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O caso de ontem nas redes sociais foi o novo pivô da SIC Notícias, Cláudio Bento França. Permitam-me recapitular e tecer breves comentários aos três previsíveis “argumentos” que logo começaram a ser derramados por aí contra aqueles que se regozijaram com o acontecimento:
1 - “Não é o primeiro pivô negro em Portugal”. Claro que não, mas foram e são tão poucos, devido ao que se segue nos próximos pontos, que não pode deixar de ser notícia.
2 - “A cor da pele não é relevante, o que importa é que as pessoas desempenhem cargos para os quais têm competência e que alcançaram por mérito próprio”. Assim seria num mundo ideal, que não é o nosso. Estamos perante a perniciosa ideia de meritocracia, um pilar do capitalismo contemporâneo que permite justificar e normalizar estruturas e relações de poder que contribuem para a perpetuação de desigualdades e discriminações. Nos últimos anos, vários autores têm evidenciado efeitos negativos da crença na meritocracia, sendo esta, aliás, o tema do mais recente livro de Michael Sandel (The Tyranny of Merit). Mas podem continuar a acreditar que não partimos todos de situações desiguais resultantes de diferentes condições económicas das famílias em que nascemos (que os sistemas de educação, saúde e segurança social não conseguem atenuar como seria desejável), que em sociedades capitalistas onde os brancos constituem a maioria étnica e a burguesia é a classe social dominante basta ser trabalhador e competente para se conseguir ascender socialmente sem que a classe social, a cor da pele, o sexo, a orientação sexual ou a aparência (atente-se nos comentários sobre as rastas de Cláudio Bento França) sejam barreiras ao sucesso, e, por último, podem também continuar a adoptar o pensamento mágico de que todas as pessoas em posições profissionais e políticas destacadas estão lá por mérito e devido à sua competência – as últimas duas décadas demonstraram à saciedade a imensa competência de tantos políticos, CEO’s e banqueiros portugueses. Ou seja, podem continuar a viver no vosso domínio ontológico privado e a achar que o mundo é o vosso umbigo, mas não esperem que a realidade social se conforme aos vossos simplismos intelectuais.
3 - “Lá está a esquerda a abanar a bandeira do racismo outra vez quando Portugal não é um país racista, o que se comprova, entre outras coisas, por este caso, como por outros congéneres e até por termos um Primeiro-Ministro de ascendência goesa”. Em primeiro lugar, se aceitarmos este argumento, em que a selecção de um reduzido número de casos individuais (cherry picking, falácia de atenção selectiva) aparentemente valida uma tese (“Portugal não é um país racista”), então, a contrario, teremos de aceitar igualmente a selecção de outros casos, como Marega em Guimarães ou os assassinatos de Alcindo Monteiro e Bruno Candé, para confirmar a tese contrária (“Portugal é um país racista”). Como é óbvio, ambas as teses não podem estar certas, o que indicia a presença de vícios de raciocínio impeditivos de uma discussão racional. Ora, para começarmos a vislumbrar alguma racionalidade nesta discussão, importa desde logo questionar o que se entende por “Portugal”, se é o Estado-aparelho de poder, se é o Estado-comunidade. Com efeito, o Estado-aparelho de poder não prossegue políticas públicas racistas - pelo contrário. Já o Estado-comunidade - a sociedade portuguesa - é composto por indivíduos (e estes, por sua vez, compõem e moldam instituições e estruturas sociais formais e não-formais) com os mais diversos preconceitos racistas e outros que não têm quaisquer preconceitos. Portanto, o Estado-aparelho de poder não é racista, mas na sociedade portuguesa encontramos tanto indivíduos racistas como não-racistas. A discussão tem sido feita em termos maniqueístas e absolutos, i.e., de forma errada, porque a esmagadora maioria das pessoas não compreende que a realidade social é muito mais complexa que a sua mundividência e porque os actores políticos de ambos os lados têm interesse em alimentá-la naqueles termos para poderem dela retirar ganhos políticos.
