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Após um interregno de quase seis anos, por razões de ordem académica, tenho alguma dificuldade em reintroduzir-me neste ambiente e redigir um texto digno deste blog. Paradoxalmente, estive ocupado durante este tempo todo com a redação e a entrega da minha tese de doutoramento que espero poder defender em breve. Ou seja, fartei-me de escrever e não menos pesquisar. Mas isso não me habilita particularmente para a tarefa do escrutínio analítico do estado da arte do comentário político em Portugal. As campanhas seguem a todo o gás e os comentadores da praça (com rarissímas exceções) não são mais do que filiais falantes dos partidos de sua eleição. Ou seja, perderam, se é que alguma tiveram, a equidistância analítica objectiva que se exige na e da ciência do comentário político. De um modo despudorado inclinam os pratos da balança, servem-se de figuras de distorção ou simplesmente deixam-se guiar pelas emoções da ideologia desenfreada que os cega. O apelo às emoções que afirmam representar um perigo para a democracia são precisamente as mesmas que já os contaminaram. Se a democracia corre sérios riscos, o comentário político não. O comentariado político já caiu no marasmo que dá azo à perda da credibilidade, que apunhala a objectividade e destrói a possibilidade do contraditório. A espécie de ultra-ortodoxia de género ideológico que destilam não tolera o contraditório e aniquila a possibilidade de estabelecer pontes e consensos. Mas os comentadores não têm culpa. Foram doutrinados pelos gurus que seguem na bruma que tolda o pensamento e a reflexão. Resta saber quais são as contrapartidas esperadas ou os favores que ainda são devidos. Tenham medo, muito medo. O extremismo do comentário político já se encontra entre nós. Está vivo e é pouco recomendável. Não sei o que é preferível: comentário político que não é comentário político, ou silêncio total.
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O efeito Salvador Sobral foi-se. Não havia uma camada de gente, a atirar para a sociologia esperta, que afirmava que o estereótipo do Festival Eurovisão da Canção havia sido derreado pelo maneirismo original e musical da canção vencedora "Amar pelos Dois"? Pois. Parece que essa revolução não serviu de grande lição. Salvador Sobral bem tentou, mas a Rádio Televisão Portuguesa já fechou o casting das apresentadoras do certame. Em vez de enveredarem pelo desvio atípico, quiçá com laivos de bizarria e aberração, contrataram em peso as Doce - Catarina Furtada a não sei quem, Filomena Cautela com isso, Sílvia All Berto e Daniela Ruah! Fora daqui. Em vez de aproveitarem o esforço de Sobral para quebrar tradições e conformismos, quedam-se por um quarteto com pretensões de statement político (são só gajas!), a roçar a saia do feminismo "sai o tiro pela culatra". Imaginava facilmente um Manuel Marques, um ou dois Marcelos ou mesmo o emplastro para se juntar à festa e destoar da convenção deste quarteto. Mas há mais. Enquanto a Daniela Ruah rodopia em inglês, as restantes três terão de fazer um esforço para evitar calinadas em inglês técnico. E para além do mais, quatro mulheres juntas já é um festival.
A RTP decidiu realizar um Prós e Contras sobre a independência da justiça, lançando a questão "Há interferência dos partidos no sistema judicial?", e um coro de protestos de destacados socialistas levantou-se para criticar a estação televisiva pública, depois de há dias António Costa ter procurado intimidar Vítor Gonçalves durante a entrevista conduzida por este. O que muitos socialistas talvez ainda não tenham percebido é que estão a tomar as dores de Sócrates e a dar razão a Paulo Rangel para suspeitar que com o PS no poder Sócrates dificilmente seria investigado. Na hora de votar, portuguesas e portugueses, não se esqueçam da fotografia. Sócrates e as suas políticas moram no Largo do Rato e em António Costa, assim como as tácticas de intimidação da comunicação social tao características dos governos socráticos.
Estou mais que habilitado para oferecer o meu testemunho sobre o debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho de ontem à noite. Não o vi. Não o escutei. Não sei quem ganhou ou quem perdeu. Não sei qual dos jornalistas brilhou. Não sei qual deles foi ofuscado. Não sei quantos ataques pessoais foram desferidos. Não sei quem assumiu a responsabilidade pela vinda da Troika. Não sei quem prometeu repor pensões. Não sei quem jurou não proceder a cortes de 600 milhões de euros. Não sei quem não se lembra de um certo ex-primeiro ministro que passou a prisão domicilária. Não sei quem disse não saber que os indicadores económicos melhoraram. Não sei quem confessou ignorar melhorias no nível de desemprego. Não sei quem se esqueceu da gestão da câmara municipal de Lisboa. Não sei quem encarou o desafio de consertar um país que estava estragado há várias décadas. Não sei que nada sei. Nem quero saber. Não sei quem prometeu pintar Portugal de um modo maravilhoso. Não sei quem disse ser muito melhor que o outro. Não sei qual foi canal com mais tele-espectadores. Não sei que certos jornalistas decidiram levar em ombros um dos entrevistados. Não sei quem sabe que as sondagens de nada valem. Não sei em que dia da semana calha o dia 4. Apenas sei que não voto porque não estou capacitado para tal.
