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O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) * apresentado a Bruxelas não traz um asterisco e uma nota de rodapé com as palavras de Catarina Martins - "Dijsselbloem é o ministro da Offshore da Europa". Mas o PEC não é tímido na requisição de fundos e na proposta de medidas que ficarão aquém do exigido para cumprir as metas orçamentais. Podemos concluir que as declarações de Catarina Martins servem o interesse nacional? Não me parece que sirvam para grande coisa. Para cada palavra de insulto dirigida a quem dá o pão para a boca, certamente que haverá bastantes mais que poderão fluir no sentido inverso - directamente para o governo de Portugal. António Costa e o Presidente da República Portuguesa Marcelo Rebelo de Sousa falam de consensos, unidade, o chão comum, o fim da época continuada de campanhas eleitorais, mas Catarina Martins, algo limitada intelectualmente, puxa para o seu lado. A sua demarcação rebelde, no entanto, revela outras consternações. Informa-nos o Bloco de Esquerda (BE) que já pressente a inevitabilidade de mais um resgate. Enquanto que na Áustria a falência dos socialistas na última década conduziu aos mais recentes resultados da extrema-direita nas primárias das presidenciais daquele país, a Esquerda portuguesa, encarnada pelo BE, também se prepara para descalabros no seu próprio campo ideológico. Catarina Martins crava a sua demarcação em relação ao governo nas costas da execução de medidas que certamente serão impostas por Bruxelas. A discussão em torno da obsessão de Bruxelas pela despesa tem razão de ser. O dinheiro é deles. O dinheiro é dessa offshore holandesa. O dinheiro é dos alemães. E já agora, o dinheiro também é dos gregos. Catarina Martins navega nestas águas de considerandos, mas esquece qual a bandeira financeira do seu pavilhão. Portugal não é sua pátria.

 

publicado às 10:06

Tsipras vai para casa com pulseira

por John Wolf, em 13.07.15

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Tsipras não serviu o seu povo. Tsipras não vingou a ideologia. Tsipras não pode ser considerado um herói da Esquerda. Após 6 meses de desgaste, alegadamente conducente à libertação da Grécia, Tsipras regressa a casa com um pacote de Austeridade ainda mais exigente. A teoria dos jogos de Varoufakis não funcionou. Foi uma roleta sem russos. Mas isto é apenas um lado da história. Do outro lado do balcão assistimos a uma Europa vergada pela política de cosmética, do Euro a qualquer preço, da União a qualquer custo. Daqui por 3 meses regressaremos ao mesmo confronto de inoperâncias, a igual défice de confiança e à uber-falência da Grécia. A capitulação grega é completa e deve ser considerada humilhante por aquele país. Veremos como o parlamento se irá orientar. Veremos como reagirá um povo traído em Referendo. Fui e sou adepto da ideia de ruptura, do reset de um país, da reconstrução da efectiva soberania, do regresso ao Drachma. A União Europeia acaba de adiar a inevitabilidade da falência que não pertence apenas aos gregos. O resgate, assim como outras modalidades de ajuda, não passa de uma pulseira que acorrenta não apenas o futuro dos helenos, mas de todo um continente.

publicado às 12:12

O plano grego

por John Wolf, em 23.02.15

Got-a-Plan

 

Como reza a expressão? Pela boca morre o peixe? É isso? Acho realmente extraordinário que Tsipras e Varoufakis tenham o desplante de incluir no plano que vão apresentar ao Eurogrupo medidas de combate à corrupção e evasão fiscal. Quer isso dizer que nunca antes a Grécia havia tido a iniciativa de combater esses flagelos? Estão a gozar com os gregos e os restantes membros da União Europeia. Só pode ser. Ou será que também querem mudar o nome a roubalheira e "travestir" a falta de ética de um país inteiro? Não me refiro apenas a desfalques à escala de um Onassis, às grandes fortunas. Ainda sou do tempo em Portugal, quando era tido como normal trazer do serviço papel higiénico e material de escritório (resmas de papel e caixas de lápis por estrear). Tudo isso somado leva ao declínio das nações. Como a União Europeia e as suas excelsas instituições vivem de aparências, certamente que irão arranjar um modo de acomodar os eufemismos de Tsipras. Vamos pagar pela operação de cosmética. Muitos dizem por aí que isto tudo representa o despontar da mudança que a Europa exige, que as gentes urgentemente requerem, mas tenho sérias dúvidas que esta porta seja a adequada. Há muita mobília política que não pode passar, que não deve passar. De cedência em cedência, perderemos a dignidade. 

