Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Com tanta tolice que se diz a propósito da crise europeia, o bom senso, activo facilmente desdenhável e pouco valorizado, acaba quase sempre por desaparecer. Toda a gente perora sobre os perigos da crise, mas poucos são aqueles que vêem o óbvio à frente deles. Muito poucos. Rogoff tem a particularidade de ser alguém inteligente e experimentado. Sabe o que diz, e como dizer, o que, convenhamos, não é um predicado que faça parte da longa lista de inanidades que os economistas de alto coturno costumam cometer a seu bel-prazer. Disse Rogoff que, e passo a citar, esperam-nos 15 anos de estagnação se não houver um perdão de dívida. Leram bem? 15 anos! Muito sinceramente, creio que Rogoff pecou por defeito. Não serão 15, mas talvez 20, 30, 40, 50 anos de destruição e ruína. A medicina prescrita por Rogoff pertence àquelas evidências elementares que até um ignorante nestas matérias saberia desenhar. Portugal precisar urgentemente de renegociar a sua dívida. E não, isto não tem nada de esquerda, nem de Bloco, nem de PC. Isto é o bom senso a funcionar. Com este volume de dívida não sairemos disto. Contudo, entendamo-nos: não pensem que renegociando a dívida, o resto, e o resto é o tão almejado crescimento económico, será fácil e linear. Não, não há favas contadas, muito menos num processo que será a todos os títulos dolorosíssimo. Renegociar não é um mantra, é uma necessidade impreterível. Querem poupança, investimento e crescimento? Comecem por aqui.
Será que quando estivermos a renegociar a dívida o Artur Baptista da Silva ainda vai ser o vosso assunto favorito?
A história conta-se em poucas linhas. Artur Baptista da Silva, brandindo o título de economista coordenador de uma equipa da ONU que teria como responsabilidade apresentar um relatório sobre o impacto da crise e das medidas de austeridade nos países da Europa do Sul, apareceu esta semana em grande destaque nos media portugueses, em particular na SIC Notícias (no Expresso da Meia-Noite) e no Expresso. As várias afirmações que produziu, em especial as relacionadas com a necessidade de renegociação da dívida, marcaram parte da agenda mediática dos últimos dias. Entretanto, a SIC terá decidido fazer já depois destas entrevistas o que deveria ter feito previamente, investigar a credibilidade do ilustre desconhecido. E é assim que nas últimas horas a net se animou com a descoberta de que estaremos na presença de um impostor, um ilustre desconhecido para a ONU, que nos anos 80 terá sido condenado por uma burla milionária. Pelo meio, aprecie-se o início do artigo de Nicolau Santos e os comentários de João Pinto e Castro sobre a personagem.
Para a História ficam várias lições sobre o jornalismo que temos - suspeito que este episódio irá virar caso de estudo em muitos cursos de jornalismo e comunicação social -, a sociedade mediática em que vivemos e como manipular a opinião pública. Para memória futura, aqui fica o momento alto desta genial manobra de subversão: