já há tantos anos, tornou-nos apáticos e sem capacidade de resposta. As sumidades escolhidas para o painel de serviço não tugiram nem mugiram, preferindo continuar a ruminar os ditos politicamente correctos que não estragam hipóteses de sinecura e de apetitoso lugar na manjedoura.
Por muito depauperados que hoje nos apresentemos ao mundo, todos sabemos a razão da inegável visibilidade deste país na História Universal. Os Descobrimentos podem aos invejosos parecer coisa kitsch, mas este é o nosso precioso kitsch, com ou sem galo de Barcelos, com ou sem Torre de Belém, Padrão, fado Lisboa Antiga, manjericos e sardinhas assadas. Uma simples passagem de vista sobre o mapa das línguas do mundo, de imediato chama a atenção até ao mais distraído, coisa que fora de fronteiras - normalmente nos países formalmente nossos aliados e "companheiros de destino europeu" - propicia algumas irritações sem remédio. Isto não é novidade, pois Toynbee lá sabia o que dizia quando a Portugal e aos portugueses dos Descobrimentos se referiu. Idem quanto a Victor Hugo e a muitos outros que correspondem à velha e quase esfarelada pedra basilar do saber ler e escrever. Em suma, Portugal é uma potência histórica, algo que para o bem e para o menos bem, nos acompanhará pelos séculos vindouros.
Não existe, nem há lugar para qualquer tipo de ofensa quando alguém fala nos Descobrimentos, mesmo disfarçados com os mais cómodos achamentos. Já é tempo de passarmos a olhar fixamente os histéricos e dizer-lhes de forma bem clara: "o problema é seu, se não gosta ou não sabe ler, o aeroporto está a dez minutos do Rossio!"
Assim mesmo, a seco.
O tema do Prós e Prós de hoje é "Cansados de tudo", e eu cansei-me deste programa com as banalidades vociferadas na primeira parte. Por isso, mudei de canal.
A ausência das redes sociais durante alguns dias dispõe da óbvia vantagem de imunizar o organismo às ondas histéricas que por vezes assolam estes núcleos contemporâneos do não-pensamento. O affaire Martim-Varela, tão bem resumido pelo Samuel nesta curta posta, faz parte dessas tais ondas histéricas que inundam durante um ou dois dias a blogosfera e o Facebook. A polemização criada em torno de meia dúzia de lugares-comuns assentes numa argumentação falaciosa e mal construída, como foi manifestamente o caso vertido, demonstra à saciedade que a opinião publicada deste pobre cantinho à beira-mar plantado continua a viver numa campânula bem encerrada. O que nos vale é que o argumentário da estupidez é facilmente desmontável com alguns pózinhos de lógica. Caso contrário já teríamos enlouquecido há muito.
Grande parte da discussão em torno do episódio Martim-Raquel Varela é um exemplo perfeito de como o debate público em Portugal enferma em larga medida de vários males: estupidez, falácias, histeria e falta de racionalidade. À esquerda e à direita. Estão bem uns para os outros.
No Prós e Prós, o General Garcia Leandro revelou há pouco que foi convidado em Dezembro por Sofia Galvão para a Conferência no Palácio Foz, mas que pensava que se trataria de repensar o estado de forma aberta, a médio e longo prazo, e não a pensar no corte de 4 mil milhões para este ano. Apercebeu-se a 5 de Janeiro, através do Expresso, do que era realmente aquela conferência, logo procedendo no sentido de se desvincular de algo que, segundo as suas palavras, se tratava essencialmente de escolher pessoas da sociedade civil a dedo que lá fossem dar cobertura a decisões já tomadas pelo governo. Acrescentou ainda que isto é conduzido por um Secretário de Estado que não sabe nada de nada, Carlos Moedas.