publicado às 09:01

Jet lag de Rui Machete

por John Wolf, em 11.11.13

O público anda baralhado (não, não me refiro ao jornal!). A população portuguesa anda confundida - o cidadão nacional já não bate bem da cabeça. Ainda não percebeu qual a utilidade de Rui Machete. Para mim é claríssimo o que se está a passar. O ministro dos negócios estrangeiros está apenas a aquecer - está nos treinos. Nas últimas semanas tem sido o sifão das asneiras, o canal por onde escorrem dissabores e vaias garantidas. As últimas declarações matemáticas sobre como evitar resgates devem servir de aperitivo para péssimas notícias que podem já estar no segredo dos deuses. Se o responsável pela pasta e o papel de política externa acertasse em todas, tivesse juízo, quando chegasse a hora da dolorosa, o momento de verdade, quem teria a experiência profissional certa para ser o porta-voz do descalabro? É o que eu digo - este é o homem certo. Para Passos Coelho e Paulo Portas, o camarada vem mesmo a calhar. O seu desempenho já está a produzir resultados. A opinião pública já foi hipnotizada pelas cartadas de Machete e presta menos atenção às movimentações da coligação-mas-por-pouco. Machete é como o infiel da balança do governo. Faz tombar o que já está por terra. Quando menos se espera há um descarrilamento de informação que até parece espontâneo. Mas eu não acredito na bruxa. O feitiço consiste em fazer passar informação como se não fosse a correcta, como se tivesse sido um lapso. Mas, uma vez engolidas as afirmações, não há volta a dar - entraram no sistema, na corrente de contraordenações políticas. Não existe um antidoto para este tipo de picada. Os jornalistas, antes de publicar os seus artigos, deveriam confirmar a veracidade dos factos junto das fontes, mas não daquela. O problema é que Machete é mais parecido com uma ruptura, do que saneamento básico em pleno funcionamento - não é uma fonte de água potável. A única coisa que poderemos fazer é cruzar os dedos, fazer cara de póquer e aguardar mais desenvolvimentos de última hora - um anúncio-surpresa sobre outros factos relevantes. Por exemplo, um despejo de informação que concede que "Portugal já assinou a sua saída do euro e está apenas à espera da ratificação do parlamento ou o carimbo de aprovação do tribunal constitucional" - qualquer coisa desse género, anunciado por Machete no contexto de uma visita à Guatemala. O que devemos esperar nos próximos tempos de "juízo à Machete", será algo deste teor, porventura honesto, mas totalmente deslocado da hora que interessa a Portugal. Na minha opinião Machete sofre de um problema de jet-lag crónico. Está cá, mas é como se não estivesse.

