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Uma coisa é receber um presente embrulhado sem pedir a quem quer que seja (e devolvê-lo!!!). Outra coisa é ser chulo e andar a angariar borlas. Os três secretários de Estado somados não dão grande coisa, mas são efectivamente sujeitos activos desta corrupçãozeca se, o que tudo parece confirmar, andaram a pedir benesses. Sabemos que a geringonça também fez uma viagem de borla do Parlamento para o Governo, que multiplicou um bilhete por três passageiros, e que a constituição da república portuguesa contempla essa possibilidade. Contudo o que está em causa tem a ver com a escala ética. Se três badamecos não se poupam a esforços para ganhar uns cupões da treta, imaginem o que fariam por um prémio maior? A Ética é uma apenas. E não é republicana nem parlamentar. Tem a ver com o sentido de correcção que faz parte do âmago de alguns indivíduos (e de outros nem por isso). O problema é o processo patológico que conduz à lula que escorrega pela goela abaixo, que nos faz passear de Castelo Branco a Paris com a soberba enfiada na casaca. Porque, de robalo em robalo, de selecção nacional em selecção irracional, os políticos revelam a sua genuína ambição arrivista, de regalia VIP e aparência fatela. O poder, pequeno ou farto, confirma a natureza trauliteira dos candidatos. No fundo, estes três mosquiteiros foram apanhados pela picada da sua pequenez. A etiqueta que os acompanha nem chega a ser um preço, não tem valor. É uma divisa miserável.
foto: crédito agência LUSA
O povo (e a oposição) gritava por sangue e (demissões) por causa das mortes resultantes dos incêndios de Pedrógão Grande e do assalto aos paióis de Tancos, mas o governo não respondeu à letra. Nem a ministra da administração interna nem o ministro da defesa arredaram pé. A geringonça, chica-esperta, desde a primeira hora do seu governo, vai encontrando modos de dissimular as contradições e distrair do essencial. Ao oferecer este peixe-miúdo, estes três secretários de Estado para abate de funções, pensa enganar um país inteiro com sucedâneos de demissões que deveriam naturalmente e inequivocamente acontecer. Colocar na faixa ética as viagens à pala para acompanhar a selecção nacional de futebol e não colocar a tragédia de Pedrógão e o assalto a Tancos revela o miserabilismo moral e a total falta de escrúpulos dos actuais governantes. Mas existe ainda uma outra hipótese. Pode ser que os secretários de Estado Rocha Andrade, Costa Oliveira e João Vasconcelos saibam que vai haver chatice da grossa e que mais vale saltar do barco antes deste afundar. Parece-me muito estranho que este dossiê caia assim de paraquedas como se para calar a oposição e os detractores do governo. Deste modo a geringonça pode dizer, se perguntarem, que também sabe demitir ou exonerar, cortar ou cativar. Enfim, parecem tão certinhos e eticamente movidos, mas isto não passa de show de bola. Lamentável.
A Galp deve pertencer à oposição. Montaram o esquema com muita inteligência. Caíram que nem patos bravos. A armadilha do jogo da bola funcionou na perfeição. Agora é aproveitar a cultura de desculpas esfarrapadas herdada de Sócrates - o mestre dos alibis. E Mário Centeno é igual a si - diz ao Observador que "não é relevante nesta circunstância" responder à pergunta se teve conhecimento da viagem paga ao secretário de Estado. A pergunta que deve ser colocada é a seguinte: será que o desfecho do Euro 2016 teria sido diferente se a claque dos Assuntos Fiscais não estivesse presente na final de Paris? O secretário de Estado não é nada criativo. Se eu fosse o homem teria declarado que se fez ao relvado para controlar se os prémios de jogo estavam a cumprir todos os preceitos fiscais. Deveria ter-se armado em fiscal de linha. A Galp também patrocinou o churrasco de viaturas?
O grande amigo de Ana Catarina Mendes, Fernando Rocha Andrade - o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais -, quer levar o escândalo Panama Papers até às últimas consequências. Acho muito bem que haja um socialista disposto a limpar a sua casa (e quem sabe a dos outros). As palavras que lhe saem da boca podem sair caras. Vamos ver qual o enquadramento fiscal a atribuir a José Sócrates. O fiscal (ista) podia, no entanto, ser mais incisivo, mais contundente. Foi muito lacónico. Os portugueses envolvidos não são uns Idalécio quaisquer. É necessário alguma argúcia e sofisticação para entrar nestes esquemas. É preciso algum cinismo de algibeira, e capital amigo. Não interessa a cor política ou a obra literária que possa ter servido de inspiração. A Esquerda, em particular, vai ter algumas dificuldades em descalçar algumas botas. Mas adiante. Rocha Andrade, se fosse idealista e justiceiro como deve ser, teria proposto logo um varrimento à situação patrimonial e fiscal de todos os políticos, passados, presentes e (já agora) do futuro. Quem não deve não teme. Poderia ser a oportunidade perfeita para tirar a limpo aquele mito urbano dos diamantes africanos, da avioneta e uma Jamba qualquer. Acho piada a tese moralista e simultaneamente voluntarista de João Galamba - “Não há maior crime contra a democracia do que a fuga aos impostos”, (...) e o problema deve ser resolvido com base na “cooperação multilateral”. Cooperação multilateral uma gaita. O delfim socialista nem sabe a sorte que tem em viver no paraíso fiscal português. Se conhecesse um regime tributário autoritário não falava em cooperação multilateral. Os EUA, que têm servido de culpados exclusivos pelos defeitos do capitalismo selvagem, têm provavelmente o sistema tributário mais feroz do mundo. Os cidadãos norte-americanos, onde quer que se encontrem à face da Terra, são obrigados a declarar rendimentos (os da Eritreia também) - por isso não apareceram muitos nomes do Texas na lista do Panama Papers. Mas há algo mais que me preocupa. Não é apenas a origem e a ocultação de fortunas. É exactamente o oposto. Dinheiro dos contribuintes que existem de facto (o cidadão comum) e o descaramento do governo de António Costa (e amigos) na atribuição de fundos a projectos que colocarão Portugal novamente no caminho da ruína. Entre os bananas nacionais e os Panama Papers, venha o macaco e escolha.