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Os professores vêm de longe

por John Wolf, em 15.11.17

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Os professores vêm de muito longe. A sua classe será porventura a que mais se sujeita a surrealidades políticas e logísticas. Não vale a pena mencionar o drama sustentado da colocação de professores ou a inadequação de salários. As escolas são as ETAR da matriz cultural, do nível sócio-económico do país. Tudo o que de ruim é gerado em casa sai porta fora e aterra na sala de aula. Os professores não leccionam apenas disciplinas. Apanham as maleitas todas; a falta de educação dos alunos, os vícios de comportamento enunciados em casa pelos pais e os insultos descabidos. Enfim, poderemos concordar que têm sido o saco para esmurrar, a cuspideira do barbeiro, a casa de banho pública manchada pela urina canina. Ser professor não acaba ali ao último toque. Os docentes acartam às costas papelada para rever, testes para corrigir, documentos para conferir e, acima de tudo, enormes dores de cabeça. Falam de calmantes e diazepan? Aposto que são os professores que mais consomem desses comprimidos. Assistimos hoje à continuidade, ao mesmo paradigma, e por extensão, ao mesmo grau de desagrado, de insatisfação, de ameaça à integridade física e mental dos professores. Quando António Costa diz que não tem onde ir buscar 650 milhões de euros adicionais para repor os quase dez anos de castigo da classe docente, corrobora toda uma abordagem negativa. Valida o executivo de Passos Coelho, e se quisermos, de todos eles, de António Guterres a Cavaco Silva. Não houve, desde o Portugal democrático (da educação universal) até aos dias de hoje, uma abordagem definitiva, integral e trans-ideológica. Foram sobretudo os socialistas, parentes das confederações e sindicatos, que fizeram da classe docente gato-sapato, usando o seu lastro para ir e vir nas demandas, eleger deputados e ganhar votos. Os professores por seu turno, não têm onde agarrar, e lá aparecem uns Nogueiras e pelo menos dois Carlos, para cantar da ardósia penada um conjunto de estrofes de ocasião. O metódo negocial que praticam é deveras estranho, fragmentado. Às vezes são as colocações o prato do dia, mas na época seguinte já é o dinheiro "cativado" por regimes mais austeros. Francamente não entendo esta lista de supermercado às pinguinhas. Se é para partir a loiça toda e começar de novo, então eu exigiria uma revolução total com destino final. Mas não. Os sindicalistas usam outra abordagem. Uma sequência de protestos como se o problema não fosse curricular, integral. Um apagão completo, um reset - de tudo ou nada. Greve absoluta.

publicado às 13:54

"I did not have checks with that bank"

por John Wolf, em 17.10.13

Se as palavras ainda valem o que valem, as frases que resultam delas devem servir para revelar uma determinada intenção. Nesse caso, resta-nos interpretar cuidadosamente a mensagem que nos mandam para tentar extrair significados profundos. Quando Cavaco afirma que a única relação que manteve com o BPN foi na qualidade de depositante, soa a Bill Clinton quando jurou a pés juntos que não se enrolou com a Monica Lewinsky. "I did not have checks with that bank" - seria mais ou menos assim se fosse traduzido para linguagem de depósito a prazo -, mais juro menos juro. Mas prestem atenção. Há aqui palavras-brinde metidas na conversa como quem não quer a coisa. Como se fosse um fait-divers - en passant. O presidente da república parece se servir da condição de professor para atenuar as agravantes. "Estão a ver. Eu até era um desgraçado professor que foi a esse... como se chama o banco? Isso - BPN -, guardar os meus trocos, as minhas pequenas poupanças" - a miséria ganha por um docente. Cavaco Silva, ao afirmar que estava ocupado academicamente, parece que o faz para poder dizer que "tinha lá tempo para andar metido em esquemas de dinheiros". Depois, ao não responder à letra a Mário Soares, que o intimida a comparecer em tribunal, provavelmente fá-lo para ver se a coisa acalma. Se Cavaco irrita Soares, está o caldo entornado - este ainda vai buscar umas pastas que devem andar por aí perdidas em arquivos e fundações convenientes. Mas regressemos ao espírito e à letra da troca de galhardetes. Cavaco, que estará no mesmo estado avançado em que se encontra Soares, dentro de muito pouco tempo (reformado, pensionista e mais ou menos gágá), ainda lança umas indirectas que podem ser resgatadas por entendedores de meias-palavras. Quando Cavaco vem com aquele floreado que o povo de Portugal deve estar reconhecido pelo papel de Soares no processo conducente à adesão às Comunidades Europeias, no fundo, e trocado por miúdos, está a dizer que quem nos meteu nesta alhada há muitos muitos anos foi o amigo Soares. É subtilmente cínico, mas não passa despercebido. No meio disto tudo, só acho desonesto que a troca de galhardetes envolva a casa civil. De civil resta muito pouco. Parece que Soares tem enviado as reclamações por correio azul para essa casa em Belém. Claro está que a resposta que os portugueses exigem nunca chegará à barra do rio Tejo, quanto mais à barra do tribunal.

