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Na política abundam macacos de imitação. Um camarada teve uma ideia genial há 50 anos e de repente aparece outro que a apresenta como se tivesse descoberto a pólvora. Até parece uma sina portuguesa. À falta de melhores ideias de governação, lá vão buscar ao sotão o raio da Regionalização que, apesar do entusiasmo e da verborreia, nunca chega a parte alguma. Mas convenhamos; o tema serve para encher chouriços, serve para acenar a cenoura de liberdade e autonomia à frente do chanfro de autarcas com aspirações a maiores voos. E nada acontece - não conseguimos e tal, tentamos em vão. Portugal sofre ciclicamente deste estado político psicótico; os actores têm um vaipe e metem a cassette para ver se pega - não pega. Contudo, não nos quedemos por aqui. Há mais. Assim que a pen das presidenciais é inserida na máquina, nascem logo uma série de candidatos nos principais partidos de Portugal. O Partido Socialista tem sempre à mão 3 ou 4 macróbios da terra (cito Eça...). O Partido Social Democrata também tem um punhado deles (peço perdão, deveria ser ao contrário - o punho é socialista). Pelo menos com Garcia Pereira sabemos com o que contamos: é um e apenas um - não há apostas múltiplas. E é aqui que vou buscar o saudoso António José Seguro que pode dar (ou já deu) o seu contributo a Portugal. O homem vai obrigar a mais macaquices de imitação. Pelo andar da procissão prevejo primárias presidenciais dentro dos partidos. Estou particularmente interessado no duelo entre os Antónios: o Vitorino e o Guterres (têm mais ou menos a mesma altura do chefe da casa civil do presidente, Nunes Liberato). Enquanto isso possa vira a decorrer, na casa dos segredos laranja, Santana Lopes e Marcelo parecem ser os pré-convocados para o frente a frente. A ver vamos. Agora a ideia de primárias presidenciais partidárias não seria mal metida, não senhor. Com tanto simpatizante que por aí anda, Portugal apenas pode sair vencedor. Afinal todos estes candidatos já deram provas do seu valor.
António Costa está feliz e contente. Os camaradas socialistas estão felizes e contentes. Mas para continuarem a sorrir vão ter de mentir e muito. Vão ter de convencer os portugueses que a Troika não existe, que o memorando nunca foi assinado, que não existem compromissos financeiros incontornáveis, que a dívida será resolvida por si, que o desemprego baixará dramaticamente assim que formarem governo, que vai haver orçamentos sempre extremamente favoráveis, e, que quando chegarem ao poder vão resolver todos os problemas que Portugal enfrentar. António Costa bem pode anunciar o início de uma nova maioria de governo e acumular a pasta da presidência da câmara e da secretaria do partido socialista (PS), e exercer o magistério da superioridade política e intelectual que afirma deter - as tais condições que Seguro não reunia -, mas António José Seguro ficará na história política do partido socialista e do país por ter obrigado um partido a entrar em alvoroço, a colidir com a sua condição endémica, a revelar os seus vícios e a sua tendência arcaica para entronizar os mesmos de sempre. Os últimos meses serviram para confirmar os nossos piores receios - o poder é um fim em si. A política não pertence aos partidos, pertence a um concílio eterno, a um cartel disposto a regressar às lides. Vimos ontem os camaradas Ferro Rodrigues, Maria de Belém Roseira, assim como a darling Ana Catarina Mendes, efusivos com a "vitória da casa", a piscar o olho e a esfregar as mãos com a possibilidade de um retorno ao executivo ou, nalguns casos, com uma estreia auspiciosa. E o problema é esse. A deixa de Seguro não serviu de grande coisa. Não aproveitaram o quadro maior das suas intenções. Não o escutaram para além da sua voz. Os intentos do outsider esbarraram com os barões que nunca poderiam autorizar o seu próprio fim. A triste conclusão que podemos tirar deste processo, é que o PS não se renovou, nem se renovará. Mas o mais grave de tudo isto é a confirmação de que o povo português é tradicionalista, conservador. Não quer a mudança, embora se sirva da mobilização enquanto engodo, decepção. Porque mobilização nada tem a ver com mudança. Mobilização tem mais a ver com mobília. Cadeiras que se arrastam de um local para o outro, sem que se mexa no estilo, no design, nos amigos de sempre que se sentam à volta da mesma mesa. E mudança também tem a ver com móbilia, mas neste caso nem sequer foram urbanos na aplicação deste conceito. Ninguém saiu da sua zona de conforto, ninguém saiu de casa para se aventurar na genuína alteração das condições de exercício político em Portugal. Para já António Costa é o campeão absoluto do Largo do Rato. E pouco mais.
