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David Cameron perguntou ao Parlamento Britânico. Obama pergunta ao Congresso Americano. Passos Coelho não pergunta à Assembleia da República nem ao Tribunal Constitucional. A questão subjacente a este inquérito difuso consubstancia-se no seguinte: como se legitimam as decisões de um executivo nos dias que correm? Eu sei que não se devem comparar maçãs com laranjas. Tratam-se de três sistemas políticos distintos; uma Monarquia Constitucional, um Sistema Presidencial e uma República Constitucional Semi-Presidencial. Contudo, nos dois primeiros casos, seja para inglês ver ou não, directa ou indirectamente, os eleitores foram (ou vão ser) consultados sobre matérias políticas intensamente sensíveis - uma intervenção militar na Síria. As primaveras árabes, os movimentos de rua como Occupy Wall Street e outras expressões de vontade popular, serviram para abrir a pestana aos governantes por alguns instantes que sejam. Sem o aval da população os projectos mais sensacionais podem ruir. No caso do Obama, ainda permanece algum mistério. Há algo de inédito que contraria o Far West típico: shoot first ask questions after. O que acontecerá se o Congresso não aprovar a intervenção militar? Será que Obama perde ou ganha a face? No meu entender, ao lhe ser negada a autorização para intervir militarmente, a responsabilidade pela inacção recairá sobre os outros e não sobre os seus ombros bélicos (se de facto decidir não avançar seja qual for a orientação do Congresso). Obama colocou-se numa posição algo incómoda que se relaciona com o discurso afirmativo que já foi transmitido; a América não ficará quieta à luz dos factos químicos. O dito por não dito - de um modo geral -, enfraquece os lideres, mas talvez esteja enganado. Afinal, Paulo Portas exemplificou o que não mata engorda. Portugal que se vê a braços com outro género de desafios, é testemunha de outras formas de condenações, de chumbos. Passos Coelho ao ignorar os termos da Lei Fundamental, serve a nação, porque obriga a que a sua substância seja questionada. Independentemente das condições impostas pela Troika, e dos excessos e exageros no cumprimento dos termos, há muito que a Constituição da República Portuguesa vem carecendo de uma revisão. O problema que Passos Coelho enfrenta é que não tem a quem possa perguntar. Se interpelar o Parlamento no sentido de procurar uma vontade colectiva para rever a Lei Fundamental, é muito provável que seja apupado. A Constituição parece ser propriedade da oposição, dos Socialistas que inventaram a Democracia em Portugal. Existe um entendimento que há livros sagrados que não podem ser tocados pelas mãos de infiéis. Esta mentalidade estanque e retrógrada cristaliza Portugal num aquário de estimação política. Como se o tempo tivesse parado à badalada de meia dúzia de juízes. Portugal encontra-se num impasse muito maior que a crise económica e estrutural. Fechou-se em copas com uma ferramenta que não é pau para toda a obra. Uma constituição, seja de que tipo for, deve servir para dinamizar um país e não para paralisar os seus membros. Se Passos Coelho sabe que não pode perguntar ao Tribunal Constitucional seja o que for, a quem pode pedir um beneplácito relativo? Por enquanto não sei e não me vou pôr a pescar respostas. Mas saberemos todos em 2015.