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Os socialistas, bloquistas e comunistas não pouparam o governo anterior, acusando o mesmo de estar a matar os portugueses. Mas a geringonça parece querer ir mais longe. Promete conceder uma morte lenta aos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS). António Costa bem pode carregar em ombros o pai do SNS, mas será a própria ideologia de Estado-monopolista a arma escolhida para desferir o golpe misericordioso nos doentes de Portugal. Na mesma linha de pensamento tosco sobre a exclusividade da escola pública, deparamo-nos com uma situação mais dramática, um enredo de vida ou morte. Por alguma razão, ao longo das últimas décadas, o sector privado de saúde serviu para colmatar as lacunas e insuficiências do SNS. O que mudou do dia para a noite? De repente, a toque de caixa, o SNS vai ter capacidade para atender às imensas filas de espera de pacientes? Tudo isto soa a teimosia ideológica. Mas há semelhanças com o que se passa no sector do ensino - o professor de Faro colocado à última hora em Bragança (?). Assim sucederá como o doente oncológico de Cuba (Alentejo) que terá de fazer malas para ser operado nos Açores. Dizem eles, com os três dedos em cada mão, que o SNS tem capacidade para servir os utentes. Eu sei o que querem fazer. Querem amputar as despesas com saúde, mas dando a volta ao texto, para que pareça o elogio da causa pública, do interesse nacional. Treta. Um governo incapaz de gerar dinâmica na economia apenas pode fazer uma coisa - cortar a torto e a direito. Os senhores-funcionários-públicos-médicos-cirurgiões que se preparem. Vão ter sessões contínuas. Mas podem dormir nos corredores dos hospitais se encontrarem uma maca.
Nos últimos anos temos sido bombardeados com tantas notícias sobre a dívida do Estado português que até ficamos enjoados, e assumimos essa imagem enquanto a derradeira expressão do descalabro - a falência de Portugal. No entanto, existe um outro "estado terminal" dentro do território nacional. Confirmamos um outro flagelo que opõe os indíviduos aos seus concidadãos. O crédito mal-parado e a falta de provisão não é um exclusivo da máquina administrativa, do governo. Quantos cidadãos ficaram a arder por incúria e abuso de outros compatriotas? O organigrama do protesto não pode ser desenhado exclusivamente na vertical - de baixo para cima, contra o governo que põe e volta a pôr, de um modo descarado, a mão no bolso dos contribuintes. O fluxo e refluxo de dívidas também existe (e de que maneira) na escala horizontal, entre privados, que sem vergonha, não honraram os seus compromissos. A guerra financeira que assola Portugal também é civil, não é apenas política, ideológica ou partidária. Os argumentos fiscais são a principal bandeira da oposição e fazem parte do discurso daqueles que não estão no poder - e que não sabem fazer omeletes sem ovos. Mas não é isso que aqui desejo discutir. O que gostaria de retratar é o sério conflito financeiro-social que coloca irmãos contra irmãos, agentes económicos privados contra outros de natureza semelhante. Não necessitamos do amparo da grande teoria macro-económica e da falsa pretensão a ciência exacta da disciplina de Economia para perceber que as gentes andam com as candeias às avessas, a tentar reaver dinheiros "perdidos". Foi a cunhada que deu de frosques com o pé de meia do tio e que deixou sem provimento uma família inteira. Foi o amigo para todas as ocasiões que foi avalista para a compra da casa e que se lixou. Foi o serviço prestado à ultima hora, de acordo com um pedido urgente, e que volvidos três anos ainda não foi pago. É disto que se trata e que nada tem a ver com a austeridade ou com a Troika. Tem a ver com o comportamento de um país inteiro, práticas eticamente deploráveis que puseram de joelhos tanta gente. Quantos de nós conhece estórias e mais estórias, contos do vigário sobre rompimentos de cordões à bolsa e falências domésticas? Pois bem, se um exame de consciência fosse realizado, estas considerações deveriam ser trazidas à baila. Os maus não são apenas os outros. Existem portugueses que participam (e continuam a participar) nesse esquema de engano e decepção. Não me venham com conversas. Basta escutar as lamentações taberneiras que inundam as ruas, ouvir o desabafo do fiado que com alguma sorte ainda não morreu de velho. Ainda não entramos na fase extrema do salve-se quem puder, de arranhadelas, escoriações, murros e pontapés. Mas para lá caminhamos a passos largos. O povo está desesperado e irá buscar à força, se necessário, os dinheiros que foram roubados pelo melhor amigo.
Marcelo Rebelo de Sousa acaba de afirmar na TVI que a existência de serviços de informações no sector privado "é uma coisa do outro mundo", o que, de resto, tem sido ecoado por várias pessoas. Mas será que não têm a mínima noção de coisas como competitive intelligence ou espionagem industrial? É que estas são deste mundo - e até aparecem retratadas em imensos livros e filmes. Algumas elites portuguesas é que parecem viver com a cabeça noutro mundo.