Anda tudo espantado com o baixo nível do derradeiro debate televisivo que opôs Seguro a Costa, ou vice-versa. Não se trata de baixo ou alto nível. As coisas são o que são. Ponto final. Não me venham com a conversa de indignação, de espanto pela falta de decoro. As ilusões há muito que foram estilhaçadas. Estes dois políticos resultam do mesmo sistema. Um mais do que outro. Foi a matriz democrática dos últimos 40 anos que autorizou este género de lideres. Ataques pessoais? Não me parece. E pela simples razão dos negócios político-partidários deste país assentarem na premissa da pessoalidade, dos conhecimentos e das amizades. Então, se é essa a prática, a linguagem deve ser coerente com a mesma. Seguro fez muito bem em inaugurar uma série de ataques às condições endémicas do partido socialista, à promiscuidade entre a política e os negócios, contingências essas que são transversais ao universo político, partidário e ideológico de Portugal. Do mesmo modo que se exige transparência, rigor e legalidade na conduta do primeiro-ministro (refiro-me ao caso Tecnoforma), também seria expectável um escrutínio preventivo em relação àqueles que se apresentam como salvadores da pátria, futuros governantes. O que Seguro fez, no terceiro round, nos sucessivos assaltos, nada tem a ver com o sagrado e o profano do discurso político. Todos os Godinhos da cena política nacional devem ser arrastados para a praça pública para tirar a limpo as consequências. O problema, que aflige mais Costa do que Seguro, é precisamente esse. A ideia de que o sucesso político e a consolidação de poder dependem de uma boa rede de apoio que opera nas margens do exercício político em sentido restrito. Ao longo dos anos António Costa praticou a mesma religião de sempre, cultivou as mesmas tradições de envolvimento da sociedade civil a seu favor, em seu benefício. É esse o espólio de que dispõe Costa, designadamente junto dos agentes culturais, dos proto-intelectuais, da boémia das modas lisboetas. Porventura sem o desejar, mas em resultado das condições de disputa, Seguro levanta lebres importantes, mas, o mais provável, à boa moda portuguesa, é que o atavismo ganhe, qualquer que seja o candidato a levar o troféu das Primárias.
Bem faz em prometer a redução do IVA da restauração. Num partido que há décadas depende do tacho, panela e para a imensa maioria dos seus crédulos, da ida ao comício bem regado pelo veni, vidi, vinhaça, a queda desse imposto é algo extremamente premente. Bastará olharmos para as bochechas e panças de Costa, Soares, Coelho(ne), para o atlético Sócrates da barrigona, Soares2 e uma infinidade de outros convivas, compreende-se a urgência.
