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Quando a economia real falha, os economistas são os primeiros bombeiros a ser chamados. Na realidade, é como pedir ao incendiário para apagar o fogo. Há qualquer coisa que falha nesta abordagem. Há algo cognitivamente deficiente nesta receita, na terapêutica. O Banco Central Europeu (BCE) embarca hoje num longo comboio de ficção monetária. Como a dívida dos Estados da Zona Euro está aos níveis que se conhece, e a deflação é a nota dominante, os banqueiros centrais ajuizam e decidem a injecção maciça de dinheiro, através de meios mais ou menos convencionais. Ou seja, quando os políticos falham, o ónus da recuperação económica é transferido para a orla financeira. Contudo, as operações em causa terão impacto diminuto na economia real. Não existe uma relação linear entre Long Term Refinancing Operations (LTRO´s) e a geração de emprego, a título de exemplo. As medidas têm mais impacto nas contas a apresentar, nos balancetes, e, desse modo, estão mais em sintonia com as exigências orçamentais dos Estados-membros relativamente aos seus níveis de dívida e deficit orçamental a cumprir. É neste desfasamento entre o que se decide a montante e o que acontece a jusante, onde reside o cidadão comum. Mas existem alternativas? A resposta não é fácil. Apenas sei que se todos o fizerem em simultâneo, o processo não produz os resultados esperados. A Reserva Federal dos EUA, embora tenha anunciado uma certa intenção de abrandamento dos estímulos à economia, em abono da verdade, a torneira não vai ser fechada assim tão cedo. Na corrida ao fundo da desvalorização das divisas, veremos quem consegue mais celeremente realizá-la: se a Reserva Federal leva a melhor ou o BCE é obrigado a ir ainda mais longe do que a compra directa de títulos de tesouro na Zona Euro. Nem sequer trago à baila outras considerações como a libra esterlina, ou para idêntico propósito, as atribulações provocadas pelo referendo na Escócia. Daqui por alguns anos, Vitor Constâncio (quando regressar a Portugal) será mais um a declarar que não sabia de nada. Que não decidia. Que era Draghi que pensava tudo. Que era o presidente do BCE que mandava.
(fotografia Martin Leissl/Bloomberg)
Eu tenho uma posição formada em relação à implementação de um programa de estímulo na zona Euro. E essa posição é: SIM. Não sei o que andam a fazer os banqueiros centrais europeus. As economias recuperaram? NÃO. O desemprego está a baixar? NÃO. Os cidadãos perderam poder de compra? SIM. Temos inflação na Europa? NÃO. Então, este é o momento certo para usar a artilharia pesada. Venha de lá o quantitative easing à americana. Ponham dinheiro onde interessa. Na economia, nas mãos dos consumidores e nos pequenos negócios. De nada serve salvar os balancetes dos bancos que criaram grande parte dos problemas que enfrentamos. Os políticos não têm feito outra coisa. Têm andado a recompensar os prevaricadores, os amigos nos bancos. Estão com medo das experiências do passado? Da hiperinflação? Estamos longe, muito longe dessa possibilidade. Lembram-se do que fizeram a seguir à Grande Depressão dos anos 30? Subiram as taxas de juro e tornáram o dinheiro caro. E isso foi um erro. Mas agora temos em certos países da Europa um substituto à altura - a austeridade, que vai dar ao mesmo. Pode não se chamar taxa de juro, mas não deixa de ser uma "taxa" que tornou a vida cara, insustentável. Diz Draghi que vai pensar no assunto. Vai pensar no assunto? Este é o momento para acção e para pôr de parte grandes contemplações. E se o Banco Central Europeu avançar com medidas de estímulo não convencionais, fá-lo no momento certa. Os EUA já começam a preparar um abrandamento ainda mais acelerado das medidas de estímulo que implementáram. O sistema monetário e financeiro internacional é declaradamente um campo aberto e a Europa sentirá na pele os efeitos da alteração da política monetária americana. Quem disse que não é possível ter em simultâneo uma política fiscal disciplinada e uma política monetária expansionista? O que eu quero ver é uma clara inflexão do curso de degradação das economias periféricas da UE. Se para isso acontecer se devem correr alguns riscos, talvez possamos concordar que os mesmos são necessários, obrigatórios. Onde se encontram os prospectivos eurodeputados portugueses em relação a este tema? Não os vejo a debater grande coisa. Estão entretidos com a pequena política, com os trocos e as miudezas de quem vai ou fica, de quem esteve ou regressa, quando deveriam estar intensamente ocupados com questões desta dimensão. Estão a perceber porque todos juntos nem sequer sabem defender o interesse nacional. Portugal está definitivamente entregue aos bichos. E esse bichos nem sequer são da terra, nem sequer são nacionais.
(entretanto Vitor Constâncio falou 3 minutos, mas não disse nada)