Por último, permitam-me ainda sublinhar que se a direita persistir em deixar a esquerda reclamar como suas causas que deveriam ser transversais, ou seja, se deixar o combate às desigualdades económicas e sociais para a esquerda e continuar mais preocupada com certos espantalhos e os interesses de classes sociais privilegiadas, estará a condenar-se a uma ainda mais prolongada irrelevância política - leia-se, a não governar.
A emergência do populismo no seio das democracias liberais, a perda de hegemonia dos EUA no sistema internacional, a ascensão da China e o ressurgimento da Rússia, ambas potências revisionistas e claras ameaças à zona de paz liberal, o Brexit e o futuro de uma União Europeia dominada por uma Alemanha encantada com Putin, as alterações climáticas, a crise dos refugiados, a cibersegurança e as guerras de informação e desinformação no ciberespaço fomentadas pela Rússia e China e nós o que discutimos? Petições a favor e contra um museu dedicado a Salazar, já depois da crise dos combustíveis, dos incêndios sempre reveladores da nossa aversão ao planeamento sistematizado, da importação dos espantalhos racistas dos estudos pós-coloniais, da sempre presente ideologia de género e da restante espuma dos dias alimentada pelos ciclos noticiosos e pelas shitstorms nas redes sociais. Sem embargo de a esfera pública numa sociedade livre dever comportar os mais diversos temas, entretanto, num mundo cada vez mais globalizado e perigoso, cá continuamos, neste cantinho à beira-mar plantado dominado por certa sociedade de corte composta por caciques e carreiristas partidários e umas quantas dúzias de famílias, sem darmos prioridade à política externa e andando essencialmente a reboque dos parceiros europeus. Já dizia Rodrigo da Fonseca que "nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste”.
(enviada à Fremantle International em nome de princípios universais)
copiar, colar, assinar e enviar à pressenquiries@fremantlemedia.com
Dear Sirs,
I address this letter in the name of certain principles that should prevail in our societies.
The Portuguese production version of the TV show IDOLS has gone overboard and humiliated a failed contestant making a mockery of one of his physical features - in this disrespectful case, his ears.
The MEDIA should NEVER be a vehicle for expressions of discrimination, racism or xenophobia. Although apologies were presented by SIC TV channel to the targeted contestant, I believe more must be done by the very ones that invented the original formula. In other words, the contract and implicit production and broadcast rights must be revised, OR EVEN CANCELLED.
Democracy, although consolidated in Portugal, must still fine tune some of its behaviors. An obligation that all open societies are subject to, East and West. All countries demonstrate distinct forms of imbalance, but if they were to go unnoticed and unchallenged, then deeper forms of betrayal would certainly flourish.
We have witnessed in Portugal, on a prime-time TV programme meant to entertain and amuse, a clear example of bullying that must also be condemned by the creators of the show. Fremantle Media International must produce a serious and responsible reply to this incident.
Yours Sincerely,
John Wolf
Não é necessário chegarmos à situação que se vive em Ferguson nos EUA, mas o Correio da Manhã faz a sua parte para que se caminhe nessa direcção. Não se pode admitir que nesta bela peça de jornalismo a seguinte frase tenha sido publicada a propósito dos desacatos ocorridos no centro comercial Vasco da Gama: "A PSP impediu a entrada de jovens de raça africana no estabelecimento comercial." (...). Raça africana? Se existe uma comissão de ética dos meios de comunicação social, esta já deveria ter notificado o pasquim da manhã e sancionado o seu desvio à deontologia que se exige no exercício da profissão. Não podemos aceitar alguma forma de insinuação ou distorção racial de qualquer meio de comunicação social e em relação a qualquer grupo étnico ou racial. Neste artigo sucede de um modo flagrante e intensamente condenável. Mais grave se torna a "gaffe" se tivermos em conta o passado colonial de Portugal. Neste mundo de guerras avulso, Palestina, Gaza, Israel, Muçulmanos, Católicos e Judeus, ao menos que haja correcção nos nomes que se chamam. A não ser que se tenham outras intenções.