Posso opinar à vontade sobre o debate de ontem entre António Costa e António José Seguro - não tenho habilitações para votar neste país. Contudo, interessa-me para onde vai este país. É aqui que resido, e Portugal, para bem ou para mal, merece a minha consideração. Não sou um turista ocidental encantado pelo vinho barato de qualidade e os dias de sol sem fim. Sinto na pele o descalabro nacional, sei quais são as qualidades lusitanas e quais os vícios de Portugal. Mas regressemos à noite de ontem e ao duelo dos candidatos socialistas. Numa frase: assim não vamos lá. Assistimos ontem a uma reunião de condóminos, à acareação de camaradas incapazes de oferecer algo de substantivo a um país em estado de emergência. Seguro entrou a disparar e serviu-se do folclore emocional a que os portugueses espectadores de novelas estão habituados. A palavra "traição" mexe com o foro emocional de todos os portugueses. Foi muito bem sacada por Seguro. Usou a linguagem que a comadre usa quando a nora foge com um amante. Ainda por cima, Seguro apresentou a sua desilusão sem a distância formal de que se servem os políticos. O jargão de proximidade, de parque de campismo, fez descer à terra o sentimento - tu fizeste isto, tu fizeste aquilo. António Costa ainda tentou invocar a Convenção do Rato sobre a proibição de ataques pessoais, mas de nada lhe serviu exibir esse falso moralismo. Costa apresentou-se à mesa da Judite com o à vontade de quem tem as costas protegidas, o tal crédito dos fundadores e notáveis, os amigos para todas as ocasiões. Mas não ficou bem na fotografia. Quem preparou o debate com disciplina e material de suporte, foi Seguro. Sim, o dossiê e os gráficos deitados sobre a mesa e aos olhos dos portugueses demonstram que Seguro quer trabalhar. António Costa não trouxe nada e recebeu uma falta de material. A arrogância por detrás da ideia de que poderia resolver a coisa apenas com as mãos e os dentes, paga-se caro. Sentia-se na sua pose, e no seu tom paternalista, a presença dos Almeidas e Soares do partido, os cordelinhos de uma teia a trabalhar nos bastidores. Contudo, nenhum dos dois foi capaz de endereçar as questões que realmente interessam. Nem um nem outro conseguiram surpreender com uma ideia sequer. Serviram-se de frases-feitas e chavões. Mas, Seguro, que alegadamente vinha de trás, deu boa mostra de si. Provou que os menos dotados têm de se esforçar mais, têm de trabalhar mais. E isso contraria a matriz instalada num país que ainda acredita em bons e maus, melhores e piores, iluminados ou nem por isso. No rescaldo do primeiro debate, Constança Cunha e Sá acaba por demonstrar a contradição genética e política de Portugal. Bastou-lhe uma frase para sintetizar a doença de que padece, e a patologia que contagia as hostes políticas de Portugal: "prefiro antigos bons a novos maus". Aliás, a pivot da TVI não é a única comentadora enviesada, a mando de interesses ideológicos e partidários. A cambada de comentadores da SIC Notícias, RTP, assim como os jornalistas da estação de televisão de Queluz, deixaram-me completamente desesperado com a superficialidade das suas considerações. Não são melhores que António Costa ou António José Seguro. São igualzinhos a esses dois. Têm é outra profissão. Logo à noite teremos mais. Mais do mesmo?
Qual a relação entre as aspirações políticas de António Costa e o timing da destruição das gravações de José Sócrates? Just asking (logo à noite não teremos a resposta...).
Demagogia é uma doença grave. Afecta grande parte dos membros políticos da nossa sociedade. Mas existe outra patologia ainda mais grave - a mentira. E mesmo que a mesma seja repetida vezes sem conta, não se transforma em verdade. Quando António Costa afirma que oito orçamentos rectificativos são a prova de que o governo falhou, deveria virar a sua lupa de inspector para a gestão da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e as contas habilmente camufladas pela venda de património ao desbarato, entre outras manobras. O presidente de câmara, que teve a oportunidade concedida por diversos mandatos para provar a sua competência, não pode, à meia-volta, omitir a sua vida autárquica, quando apresenta as credenciais aos eleitores, simpatizantes ou não. Se bem me recordo, quando lá chegou (à CML), para fazer face ao balancete, obteve um empréstimo de 500 milhões de euros (estarei enganado?) que foi muito conveniente para dar o ar de graça de contas saudáveis. Embora os socialistas se afirmem quase "racialmente" diferentes dos outros (melhores e mais iluminados), em abono da verdade não praticam uma religião diferente. Quando o governo decidiu alienar empresas públicas houve logo um coro de protesto sobre a perda de soberania e entrega de empresas-bandeira, mas Costa não faz algo diverso. Vende uma parte da história de Lisboa com o mesmo sentido de urgência. Ou seja, se os portugueses forem objectivos na análise dos factos, terão de interpretar e validar a obra de António Costa na autarquia lisboeta. O seu estágio camarário deve servir de teste para voos maiores, para a sua promoção ou não. Qual o resultado da conta de somar e subtrair na gestão de Lisboa? É esse o critério que deve servir para organizar o processo de reflexão respeitante à eleição, numa primeira fase, de um candidato a candidato, e mais tarde (quando porventura for tarde demais), de um candidato a primeiro-ministro. O departamento de comunicação da CML pode produzir todos os videos catitas que quiser, com um décor pejado de amigos à volta da clareira, mas esses diaporamas contam apenas metade da estória. Não me venham com a cantiga que o país foi à ruína, mas que existe uma excepção, um estado-exíguo, a ilha de deslumbramento onde a devastação não chegou. Lisboa responde perante o país, assim como António Costa.