Parece que o Prós e Contras é sobre quanto vale a língua portuguesa. Claro que este "quanto" remete logo para uma perspectiva económica, pelo que convidaram economistas e empresários para o painel. Um destes, que desconheço, acaba de afirmar, sem se rir e sem que lhe façam qualquer reparo, que "não se pode misturar a língua com a cultura". Duvido que falem do absurdo acordo ortográfico, que vai avançando com a conivência do suposto governo mais liberal de sempre. Entregues a incultos putativos plutocratas e a amadores e deslumbrados anti-patriotas que têm como desígnio empobrecer economica e intelectualmente a nação, e atendendo ao avanço do referido absurdo, eu dou já a resposta à questão: vale um tostão furado.
No Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira, que trata politiqueiros por sotor, acaba de tratar o Professor Catedrático Carlos Fiolhais por... "Fiolhais".
Mário Soares diz que Passos Coelho tem que falar forte porque não somos um país qualquer, demos mundos ao mundo e, por isso, os alemães não nos podem tratar como bem entendam. Esteves Martins diz que na Grécia existiam filósofos quando os alemães ainda não sabiam ler nem escrever. São os chamados argumentos de merda.
Os participantes no Prós e Contras de hoje são Mário Soares, Miguel Sousa Tavares, Viriato Soromenho Marques e António Esteves Martins. Tirando VSM, que "constelação" assustadora.
Uma "criativa" interveniente no Prós e Contras critica o governo por não ter uma estratégia de comunicação adequada, aconselhando o mesmo a contratar um director de marketing e a começar a dizer coisas claras às pessoas como "apaguem a luz mais vezes, andem de transportes públicos, etc." Portanto, o que lhe vem primeiro à cabeça são medidas que têm impacto apenas na vida dos indivíduos e como devem ser comunicadas, em vez daquilo que realmente tem de ser feito, que é pensar e reformar o Estado, o verdadeiro responsável pelo descalabro em que nos encontramos. Este é o problema de muitos marketeiros, reduzem a política à comunicação, não tendo qualquer mínima noção de metapolítica. Esquecem-se que já tivemos um expoente máximo desta visão, um actual aspirante a filósofo parisiense. Deu um bom resultado, não deu?
Adenda: o meu ponto neste post é o de mostrar a fragilidade de muitos marketeiros e da redução da política à comunicação sem metapolítica, o que não invalida o facto de este governo ter um grave défice ao nível da comunicação, que urge ser suprido.
Hayek chega ao Prós e Contras pela voz do Pedro Lomba. Ide ler a minha tese de mestrado sobre o austríaco que qualquer dia é mainstream e até a D. Fátima Campos Ferreira o citará.
Ontem, a noite de Prós e Contras (contra quê?) atingiu o seu pleno e Fátima Campos Ferreira não teve de poupar cordas vocais, coisa que honra lhe seja feita, raramente faz.
A RTP convidou umas tantas sumidades que nos betões daquilo a que se designa por "universidade", fazem render a faina da recolha do seu marfim. A palavra universidade é por esta gente tida como uma espécie de condomínio medieval e a posse de um testemunho de uma passagem por esse purgatório, permite o mastigar entre risos escarninhos, de nomes com Y, Th, K e citações a bel-prazer.
Refastelado no meu sofá e com a Luna ao colo, fui trincando umas bolachas ricanela, atentamente seguindo um concurso de basófias mais ou menos circunspectas. Abundaram os sobrolhos carregados, os esgares indignados e os sorrisos de contentamento pelo imaginado sucesso da auto-complacente empáfia. Uns tantos remoques "pró do lado" - José Reis e João Salgueiro - e um longo empanturrar de "sonhos, ousadias, quereres e paradigmas". É claro que não entendi patavina e o rebuscado das receitas era de uma ordem tal, que não se descortinava o peixe da carne, nem os nabos dos alhos e tudo isto condimentado com doses cavalares daquelas bem conhecidas especiarias descobertas algures no século XIX e que tão bons resultados deram nos ruminantes ocidentais. A prova disso, é o constante avolumar de gasosas barrigonas que de vez em quando, convém desaustinar através do pipo bocal que na melhor das hipóteses, evita a mais óbvia e usual válvula terminal do sistema digestivo. Para isso, temos as tv's da "tudoemaisalgumacoisalogia" actual.