publicado às 13:55

A Tropicália lusa

por João Pinto Bastos, em 26.09.13

Glosando o título de uma das últimas postas do John, é possível afiançar, com algum grau de certeza, que Portugal aportou à verdadeira terra prometida: a Tropicália da parvoíce. Porquê Tropicália? As razões são variadíssimas, mas há uma, em concreto, que ultrapassa em prejuízo todas as outras. Falo, pois claro, da enormíssima falta de tacto das nossas elites políticas e económicas. Nada do que tem sucedido nos últimos tempos constitui, em bom rigor, uma surpresa malfadada. Num país resgatado e falido, como é, infelizmente, o nosso caso, o mandarinato dos macro e micropoderes continua a comportar-se como se Portugal fosse uma praia solarenga, repleta de criados-autómatos disponíveis a servir prontamente os desejos mais sensualóides dos diversos chefes da companha. Veja-se, por exemplo, a subida das yields. Tem-se falado, nos últimos dias, no retrocesso de alguns dos principais indicadores económicos, e, para quem acompanha diariamente a realidade económica, investindo e produzindo, o que se tem passado na economia não representa, propriamente, uma surpresa de maior. Não obstante os bons resultados das exportações, os juros mantêm a sua trajectória de subida, com a consequente diminuição da credibilidade creditícia da República. A crise de Julho teve os seus efeitos, e, por mais que se avente o contrário, a economia piorou, pelo que as probabilidades de sermos sujeitos a um segundo resgate aumentaram exponencialmente. Perante isto, as respostas têm sido dúplices e pouco coerentes. No seio do Governo, a ambiguidade mantém-se. É certo que Paulo Portas, ferindo as susceptibilidades do comentadeirismo estupidificante, tem tentado remar contra a maré, insistindo numa diplomacia política mais aguerrida. Porém, os resultados têm sido, até ao momento, demasiado parcos. Se atentarmos aos efeitos visíveis das negociações com a troika, verificaremos que as mesmas ainda não obtiveram fumo branco. O momento também não é propício a declarações políticas substantivas, devido ao festim eleitoral que, como é de tradição, corta cerce no bom senso, já de si muito reduzido, dos principais agentes políticos. Ademais, se olharmos para os restantes actores institucionais, o cenário não é de todo muito abonatório. O Presidente da República não passa, em boa verdade, de um penacho institucional, que não aduz rigorosamente nada à resolução dos problemas do país. Fala pouco, age mal, e só empata os verdadeiros agentes da mudança. Um dos nós górdios do regime reside, justamente, no lugar político ocupado pelo inquilino belenense. Por fim, temos o inevitável oráculo justiceiro do Sr. Dr. Joaquim Sousa Ribeiro. O Tribunal Constitucional é, neste preciso momento, um dos actores mais deletérios da vida política portuguesa. A jurisprudência constitucional tem sido, com algumas nuances, um obstáculo seriíssimo à necessária reforma do país. O dia de hoje, com o acordão sobre as alterações ao código laboral, é, por si só, um bom exemplo do bloqueio político em que estamos ensarilhados. Reformar nestas condições, com estes obstáculos, e com estas personagens de aviário, é, de facto, um exercício que convoca bastas doses de paciência. Os próximos meses serão um teste bem agudo para os principais arautos da governação, e não será, certamente, com discursos excessivamente "crescimentistas" que sairemos deste buraco. Mais: seria bom que, doravante, os principais rostos da governação olhassem para o cidadão comum, sobretudo para aquele que empreende e tenta, a muito custo, sobreviver no meio do confisco e dos entraves de um Leviatã que, não obstante o resgate, continua a viver sob um fausto desmedido. É este o exercício que importa fazer.

publicado às 13:51

O populismo do comentário

por João Pinto Bastos, em 18.09.13

Tenho o Henrique Monteiro por uma pessoa sensata e inteligente. Ocorre que, como é de uso e tradição em certas parangonas do comentadeirismo nacional, o Henrique caiu na eterna esparrela da crítica-só-porque-sim-ao-Paulinho-das-feiras. Se atentarmos, com olhos de ver, ao discurso do vice-primeiro-ministro, verificaremos, com alguma facilidade, o seguinte: Em primeiro lugar, Paulo Portas limitou-se apenas e tão-só a constatar um facto que até um patriota engomadinho reconheceria sem dificuldades de maior. Refiro-me, pois, à fatalidade de termos a nossa soberania hipotecada a entidades forâneas. Sim, caríssimo Henrique, trata-se mesmo de uma fatalidade, auto-imposta pela indigência das nossas elites. Em segundo lugar, Paulo Portas disse e sublinhou que tudo fará para que "tenha sido esta a última vez que uma velha nação de nove séculos teve de entregar uma parte da sua soberania a entidades terceiras". Digam-me, sinceramente, onde está o populismo desta asserção? É que, por mais que leia e bosqueje a frase acima transcrita, não consigo de todo encontrar o mínimo arremedo de populismo. Em suma, do discurso de Paulo Portas não pode, nem deve, note-se, extrair-se o seguinte: 1) que o Governo, sob a voz do seu vice-primeiro-ministro, defende o rompimento unilateral com a troika; 2) que Paulo Portas, na sua ânsia de agradar a gregos e a troianos, voltou (?) a sucumbir às garras do populismo. É que, a meu ver, e creio que não sou o único, a chegada da troika a Portugal, ainda que absolutamente necessária, representou a falência de todo um estado de coisas. Se isto não é mau, não sei o que poderá ser mau e horripilante para os astros do nosso comentário político. Adelante.