Não sei que nome dar ao fenómeno. Mas parece haver um desligamento preocupante entre o que se passa em Portugal e o que está a acontecer lá para para as bandas da Ucrânia. Existe um plano de contingência para o caso de um conflito armado ocorrer e que envolva um dos países fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO)? Refiro-me a Portugal como é óbvio. Quais os impactos expectáveis para a economia portuguesa? Que implicações militares, tácticas e logísticas se reservam para Portugal? Existe alguma plataforma de coordenação no plano interno por forma a oferecer uma resposta tendencialmente racional? Será Portugal um porto seguro para células do Estado Islâmico que queiram ampliar o seu espectro de actuação? Mesmo que estejam a decorrer movimentações nos bastidores da administração e processos de brainstorming que procurem o elencar de cenários possíveis, existe uma dimensão que não deve ser alienada: o modo de envolver a sociedade civil na tomada de consciência da gravidade da situação. As televisões nacionais, assim como os outros meios de comunicação social, também contribuem para uma apatia generalizada. Não cumprem os requisitos mínimos de jornalismo sério que deve servir para acordar a sociedade civil e pôr em marcha processos intelectuais. Mas há mais que nos deve preocupar. Seria expectável, face ao grau de emergência em que nos encontramos, que pudéssemos contar com o desempenho competente dos nossos lideres e das organizações que zelam pela defesa nacional e a segurança interna. Qual a posição portuguesa a defender na Cimeira da NATO, mesmo que esta ainda não tenha a sua própria fórmula definida? Ao não haver comunicação, e partilha da relevância deste momento histórico (na intensidade que se exige), Portugal corre ainda maiores riscos. Os impactos negativos que um possível conflito europeu provocará, devem ser salvaguardados sem demoras. É de uma tristeza atroz que não haja noção dos tempos que estamos a viver. Os actuais governantes, assim como os putativos lideres, têm a obrigação de estabelecer a ligação entre os desafios económico-sociais nacionais e o quadro geopolítico internacional. A abordagem ao sistema internacional não pode ser realizada de um modo primário. Portugal partilha fronteiras com a Rússia, a Ucrânia, os EUA e a NATO. Portugal não é uma ilha remota, afastada das decisões tomadas pelos grandes senhores. Quanto às primárias que ocupam os escaparates da política nacional, nem sequer lhes dedico uma linha. São crianças que se encontram a uma distância enorme do mundo real. São peixes que não nadam no aquário. Nada.