O tema da semana reporta-nos às lutas de abutres ferozmente se debicando na disputa pelos despojos encontrados na savana. A morte física de Nelson Mandela trouxe um cortejo de indecências para todos os gostos, desde aqueles que apenas nele querem ver alguém que jamais tolerariam por significar um intransponível obstáculo aos seus delírios de exclusão, até a outros que apoucam o homem que centenas de milhar de portugueses gostariam de ter visto multiplicado pelo menos por cinco, cada um deles na respectiva parcela do luso Ultramar africano.
Para alguns dirigentes internacionais, a cerimónia fúnebre consistirá num longínquo mas obrigatório frete. Desembarcando numa África que apenas conhecem via Tintim no Congo, outros aproveitarão para os expectáveis encontros informais, estabelecendo contactos, gizando futuros negócios e quiçá delimitando novas frentes a ocupar pelos interesses. Não faltarão súbditos de Obama, oportunamente esquecidos dos ainda bem presentes anos sessenta, quando ao contrário da lei estabelecida em países como Angola e Moçambique, a situação no sul dos EUA não era assim tão distinta daquela que se vivia em Nelspruit, Komatipoort, Joanesburgo ou na Cidade do Cabo. Chegarão também delegações africanas, homenageando a memória de um homem que apesar de tudo o que se possa dizer dos seus companheiros que gizaram políticas de escondida mas nem por isso menos refinada nova segregação racial, representou o oposto daquilo a que se assiste desde as margens do Mediterrâneo até ao Cabo da Boa Esperança. Mugabe ousará apresentar-se nas exéquias, sentando-se lado a lado com representantes de países da U.E., dos EUA, da Índia que de Gandhi foi confiscada pela gente de Nehru? É provável. A China já exigiu a proibição da presença do Dalai Lama e isto sintetiza o demais, o acessório. Que relevância terá a presença ou a ausência do primeiro ministro checo, quando o homem do Tibete é excluído sem que a comunidade internacional ansiosa por aparecer na foto, saia em defesa do direito? Tudo isto é grotesco, ridículo.
Em Portugal, a morte de Mandela não passa de um simples evento que bem serve a luta política, colocando-se a incendiada questão dos estaleiros numa prateleira onde se vão acumulando assuntos pendentes.
As relações internacionais jamais se resolveram com irados rebuços à roda de uma mesa onde se acumulam chávenas de café ou garrafas de cerveja. Pois é assim que alguns por cá as entendem, preferindo a retórica balofa, aos actos bem pensados que devem ditar o normal procedimento dos estados. No caso sul-africano e no que a Portugal dizia respeito, existiram múltiplos factores que aconselharam a adopção da prudência como única via para o lidar de uma situação sobre a qual não tínhamos o menor controlo. As guerras civis que imediatamente se seguiram ao catastrófico e apressado abandono dos dois mais importantes territórios ultramarinos nacionais, tiveram consequências terríveis para as populações vítimas de todo o tipo de reeducativos abusos perpetrados por iluminados pretensamente revolucionários. Imperaram as matanças indiscriminadas, a fome generalizou-se, volatilizaram-se os cuidados médicos básicos, a economia reduziu-se ao resíduo. Em suma, Angola e Moçambique caíram para os últimos lugares na lista de países com assento na AG da ONU. Pessimamente resolvido o Caso dos Retornados, a Portugal surgia então a hipótese do desencadear de um novo processo que tinha um potencial de violência incomensuravelmente superior. Ninguém desconhecia a presença de uma numerosa e influente comunidade portuguesa e luso-descendente na África ddo Sul e qualquer posição oficial do governo de Lisboa - fosse ele qual fosse - inevitavelmente teria em conta este dado incontornável. A verdade que os nossos escribas da gauche bem instalada não querem dizer, é que foi precisamente esse prático obstáculo à "luta armada" que possibilitou o advento do Mandela conciliador que conhecemos. Companhando os EUA e o Reino Unido, Portugal fez o que devia ser feito. A mensagem enviada pelo voto português na AG da ONU, foi antes do mais, um sinal aos nossos compatriotas que muito bem conheciam os ainda bem presentes desastres ocorridos em Angola e Moçambique. Devido à cegueira e preconceito dos seus carcereiros, Mandela cumprira um longo e penoso cativeiro e já nada poderia corrigir esse erro, essa prepotência. O que poderíamos então ter feito ou dito?
