Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os editores são uma via em extinção. Os outros, que se servem do título "quase póstumo" de editor, não correm por essa estrada. Mas não são editores. Chamem-lhes o que quiserem, mas não manchem a arte cada vez mais rara da prospecção, de corrida ao risco - o rascunho de algo incerto. Esses profissionais que almejam o lucro à custa da capa não são editores. São revendedores. Deslocam-se ao mercado abastecedor, fazem marcha atrás com a furgoneta e carregam paletes de best-sellers. Os editores fazem algo diverso. Procuram a agulha no palheiro, dias a fio, vidas a fio, porventura sem o aval de um destino certo. São garimpeiros em busca de uma torrente que ainda não tem nome, de um brilhante que ofusque os escaparates e estilhace o revisto em imprensa. O lido na calle e largado sem pudor. E o que dizer dos fornecedores de fábulas, os eternos aspirantes a escritores? Têm de aprender a viver com a rejeição. Se tiverem a sorte de encontrar um editor, regressarão a casa equipados com o ego arremessado e pouco mais. E pouco mais interessa, porque é nesse ranger da negação que se escuta o apelo interior, se assim tiver de ser. Mas está tudo virado ao avesso. Chegou a hora pequena para a magnificência. O que era uma impossibilidade deixou de o ser repentinamente. De repente somos todos escritores, sem sermos pensadores ou poetas amargurados pela acidez de uma vida tornada dispensável, pouco lírica. O negócio fala mais alto. O dinheiro faz correr tinta para além do quintal literal. O critério editorial morreu em definitivo e foi substituído pelo balancete de corporações apenas interessadas no bottom line - uma linha de números que nunca será uma frase. "São os tempos difíceis que nos obrigam a isto" - será o argumento apresentado. Miséria é o que eu respondo. Mas convém lembrar que são os regimes totalitários que promovem mensagens simples que uma massa de idiotas há de elevar a instância "superior" e que acabará por esmagá-la, por completo. Triste mundo este em que vivemos.