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O esperma da abstenção

por John Wolf, em 25.05.14

Em dia de Eleições Europeias, e da mais que provável vitória da abstenção, a questão que devemos colocar é esta: como se planta no espírito do indivíduo a importância do acto eleitoral? Eu diria que esse processo tem início na própria concepção que precede a existência. O espermatozóide obedece a esse mesmo princípio de escolha - apenas um é eleito em detrimento de tantos milhões que aspiram à titularidade. E depois assistimos a um enorme vazio. Na idade pueril da escolha múltipla, é o adulto que substitui a criança nos processos de tomada de decisão. O filhote, descartado dos considerandos, é tratado como um atrasado mental pelos progenitores, que o acham incapaz de listar as razões que fundamentam um caminho em detrimento de outro. Ou seja, aquilo a que assistimos na plenitude da nossa maturidade política, no vazio da nossa participação cívica, resulta de uma matriz de ausência na participação. Nas escolas básicas e secundárias já nem sei como se elegem delegados de turma. Se é a passividade dos "tá-se bem" que leva a professora a nomear o caixa de óculos com ar de marrão ou se há um "macaco-alfa" que esmaga as aspirações democráticas suspensas pela anuência dos outros. Não sei como as coisas acontecem. Na idade jovem (vamos assumir a faixa estária dos 25 aos 40 anos de idade) a coisa repete-se. A malta, distraída com festivais e certames, quer lá saber. E depois queixa-se que os representantes legais que colocáram no poder não valem um chavo, e isso, de certo modo revela alguma coerência. Esses mesmos detractores nunca se quiseram envolver no que quer que fosse e agora ficáram pendurados, atolados na porcaria. Portugal denota, de um modo intenso, o espírito da demarcação. Como é que um país que não conhece a verdadeira comunidade de interesses, alicerçada nos conselhos de cidadãos, na pequena decisão, pode esperar que delegados afastados da aldeia defendam os seus interesses? Os candidatos, por seu turno, já nem apelam ao verdadeiro interesse das populações. Sabem que podem chegar aos lugares de direcção servindo-se dos aparelhos partidários e do fosso jurídico que não impõe a obrigatoriedade do voto aos cidadãos. Nessa medida, as Eleições Europeias são uma bizarria. São ambiciosas pela abrangência geográfica que comportam, mas demonstram a sua fraca legitimidade, a frustração expressa pelos poucos eleitores que se apresentam ao serviço político, passivo.

publicado às 14:48





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