publicado às 12:31

Ressaca de Portugal

por John Wolf, em 03.09.13

Embora haja muito boa gente que queira fazer a apologia do lindo Agosto, afastando as nuvens da meteorologia e das camas vazias de hotel, a verdade é que a ressaca da inconsciência far-se-á sentir, já se faz sentir. O turismo, condecorado como uma vaca sagrada, tratado como o antídoto para os males económicos, pelos vistos não foi suficiente para alterar a percepção que o mercado tem da economia nacional. Foi tudo de férias sem excepção - governantes e desgovernados -, o tempo quente e a toalha de praia, uma maravilha para fazer esquecer a descida, a ida ao tapete. A taxa de ocupação dos aparthóteis algarvios a rebentar com a escala. Os incêndios? Isso é lá para o norte, tudo tranquilo aqui com a mini - lê-se no Correio da Manhã debaixo da sombrinha do Continente na cadeira de campanha que a Maria trouxe às costas do carro mal estacionado no lugar do ausente, deficiente. Deixe lá que a GNR não tem combustível para o Rover que está à porta da farmácia já faz dois meses. Na caixa do correio por daqui a alguns dias os picotados das notificações; IMI, Esgotos e Saneamento Básico, e depois, à falta de memória, o IUC. Sem esquecer a inscrição dos miúdos na escola e o raio daquele seguro obrigatório para o carro e a casa. As férias? Vou tê-las a bem ou a mal. O direito ao descanso está consagrado na Constituição. Se está escrito é porque é verdade.

publicado às 10:04

Sintomas da débâcle

por João Pinto Bastos, em 07.06.13

1) A burrice fmiesca resultou nisto. As Yields das OT a dez anos atingiram a módica taxa de 6,21%, depois de, em Maio, terem descido para um mínimo de 5,21%. O "altismo" voltou à carga.


2) A guerra entre o FMI e a Comissão Europeia estalou de vez. Mais grave ainda é saber que as hostilidades foram abertas por Olli Rehn, o capataz das atoardas.

 

3) O FMI abriu o jogo: admitiu, finalmente, que o regime imposto aos países de "programa" não funciona. O que tem a dizer a Comissão acerca disto? O austerismo funciona? As economias do sul progrediram sob a égide dos programas de resgate? Das duas, uma: ou mantém-se a linha acrítica que tem vindo a ser seguida desde o início da crise, ou faz-se uma autocrítica séria, corrigindo o que está errado. Claro que, com Olli Rehn metido ao barulho, é difícil acreditar na segunda hipótese. 

 

4) A análise desta querela tem falhado num ponto essencial: os sócios não-europeus do FMI discordam desta política de resgate (China, Brasil e quejandos). O que está em causa não é apenas a resolução cabal do problema do euro, mas, também, a reforma da orgânica institucional do FMI. Os abalos que o FMI tem sofrido na sua credibilidade não são de molde a deixar descansado seja quem for. A reforma da instituição está na ordem do dia.

 

5) Gaspar tem muita piada. De facto, o ministro do confisco sabe como encantar as plateias com a sua veia humorística. Repare-se na singeleza desta frase: "não é verdade que o programa esteja a falhar". Claro que não. Os números do desemprego, o incremento das insolvências, os aumentos exponenciais da dívida e do défice, são meros acidentes de percurso. O que importa sublinhar é que o programa, devidamente modulado numa folha de Excel, está a funcionar. O país melhorou, e muito, nestes últimos dois anos. O novo homem está a caminho. A nova sociedade, expurgada dos seus males e vícios, está, finalmente, a desabrochar. Obrigado, caríssimo Vítor.

 

publicado às 11:46

Chipre: um caso geopolítico

por Nuno Castelo-Branco, em 19.03.13

 

O Parlamento cipriota recusou o saque das contas bancárias. Os deputados sabem que podem agora contar com um há muito esperado interveniente na região, não hesitando agora em ruidosamente contrariarem os desígnios de Bruxelas.

 

Não pertencendo à NATO, a ilha de Chipre pode bem ser o próximo alvo do cada vez mais evidente intervencionismo do governo de Putin. A bizarra - ou nem tanto - proposta de resgate oferecido pela Gazprom, integra-se na estratégia de expansão da influência russa no Mediterrâneo Oriental. O caso sírio e a política moscovita que visa a manutenção do status quo nesse seu importante aliado no Médio Oriente, oferece uma certeza quanto à intenção de não abandono das posições na área. Se a isto acrescentarmos a penetração chinesa nos portos gregos e a cada vez mais evidente readopção de alguns argumentos pan-ortodoxos que fizeram história no século XIX e no alvorecer do vigésimo, parece-nos que a Rússia está decidida a preencher o vácuo estratégico numa ilha dividida e agora à mercê de graves dificuldades financeiras. Podemos estar perante o início do cerco à potência turca e talvez a uma presença militar russa para além dos "Dardanelos da NATO", um projecto vetusto de mais de dois séculos, mas nem por isso abandonado pelos czares, pelo regime soviético e agora pela Rússia de Vladimir Putin.  

