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Não sei se deva referir-me à União Europeia ou à Europa. Ambas existem, de facto. E a França também. Seja qual for a plataforma a partir da qual se queira observar a realidade, os indicadores não são famosos. Não é preciso um relatório Draghi para entender que a Europa (ok, fiquemo-nos pela Europa) está em apuros — falta de competitividade, excesso de regulamentação, ausência crónica de um projecto de defesa comum e défice no que concerne a consenso e sincronia políticos. Historicamente sabemos que certas crises promoveram projectos económicos e sociais, a união dos povos, e visões estratégicas de conjunto. Não é líquido que, no plano europeu, possamos concluir que as arestas de diferenças poderão ser desbastadas de um modo satisfatório quando colocamos sobre a mesa a guerra na Ucrânia e os eventos que afligem Gaza. Diria o seguinte: são mais as razões que afastam as nações europeias umas das outras do que aquelas que as fazem convergir. A ideia de comunidade europeia, o embrião que deu origem ao projecto de união, está expressivamente fragilizada. A quantidade de mecanismos e artefactos de ajustamentos e concessões já não serve para dissimular a dureza dos factos. A União Europeia (ok, desta vez a união) ficou ensanduichada entre Putin e Trump. A relação transatlântica já não é o que era, e a Rússia parece estar a erigir uma nova cortina de ferro — um traçado que demarca cruamente onde a realpolitik e o idealismo se confrontam, se digladiam. Nem o fim da história nem o choque de civilizações servem para interpretar os desafios do presente. Assistimos a alterações da matriz que assumimos como inquestionável. A linguagem empregue está aquém das palavras requeridas e da ação que urge. A União Europeia evidencia-se no sistema internacional como um actor passivo, sujeito a intempéries alheias. Talvez seja o momento, à laia de Putin ou de Trump, para achocalhar as bases que sustentam convições defraudadas. De facto, não sei ao certo. Talvez seja europeu e não o saiba.