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Os caracóis do turismo português

por John Wolf, em 04.06.15

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Portugal é um país contraditório. Preso por ter e não ter cão. Há escassos anos lamentava-se que o sector do Turismo não estivesse a ser aproveitado em todo o seu esplendor. Faz-me espécie que alguns departamentos de uma Esquerda iluminada demonstrem o seu desagrado pelo facto dos encantos de Lisboa terem sido descobertos por essas hordas de turistas delapidadores da identidade nacional. Já havíamos tido a ocasião de escutar Catarina Portas dissertar sobre o arrastão de expressão brejeira da oferta turística na Baixa. Pois é. Nem todos os comerciantes tiveram acesso a certos privilégios de concessão, entre outros favores de difícil qualificação. As vozes que referem a perda da virgindade da identidade nacional, ecoam de palanques esquerdinos que roçam o nacional-proteccionismo. Em época de vagas magras, o Turismo tem sido o farol de vigor económico. É natural que estejamos a assistir a um processo de ajustamento. Existem sempre dimensões na oferta que têm de ser afinadas, mas isso faz parte da passagem a um outro patamar de desenvolvimento. A mentalidade tem, desse modo, de acompanhar os novos tempos. Ninguém disse que a procura acrescida que se regista seria desprovida da evidência das limitações que se apresentam. O quadro maior é que interessa. Portugal é um destino de eleição para milhões de turistas. Mas deixem-me vos contar uma pequena história. Em 1979, quando chegámos a Portugal, mais concretamente ao interior do Algarve, o meu pai, um homem que já havia vivido nos quatro cantos do mundo, ficou rendido a um néctar da região. Sem meias-palavras o meu progenitor reconheceu as virtudes excepcionais de um produto local. Na sua opinão essa pomada era muito melhor que a Grappa italiana ou a Aquavit escandinava. Sim, falo de Medronho. Sem contemplações e ainda com o bafo quente no palato, o meu pai escreveu ao Embaixador de Portugal em Washington a exultar as qualidades daquele licor. E perguntou: por que razão o Medronho ainda não era um produto com expressão mundial, ao que respondeu o Sr. Embaixador - a quantidade produzida artesanalmente não era suficiente para conquistar mercados, ao que o meu pai retorquiu: melhor ainda. O preço do litro terá de ser proporcional - ou seja - alto, muito alto. Não sei se me faço entender, mas esta imagem serve para ilustrar o manancial excepcional de que Portugal dispõe. Veremos que impacto os turistas terão na economia num sentido estruturante e profundo. Mas mais importante do que passageiros de ocasião, serão os nativos que terão de interpretar de um modo assertivo o quadro que se lhes apresenta. A meu ver, está cá tudo. Falta apenas aproveitar estes tempos de sufrágio. Os turistas votaram. E Portugal foi eleito. Bravo.

publicado às 08:20

Draghi e a serenata de Marisa Matias

por John Wolf, em 23.03.15

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Não basta ser engraçada e outspoken para ocupar o cargo. É necessário entender o que está em causa e como funcionam economias e mercados - Marisa Matias não preenche os requisitos do posto que ocupa, para além de ter notórias dificuldades de expressão em língua inglesa. A "tecla dos sacrifícios" que os portugueses estão a passar já está gasta, mas ela continua a bater no velhinho. Sei que custa a certos portugueses aceitar que a viragem está a acontecer. Draghi explica, mas a eurodeputada tem opinião diversa. Nenhum governo no seu perfeito juízo político aprecia a implementação de medidas de Austeridade (não se esqueçam qual foi o governo que assinou o memorando). A penalização tributária e social dos portugueses corre em sentido oposto aos louvores e às vitórias eleitorais. O governo em funções não herdou apenas a roupa suja do mandato anterior, mas o lixo de décadas de incompetência administrativa e política, incluindo o fardo de governos de idêntica cor partidária. Embora não seja declaradamente visível, Portugal está efectivamente a melhorar. Os indicadores económicos estão sempre atrasados ou adiantados em relação à realidade. Não existe sincronia entre o substantivo e as percepções tidas pelos opinion makers, cidadãos comuns e a oposição. Mas a Grécia está a servir o interesse de Portugal. Está a demonstrar como não se faz. Está a provar que não o fez, e provavelmente confirmará junto dos parceiros europeus que não o fará. Para além de tudo o mais, Portugal tem de lidar com o   pessimismo endémico - a tendência para dizer mal quando as coisas correm bem (e vice-versa). Entendo que começem a faltar argumentos a António Costa à luz da evidência da retoma económica de Portugal. Quanto a Marisa Matias, ela também serve a Democracia. Levanta questões com um grau de ingenuidade de uma criança, mas com traços de distorção que caracterizam um adulto que tarda em aceitar os factos incontornáveis da vida. Os sapos a engolir serão concerteza muitos. Afinal estamos na Primavera.

publicado às 18:14

Portugal, um destino de eleição

por Fernando Melro dos Santos, em 15.05.14

 

 

Brincadeiras à parte, o que temos em cima da mesa é isto:

 

- Portugal desbaratou o dinheiro todo do primeiro resgate, nas parvoíces (bodo aos primos e obra redundante para inglês ver) do costume, tendo mantido a proeza da coesão social a troco das migalhas, como é prática desde 1986

 

- a Grécia vai cair, e desta vez cai mesmo

 

- a queda em desgraça da Holanda, onde o desemprego e o sentimento empresarial estão a níveis que fariam corar qualquer ex-membro do defunto Pacto de Varsóvia, deverá empurrá-los na direcção de um euro-clube mais selectivo, senão mesmo à saída. Nota bene: ali não se repetem referendos.

 

- o bater de porta da Finlândia está por um fio

 

- a França de Hollande alcançou o sonho socialista, a simetria suprema: nem cresce nem decresce, é o zero absoluto, egalité etc.

 

- com todo o dinheiro estúpido que tem vindo a entrar na compra de dívida periférica, o estoiro subsequente fará com que o falecimento do Lehman Brothers se assemelhe ao piar de um colibri no dia em que o Krakatoa acordou.

 

Recordemos o sindicalista Rui Riso: nao podemos pensar só nos lucros.

 

publicado às 14:28

Portugal procura a saída

por John Wolf, em 11.03.14

Uma saída nem sempre pressupõe uma entrada. E é isso que me preocupa. A ênfase colocada na saída do programa de ajustamento a 17 de Maio sem que se vislumbre uma entrada. A passagem para um território seguro, para terra firme. Sabemos muito bem que um doente crónico, a que dão alta em determinada data, fica obrigado a consultas regulares para observar se a recuperação é tendencialmente positiva. Os políticos portugueses vivem obcecados com a numerologia da retoma. Como se tudo se pudesse reduzir a níveis de taxas de juro e percentagens. Por isso o consenso em Portugal me parece improvável. Porque o mesmo se baseia na dimensão quantitativa da política, colocando à margem a dimensão moral. Não interessa muito qual a data oficial da partida da Troika. O que interessa, e muito, é a capacidade de implementar soluções que façam erguer os portugueses da sua ruína económica e social. Os tempos que se seguem (falo de anos, falo de décadas) exigirão uma grande atitude colectiva. Um esforço acrescido para que cada português, filiado ou não, faça cair por terra a pequena política, a mentalidade de quintal. O que diz Cavaco não é totalmente desprovido de verdade e o que diz Belmiro peca por comparar alhos com bugalhos. Não sei de que modo o país se pode reinventar se insiste nos rancores e na ideologia de bancada que apenas serviram enquanto elementos fracturantes da sociedade portuguesa. A revolução cultural que Portugal necessitaria tarda em acontecer. A dinâmica de pensamento capaz de questionar as grandes estruturas, a matriz condicionadora dos processos, não está a acontecer. Nessa medida, o caso português apresenta-se-me como particularmente bicudo. Persiste na consciência colectiva um certo saudosismo por um modelo económico e social que já demonstrou a sua insuficiência. E todos sabemos que em equipa que não funciona, deve-se mexer...e muito. 

publicado às 09:46

A hora da obra de Portugal

por John Wolf, em 28.02.14

A política não é uma ciência exacta, isso já nós sabemos. A política não existe para inventar a roda, também podemos confirmar. A actividade política deve, por isso, centrar-se na busca de soluções que já deram frutos. Nessa medida a cultura política vem mesmo a propósito. Especialmente em época de crises e convulsões, os lideres estão obrigados a vasculhar nos arquivos, a pesquisar o que decisores contemporâneos ou de outros tempos históricos fizeram. Não sei o que fazem os governantes nas suas horas vagas, mas poderiam aproveitar para observar o que fazem os outros. O caso de Portugal é enigmático. Não passaram tantos anos assim sobre o esplendor da obra pública, geradora de emprego e orgulho nacional. Não foi há tanto tempo assim que a Expo 98 fez renascer a cidade de Lisboa. Não foi há décadas que o Euro 2004 gerou um frenesim nacional com efeitos directos na economia. Foi ontem. Mas não percebo muito bem porque esses casos, que agora fariam muita falta para gerar verdadeiras dinâmicas de retoma, não foram replicados. Estão à espera do quê? Não é preciso ser um génio-governante (ora aí está uma contradição!) para entender que este é o momento para o investimento em larga escala. Que este é o momento para o Estado lançar projectos de dimensão assinalável capazes de contagiar o sector privado. Emissão de títulos do tesouro? Não me parece. O que faria sentido seria emitir "government bonds" adstritos a projectos específicos. Isso sim. Parece que os governantes europeus nunca ouviram falar no New Deal. Talvez sejam jovens demais. Se for esse o caso, bastar-lhes-ia prestar atenção ao que Obama acaba de anunciar. Esse seria um dos caminhos possíveis. A restauração das infraestruturas do país. E ao fazê-lo gerar dinâmicas em tantos sectores económicos, provocando desse modo a inversão da tendência do desemprego, de um modo real e efectivo. Estão à espera do quê para arrancar Portugal do seu triste estado. Querem que lhes faça um desenho? Francamente. Esta é mesmo muito fácil.

publicado às 11:58

Portugal e o referendo da mentira

por John Wolf, em 18.01.14

O Parlamento, ou o Governo, podem, para todos os efeitos, inventar os referendos que entenderem. E os portugueses podem morder o anzol ou não da distracção política para se deixarem levar na conversa. O espectáculo absurdo a que foram submetidos os portugueses parece ter um propósito claro - distrair da questão essencial. A situação dramática em que se encontra Portugal. Por mais esforços que façam para omitir a verdade, os factos económicos, financeiros e sociais demonstram o contrário. Demonstram que a retoma não passa de um mito e o dobrar da esquina uma ilusão cozinhada ao sabor de números truncados, especialmente convenientes para governos de coligação. A única pergunta que deveria ser colocada aos portugueses em forma de tudo ou nada,  de sim ou não, já foi colocada pelos próprios. E a resposta também foi fornecida sem hesitações. O país exige algo maior do que passes de mágica parlamentar, chumbos ou aprovações de tribunais constitucionais. O país exige a solução maior e parece não haver homens de verdade para avançar com um Governo de Salvação Nacional. Quer o Presidente da República, quer o António José Seguro, não estão para aí virados. Aliás ninguém quer prescindir da sua agenda em nome do interesse nacional. No fim quem pagará a factura serão os portugueses. A saída limpa da Troika não passa de "optimismo ébrio", um acto de fé e mais nada. O país já é orfão de um Governo incapaz de oferecer a segurança de um lar aos portugueses. Os portugueses são filhos de uma terrível madrasta, vergastados sem piedade pela chibata de convicções erradas - foram co-adoptados pelo governo de coligação e a Troika. Entramos, deste modo, na fase de total disfunção política dos orgãos de soberania. Na loucura total de argumentos e pretextos, a voz do povo foi trazida à baila para entrar no esquema de decepção, para sacudir as águas do capote que vão aparecendo, granizo. Mas não devemos esquecer quem colocou no semi-círculo parlamentar os miúdos e graúdos. Não devemos omitir quem escolheu os líderes dos partidos políticos em Portugal. Não devemos esquecer quem elegeu o Presidente da República. Todos eles, sem excepção, emanam da matriz cultural e ideológica de Portugal, da vontade de cada um expressa na sua forma democrática e constitucionalmente consagrada. Portugal é filho de muitos progenitores, resulta de uma interminável orgia política iniciada há décadas. O que irá acontecer a Portugal nos próximos tempos não servirá para esclarecer seja o que for. Dia 17 de Maio e a saída da Troika não significa rigorosamente nada. Nessa data auspiciosa, Portugal não se divorciará do seu drama, do seu flagelo. Na melhor das hipóteses estará sozinha para conduzir os seus destinos - o seu fado.