 

A dependência energética europeia concede preciosos trunfos a Moscovo, podendo os russos contar com alguma colaboração de Berlim, perfeitamente consciente do cada vez mais evidente afastamento norte-americano em relação à Europa. Surge a hipótese de uma progressiva finlandização da chamada União Europeia, conseguindo assim Putin, aquilo que durante mais de quarenta anos o Kremlin vermelho almejou sem qualquer sucesso. Arredado o espectro do comunismo, aos russos já não lhes interessa o controlo daquilo a que outrora chamavam de "partidos irmãos", pois a energia e até a própria segurança militar - escandalosamente obliterada pela generalidade dos Estados da U.E. -, são argumentos capazes de despoletar todo um novo sistema de poder na Europa. À partida existem interesses comuns e a escalada islamita também será um factor a considerar, apesar do até agora flagrante appeasement que o Ocidente adoptou como provisória panaceia que tranquilize os milhões de muçulmanos residentes na Europa. Tudo parece confluir para um render da guarda da tutela sobre o Velho Continente e pelo menos, as vastas regiões da Europa central e oriental não poderão deixar de evidenciar a permeabilidade à influência russa.

 

Bons conhecedores de estratégia, os russos ainda terão bem presentes o clamoroso erro que o hrer cometeu quando interditou a reedição do assalto pára-quedista que com um sangrento sucesso, deu a posse de Creta ao Reich. O controlo do Mediterrâneo Oriental ter-se-ia consumado com a ocupação de Chipre, escancarando as portas do Médio Oriente à intervenção da Wehrmacht, concedendo as jazidas petrolíferas ao Eixo e decididamente fazendo evoluir a Turquia no sentido dos pressupostos do Pacto Tripartido. A não conquista de Chipre, talvez tenha evitado à Rússia o combate em duas frentes e uma clara indicação de derrota militar em 1942.

 

Os cipriotas estão mais isolados que nunca, não há qualquer hipótese de Enosis que lhes valha. O caso das dificuldades financeiras de Chipre é resolúvel, dada a pequena dimensão da sua economia. Os russos sabem-no e dispõem dos meios que lhes comprem uma preciosa posição estratégica, aliás com um potencial energético que se adivinha. A União Europeia poderá adoptar as medidas que lhe pareçam mais oportunas, mas neste caso, há que contar com outro interveniente. O que não parece ser contornável, é a bem próxima inclusão da ilha nos planos de expansão da influência russa numa zona conturbada e bem próxima de países onde a chamada "Primavera árabe" nos deixou à mercê de todas as incógnitas. Resta-nos apenas observar em que sentido poderão agir os turcos. 

publicado às 22:02

Ampliação das maturidades? Are you sure?

por João Pinto Bastos, em 22.01.13

O pedido de extensão dos prazos de pagamento dos juros concedidos pelo FEEF formulado pelo Governo português tem um ponto, designadamente na sua justificação, bastante obscuro, pelo menos para um iniciado como eu na feitiçaria económica gasparista. Afinal de contas, o pedido é referente à ampliação das maturidades dos empréstimos concedidos pelo FEEF, que, como bem diz o Jorge Costa aqui, vencem, note-se, a partir do ano de 2016. Ou seja, os anos mencionados, 2013, 2014 e 2015, serão anos em que a dívida a vencer será, sobretudo, dívida a privados, vulgo obrigações do tesouro. Em que é que ficamos? Das duas, uma: ou a justificação dada pelo ministro das finanças é uma valente trapalhada, daquelas em que Gaspar é um exímio mestre, ou então há qualquer coisa aqui que me escapa. Mais: se os pagamentos em causa relevarão somente a partir de 2016, com destaque para o ano de 2021, o pedido em causa versará necessariamente sobre algo bem diferente. Há por aí muita gente que toma os portugueses por um bando de tolos que engolem tudo o que lhes dizem.