Por muitos artifícios que apresentem, os loucos da revolução sem fim, decerto sonhariam com uma queda de Pretória à imagem da tomada de Saigão, pouco importando qualquer orgia canibal que se lhe seguisse. Se o extermínio também atingisse portugueses, paciência, era mais uma brisa da estória, cumprindo-se o figurino julgado como único, aquela justeza de uma história invariavelmente injusta. No caso do jornalismo nacional, apenas se marca o calendário julgado atempado para o atingir de objectivos políticos internos. Tudo o mais não passa da mais rasteira e asquerosa hipocrisia do conhecido politicamente correcto.
Estamos novamente num daqueles momentos em que devemos proceder com uma cautela equiparável àquela que felizmente os governos portugueses tiveram na década de oitenta e início dos anos noventa. A situação interna sul-africana é má, parecendo rapidamente caminhar para péssima. Os indicadores são negativos, a incompetência governamental não escapa à mínima análise crítica, por muito condescendente que esta possa ser. A liderança do ANC é bem conhecida pela ganância devorista, pouco se interessando em passar além da cada vez mais exacerbada retórica. Sabemos que o caminho Mugabe é sempre uma hipótese a considerar, distribuindo fartamente o odioso do descalabro para a responsabilidade de quem hoje se encontra com poucos meios de defesa. Há uns meses, uma quase despercebida reportagem publicada pelo Expresso mostrava ao mundo uma África do Sul jamais suspeitada, a dos brancos miseráveis e sem futuro, sem destino de acolhimento. O Soweto das canções mobilizadoras já tem émulos dos quais não conhecemos o nome. Daquele mega-bairro da lata apenas se diferenciando pela etnia dos despojados, estes novos ghetos talvez também podem contar com a presença de alguns luso-descendentes.
Tenham as nossas autoridades bem presente a ameaça de um cataclismo racial na África do Sul. Estando a situação completamente fora de qualquer tipo de intervenção nacional, podemos contudo prever algumas situações bem possíveis de ocorrerem. Não se trata de querer ou não querer, pois o nosso país não poderá alhear-se deste problema e de pouco valerão protestos, moções ou votos nas Nações Unidas. Sobretudo, há que não prestar demasiada atenção aos patetas oportunistas que debitam inanidades nas colunas dos jornais.
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, escolheu o momento mais pedagógico, rodeado de professores, para demonstrar inequivocamente que é um racista. Não há absolutamente nada que possa fazer para redimir-se. Ficou registado e não se apaga. O dirigente sindical ofende e insulta muitos homens e mulheres, mas não atinge o rei-mago do FMI com argumentos baseados na inteligência, na ética ou no próprio tom de pele. Este senhor está bastantes níveis acima do Carlos. O Carlos não dispõe de argumentos para se esgrimir de um modo honrado, por isso serviu-se de um rasgo gutural sincero. Revelou através da raiva, a sua verdadeira natureza extremista, fascista, muito mais danosa que as esquerdas ou direitas todas juntas. O Arménio Carlos, ao expressar-se de um modo intencionalmente racista, inclui nessa discriminação os trabalhadores Portugueses de origem Africana, sejam Cabo-Verdianos, Angolanos, Moçambicanos ou os de origem Indiana como os Goeses. Todos eles agraciados com uma tez própria, mas com os mesmos direitos laborais. O Arménio Carlos declara-se profundamente antagonista da história de Portugal que integrou tantos credos e tons de pele. Ao servir-se do qualificativo "mais escurinho " está a referir-se, sem o desejar (ou não), a mais gente que também tem responsabilidades na representação de princípios e valores. Ora vejamos; o Presidente da Câmara de Lisboa António Costa, o deputado Narana Coissoró ou a mulher do Primeiro Ministro também caem na "categoria" de mais escuros. O sindicalista julga que beneficia de um estatuto de imunidade racial, como se fosse intocável por ser líder daqueles que, por trabalharem, têm o direito de cometer os atropelos que entenderem. Contudo, há uma ilação a extrair desta barbaridade preconceituosa do Arménio Carlos. Se pensarmos sobre a relação entre a questão racial e o poder político, estranhamos que no Parlamento ou no Executivo não se vislumbrem outras cores, para além do Rosa, Laranja ou Azul. O mesmo ocorre na oposição que nunca chegou ao poder, que está parada no Vermelho, no semáforo da separação ideológica. O proferido por Arménio Carlos merece a maior condenação possível, independentemente do conceito de politicamente correcto que se venha a adoptar. Um homem com esta inclinação não merece chefiar a luta contra a escravatura imposta pela Troika. Podem ter a certeza que a Troika é daltónica. Para além de surda e muda, também é cega.