Sabemos muito bem que este tira-teimas entre António Costa e António José Seguro, a propósito dos debates e a duração dos mesmos, não passa de uma encenação para captar a atenção dos mais incautos. Faz parte da novela. Faz parte do esforço de atribuir importância ao próprio umbigo. Antes de mais, convém referir que alguns pressupostos intelectuais nem sequer serão observados. Ou seja, um debate implica discussão de ideias, mas como podemos observar, quer Costa quer Seguro apenas repetem chavões que foram coleccionando ao longo dos anos. Seja qual for a natureza das tertúlias inscritas no calendário, e no período de tempo acordado pelos concorrentes, em termos práticos nada se alterará no que diz respeito às grandes opções de Portugal. Como já havia dito por diversas vezes, não interessa qual o governo que sucede ao actual. Os elementos operativos financeiros serão os mesmos. A necessidade de gerar receitas será a mesma. Os impostos continuarão por anos vindouros e todas as facilidades que estes ou aqueles venham a prometer, não passam de falsas promessas, mentiras. Não sei quantos simpatizantes já se registaram no largo do Rato, mas mesmo que sejam 100 mil, o Benfica ou o Sporting (para mencionar apenas alguns) têm muitos mais adeptos. Em suma, mesmo que batam todos os recordes de Portugal, o número de simpatizantes arrebanhados para as primárias, não representam nem de perto nem de longe Portugal. Nessa medida, os debates televisivos entre Costa e Seguro deveriam acontecer num canal fechado com subscrição. Aliás, sugiro que se crie uma TV Primárias (TVP) para não esbanjar a paciência de tantos portugueses que não estão interessados nos arrufos das comadres. A TVP até pode combinar as perguntas e as respostas com os convidados por forma a que todos fiquem felizes e contentes. Portugal definitivamente não pode perder tempo com figuras de estilo e retórica, que uns apresentarão em detrimento de outros. Os minutos que separam Costa de Seguro pouco têm a ver com a hora de Portugal.
Jogo limpo e política não combinam. Aliás, iria mais longe. Política é uma actividade suja pela sua própria natureza. Alguém no seu perfeito juízo acredita, por um instante sequer, que António Costa prescindiria da sua principal ferramenta de comunicação política? O alegado presidente da Câmara Municipal de Lisboa sabe muito bem que as batalhas se ganham nas televisões, em directo, ou enquanto motivo de reportagem das peregrinações de norte a sul do país. António José Seguro faz o que lhe compete. Expõe a vantagem comparativa do seu adversário, mas ao fazê-lo, demonstra as suas fragilidades. Contudo, a pergunta deve ser colocada de outra forma. A SIC apoia qual dos candidatos e porquê? A estação de televisão nem sequer é tímida na declaração da sua preferência. Existe uma relação histórica entre as vitórias socialistas e o tempo de antena cedido pela SIC. Assim foi na campanha de Guterres e assim será com António Costa, que não precisa nem deseja debates com Seguro. Costa tem feito um bypass a Seguro de um modo prepotente e com um sentido de desprezo deplorável. Trata o homem como se não existisse e este não encontra modo de dar nas vistas. António Costa tem uma agenda social carregada que lhe granjeia grande visibilidade. É a entrega do troféu da Volta a Portugal, é a primeira fila na Moda Lisboa, é a inauguração disto e daquilo, e, para Seguro, pouco sobra. Seguro tem rapidamente de inventar uma fórmula, de se lançar numa operação dirigida por si. Se eu fosse Seguro, participava numa conferência TED(io). Convidava membros parlamentares de todos os partidos, mas excluiria António Costa, para um debate em directo numa sala ampla com eco e tudo. Se eu dirigisse a campanha de Seguro, certamente que teria ideias um pouco mais ousadas e desconcertantes. Porque de politicamente correcto, este Seguro tem em demasia.