Engenheiro agrónomo, nascido em 1926, ficou conhecido de todos os portugueses ao apresentar o programa TV Rural, durante três décadas, na RTP, entre 6 de dezembro de 1960 e 15 de setembro de 1990. O seu estilo, o seu timbre de voz e a sua figura televisiva especial transformaram um programa dedicado a agricultores num fenómeno da televisão nacional. Marcou a infância de muitos de nós. Deixou-nos hoje. Com a amizade com que sempre se despedia.Portugal está mais pobre.
Na RTP N, esteve a Alberta Marques Fernandes em mais uma Antena Aberta. Como comentador, o jornalista Paulo Gaião, já embandeirando em arco com a garantida assunção de Costa como secretário-geral do PS. O jornalista já fala de uma maioria absoluta e/ou, uma maioria com o BE, ou que também inclua o PC. É isto, o jornalismo nacional, cheio de êxtases e suaves milagres de feira popular.
1. Dadas as evidências, a questão a colocar quanto ao BE, apenas poderá ser esta: terá este partido um grupo parlamentar em 2015?
2. Em relação ao PC, o Sr. Gaião ignora totalmente, ou faz de conta ignorar, aquilo que o PC considera ser o PS e pior ainda, o que no prisma comunista, que tipo de partido o PS deveria ser. Não estando prevista a adequação dos socialistas àquilo que o PC julga imprescindível - os pontos mínimos do seu programa -, em suma, o rasgar dos tratados que incluíram Portugal na CEE e na UE, nada feito. O chefe Jerónimo decerto terá bem presente o que aconteceu em França aos seus camaradas capitaneados por Marchais, hoje zelosos votantes de Marinne Le Pen. Para cada Nanterre, por cá temos vinte aldeamentos ao estilo do Cacém.
O saudosismo do PREC esta manhã bem demonstrado no arremedo de debate parlamentar, ou a ânsia pelo afastamento da aliança ocidental, eis algumas nada negligenciáveis "notas de rodapé" que aos nossos jornalistas passam despercebidas.
3. Estando o bicho bem vivo e combativo, pretendem tirar a pele ao urso. Vamos a ver se dentro de um ano e meio não será Costa - ou Seguro - a surgir como número dois de Passos Coelho ou de um seu sucessor na liderança do PSD e do governo.
Está tudo em aberto, até a tal antena.
Vamos ver se a demissão de Paulo Ferreira da direcção de informação da RTP, e a sua substituição por José Manuel Portugal (que tem um apelido que vem mesmo a calhar para o país), servirá para arrastar para o olho da rua o comentador José Sócrates. De um modo geral, este género de dança de cadeiras acontece de acordo com uma certa orientação política - um guião pré-determinado. Habitualmente, os que saem, invocam razões pessoais para explicar a partida, e os que chegam, vêm com o gás todo, felizes e contentes pela promoção - o bónus de fim de ano. Consigo imaginar o recém-nomeado-director José Manuel Portugal (que vem dos serviços internacionais) a contratar Guterres para vir dar à manivela num programa de informação, feito à la carte para o funcionário das Nações Unidas, que ainda há dias foi figura de proa de alguns jornais britânicos, alegadamente por ingerência em assuntos internos daquele país. A máxima - ano novo, grelha nova - não tardará a ser posta ao serviço de um novo alinhamento televisivo - é esperar para ver. Só não entendo a justificação do demissionário; "a defesa dos interesses da RTP". Ora isso não faz sentido algum, porque não sei se a vinda de Sócrates ajudou ou não as audiências da estação de televisão. E é neste tipo de afirmações que reside uma parte da contradição. A compatibilidade entre jornalismo e audiências, o acordo entre servir o país e a agenda de uma empresa pública intensamente deficitária e que ainda não foi sujeita ao escrutínio de uma auditoria como manda a lei. Há demasiado tempo que a RTP tem sido tratada como uma vaca sagrada, a deambular por aí, a entrar porta dentro, pela casa dos portugueses - a qualquer hora e sem a qualidade que se exige de uma estação pública.
Alexandre Guerra, "Um programa que é como é e nada mais do que isso":
«E aqui, diga-se justamente, apenas Ricardo Costa conseguiu olhar para o programa como ele foi: uma simples conversa entre convidado e público. Não se tratava de uma entrevista clássica nem pretendia ser um espaço tradicional jornalístico ou debate televisivo. E isto foi assumido com uma certa naturalidade e até humildade pelo director do Expresso, reconhecendo inclusive que, entre algumas perguntas menos conseguidas, havia outras colocadas por pessoas "normais" que ele jamais se lembraria.