A respeito do "caso" Arménio Carlos, registo a hipocrisia da esquerda que por esta hora já teria feito cair o Carmo e a Trindade se fosse alguém de direita a proferir o que o sindicalista proferiu, e o cinismo da direita que em privado provavelmente até pensa o que o sindicalista disse mas não tem a coragem de o dizer publicamente - ainda que o pudesse dizer de uma forma mais polida, claro. Pelo meio, registo ainda que se isto fosse em Inglaterra, por esta altura a direita já teria visto satisfeitos os seus desejos redentores - Arménio já teria pago uma multa, após ter sido preso - porquanto o multiculturalismo neo-marxista papagueia a tolerância apenas enquanto forma de doublethinking, visto que, na verdade, é uma forma de intolerância, pelo que, posto isto, ainda bem que vivemos em Portugal, onde o politicamente incorrecto, os inconvenientes e os disparates ainda não dão prisão. Por agora.
Um excelente artigo de Rui Moreira, "A atracção fatal", de que aqui deixo alguns parágrafos:
«A tentativa, por parte dos defensores do multiculturalismo, de acusar os conservadores de cumplicidade na tragédia de Oslo, não é de todo justificada, e ignora os ventos que se fazem sentir pela Europa. Em Inglaterra, onde está em curso uma campanha para transformar várias cidades em estados islâmicos independentes em que a única lei que vigorará será a Sharia, começa a haver uma forte reacção à islamização descontrolada dos costumes.
Ora, se a Europa não tiver a coragem de exigir que as suas leis sejam acatadas por todos, se não exigir que a sua identidade cultural seja respeitada, se permitir que a sua tolerância seja abusada, o recrudescimento do nacionalismo será inevitável. E a partir desse momento será cada vez maior o perigo de se ultrapassarem as barreiras que separam sentimento nobres e elevados, como os de pertença a um país e a uma cultura, e de virem a revelar formas bem pouco dignas de xenofobia e de racismo facilmente conducentes a revoltas e a mais actos de terrorismo.»
Atraso mental, estupidez, arrogância e provocação, é a reacção imediata que qualquer pessoa normal poderá ter perante este ridículo processo instaurado num Tribunal de Bruxelas. Na pretensa "capital da Europa", apela-se, ou melhor, exige-se a censura ou o proibir da exibição de Tintim no Congo nas prateleiras das livrarias. Nos anos 30, Hergé desenhou e escreveu a aventura africana e noutros episódios - em Tintim na América, por exemplo, pululam gangsters e agiotas - gozou com aspectos que o europeu comum considerava então como caricatos. Quem tenha lido todas as aventuras de Tintim, facilmente se aperceberá do apontar de todas as misérias humanas onde quer que elas se encontrem: o banqueiro pouco escrupuloso, o ditador patusco, o ladrãozinho de bairro, o burguês arrogante e preconceituoso, o doutor cheio de empáfia, o cavalheiro distinto, a cantora lírica e sumamente chata, o camponês explorado,o cigano marginalizado, o livre arbítrio colonial na Índia, o chinês condenado ao massacre e tantas, tantas outras personagens que faziam o mundo daquele tempo. Algumas delas ainda existem, estão entre nós e medram como nunca. O Sr. Mbutu acaba de se juntar ao rol.