António Costa bateu por meia-hora o rival António José Seguro - chegou trinta minutos mais cedo para formalizar a sua candidatura às eleições primárias no Partido Socialista (PS). Mas Seguro, certamente melindrado pelo facto, não foi de meias-medidas e apresentou uma resposta à altura da situação: o orçamento para sua campanha é maior que o de António Costa - 165 mil euros contra 163 mil. Parece-me que somos confrontados com um empate técnico. Contudo, existe uma questão de fundo, menos jocosa e mais pertinente, que deve ser endereçada sem demoras, neste caso ou noutros de índole semelhante: a proveniência dos dinheiros de campanha. Este é o momento mais que indicado para avançar com medidas tendentes à normalização e transparência dos processos eleitorais. O cidadão português, recenseado ou não, tem o direito de saber de onde vêm os valores que ajudam a sentar políticos nas cadeiras do poder. As questões financeiras relacionadas com campanhas são sempre apresentadas de um modo convenientemente vago. São frases como; "estimam gastar 328 mil euros" ou "está tudo em aberto", que minam a confiança dos eleitores e dão margem para trafulhices. À americana, sem rodeos ou rodeios, que seja publicada a lista oficial de fundos e donativos concedidos à campanha deste ou daquele (podem inserir o apelido Wolf no motor de busca). O Dr. Solgado passou um cheque de 10 mil euros? Não, não consta na lista. Muito bem. Adiante. O Eng. Santos dos Soares teve uma atenção para com o outro? Sim, senhor - está aqui na terceira página do balancete. Estão a perceber? É simples. Pagou - passa-se recibo (dedutível no IRS logo se vê) e publica-se a folha de pagamentos no diário da república. Bananas. Obrigado. Passe bem. Passa para cá o meu.
O problema do Partido Socialista (PS) é que o país inteiro está a ver. O problema do PS já não é o governo que se encontra em plenas funções - é o próprio PS. O problema do PS já não é o desemprego ou o crescimento económico - é a perda de credibilidade perante os portugueses. O problema do PS é terem feito asneiras e não haver modo de as desfazer. O problema do PS é haver muitas agendas pessoais sobre a mesa. O problema do PS é não haver alternativa ao PS. O problema do país é não poder contar com uma oposição centrada nas questões que efectivamente contam. O problema do país é ser obrigado a assistir a um espectáculo degradante nos meses que se seguem. O problema dos políticos é julgarem que o seu partido e o país são a mesma coisa. O problema do PS é haver um duelo entre estátuas e estatutos. O problema do PS é tornar irreversível certos processos de fractura interna. O problema do PS é ter perdido contacto com a realidade. O problema do PS é julgar que o legado do passado pode resolver os problemas do futuro. O problema do PS é não ter realizado a reflexão apropriada sobre o caminho percorrido pelos socialistas por essa Europa fora. O problema do PS é ter de vender a alma ao diabo para conquistar o poder. O problema do PS é julgar que os seus conflitos internos não afectam o país. O problema do PS é considerar que não será julgado pelos portugueses nas próximas legislativas. O problema do PS não é o meu problema, mas já é de todos nós.
António José Seguro recorreu à ideia das Primárias para ganhar tempo e inverter a tendência que lhe é desfavorável no partido, e consequentemente a nível nacional. Mas há muito mais que pode fazer. Pode, por exemplo, avançar com uma petição (com não sei quantas assinaturas) para que o Parlamento leve a discussão a reformulação da lei que rege os partidos políticos em Portugal. Pode concomitantemente, ou em caso de insucesso da solução que acabo de avançar, propor ao mesmo grémio legislativo um referendo nacional sobre e sua eligibilidade ou não, enquanto secretário-geral do PS ou candidato a primeiro-ministro (sem especificar por que ordem). Para além disto, pode ainda aliar-se a António Costa e negociar uma coligação intra-partidária. Para isso basta imitar o governo e a relação quase simbiótica entre Passos Coelho e Paulo Portas. Ou ainda, à chairman ou CEO, negociar com a empresa PS uma saída com um pacote indemnizatório com opções à mistura - uma rescisão quase-amigável de contrato político com uma pensão dourada e uma posição no conselho de supervisão do Partido Socialista. Ou finalmente, ir à guerra (quem vai dá e leva) e levar a maior coça política que alguma vez se viu em Portugal. Para já, enquanto não passam aos murros e pontapés, António José Seguro anda a monte, perseguido por captores da própria casa que o amamentaram, jotalizaram e que agora parecem dispostos a pô-lo no olho da rua. Uma outra opção seria requerer asilo político num país sem acordo de extradição. França não me parece que seja um destino favorável e Espanha também será de excluir agora que o Rei D. Juan Carlos colocou em marcha o seu próprio processo de sucessão. Realmente ando preocupado com o futuro de Seguro. Havia tanta gente que depositava esperança no rapaz e agora é o que se vê.