Vejamos. Se bem me lembro dos convivas do serão, retenho a voz contristada de um daqueles padres que já não fala "achim", rendido à avermelhada resignação pela pobreza alheia. Este bem prega frei Tomás, cozinhou uma autêntica spaghetinada a la putanesca, com os necessários picantes a sugerir o cilício em forma de quentinha barraca nacional colectiva, fazendo ressoar os versos daquela velha canção que gemia sob o modesto peso de um quartinho de primeiro andar, num lar pobre mas sempre a abarrotar de mais alegria. Também se escutaram os ditos de umas conhecidas sumidades de cátedras de outras décadas. Uma delas, "muito republicana" mas que ainda escreve Espanha com agá, traçou a pernoca e aproveitou o espaço para desenfardar uns eflúvios de annales, terminando com um infalível ditame da "óbvia proibição" da restauração da Monarquia, claro... Estranho, tal coisa não pareceu assim tão óbvia à atenta Fátima Campos Ferreira.
Também escutei um "filósofo" - são os meus favoritos - de fala tão arrefinfalhada de regueifas e retorcidinhos, que qualquer trabalho de talha rococó, parecerá um depurado artefacto saído do atelier de Saarinen. Trouxe-me logo à memória uma descontínua e um tanto ou quanto caótica melodia de outros tempos.
Podia dar mais uns tratos de polé à cachimónia, tentando recordar algo que tivesse absorvido de toda aquela libertação de gases raros, mas sinceramente, apenas retenho o apresentar de credenciais pela maioria dos pneumáticos presentes. As frases infalíveis em qualquer programa deste género, são aquelas em que o sapioso entrevistado aumenta o tom de voz e esclarece acerca da sua "gratificante experiência académica no E-S-T-R-A-N-G-E-I-R-O*", "o sentido prático anglo-saxónico que T-I-V-E* o privilégio de interiorizar" ou para os mais avaros defensores da sua torre natal, "os alunos que na U-N-I-V-E-R-S-I-D-A-D-E* me têm P-E-D-I-D-O* orientação acerca das possibilidades de pós graduações, mestrados e doutoramentos, entre as quais o estudo da vida bissexual das amibas, consite num aspecto nada desdenhável da nossa plena integração na comunidade científica internacional". Todas estas maravilhas, pressupõem o "abrir de pernas" para a saída de pecúlios que até aos sessenta anos deidade, garantem a alguns, uma certa forma de se estar na vida.
Não temos arcaboiço ou clima para cortejos alegóricos de Fevereiro, nem mulatas semi-nuas de plumas e á borla pelas avenidas. Quanto a reis-momos, esses temo-los de sobra e pagamo-los em conformidade e à razão de centenas por Palácio. O Sambódromo é coisa tropical, valiosa para cativar turistas e libertar desejos e paixões. Infelizmente não possuímos a alegria e o saber-viver para tanto.
Resta-nos o Prós e Contras, cada vez mais o Peidódromo Nacional.
* Não se assustem, pois as maiúsculas representam o súbito aumento de decibéis.
Horas de masturbação intelectual completamente vazia. E o João Salgueiro a teimar em falar na realidade (deve ser um fascista neo-liberal, só pode). Se isto é uma amostra dos sábios do país, vou mas é para a Suazilândia. De charter. No fundo, o que existe é uma crise de valores, e o que é preciso é um novo paradigma e mudança de mentalidades. Pena que sejam os contribuintes a pagar este serviço público de humoristas involuntários travestidos de sábios, que nos presenteiam com tamanhas descobertas.
Para a posteridade, fica o registo de algumas pérolas:
"As pessoas que têm capacidade de intervenção correspondem ao círculo dos leitores do Expresso" (não me lembro do nome do senhor).
António Nóvoa, num dos programas com mais audiência em Portugal, diz que a exposição pública dos universitários não é fácil.
Eduardo Paz Ferreira, Prof. Catedrático da FDL afirma que não sente legitimidade para criticar os políticos porque não é político, extrapolando para a restante sociedade. E nesta altura pergunto-me onde é que desencantam estas iluminárias? Pior: COMO RAIO É QUE ALGUÉM QUE DIZ ISTO É PROF. CATEDRÁTICO?
