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Por alguma razão entranhada na psique sindicalista, a ponte 25 de Abril continua a ser o símbolo de excelência de libertação da opressão política. Arménio Carlos, ao insistir na antiga ponte Salazar como local de protesto, acaba por revelar alguns defeitos de liderança e falta de juízo e, demonstra que não tem problemas de consciência ao colocar em perigo dezenas de milhar de manifestantes, se de facto a marcha sobre a ponte acontecer. Miguel Macedo apresentou alternativas ao percurso da manifestação da CGTP, mas não sabemos quais são. Por isso vamos especular. Será que o túnel do Marão (que ainda se encontra em construção) está na lista de locais aprazíveis para a prática da arte do protesto? E que tal um dos estádios do Euro? O do Algarve, por exemplo, que está às moscas quase todos os dias do ano. Até poderiam cobrar um valor simbólico pelo ingresso - uma taxa moderadora dos ânimos exaltados. Na minha opinião, embora a ponte em questão seja uma bridge over troubled waters nacionais, existem outros locais que poderiam servir para remeter uma mensagem forte ao destinatário. Ao pretenderem caminhar sobre a estrutura metálica em regime de meia-Maradona com as mãos de Deus ao alto e a abanar, acabarão por fazer publicidade ao sistema capitalista do inimigo. A Golden Gate de Lisboa foi construída em 1966 pela gigante multinacional norte-americana - a United States Steel Corporation - essa sim um símbolo de poder económico, político e social - capaz de fazer cair governos e uniões sindicais. Ou seja, em nome dos direitos, liberdades e garantias do trabalhador nacional, vai-se à boleia na camioneta do inimigo. Embora rebuscada, esta interpretação também pode ser trazida ao lume da discussão. Preferia que uma obra nacional, um espaço público português fosse o local eleito. E o Estádio Nacional, que já esteve associado a outros discursos, não pode ser aproveitado para o efeito? E uma das muitas auto-estradas a caminho de nenhures? Talvez houvesse aqui uma oportunidade para dar sentido aos milhões de euros dos contribuintes gastos em vão. A insistência da CGTP confirma que a inter-sindical ainda não se actualizou. As pontes já não são o que foram. Arménio Carlos quer usar a mesma cassette de sempre, o mesmo encadeado melódico de mensagens que não altera as regras do jogo. O protesto sobre a ponte faz lembrar outras feijoadas - muito gás e poucos resultados práticos.