As Aventuras de Tintim fizeram - e ainda fazem - a felicidade de milhões de crianças, hoje bem atentas a alguns aspectos desfazados da nossa época e tão perceptíveis, que uma simples chamada de atenção é suficiente. Foi precisamente o que os meus pais fizeram, quando aos seis anos aprendi a ler. Por sinal, o primeiro livro foi uma Aventura de Tintim, "O Segredo do Licorne".
O senhor Bienvenu Mbutu, um congolês residente na tolerante Bélgica, devia pensar duas ou três vezes antes de se decidir pelo dislate. Se seguíssemos as pulsões do queixoso, ergueríamos fogueiras até aos céus, onde não escapariam Bíblias, Corões, as Crónicas de Fernão Lopes, Os Lusíadas, a Peregrinação, o "Panorama de Lisboa no ano de 1796"de j.B.F. Carrère e todos os outros livros de viagens de estrangeiros a Portugal - William Beckford, por exemplo -, muitas obras de Camilo ou Eça, nem sequer escapando páginas e páginas de textos de Marx eivados do mais puro preconceito em relação a "populações inferiores" e destinadas à aniquilação. As livrarias e bibliotecas, abarrotam de "obras preconceituosas" e capazes de nos esclarecerem, página por página, a história da evolução das mentalidades e o erguer ou desabar de civilizações.
O Sr. Mbutu podia estar mais preocupado com a deplorável imagem que a África independente apresenta. No seu país, teve um quase homónimo Mobutu como dono absolutíssimo, incomparavelmente mais poderoso e impiedoso gatuno, que todos os colonialistas flamengos somados. Por lá vinga a lei tribal, a morte anunciada do vizinho, a extorsão pura e simples.
Na Europa de hoje em dia, há quem queira proibir o toque de sinos, a difusão pública de música sacra e as procissões. Por "ofensa" à sua forma de ver o mundo, esta nossa parte do mundo, há que afirmá-lo.
É por isso que o Sr. Mbutu ousa. Está na horrenda Europa, claro.
Miguel Castelo-Branco in Combustões:
É um lugar comum dizer-se que os norte-americanos são racistas. Numa sociedade demograficamente vibrante cujo poder de adaptação e flexibilidade às condicionantes impostas pelo mundo em devir se devem em grande parte ao modelo cultural de assimilação e integração dos milhões de migrantes que têm acolhido ao longo da História, latinos e afro-americanos têm, com maior ou menor dificuldade, encontrado espaço para desempenhar cargos públicos e políticos, e Obama é a maior expressão disso mesmo. Pesem embora algumas tensões que assolaram os Estados Unidos, desde a abolição da escravatura que levou a uma guerra sangrenta, passando pelo episódio de Martin Luther King, chegando-se aos dias de hoje com alguns indivíduos a defenderem certos princípios como a supremacia branca (KKK), actualmente esse racismo não me parece ter expressão significativamente relevante na sociedade americana, isto é, para criar graves problemas de perturbação da ordem pública e, mais uma vez, Obama é a prova disso mesmo.
Lembrei-me disto a propósito deste post e mais especificamente destas palavras de Nuno Lobo:
Por outras palavras, Obama significa a vitória da europeização da América.
