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Na cenarização que tem sido feita a respeito da futura inserção internacional da economia portuguesa há amiúde um ponto que invariavelmente falha: as análises esquecem a tremenda falta de qualidade das nossas elites. A ignorância campeia e não é de hoje. Indo directo ao assunto, Portugal tem, actualmente, poucas opções ao seu dispor, no rumo a dar à orientação geoestratégica futura do país. Dentro ou fora do euro, a economia portuguesa terá, pois, de organizar-se de outro modo. A questão mais premente, a meu ver, prende-se, pelo menos numa abordagem meramente superficial, com a nossa capacidade de adaptação aos novos desafios resultantes de um euro em ebulição e de um mundo em rearrumação de forças. Num Portugal acossado por uma estratégia austerista, imparável e destrutiva, mais cedo ou mais tarde terá de debater-se a pertinência da particapação do país na moeda única. Esse debate, em bom rigor, já deveria estar a ser feito, porém, as prioridades do país centram-se, neste momento, em discutir mesquinhices. É o irredimível karma de um país que não pensa em nada, nem sequer no seu futuro. Mas voltando ao fio do raciocínio, Portugal necessita de um amplo debate sobre o que quer e o que não quer. E o querer, neste caso, começa em saber se a actual estratégia virada para o seguidismo europeu serve ou não os interesses nacionais? Com a resposta a esta questão em mãos, poderemos pensar no resto. E o resto é, basicamente, saber que tipo de economia desejamos. Façamos, pois, algumas perguntas, sem querer dar respostas definitivas: queremos ou não ser uma mera fachada atlântica dos espanhóis? Como rearticular a inserção estratégica da economia nacional nas novas correntes da globalização? Qual o rumo a dar às relações com o Brasil e os PALOP, numa perspectiva de viragem da política nacional para uma visão mais atlantista? Que tipo de parcerias e alianças deve o país bosquejar? Como repensar a infra-estruturação da economia do país num cenário de realocação dos recursos? Devemos ou não estruturar a nossa economia de molde a captar talentos? Que tipo de bens e serviços desejamos atrair? Estas perguntas, insuficientes mas elucidativas, são um pequeno exemplo do debate que doravante teremos de efectuar, se quisermos, claro está, recolocar o país numa senda sustentável. Não vale a pena perder tempo com questiúnculas nem com socratices. O país precisa de saber, de vez, o que quer. É bom que estas elites acordem, porque a vida não está para grandes deambulações preguiçosas.