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Bom dia a todos.
O título do meu post de ontem é de um filme realizado por Walter Hill em 1981. Nele, um grupo de homens americanos, compondo uma patrulha da Guarda Nacional em exercício de rotina, é confrontado com o mais traiçoeiro e imprevisível de todos os inimigos.
À semelhança do que acontece quando, na esfera individual, o corpo trai o seu hospedeiro e se vira contra si mesmo, também a terra sobre a qual edificamos sociedades pode albergar, em latência, adversários prontos a demonstrar a fragilidade e o carácter efémero, transitório, de tudo quanto sobre ela se constrói, realçando o paradoxo da condição humana enquanto grãos de poeira cósmica que brilham com fulgor até à sua extinção meros instantes depois.
No mesmo ano, na sua apreciação do filme, denotou Roger Ebert a evidente e previsível metáfora em torno da guerra no Vietname, alvitrando, e eu tenderia a concordar, do carácter intencional dessa previsibilidade. De facto, Hill deixa aos actores pouca - se alguma - margem para a composição das personagens, urdindo com mestria o impacto avassalador da Natureza e das cambiantes rítmicas ao longo do filme. Não deve ser desprezada, contribuindo para este efeito, a banda sonora de Ry Cooder, cujas construções atmosféricas realçam a verosimilhança do argumento. Às personagens, assim, é conferido um estatuto estatisticamente plausível, palpável, representativo.
As árvores, pântanos, montes e valas assistem serenas ao desenrolar da trama, e dos adversários também ficamos com a ideia que sempre ali estiveram e sempre ali estarão.
O civilizadíssimo grupo reage aos doestos que lhes são dirigidos com pânico, perplexidade, descrença e anarquia. Reverbera-me a familiar, de repente, nesta época de entropia acrescida. E foi aqui que a obra me fez querer revê-la pela enésima vez por perceber nela, com ou sem intenção, um carácter visionário.
Certos atributos da humanidade, senão mesmo todos, obedecem às mesmas leis da Natureza que regem a estrutura do Universo, às escalas do infinitamente grande e da invisível pequenez. A amostragem das personagens é válida para a América de 1981 como sê-lo-ia para qualquer país ocidentalizado, trinta anos depois. Talvez até com maior correlação na nossa actual portugalidade.
O eleitorado nada faz senão seguir o ciclo de Kübler-Ross: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. A fase da negação durou duas décadas, mais ou menos o mesmo período dominado pelo socialismo espertalhaço, preconizado por Soares, Cavaco, Guterres, Durão e Sócrates, e ancorado conforme já referi em sucessivos sufrágios em que foi sempre a inconsequência a maior vencedora.
Estamos na fase da raiva, que por definição não pode durar mais vinte anos. Alguns dos instalados já perceberam isto, e tentam apressar a entrada no próximo estágio, o da negociação. António José Seguro, por exemplo, fá-lo com o intelecto de um protozoário. Outros há, em todo o espectro ideológico, que sucumbem a uma falência cognitiva sem retorno, mais valendo calarem-se de vez.
Como sempre, a descoordenação é ubíqua e paira no ar a questão acerca do paradeiro dos adversários. De um sabe-se que já assoma novamente com a cabeça de fora: a Besta de Alijó, o filósofo de Paris, Aquele Cujo Nome Não Dizemos, e que fareja o poder como sabujo em manhã de Agosto. Outros afiam as presas na esperança de poderem parasitar a confusão instalada.
O eleitorado marca vigílias. Está portanto mais perto da depressão, não podendo negociar.
A mim, particularmente, não agradaria que isto terminasse em aceitação.
Que tal os do costume provarem do próprio remédio? Estão a gostar da revolta popular anti-plutocrática e a favor da manutenção do Estado tradicional e progressista criado pela monarquia tailandesa? Cá pelo meu lado, esfrego as mãos de contente. No Sião, os balsemões/berlusconis não pisam o risco! E a coisa até mete canções de intervenção, t-shirts, posters e barricadas. Que bom...