Pois bem, se os Estados Unidos da América, e o restante continente americano, são de facto, historicamente, um prolongamento da Europa, e se essa é que é supostamente, pelo menos partindo de uma perspectiva euro-cêntrica, a base da civilização Ocidental, quanto a esta questão do racismo, parece-me que talvez estejamos a ver as coisas ao contrário. E porquê? Perguntem-se quantos africanos ou descendentes de africanos exercem cargos públicos ou políticos em todos os aparelhos estatais dos estados membros da União Europeia e, em consequência, nas próprias instituições europeias? Pois, muito provavelmente poucos ou nenhuns. Basta olhar para o nosso próprio Governo, a Assembleia da República, os Tribunais e por aí fora. Sem esquecer ainda a recente expressão cada vez mais significativa da extrema-direita por esse velho continente fora ou ainda a tendência crescente para fechar fronteiras e impedir a imigração, a ilegal legitimamente, a legal sendo um tiro no pé que vamos pagar a longo prazo quando os sistemas de segurança social não conseguirem mais comportar o díspar rácio entre população activa e população reformada.
Além do mais, tal como referi no início deste post, e como refere Fareed Zakaria em O Mundo Pós-Americano, parte do segredo da regeneração dos Estados Unidos em face das diversas crises e da constatação de que continuarão a ser por muitas décadas a única super-potência no mundo tem sido a sua atitude perante a imigração. E depois os americanos é que são racistas...
No velho continente cá continuamos contentes e alegres com o nosso euro-centrismo e alegada superioridade moral, julgando que nos encontramos em posição de dar lições aos Estados Unidos, ou tentando ver em determinados acontecimentos nesses a expressão acabada dessa mesma nossa alegada superioridade. Daqui a umas décadas talvez vejamos como estávamos enganados... Europeização da américa? Posso estar enganado ou talvez não esteja a conseguir vislumbrar tal processo mas, não só quanto a esta questão do racismo ou da imigração, num espectro mais alargado, tal não me parece sequer uma ideia séria, pelo menos por agora. Esperemos pelo que irão fazer quanto aos sistemas de educação, saúde e segurança social, e aí sim, porventura poderemos assistir a algum tipo de europeização.
Alberto João Jardim, porque irrita as hostes do "contenente". Hugo Chávez, porque parece um louco na (des)ordem internacional. E Silvio Berlusconi, porque me reconheço na sua faceta de piadolas politicamente incorrectas. Não aconselharia nenhum dos três para qualquer cargo político ou público, e obviamente nunca convidaria ou faria parte de qualquer executivo com esses. Mas não é por isso que não posso deixar de achar imensa piada aos três, simplesmente porque saem fora do chamado "mainstream". E sim, Obama tem tudo para vencer, é jovem, belo e até bronzeado. Quem vir nisto uma piada racista deve começar é a rever os seus quadros pseudo-moralistas e ver se acorda para a vida. Ainda me recordo de quando um professor nos dizia, há 2 anos atrás, que devemos colocar dúvidas e gozar com tudo, especialmente com os princípios supostamente intocáveis na sociedade. O politicamente incorrecto tem muito mais piada, sem dúvida. E já agora, pelo menos para mim, o mundo não é branco e preto, é cinzento. E dentro dos cinzentos há uma enorme gradação de cor. Infelizmente parece que para a maioria é branco e preto. Sejam felizes pois então ó caça-racistas e afins.
Nunca tinha ouvido falar de tal coisa, e apenas devidamente alertado pelo caro confrade Demokrata tomei conhecimento deste projecto, ver aqui e mais detalhadamente ali.
Não consigo sequer encarar a possibilidade de ver surgir um Estado com o crioulo como língua oficial e presidido rotativamente pelos Presidentes de países da CPLP, "um Estado, cujas fronteiras, a Sul, chegariam a Sesimbra/Setúbal, a Este, a Benavente e Cartaxo e, a Norte, às Caldas da Rainha e Rio Maior. No seu interior ficariam, naturalmente, Lisboa, Cascais, Sintra, Setúbal, Almada e Torres Vedras."
