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Vivemos tempos de excepção, de extrema raridade - raríssimos. Portugal acaba de ser apurado pela Fitch para o grupo de Itália. António Costa, que há não muito tempo rogava pragas às agências de notação, tece agora os maiores elogios à Fitch. Este jogo de patentes por conveniência acarreta algumas considerações penosas. Se Portugal agora se encontra ao nível da economia e finanças da Itália, devemos ficar preocupados, mas há algo ainda mais dramático - o nível de Dívida Pública. Se de facto Portugal está ao nível da Itália, então ocupa agora o 5º posto dos países mais endividados do mundo. Enquanto os sistemas financeiros dos EUA e outras nações pioneiras procuram integrar no seu mainstream as divisas digitais, Portugal não consegue passar da fase das artimanhas orçamentais para dissimular o real estado da economia. O Turismo tem sido o Bitcoin de Portugal, mas nem chega a tanto - não representa uma mudança de paradigma. Continua a ser o sector tradicional do mais do mesmo, correndo graves riscos associados a bolhas. Por outras palavras, a revolução tecnológica, que antecede o boom económico, ainda não aconteceu. Portugal continua a virar frangos e a natureza estrutural da economia não se alterou significativamente. As agências de notação não passam disso, dessa ficção contabilística. E têm uma tabela de preços a respeitar. Não são exactamente fake, mas têm de viver de alguma coisa. Servem-se de indicadores económicos todos catitas que omitem a economia paralela, as fraudes, a evasão fiscal e as demais maleitas que afligem países. A divisa Fitch é tão virtual quanto outra qualquer. Fixecoin - aposto que seria um sucesso em Portugal.
Asha Rangappa, "How Facebook Changed the Spy Game":
The vast majority of counterintelligence cases I worked in the FBI involved a foreign intelligence service (FIS) conducting what we called “perception management campaigns.” Perception management, broadly defined, includes any activity that is designed to shape American opinion and policy in ways favorable to the FIS home country. Some perception management operations can involve aggressive tactics like infiltrating and spying on dissident groups (and even intimidating them), or trying to directly influence U.S. policy by targeting politicians under the guise of a legitimate lobbying group. But perception management operations also include more passive tactics like using media to spread government propaganda—and these are the most difficult for the FBI to investigate.
(...).
As the internet renders useless the FBI’s normal methods to counter foreign propaganda, the reach of these operations has increased a thousandfold. In the past, a failure to neutralize a perception management operation would at least be limited by the reach of “traditional,” i.e., paper, media which are practically constrained to a region or paying customers. But social media platforms can reach an almost limitless audience, often within days or hours, more or less for free: Russia’s Facebook ads alone reached between 23 million and 70 million viewers. Without any direct way to investigate and identify the source of the private accounts that generate this “fake news,” there’s literally nothing the FBI can do to stop a propaganda operation that can occur on such a massive scale.
This fact is not lost on the Russians. Like any country with sophisticated intelligence services, Russia has long been a careful student of U.S. freedoms, laws and the constraints of its main nemesis in the U.S., the FBI. They have always known how to exploit our “constitutional loopholes”: The difference now is that technology has transformed the legal crevice in which they used to operate into a canyon. The irony, of course, is that the rights that Americans most cherish—those of speech and press—and are now weaponized against us are the same ones Russia despises and clamps down on in its own country.