publicado às 18:30

 

Mario Vargas Llosa, A Civilização do Espectáculo:

 

«Todavia, a autoridade, no sentido romano de auctoritas, não de poder, mas sim, como define na sua terceira acepção o Diccionario da Real Academia Espanhola, de «prestígio e crédito que se reconhece a uma pessoa ou instituição pela sua legitimidade ou pela sua qualidade e competência nalguma matéria», não voltou a levantar a cabeça. Desde então, tanto na Europa como em boa parte do resto do mundo, são praticamente inexistentes as figuras políticas e culturais que exercem aquele magistério, moral e intelectual ao mesmo tempo, da «autoridade» clássica e que os professores, palavra que soava tão bem porque se associava ao saber e ao idealismo, encarnavam a nível popular. Em nenhum campo isto foi tão catastrófico para a cultura como na educação. O professor, despojado de credibilidade e autoridade, convertido em muitos casos, na perspectiva progressista, em representante do poder repressivo, isto é, no inimigo a quem, para alcançar a liberdade e a dignidade humana, era preciso resistir e, até, abater, não só perdeu a confiança e o respeito sem os quais era impossível cumprir eficazmente a sua função de educador – de transmissor tanto de valores como de conhecimentos – perante os seus alunos, como também os dos próprios pais de família e de filósofos revolucionários que, à maneira do autor de Vigiar e Punir, personificaram nele um daqueles instrumentos sinistros de que – tal como os guardas das prisões e os psiquiatras dos manicómios – o establishment se vale para refrear o espírito crítico e a sã rebeldia de crianças e adolescentes.

 

Muitos professores acreditaram de muito boa-fé nesta satanização de si mesmos e contribuíram, atirando baldes de azeite para a fogueira, para agravar o estrago fazendo suas algumas das mais disparatadas sequelas da ideologia do Maio de 68 relativamente à educação, como considerar aberrante reprovar os maus alunos, fazê-los repetir o ano e, até, dar classificações e estabelecer uma ordem de preferências no rendimento académico dos estudantes, pois, fazendo semelhantes distinções, propagar-se-ia a nefasta noção de hierarquias, o egoísmo, o individualismo, a negação da igualdade e o racismo. É verdade que estes extremos chegaram a afectar todos os sectores da vida escolar, mas uma das perversas consequências do triunfo das ideias – das diatribes e fantasias – do Maio de 68 foi que por esse motivo se acentuou brutalmente a divisão de classes a partir das salas de aula.

 

A civilização pós-moderna desarmou moral e politicamente a cultura do nosso tempo e isso explica em boa parte que alguns dos «monstros» que julgávamos extintos para sempre depois da Segunda Guerra Mundial, como o nacionalismo mais extremista e o racismo, tenham ressuscitado e vagueiem novamente no próprio coração do Ocidente, ameaçando uma vez mais os seus valores e princípios democráticos.

 

O ensino público foi uma das grandes conquistas da França democrática, republicana e laica. Nas suas escolas e colégios, de muito alto nível, as vagas sucessivas de alunos gozavam de uma igualdade de oportunidades que corrigia, em cada nova geração, as assimetrias e privilégios de família e classe, abrindo às crianças e jovens dos sectores mais desfavorecidos o caminho do progresso do êxito profissional e do poder político. A escola pública era um poderoso instrumento de mobilidade social.