publicado às 14:08

A diplomacia branda de Paulo Portas

por João Pinto Bastos, em 07.12.12

Há algum tempo atrás, neste mesmo blogue, falei na emergência de uma diplomacia bifronte. Pelos vistos, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, tem feito escola na prossecução dos  superiores interesses políticos do país, afirmando a bonomia de intenções, onde o ministro Gaspar afirma amiúde um servilismo acrítico. A estratégia é simples, bem gizada e facilmente compreensível. O pragmatismo de Paulo Portas tem uma dupla mensagem. Por um lado, reafirma Portas como um dos actores fundamentais na coligação, funcionando como um pólo de atracção dos descontentes contra a deriva financista de Gaspar, por outro, indica uma dupla estratégia do Governo no combate à crise. Uma dupla estratégia assente 1) no cumprimento ignorante do programa de resgate sob a égide de Gaspar, 2) numa diplomacia mais assertiva no plano europeu. Seja qual for a intenção de Portas, é tempo de o CDS, enquanto parte activa da coligação no poder, afrontar os reptos da governação com mais e maior autonomia, tomando as decisões que se impõem, não deixando escapar o capital de confiança depositado no partido nas últimas eleições.

publicado às 00:47

 

Na teoria do jogo todos os cenários devem ser tidos em conta. É natural, que de um modo tempestivo, o governo de Passos Coelho bata o pé e exija a suavização das condições impostas pelo resgate financeiro à semelhança do concedido à Grécia. A população Portuguesa não esperaria outra coisa. O primeiro ministro também tem de ser a primeira dama ofendida pela traição onerosa. Contudo, a escala de pagamentos não se estabelece a toque de caixa, como se um árbitro pudesse conceder a lei da vantagem num campo inclinado, virado ao avesso. Acresce que a esta situação, onde se movimentam mais actores do desmoronamento Europeu, encontramos outros termos de comparação. Se Camões pode ser comparado a Zorba, nada exclui que também possa vir a ser comparado com Paco de Lucia ou Ilona Staller (para os amigos, Ciciollina) e aí a coisa pode tornar-se feia. A política económica e financeira das comparações não parece ser uma boa forma de avançar, porque existe o risco do superlativo; de se ser incomparavelmente melhor ou irredutivelmente pior. Portugal deve comparar-se a si. Olhar-se ao espelho e tentar perceber como vai inverter a situação e transformar a adversidade em oportunidade. Por outras palavras colocar a ênfase no crescimento económico e na geração de emprego. E esse exercício de redescoberta é uma faena a solo, uma operação de quarto escuro que revela a genialidade local, a ingenuidade nativa, o brilhantismo cravado na idiossincrasia de um país longínquo. Portugal não deve perder-se na floresta de vultos e figuras, no marasmo de desejar e odiar o outro que não é. Que nunca desejará ser.

publicado às 09:36

O desvario teutónico

por João Pinto Bastos, em 03.12.12

Nada me move contra Angela Merkel. Aliás, aproveito para dizer que a figura da grande líder teutónica me merece alguma simpatia. No entanto, e como nada na vida é perfeito, o Governo germânico, liderado magistralmente por Frau Angela, resolveu aderir à moda Hollande, isto é disparar atoardas a torto e a direito à espera de que um dia, não muito longínquo, algo mude. Mas, a realidade é bem mais complexa. A desorientação que paira no Governo alemão a propósito do resgate grego é particularmente sintomática. Decide-se tudo às arrecuas, até ao dia em que a bolha rebentar de vez. Reparem nesta sucessão de eventos: são acordadas, finalmente, um conjunto de regras relativas às novas condições de financiamento atribuídas à Grécias, mas, logo a seguir, num momento à John Wayne, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, anuncia sem o menor rebuço que essas condições só se aplicarão à Grécia. Não sei se os leitores estarão a vislumbrar a dimensão da boutade proferida pelo senhor Schäuble, contudo, uma leitura fria destas declarações ajudará a desnudar a enormidade daquilo que o Governo alemão pretende fazer. Ou seja, o que os nossos amicíssimos confrades alemães querem fazer é, basicamente, impor uma dualidade de critérios que, mais dia menos dia, rebentará em estilhaços o tão apregoado projecto europeu. Ademais, haverá alguém - sim, com esta loucura toda é bem possível que haja - que acredite que critérios diferentes para situações iguais serão totalmente aceites pelos restantes países periféricos? Desgoverna-se ao sabor das sondagens, dos tablóides e dos estados de ânimo de um eleitorado irritado, em suma, destroem-se laços de solidariedade que, muito dificilmente, voltarão a ser recobrados. Das duas, uma. Ou se aplicam as mesmas regras a todos, ou, então, é preferível deixar de chamar união a algo que é uma desunião. A desunião do egoísmo.

publicado às 22:46






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