publicado às 18:42

Crescimento e depressão de mãos dadas

por John Wolf, em 09.12.13

Já repararam que o termo desemprego já não faz parte do discurso dos que mandam? O Instituto Nacional de Estatística anuncia o fim da recessão, mas não é referido de que forma esse facto produz efeitos na geração de emprego. Os governos de Portugal, e dos demais países europeus, sabem que o pleno emprego jamais tornará a ser o que era. Os dias de desemprego na ordem dos 5% acabaram. Assistimos, deste modo, à residência definitiva de uma nova realidade dissimulada e por revelar nas palestras daqueles que estão no poder ou daqueles que sonham em lá chegar. Os "bons" resultados económicos são bons para o bottomline das empresas, para os fluxos de caixa, mas não para o trabalhador. Eu iria até mais longe. Há largos anos que os gestores de empresas aguardavam o momento certo para realizar o layoff, os despedimentos em massa e com justa causa. A pergunta que deve ser colocada aponta no sentido de saber quando haverá inversão da tendência no desemprego. Há escassas semanas foi divulgado que o desemprego em Portugal rondará os 17,4% em 2014, embora presentemente tenha caído para os 15,8%. Este anúncio de sucesso das exportações apresenta uma ligeira contradição, ou a corroboração da ideia de que há sérias dificuldades pela frente. A necessidade de emissão de dívida a 5, 10 ou 30 anos significa que a economia ainda não se aguenta nas suas pernas. O roll-over, o empurrar para a frente das obrigações de dívida, não altera a dinâmica económica substantiva, a geração de emprego. A demise dos estaleiros de Viana acaba por confirmar a ideia de desfalecimento, de que mais despedimentos seguir-se-ão. A situação económica e social, já de si incomportável pelos cidadãos, poderá agravar-se ainda mais se houver um processo simultâneo de declarações de insolvência ou inoperacionalidade. Temos os CTT e as Páginas Amarelas em pé de guerra. Temos professores na rua. Temos trabalhadores de todos os sectores económicos em profundo desconforto. Temos gente que caiu fora das estatísticas e que já não conta nas considerações governativas, porque não existe matematicamente. O fim da recessão é uma expressão muito desejada em termos económicos, mas uma nova figura conceptual nasceu com esta crise - a possibilidade de coexistência de depressão social e crescimento económico. Esta contradição, nunca como antes, desafiou todos os modelos e conceitos de desenvolvimento das nossas sociedades. O fosso entre os detentores de capital e os trabalhadores parece ser cada vez maior. Seria simpático se o INE apresentasse em tandem as duas partes da fórmula - o crescimento económico acompanhado pelo crescimento do emprego. 