Fátima Campos Ferreira: "A Alemanha foram os chico-espertos e nós os otários".
Fátima Campos Ferreira não sabe o que significa falhar. Para ela é o mesmo que não se preocupar. João Salgueiro explica: "falhar implica que tentou e não conseguiu". Fátima faz beicinho.
E a melhor da noite, de Fátima Campos Ferreira: "Senhora Merkel joga dos dois lados" .
Só faltou mesmo o Paulo Futre a dar a receita para sairmos da crise: "Vai vir charters de 400 ou 500 chineses."
Meia dúzia de parvos estão a mostrar como a minha geração pode mesmo, na generalidade, ser apelidada de parva, no Prós e Contras. Mandam umas patacoadas generalistas, entusiasmam-se como quem lê Le Bon avidamente, não propõem nada para alterar a situação não da geração, mas do país. Mais, armam-se em palhacinhos com piadas, risos e palmas. É isso pessoal, continuem assim que "agora sim, damos a volta a isto".
...afinal... segundo Rui Tavares, agorinha mesmo no Prós e Contras, "os submarinos andam para lá perdidos no Exército". Está certo. A Marinha que o diga.
P.s. - Sugere ainda que se vendam os submarinos para combater a crise. A demagogia é uma coisa muito tentadora, de facto.
Embora ache que o episódio com Manuela Moura Guedes foi bastante infeliz, de parte a parte, assisto agora a este Prós e Contrar com Marinho Pinto e demais representantes das diversas facções dentro da Ordem dos Advogados. Goste-se ou não, Marinho Pinto é um homem que parece pautar-se pela procura pela verdade, da justiça e transparência, independentemente do estilo mais ou menos agressivo, consoante os gostos. Não posso, no entanto, deixar de me questionar se este tipo de discussão a que estamos a assistir neste momento é favorável ou prejudicial à democracia. A juntar à baixaria que é genericamente o debate político, com constantes lavagens de roupa suja, vêm agora também os advogados lavar a roupa suja. Não se augura nada de bom.
Caiu por terra o meu argumento de que o Eduardo Nogueira Pinto seria demasiado educado apenas por ser filho do Professor Jaime Nogueira Pinto, numa espécie de arcaísmo da minha parte que consideraria existir um qualquer nexo causal no facto de se ser filho de grandes professores da nossa praça pública e ser cordial (e era nesse sentido que eu falei de má educação, no sentido da falta de respeito pelos outros e falta de cordialidade no trato), arcaísmo esse talvez originado pela irritação que me assolou ontem à noite, até porque imensos casos conheço de pessoas que não saem aos seus, ou que degeneram, sendo filhos não necessariamente de professores de reconhecido mérito. É que só à posteriori, devidamente alertado pelo João Pedro, vim a saber que a constitucionalista Isabel Moreira é filha do Professor Adriano Moreira, de quem tive a oportunidade de ainda recentemente ver entregar o prémio com o seu nome ao melhor aluno de RI do ISCSP no ano lectivo transacto, um amigo meu e que até já colaborou no ES, Professor a cujos ensinamentos constantemente recorro para os meus estudos e trabalhos e cujo legado teórico constitui um importantíssimo historial do ISCSP e do país.
Há quanto a este debate algumas coisas que me fazem confusão. A primeira são pessoas que se acham moralmente superiores e que advogam os valores da tolerância, sendo das pessoas mais intolerantes que se vêem por aí, de quem a arrogância é a característica mais visível.
A segunda é precisamente o facto da forma ser muitas vezes bem mais importante que a substância, logo, da próxima vez que discutirem este tipo de temas, escolham pessoas que os representem e deixem lá de promover certos bloquinhos, pessoas que escrevem mal do programa mas que depois vão lá na semana seguinte ou pessoas que se pautam pelas características que referi acima, pois isso só ajuda a descer o nível e qualidade do debate. Mas já o Pedro Arroja tinha referido esse mal de que padece o debate público em Portugal, tendo ele próprio declinado o convite para participar no programa.