 

O empobrecimento e desordem que o ensino público sofreu, tanto em França como no resto do mundo, deu ao ensino particular, ao qual por razões económicas só tem acesso um sector social minoritário de altos rendimentos, e que sofreu menos os estragos da suposta revolução libertária, um papel preponderante na forja dos dirigentes políticos, profissionais e culturais de hoje e do futuro. Nunca foi tão verdade o «ninguém sabe para quem trabalha». Julgando fazê-lo para construir um mundo verdadeiramente livre, sem repressão, nem alienação nem autoritarismo, os filósofos libertários como Michel Foucault e os seus inconscientes discípulos agiram muito acertadamente para que, graças à grande revolução educativa que propiciaram, os pobres continuassem pobres, os ricos, ricos e os inveterados donos do poder sempre com o chicote nas mãos.»

 

Leitura complementar: O mito do individualismo extremo do nosso tempoA insustentável leveza da literatura do nosso tempoA banalização da políticaDa arte modernaDo erro da equivalência entre culturas à difusão da inculturaDa proliferação de Igrejas à substituição da religião pela alta cultura e aos escapismos contemporâneosDa libertação sexual ao erotismo como obra de arteA ausência dos intelectuais da civilização do espectáculo

publicado às 23:12

«O reitor alerta para o perigo futuro que representa a "incapacidade de recrutar novos professores", indicando que a média de idade dos docentes na UTL é de cerca de 50 anos.

Isso significa que, além de crescer o fosso etário entre alunos e professores, quando esta geração se reformar não haverá quem a substituta.

"É terrível", lamentou o reitor, frisando que não se "passa escola", ou seja, não há hipótese de "formar os novos docentes com os mais antigos" porque com as universidades manietadas com a falta de dinheiro, "não há oportunidades para a gente mais nova" e, além disso, "os melhores saem para o estrangeiro".»

publicado às 19:31

Do que se lê por aí em comentários na blogosfera e Facebook sobre professores desempregados - já nem se fala nas declarações de Passos, que é chão que parece já ter dado uvas para os propósitos de certa gente... - percebe-se mais uma vez que a mentalidade planeamentista é rainha e senhora de muitas mentes portuguesas. O planeamentismo gerou milhares de professores desempregados e agora muitos destes pedem mais planeamentismo para lhes resolver os problemas. Hipocritamente ainda tentam dar-se ao trabalho de disfarçar ao que realmente vêm, utilizando argumentos como "o país já investiu muito em formar indivíduos qualificados, deve agora saber aproveitá-los". O país, essa entidade metafísica dotada de consciência capaz de raciocínio moral, centralização de informação e decisão de acordo com um qualquer critério de justiça social ou produtividade económica quanto ao que fazer com os desempregados, claro. É uma argumentação à Geração Parva à Rasca transposta para vestes professorais. O que nem por isso faz com que deixe de ser um erro filosófico e científico clamoroso.

publicado às 23:46

Coisinhas boas por e-mail

por Samuel de Paiva Pires, em 02.06.09

 

 

 

publicado às 21:33

Não têm mais nada com que se entreter?

por Samuel de Paiva Pires, em 16.12.08

A Universidade de Coimbra (UC) lançou hoje um CD-Rom interactivo que visa ajudar os estudantes a lidar com o stresse dos exames, a aumentar a eficiência do estudo e a serem mais bem-sucedidos na vida académica.

 

E que tal se deixassem os estudantes em paz? Eu pelo menos falo por mim que acho essas coisas de apoio, auto-ajuda e por vezes até de acompanhamento psicológico um bocado síndrome de gente mimada, com pouca coisa com que se preocupar ou com muito dinheiro para gastar nessas patetices.

 

Mas adiante, mais importante do que isso,  acho que num espectro nacional e indo de encontro a um dos comentários à notícia acima no site do Público, que tal criar um CD-Rom para ensinar muitos dos professores universitários do país a dar aulas decentes e úteis, a ter critérios de avaliação e correcção coerentes e a serem realmente académicos, no verdadeiro sentido da palavra?

publicado às 01:41






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