publicado às 18:51

A raquete económica de Portugal

por John Wolf, em 06.10.13

Portugal colocou o seu nome no mapa desportivo mundial em duas modalidades distintas na última semana. João Sousa em ténis, no torneio ATP, conquista o seu primeiro título e Rui Costa sagra-se campeão mundial em ciclismo. Parabéns aos dois atletas! Contudo, por forma a que o sucesso alcançado não passe de uma andorinha solitária de Outono, os resultados alcançados exigem uma análise económica e social mais profunda. As perguntas que devem ser colocadas são as seguintes: será que Portugal consegue efectivamente maximar o esforço dos seus atletas? Será que existem estruturas nacionais suficientemente prospectivas que garantam mais prémios em alta competição? E que economias de escala são geradas nas diferentes disciplinas desportivas? Um país ao colocar um tenista no top 100 deve pensar numa estratégia económica e de marketing de longo prazo. Porque não pensar em raquetes e acessórios com a marca de Portugal estampada na frente e nas costas. Uma vez que a economia portuguesa deve renascer da penumbra da austeridade, que relação económica pode ser estabelecida com estes resultados? Será que já são produzidos artigos para a prática das referidas modalidades que possam gerar receitas a nível global? Existem centros de treino para a alta competição? E de que modo poderia Portugal se tornar em polo de atracção de atletas extrangeiros? Sabemos que os tenistas de craveira aperfeiçoam a sua técnica em Barcelona. Porque não o Alentejo? Quem fala de ténis ou ciclismo, tem de pensar na modalidade de Golfe. Por que razão Portugal ainda não produziu um Tiger Woods algarvio? Temos os melhores campos de golfe da Europa, mas parece ser apenas para os de fora, para os britânicos e companhia. Para além destas modalidades existe uma outra que corresponde a uma verdadeira malha económica - um ecosistema de valores e produtos de eleição. Os pensadores da grande estratégia económica de Portugal parece que não conseguem ligar os pontos que saltam à vista. Os governantes têm de olhar para o umbigo de Portugal para extrair valor para o país. Pela primeira vez em jogos olímpicos (Londres 2012) um cavaleiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre montando um cavalo Lusitano da Coudelaria de Alter terminou a sua participação no 16º posto da disciplina de Dressage, e esse facto tem uma importância económica tremenda (por realizar). Portugal tem perto de 400 criadores de Puro Sangue Lusitano e o cavalo nacional está a aumentar a sua visibilidade, sendo procurado por mercados globais. Associada à criação de cavalos existem uma série de indústrias e sectores a potenciar. Refiro-me às botas de montar, os arreios, os atrelados, os produtos veterinários, as rações, os suplementos vitamínicos e as escolas de medicina desportiva veterinária. E Portugal tem a coisa mais importante - o know-how. A técnica e a doutrina de equitação portuguesas que já foram reconhecidas pela sua correcção e o seu alto padrão de qualidade. Por vezes penso que os governantes de Portugal não conhecem a riqueza do seu país (são mesmo ignorantes). Está cá tudo, de um modo exclusivo e centenário, para que o país possa dar cartas a nível económico. O cavalo Lusitano é um valor intrínseco de Portugal internacionalmente reconhecido, mas os responsáveis económicos domésticos ainda não acordaram. A breve trecho outros países irão potenciar aquilo que Portugal tarda em reconhecer, globalizar. O Brasil já é o maior criador mundial de cavalos Lusitanos. Já definiu o seu stud-book e daqui a nada os cavalos passarão a relinchar com uma pronúncia distinta. 