António Costa não foi o primeiro nem será o último. A história dos filmes de propaganda quase que nasce ao mesmo tempo que os irmãos Lumière, mas foi Leni Riefenstahl que elevou ao quadrado o poder de fogo da comunicação política, ideológica. A transmissão unilateral permite negar a resposta de um provável interlocutor. Define de um modo intransigente os termos do contrato de argumentação democrática. O veículo de media que Costa parece estar a usar com cada vez maior frequência, resulta de uma necessidade sentida. Trata-se de um mecanismo de defesa de um primeiro-ministro que menospreza os locais onde os seus detractores o poderiam agarrar e confrontar com certas contradições conceptuais ou de outra natureza. O complexo de hemiciclo, que parece afectar-lhe as articulações, torna o debate aberto no espaço do Parlamento uma inconveniência. Deste modo, é mais fácil atirar postas ao ar que não terão resposta directa - a ver se pega. Entramos numa fase parecida com aquela dos "cartazes de campanha" que deram para o torto do absurdo, só que desta vez o homem é governo. Acresce ainda outra dimensão de insensatez e de mau conselho de comunicação política. É o Estado Islâmico que detém o maior share de audiências no que diz respeito a videos-propaganda. Não fica bem lançar estes filmes enigmáticos. Para além disto tudo, António Costa não nasceu para cinema, muito menos para castings. Bem que pode passear-se por Berlim, a ver se os ursos lhe pegam o bicho da persuasão, mas os videos remotos são a perfeita expressão de hibernismo político, de alguém que prefere o diktat à contestação às claras. Já bastava terem cancelado a conta-sátira do twitter.
«Património tanto individual como colectivo, a memória constitui a seiva das civilizações, pois sem ela "não há pensamento, sem pensamento não há ideias, sem ideias não há futuro", repetia, insistia Natália Correia, uma das figuras que mais se bateram pela sua dignificação.
Significando conhecimento, a memória pressupõe capacidade crítica e intervenção, o que incomoda todos os poderes, sejam eles ditatoriais sejam democráticos, de direita ou de esquerda, nucleares ou periféricos.
As ditaduras tentam controlá-la pela censura, pela violência; as democracias pela inflação dela até imporem, através da propaganda, da sedução, a que mais lhes convém. O objectivo é, porém, o mesmo: arrancar a memória que somamos (individual, colectiva, cultural, identitária) e substituí-la por outra única, inquestionável.
Daí os políticos, os intelectuais, os comentadores do regime se comportarem como se o país tivesse nascido com eles, esvaziando-o de quase mil anos de existência»
Fernando Dacosta, hoje no Jornal I
Daniel Oliveira (anda mesmo na berlinda) criticou ontem a Fundação Francisco Manuel dos Santos por fazer "propaganda ideológica." Vou dar de barato que assim seja, mesmo que, na realidade, discorde. A verdade é que, pelo menos, fá-lo através de recursos privados. Já o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, dirigido pelo douto e cientificamente rigoroso Prof. Boaventura, essa máquina de produção de militantes do Bloco de Esquerda e propaganda ideológica a condizer, é um gigantesco sorvedouro de dinheiros públicos, especialmente via FCT, agência governamental controlada em boa parte pelo CES. Talvez não fosse mal pensado que Daniel Oliveira e seus compinchas adquirissem uns pingos de vergonha e, ao menos, pensassem duas vezes antes de vociferarem imbecilidades hipócritas.
...à cosa nostra dos estádios. Dada a rastejante popularidade do normalizado, veremos o que lhe acontecerá.
2. Enquanto isso, o delirante António Costa diz que Lisboa deu o exemplo que o Estado deverá seguir. Se a conversa do edil for levada a sério, teremos então:
- Uma assumida política de destruição do património construído nos últimos cento e cinquenta anos; benefícios outorgados a entidades ligadas a uma banca que muito tem feito para a tentacular especulação que devasta os nossos centros urbanos; a recusa na prestação de contas que ingloriamente lhe são exigidas; negligência na preservação e reabilitação da propriedade pública; a manutenção do status quo na arcaica divisão administrativa do país, eternizando camarilhas, satrapias e o clientelismo; o descarado conflito de interesses a que temos assistido, tal como sucede quanto a uma certa vereação sempre ligada a um não menos certo fundo imobiliário de reconhecido apelido. A lista é longa, mas definitivamente entrámos naquele terreno em que cercado por duas frentes, o Sr. Seguro deve sentir-se demasiadamente inseguro.
