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Todos os governos do mundo têm o seu prisma. Todos os governos do mundo têm um sistema de vigilância, mas não têm o sistema que desejavam ter - têm o que podem ter. Os norte-americanos têm, pelos vistos, o mais sofisticado de todos. E, os outros, que têm ou tiveram outras formas de monitorização das populações, nunca se iriam colocar em bicos de pé e bradar aos céus: big brother is listening to you. Da STASIi à PIDE, passando pela KGB, o universo de serviços é vasto. Desde tempos remotos aos dias de hoje, os governos (democráticos ou não) sempre fizeram o exercício da vigilância invocando princípios de segurança interna. Não vale a pena insistirmos na tése moralista ou o seu contrário. Não vale a pena fingir ingenuidade. Há muito pouco que escapa ao domínio da busca de um serviço de inteligência, se for esse o seu desejo. Não nos devemos esquecer que quem abriu a caixa dos segredos foi um norte-americano. Não foi um inimigo conveniente, residente na Coreia do Norte ou um militante em treino num enclave Talibã. Isto sim foi um inside job, mas curiosamente, Edward Snowden, pelos vistos, estava a trabalhar sozinho quando decidiu largar a bomba. Trata-se de um cidadão com a consciência pesada por ter participado no mecanismo de voyeurismo governamental. Os cidadãos dos Estados Unidos, terra de linhas rectas que dividem opiniões, bons e maus, republicanos e democratas, não fugiu à regra no modo como está a tratar a questão de alegada violação dos direitos civis americanos. Para alguns, as escutas não constituem motivo de alarido porque o seu estilo de vida ainda não foi afectado pelo olhar indiscreto do governo. Para outros a primeira constituição democrática do mundo (Filadélfia, 1787) está a ser violada de um modo intenso. A equação que pretendem vender diz respeito a um rácio securitário. Se a vigilância resulta em tratamento de informação conducente à prevenção de conflitos e atentados (que custam a vida de cidadãos) então justificar-se-á. Contudo, este tipo de argumento deixa a cauda de fora. Não convence integralmente os cidadãos americanos e do resto do mundo. Snowden não poderia ter escolhido melhor momento para granjear o conforto alheio. Putin sabe muito bem o que está em causa. Ao tomar o "partido" dos direitos civis fundado por Snowden, envia uma mensagem ilusória para consumo interno. A Rússia é tudo menos uma ilha de deslumbramento de direitos civis e políticos. Nesse sentido, convém jogar a carta certa. Da Turquia ao Brasil, da Indonésia ao Egipto, a ordem do dia é apenas uma: como controlar a população ávida por repor o equilíbrio económico e social. Estas peças fragmentárias, embora pareçam desligadas, fazem parte de um mesmo quadro de acontecimentos e percepções. No grande jogo que se realiza outros actores irão aparecer para revelar ainda mais mistérios. Para já encontramo-nos uma zona de trânsito em Moscovo e o aeroporto é a parábola perfeita para o vaivém de opiniões.