publicado às 16:44

Chumbos de investimento

por John Wolf, em 25.08.13

Enquanto membro do clube daqueles que acreditam em Portugal, que conhecem os seus tesouros e o seu talento, o meu maior desejo é que este país possa vingar o seu destino, alcançando o pleno desenvolvimento económico e social. Esqueçamos por uns instantes as consternações respeitantes à grande ou pequena política e concentremo-nos na relação que o país estabelece com essa comunidade de crentes disposta a apostar em Portugal. Vem a propósito este post porque há muito tempo que venho nomeando as virtudes dos Exchange-Traded Funds (ETFs). Os ETFs são fundos de investimento que sintetizam a economia de um país, de um sector ou região. Um forasteiro de paragens longínquas que queira investir em Portugal, das duas uma; ou se torna residente de Portugal e passa a conhecer mal as suas empresas depois de 20 anos de estadia, ou, serve-se de um índice composto pelas empresas de referência, e, seja qual fôr a distância a que se encontre, participa no  seu crescimento ou na sua retoma económica. Esta modalidade de acesso à economia de um país representa a forma mais simples para um leigo assumir uma pequena ou uma grande posição de investimento. Sem essa porta de entrada, de nada serve a conversa utópica de governantes. E é aqui que descobrimos o calcanhar de Aquiles. Portugal não dispõe de um ETF que possa facilitar a captação de investidores nacionais e estrangeiros. A discussão foi colocada em cima da mesa por analistas internacionais que reconheceram na perjurativa sigla PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e (E)spanha), e nas respectivas economias, uma oportunidade única de investimento. Geralmente quando estamos na mó de baixo (feitos em farinha) deixamos de ter a capacidade de interpretar um quadro maior, mais positivo e prospectivo. Quando Portugal dobrar a esquina da recuperação será que está tudo a postos? Pergunto porque razão os arquitectos de investimento financeiro em Portugal ainda não criaram a ferramenta basilar para facilitar a entrada de capital fresco? De que estão à espera? Fiquei realmente surpreendido que um ETF PORTUGAL ainda não exista. O resto do mundo anda a pedir para investir em Portugal e não sabe como. Espero que alguém rapidamente interrompa as suas férias e resolva o assunto para sair do fundo - do chumbo do investimento.

publicado às 12:43

Os festejos da saída da recessão

por John Wolf, em 14.08.13

Quando a economia dos homens e mulheres não funciona, e é incapaz de gerar riqueza e bem-estar, entram em campo outras soluções. Uma delas é posta em prática de cima para baixo, pela via do estímulo às economias. A impressão de dinheiro e a compra de títulos de tesouro é um dos caminhos mais fáceis para virtualizar a recuperação. Os EUA, destemidos nesta abordagem, e pela mão da Reserva Federal (FED), têm vindo a comprar os Mortgage Backed-Securites (MBS) ao ritmo de 85 mil milhões de dólares por mês. Os MBS são títulos ligados directamente ao mercado imobiliário, entendido como o sector a partir do qual as retomas acontecem. A procura imobiliária serve a economia no sentido mais que transversal. Exige novas casas, materiais de construção, pintores, pedreiros, energia e o envolvimento da banca. Nos últimos meses, os "briefings" do FED tem oscilado entre a cautela e algum cuidado. Por um lado é sabido que se a torneira do estímulo fôr fechada prematuramente, os rebentos da retoma podem sentir o efeito da falta de rega e minguar. Por outro lado, a chuva excessiva de nutrientes pode provocar efeitos secundários, designadamente inflação. Basicamente o que separa a política Europeia da Americana tem a ver com esta doutrina de dinheiro. A Europa teve a experiência da hiperinflação nos anos 20 e os EUA uma versão menos aguda nos anos 70. A decisão pela austeridade na Europa está intimamente ligada a esta discussão e terá determinado na Eurozona uma abordagem que ignora a possibilidade de utilização da política monetária em larga escala. Os países da Eurozona entregaram a ferramenta monetária de mão beijada a uma centralidade europeia e foram apanhados nesta encruzilhada nefasta. As notícias que nos últimos dias têm feito manchete, respeitante à putativa saída europeia da recessão, não levam em conta os malefícios do tabaco. A haver "re-crescimento" na União Europeia, a inflação irá lentamente erguer a sua cabeça. O incremento gradual da procura funcionará como uma segunda austeridade. Os consumidores, ao sairem da sua longa hibernação, irão disputar a titularidade dos mesmos recursos. Os compradores irão exercer pressão sobre a máquina da oferta que não será capaz, de um dia para o seguinte, de aumentar a sua disponibilidade, pese embora a boa vontade dos mercados. Em suma, numa primeira fase da recuperação, sentiremos na pele o efeito inflacionário gerado em ambiente de quietude monetária. Ou seja, para além do actual decréscimo de rendimento disponível dos contribuintes (por via da tributação fiscal imposta pela austeridade/troika), os mesmos terão de se precaver para uma repentina subida de preços dos bens e serviços. Por esta e outras razões os festejos respeitantes à saída da recessão terão de ser comedidos. Pode ser que as economias europeias ainda venham a precisar de injecções directamente na veia das suas economias. Pode ser que não. Veremos o que o dealer Draghi pensa sobre o assunto. Veremos o que decide a troika. E deixemos que a economia dite as regras. Para bem ou para mal - infelizmente.