A terceira, serei só eu que reparei que a RTP escolheu colocar as pessoas de esquerda de um lado, e a direita mais ligada à Igreja de outro? Não é por nada, mas eu sendo para mim próprio espiritual e considerando-me crente mas não necessariamente um católico praticante, sendo um liberal-conservador de direita, onde é que me posso enquadrar em tais espartilhos redutores se a mim me é completamente indiferente que os homossexuais casem ou não? Chamem-lhe casamento civil ou seja lá o que for (Vrnhac como diziam os Gato Fedorento, por exemplo), agora, a Igreja não devia sequer ser chamada para este debate, e é muito simples, na acepção liberal a Igreja é um grupo social como outro qualquer, logo tem o direito a ser completamente autónoma, de se manifestar, de ter as suas regras e a sua doutrina. Se a sua doutrina diz que o casamento é uma instituição a ser praticada apenas entre um homem e uma mulher, é a sua posição, quer se goste ou não, ponto final. Aliás, todos conhecemos casos em que os Padres se recusam a casar um homem e uma mulher quando pelo menos uma das partes não fez a 1.ª comunhão. Quero ver depois é quantos Padres vão casar homossexuais.
Colocar este debate como sendo um debate entre certa esquerda e certa direita é um erro logo à partida, esta questão não pode padecer de uma ideologização, ou pelo menos não devia. É que sendo assim, qual é a lógica do debate? Apenas uma: afrontar mais uma vez a Igreja em nome da crendice no laicismo que é tão ou mais fanático e religioso que qualquer outro fanatismo religioso (ler John Gray, A Morte da Utopia), aquela mesma instituição com que muita gente tem tentado acabar ou reduzir, gente essa que na sua maioria despreza a Igreja mas que agora vem reclamar um direito perante essa!!!!!!! Mas isto faz algum sentido? Aparentemente nas cabecinhas de muita gente faz, a mim cheira-me apenas a embirração e mesquinhez. Mas assim sendo, então este post de João Luís Pinto é de uma ironia mordaz e deliciosa:
Vale ainda a pena ler alguns posts:
Algumas notas esparsas sobre o Prós e Contras de ontem, Francisco Mendes da Silva.
Estando eu do lado do sim, Afonso Azevedo Neves.
Será que fui o único? Nuno Gouveia.
Os pontos altos da noite, João Luís Pinto.
Enquanto ainda nos conseguimos ouvir, João Luís Pinto.
Ora pró, ora contra, João Carvalho.
A guerra ao amor, O Corcunda.
A sessão de esclarecimento da D. Fátima, João Gonçalves.
Quanto ao que realmente interessa ao país, continuamos com a cabeça nas nuvens. Agora vem aí o debate sobre a eutanásia, é já na próxima quinta-feira no programa "Aqui e Agora" da SIC. Pronto, andem lá com isso, mas decidam-se, ou acentuamos a dissonância cognitiva e o autismo e nos dedicamos a discutir as "questões fracturantes" , termo horrível mas que até espelha aquilo que essas discussões provocam, isto é, uma completa desunião da nação, mas por favor, façam programas decentes e que elevem a qualidade do debate (é que entretanto o Prós e Contras parece ter evoluído de um programa de informação para um programa de entretenimento, nada que Bourdieu não tenha previsto há uns anos no que ao jornalismo em geral diz respeito), ou alguém com bom senso se decida a tomar as rédeas do que é realmente prioritário para o país, que passa desde logo por uma maior união da nação, antes que a tempestade lhes caia em cima sem que dela se tenham sequer apercebido. Entretanto, será que vale a pena pedir desculpa pela interrupção e será ainda pedir muito que o país real continue dentro de momentos?
*título roubado aos Marretas.
No Prós e Contras sobre a Crise Internacional e a Pobreza um sr. de nome Alberto Castro diz a dada altura: "Se o céu nos cair em cima pelo menos vamos todos para o céu".
Eu concordo, há que ver sempre os aspectos positivos das coisas, mesmo das crises...