O mais engraçado mesmo é o assumir de valores arianos de apuramente da Raça em relação aos mestiços: "nós acreditamos que a variabilidade humana é uma componente importante da biodiversidade global (...) A mestiçagem é um empobrecimento dessa biodiversidade. Não criaremos nenhuma lei para dificultar a formação de casais multirraciais, mas implementaremos nos programas escolares aplicáveis ás crianças a partir dos 13 anos aulas próprias em que lhes serão explicadas as consequências dessa descaracterização racial"
A política externa portuguesa e o nosso modelo colonial sempre foram adeptos da miscigenação (não podia ser de outra forma), e Portugal tem sem dúvida uma ligação inegável a África. Agora isto é ir longe demais, é uma subversão completa do que é uma nação com 9 séculos de História!
Quanto a cenários, um primeiro cenário que perspectivo é o de uma crise e se é em momentos de crise que se vêem surgir os grandes líderes, se alguma vez esta brincadeirinha estivesse em vias de concretização, rapidamente seriam todos expulsos do país sendo-lhes naturalmente retirada a nacionalidade. Escudam-se no facto de Portugal não controlar as fronteiras e a entrada de migrantes, mas esquecem-se que a qualquer momento se pode denunciar Schengen e fechar as portas.
Um segundo cenário, risível e porventura até mais aprazível para os menos apegados ao território, é o do aproveitamento por parte dos portugueses e/ou europeus do facto de que dentro de 50 anos também já deverão ter morrido todos ou grande parte dos habitantes de África, portanto mudamo-nos para lá novamente.
Brincadeiras à parte, ainda ontem falava com uns amigos sobre este cercar da cidade de Lisboa com Bairros Sociais à sua volta. Um dia isto vai mesmo dar mau resultado, com tantas armas, com a insegurança crescente, com as condições sociais degradantes em que vive muita gente, não se augura nada de bom.
Já cá faltavam os senhores da luta contra o racismo, desta feita um tal de José Falcão da organização SOS Racismo (via Idolátrica). Segundo o indignadíssimo senhor, o Estado tem agido eivado de uma atitude racista perante os indivíduos de etnia cigana.
O que tem sido positivo em toda esta onda de indignação é que desta feita, contrariamente ao que talvez estes senhores do SOS Racismo desejassem, as pessoas parecem ter-se finalmente apercebido e indignado com as desmedidas regalias de que usufruem os ciganos em Portugal que, mais uma vez relembro, andam cá há 500 anos e ainda não integraram o aparelho produtivo português.
Quanto ao impasse na solução desta questão, continuando a assistir-se às reivindicações da comunidade cigana que o Estado com a sua atitude racista teima em não atender, até porque são completamente normais, apenas reivindicam casas novas sem qualquer contrapartida a não ser talvez as elevadíssimas rendas de 4 ou 5 euros, gostaria de recordar um dos conceitos mais importantes na definição weberiana da entidade estatal e, já agora, convinha lembrá-lo a alguém com competência na hierarquia estatal quanto a esta situação.
Um Estado pode abdicar do monopólio do poder ideológico ou económico (daí a liberdade de culto e o laicismo, e o liberalismo económico), mas não poderá nunca abdicar do que Max Weber classificou como o monopólio da força legítima.
Recordo-me dos últimos incidentes entre ciganos e a população da pacata vila ribatejana de Coruche, há 2 ou 3 anos atrás, tendo sido um vereador da Câmara Municipal esfaqueado e vários cidadãos agredidos, e só quando grupos de skinheads se preparavam para marchar de Lisboa até Coruche é que o Estado destacou 2 ou 3 batalhões da PSP, no caso para impedir que os Skinheads chegassem a Coruche.
Ou seja, para além das regalias, das casas novas praticamente de borla, de auferirem o rendimento social de inserção e subsídios por tudo e mais alguma coisa sem sequer efectuarem descontos e ainda dedicando-se na sua maioria ao tráfico de droga, como se já não fosse o suficiente para indignar qualquer português digno desse nome, o Estado português tem-se ainda pautado pela utilização do monopólio da força legítima em favor dos ciganos contra os que são os seus contribuintes liquídos directos!
Portanto resta colocar a questão: quando é que o Estado português vai começar a utilizar os seus recursos para resolver as situações que são da sua exclusiva competência utilizando a força legítima contra os que não se submetem às mais elementares regras de convivência em sociedade?