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Os comentadores da praxe podem dar a volta que quiserem à lábia. Estão em choque após a noite eleitoral de ontem. Estão a apanhar os cacos da sua arrogância e das suas certezas absolutas. O Chega é filho de uma família disfuncional. E chegou à idade adulta. Tem como pai o Partido Socialista que passou os últimos oito anos a ignorar as queixas existenciais dos Portugueses. Tem como madrinha os media que tentaram castigar o menino, trancando-o num quarto escuro, sem que tivesse direito a recreio. E ainda insistem em ostracizar aquele que apenas espelhou o estado de alma de um milhão de cidadãos. Ventura realizou o milagre da sua multiplicação, de 1 para 12, e agora para 48 deputados. Não é pouca coisa e já não pode ser encostado a um canto do Parlamento. Gostem ou não, cause-lhes comichão democrática ou não, os outros partidos, incluindo o vencedor númerico da noite de ontem, estão obrigados ao diálogo, à argumentação e à negociação. Se insistirem no cordão sanitário arriscam-se a ver um partido com uma maioria de facto nas próximas eleições, que alguns como o Pedro Nuno Santos anseiam para que sucedam (as eleições!), ainda antes do Natal, para abater de uma vez por todas (pensa ele...) o peru da direita. A Aliança Democrática (AD) atirou tinta ao Chega. Recusa ajuizar com uma força política que nunca antes governou. Mas faz mal. O Chega é um partido teórico, sem cadastro, a partir do qual não se podem extrair certezas sobre o que fará, se ainda não há nada que tenha feito digno desse nome. Se é um governo minoritário que Montenegro deseja validar, deve aproveitar essa vontade para demonstrar que o processo governativo deve estabelecer pontes com aqueles que são considerados infecciosos, anti-democráticos. Se é o Orçamento que Pedro Nuno Santos aguarda para que o governo da AD caia, não passa de uma jogada oportunista, igual a tantas outras a que nos habituaram os socialistas. Não é esse o caminho. Não há volta a dar. O Chega passou de canário na mina a elefante na sala. Agora resta ver se Portugal chegou à idade adulta democrática após 50 anos de crescimento. E com isto tudo esqueci-me de falar do padrinho do Chega — Marcelo Rebelo de Sousa. Mas teremos o aniversário da prima para discorrer sobre o presidente de república democrática portuguesa.
O voto dos emigrantes produziu três deputados para a coligação Portugal à Frente (PàF) e um para o Partido Socialista (PS). Ou seja, 75% dos emigrantes e portugueses residentes no estrangeiro votou na PàF. Não sei que malabarismos matemáticos o PS pode inventar, mas desde já podemos concluir o seguinte: os emigrados entenderam que o governo de coligação tentou ao longo dos últimos quatro anos colocar Portugal no caminho do desenvolvimento. Porventura a enfermeira Claúdia Silva, que trabalha no Hospital Central de Oslo, gostaria de ver o seu país ter o nível de prosperidade da Noruega. Se calhar o doutorando Amândio Gomes, que foi trabalhar na equipa de investigação em fibra de carbono na Universidade de Princeton, interpretou o esforço contra-natura do governo de coligação do seu país como um mal necessário. Pois é. Estou pra´ aqui a especular, mas se os excomungados-trabalhadores quiséssem o PS de volta teriam oferecido quatro deputados aos socialistas. Não sei se me faço entender. Os emigrantes socialistas são uma minoria também neste capítulo de ultramarinidade. Ponto final.
Parece que, em alguns meios da opinião publicada, Rui Rio foi erigido, repentinamente, como o novo messias da política portuguesa. Lamento desapontar-vos, mas Rui Rio, por enquanto, terá, forçosamente, de ficar recluído à espera de que piores dias venham. Sim, é certo que o PSD perdeu espaço político, ao deixar escapar de forma clamorosa algumas das principais edilidades do país, sem esquecer a verdadeira débâcle eleitoral sofrida na região do soba Jardim. Sim, é certo, também, que a partidocracia nacional sofreu um forte abalo, que não se limitou, note-se, ao PSD de Passos. Contudo, fazer destes resultados uma espécie de clamor subterrâneo pela ascensão política de Rui Rio ao leme da nação, cheira demasiado a bafio, a um bafio que eu julgava já extinto. A culpa não é, certamente, de Rui Rio, aliás, o ainda presidente da Câmara Municipal do Porto tem estado, diga-se a abono da verdade, bastante silente, porém, há certos papagaios regimentais que não aguentam, por mais que a realidade lhes dite o contrário, a legitimidade das urnas. Que Deus lhes perdoe as manigâncias. Entretanto, eppur si muove, o CDS, brilhantemente guiado por Paulo Portas, obteve um excelente score eleitoral, tendo em conta que, antes destas eleições, o partido era o parente pobre do poder local. Os centristas conquistaram 5 câmaras, ganhando, com isso, um alargamento da sua influência política nos municípios portugueses. O PS de Seguro, que Manuel Alegre, num acesso de "a mim ninguém me cala", qualificou como o grande vencedor da noite, foi, na verdade, um vencedor muito frouxo, aliás, frouxíssimo, o que, em bom rigor, é plenamente explicado pela perda de fôlego verificada nos últimos tramos da corrida às principais praças eleitorais. Quanto ao Bloco, comprovou-se, se dúvidas existissem, que, hoje em dia, o partido do caviar e do ipad para menininhos rebeldes, é uma inexistência política, que só sobrevive graças aos merdiocratas frequentadores das noitadas do Bairro Alto. Já o Partido Comunista, cujos resultados foram, infelizmente, demasiado risonhos, pode agradecer ao seu tão odiado Deus tamanha dádiva, pois, aqueles 7 a 8% de portugueses desguarnecidos de inteligência voltaram a dar, sabe-se lá como, ao partido da foice, do martelo, e do genocídio apoiado fora de portas, o comando de alguns centros urbanos de relativa importância. Os resultados eleitorais, analisados à primeira vista, oferecem, vistas bem as coisas, uma catadupa de leituras, mas o que importa relevar é que os portugueses, com algumas reticências pelo meio, manifestaram um profundo desagrado face à partidocracia reinante. Para bom entendedor meia palavra basta. O que sairá daqui só o futuro o dirá.