A propósito deste post do Fernando Melro dos Santos (de onde retirei o título), um video que é uma autêntica paródia da sociedade idiotizada que se está a criar:
Há também um tutorial semelhante sobre como abrir uma porta. Melhor que muito sketch dos Monty Python, não é?
Agora vejamos este tutorial a sério feito pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, muito politicamente correcto (muita família monoparental, só uma das mães tem aliança de casamento) e multicultural do princípio ao fim:
É uma velha lição dos totalitarismos que quanto mais se tratarem as pessoas como idiotas e incapazes, mais as pessoas nisso mesmo se tornarão e acatarão o que lhes for ordenado sem questionar, porque se sentirão sem competência nem responsabilidade para decidirem ou pensarem pelas suas cabeças. E nesta matéria, ninguém bate os países anglo-saxónicos.
Naquela espécie de noite da má língua da SIC Notícias, a coqueluche António Costa - o tal das arrasadoras demolições lisboetas -, volta à carga com a ladainha do "falar do passado.... o bode expiatório Sócrates", etc. Fala da necessidade de investimento, do secar da economia, do desemprego e doutros fracassos destes dias, como se porventura tivesse na cabeça, o exacto local onde encontraremos o pote de ouro que permita mais umas tantas habilidades para eleitor ver.
Assim continua em grande, o processo de branqueamento do todo ex-governativo, sabendo-se que o independente engenheiro é uma súmula de todos os outros que andaram em caras engenharias pela Administração Interna, Obras Públicas, Economia, Finanças, Saúde, Educação, Assuntos Sociais, caminhos de ferro, autoestradas, aeroportos, escolinhas, contentores, pontes, bancos e por aí fora.
É infalível a sub-reptícia santificação do homem que bem vistas as coisas como elas realmente foram, muito se parece com um vendedor de automóveis a estrear ... em quarta mão.
Enquanto a minha mulher arranjava o cabelo (actividade quinzenal demorada), aproveitei a lindíssima tarde de hoje para ir até à margem norte do Tejo entre a ponte Vasco da Gama e a foz do Trancão e maravilhei-me com a dúzia de flamingos e um punhado de pequenos pássaros (garças?) ali a talvez não mais que 50 metros de mim. A luz, para mais, era esplendorosa e eu tinha duas horas. Gastei-as a ler o ensaio de José Manuel Fernandes, distribuído hoje com o Público, intitulado "Liberdade e Informação" que aproveito para recomendar especialmente àqueles, como eu, que não conhecem a história do jornalismo.
Nas páginas 52 e 53, José Manuel Fernandes evoca um episódio (pelos vistos clássico, ainda que só agora o tenha descoberto) na relação entre o jornalismo e o Poder. Resume-se na sucessão de títulos que o jornal realista Le Moniteur vai exibindo à medida que Napoleão Bonaparte, desembarcando no sul de França vindo do exílio na ilha de Elba, se aproxima de Paris: «O antropófago saiu do seu covil»; «O ogre da Córsega acaba de desembarcar no golfo Juan»; «O monstro dormiu em Grenoble»; «O tirano atravessou Lyon»; «O usurpador foi visto a 60 léguas da capital»; «Bonaparte avança a grandes passos, mas nunca entrará em Paris»; «Napoleão chegará amanhã às nossas muralhas»; «O Imperador chegou a Fontainebleau»; «Sua Majestade Imperial fez a sua entrada no Palácio das Tulherias, por entre os seus fiéis súbditos».
Parece-me bem espelhado nesta história, verdadeira, o temor quanto ao exercício do poder das sociedades estatistas, iliberais. Daí a horrível importância da não privatização da RTP (à excepção de um canal generalista) e do que já está a suceder nas empresas de comunicação social privadas, enfraquecendo-as(*), tornando-as mais dependentes do Estado (José Pacheco Pereira, hoje no Público).