publicado às 17:23

O fim da recessão e da verdade

por John Wolf, em 12.08.13

Daqui a nada, e em directo de um Pontal malcheiroso, na famosa rentrée, escutaremos o anúncio do fim oficial da recessão em Portugal. Os dados apresentados apontam nesse sentido politicamente conveniente. As notícias da recuperação não são boas para as aspirações de António José Seguro que apostou as suas fichas todas no jogo da lerpa, na falência de Portugal e no abismo. Convém, no entanto, analisar o que está em causa. Os despedimentos em massa a que assistimos nos últimos dois anos foram um maná para as empresas. Os custos laborais são um dos componentes mais pesados da máquina produtiva. As empresas há muito que sonhavam com uma depressão para aumentar os índices de produtividade. Com um número muito menos expressivo de trabalhadores é possível produzir o mesmo número de pneus ou a mesma quantidade de manteiga. Dito deste modo pode parecer uma simplificação excessiva, mas é possível potenciar até um certo limite os factores de produção. Nesse contexto, os mercados têm revelado essa dinâmica, essa vantagem empresarial; as acções cotadas em bolsa têm vindo a se valorizar, enquanto a economia social tem vindo a pagar o preço - o desemprego que se encontra em níveis de amargura, e que foi ligeiramente atenuado devido aos efeitos sazonais imposto pelo turismo, irá continuar a crescer em sentido inverso aos bons resultados das exportações. Não creio que Passos Coelho anuncie "à Hollande" que a recessão terminou à meia-noite de uma qualquer Quarta-feira, mas irá decerto aproveitar estes indicadores de "retoma" espremendo-os até o tutano para justificar a Austeridade. Seguro, que tem andado sempre a reboque do que sai da boca do executivo, terá rapidamente de encontrar um antídoto, uma fórmula para contrariar os bons números das exportações. Restar-lhe-á se concentrar no emprego, na mesma frase batida que tem vindo a apregoar desde que o conhecemos enquanto homem com soluções para Portugal. Seguro deveria apontar baterias ao Banco Central Europeu, deveria lá estar caído, semana sim quinzena não, a fazer pressão sobre as instituições para que o estímulo às economias seja a doutrina adoptada. Se quer servir as causas nacionais, não pode andar ocupado com questões de taxonomia política, com precisões semânticas respeitantes a baixezas ou altezas do poder político. Seguro, apologista da verdade dos Swaps e afins, ainda não percebeu durante estes anos todos de socialismo conventual, que a verdade não é a missão principal dos sistemas políticos ou de justiça. Provavelmente Seguro nunca ouviu falar do teórico de esquerda Herbert Marcuse que expõe de um modo fácil que "quando a verdade não é realizável no quadro da ordem social existente, ela assume o carácter de utopia". Em suma, as verdades ou a reposição das mesmas, não serve o interesse nacional ou as necessidades individuais de trabalhadores desempregados. Aqueles que vivem o desespero da miséria económica e social não querem saber de justiceiros, de Don Quixotes de La Palisse, enquanto vasculham nos caixotes à procura da próxima eleição, refeição. 

publicado às 12:01






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