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(*) - Não me refiro à decisão de privatização de um canal de televisão daí decorrendo uma concorrência acrescida por um bolo publicitário que não se afigura que cresça nos próximos tempos (bem pelo contrário). Se aparecer algum concorrente à privatização - e é evidente que tal irá ocorrer - a concorrência irá aumentar e os preços da publicidade irão provavelmente baixar. Mas não é este o fundamento básico de funcionamento de um mercado?
Refiro-me, isso sim, à possibilidade de também a televisão do estado - a futura RTP Informação - querer continuar a comer parte do bolo publicitário (amanhã ou num futuro não muito longínquo...), ao mesmo tempo que se respalda nos consumidores ("contribuição" audiovisual) e contribuintes (imdemnizações compensatórias) não fazendo mais nem melhor do que os privados já o fazem pelo que não passa de uma mera e caríssima inutilidade.
RTP vai reduzir os custos para 180 milhões de euros até 2013.
Exactamente 180 milhões de euros de mais.
Entre Fevereiro e Março passou discretamente pelas salas de cinema o filme de Maradona, do realizador/músico sérvio Emir Kusturica. O género estaria oficialmente dentro do documentário, mas na prática trata-se de um filme de propaganda, um pouco ao estilo de Michael Moore.
Kusturica, nacionalista sérvio, activista anti-independência do Kosovo e realizador de filmes memoráveis (particularmente nos anos noventa), tem-se dedicado mais nos últimos tempos à sua carreira com os No Smoking Orchestra, com a qual tem visitado Portugal regularmente. Não deixou contudo de desenvolver um projecto antigo, o de homenagear o ídolo dos argentinos e napolitanos, vencedor quase a solo do Mundial de futebol 1986 e tristemente caído nas malhas da cocaína, Diego Maradona. Para isso, deslocou-se várias vezes à Argentina, onde o esperava um ex-craque com o volume de um tonel, assistiu a ritos da igreja maradoniana, levou-o a Belgrado e não cessou de focar a sua "mensagem revolucionária". Um dos pontos altos do filme é aliás um comício de Hugo Chavez, com el pibe ao lado, como sempre meio louco, em que o presidente venezuelano brindou os assistentes com as suas habituais pantominices.
Na caixa de comentários ao meu post, André Ferreira faz um excelente diagnóstico:
Caro Samuel,
Quando olhamos à nossa volta e nos perguntamo sobre o que vemos não podemos deixar de verificar a decadência instalada em Portugal! Essa decadência origina-se num sistema democrático débil, baseado em interesses sectários e onde os partidos já pouco dizem no sentido em que não representam hoje o País real. O PS tenta confundir-se com uma imagem da democracia que não é sua.
Arriscaria ainda mais dizer que, pudendo ter sido importante na transição democrática, não foi sequer o mais importante dos partidos. O então PPD, por exemplo, foi-o em maior extensão: teve de provar a democracia, governando sempre nas épocas de grande adversidade. Com um fundador a morrer em circunstâncias ainda hoje obscuras, teve de governar num país socialista de Constituição e limitado pelo PREC, onde forças anti-democráticas como o PCP detinham grande força. Ou o CDS, que foi dado como descendente do regime cessante, perseguido e assaltado como se de vulgar bando criminoso se tratasse.
Outro aspecto interessante é a propaganda: os partidos democráticos de verdade não têm tais máquinas propagandísticas, nem se declaram donos da verdade absoluta. Não agem de forma goebeliana contra os demais e não crêem em formas de democracia dirigista.
Desde os anos 80 onde os conservadores ocidentais conseguiram as suas primeiras vitórias políticas significativas depois da geração de 60 tem havido uma onda revisionista no que toca a analisar a história dos diferentes movimentos revolucionários e progressistas que tem tentado dar um certo spin aos eventos mundiais – a revolução francesa passou a ser inteiramente negativa (ou de mérito marginal), a inglesa passou a ter um mero carácter económico, os regimes ditatoriais Ibéricos passaram a ser positivos, etc.