Quanto aos outros comentadores que por aquela hora estavam repartidos pela SIC N, TVI24 e RTPI, foi um triste espectáculo ver o seu pensamento toldado e a sua arrogância sem limites, impossibilitando-os de fazer uma análise objectiva e crítica de um formato que nada tem de inovador nem de nefasto, mas que só agora chegou a Portugal. Trata-se, efectivamente, de um modelo experimentado em várias partes do mundo, nomeadamente nos Estados Unidos, e que cumpre com a função para o qual foi idealizado. Apenas isto e só isto.»
Só liguei há pouco a RTP e, portanto, não me vou manifestar a respeito do conteúdo. No que ao formato concerne, parece-me que isto é provavelmente a melhor acção de comunicação deste governo. Pode-se gostar ou não, mas o formato é inovador para a realidade portuguesa e, do meu ponto de vista, muito bem-vindo.
Passos Coelho conviveu com simpáticos cidadãos no programa "o país pergunta". O público foi escolhido a dedo para ser mansinho e inofensivo. Aquele grupo de mulheres mal-amadas e frequentadores de não sei o quê, das duas uma; ou é Portugal ou não é. Antes de entrar em detalhes sobre a grandiosidade do debate gostaria de saber porque certos representantes da realidade portuguesa não foram convidados. A saber; um ou dois cidadãos negros, um cigano, um deficiente de cadeiras de rodas ou um coxo? Houve aqui jogo combinado - não se faz. Não sei qual foi a empresa que fez a triagem deste grupo de cidadãos que não espelhou a fúria de uma nação, o desespero colectivo. O que acabamos de ver, deve ser considerado um embuste. Por momentos julguei ver o Seguro na assistência. Se ele estivesse na terceira fila não faria grande diferença. Estes cidadãos portugueses, condicionados ou não, ameaçados pelos capangas da RTP ou não, não fazem a mínima ideia do que é cidadania activa (ou pelo menos não o demonstraram). Não têm a noção do seu papel enquanto membros da sociedade em que se inserem - foram meninos de coro bem comportados, eternizando a ideia de um país de brandos costumes e falas. Falam à moda de administradores delegados, de gerentes com trinta anos de casa, equivocados pela subserviência, intimidados pela hierarquia do patrão. Um país à beira do caos deu uma réplica muito fraca de si. Entregou um belo cabaz a Passos Coelho que sai vencedor pela suavidade da festa. Estavamos à espera de uma rave party a abrir, um tira-teimas para partir a loiça dos argumentos com a dureza dos factos que afligem os portugueses. E sai-nos isto na rifa. Estes não são os portugueses para fazer frente ao que quer que seja. São outra coisa. Passos Coelho agradece. Carlos Daniel lá fingiu no fim ser aguerrido. Tinha de o fazer para salvar o coiro jornalístico - colocou umas bandeirilhas, mas não deu seguimento à faena. Os outros ficaram sentados, especados e à espera de não sei o quê. Vinte perguntas - vim-te perguntar e fui de mãos a abanar.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) aprendeu rapidamente com o Tribunal Constitucional. Pegou nos estatutos e foi à procura da cláusula mais indicada para impedir a realização da entrevista a Passos Coelho que seria conduzida por 20 cidadãos na RTP. Apesar de parecer que afecta mais o primeiro-ministro do que outra coisa, a verdade é que impediu o exercício de expressão dos Portugueses. Gostaria de saber qual a composição da CNE. Se os seus membros são associados políticos de certas cores ideológicas e se existe um telefone com ligação directa entre a CNE e o largo do Rato. Período eleitoral? Período eleitoral é o ano inteiro. Período eleitoral é a repavimentação das ruas da Baixa. Período eleitoral é António Costa aparecer na tribuna presidencial do clássico Sporting- Benfica. Período eleitoral é afirmar que já batemos no fundo e que a retoma está ao virar da esquina. Período eleitoral é a CNE dar provimento à queixa apresentada pelo partido socialista em vez de sugerir o mesmo formato de entrevista "à americana" mas com a presença dos líderes de todas as forças políticas de Portugal. Ou seja, uma emissão realizada no mesmo formato democrático, mas com 100 perguntas - um sortido misto e interminável de dúvidas. Uma transmissão maratona como tantas outras que a RTP é capaz de realizar quando se trata de arraiais e festas disto e daquilo. O João Baião e aquela outra que agora canta para o menino e prá menina, como se chama? - ah, já sei; Sónia Araújo, poderiam até estar em estúdio para dar uma ajuda preciosa. A política já é o festival que se conhece, o ralha-te ali show de horário nobre, por isso, declare-se a festa sem reservas. A CNE decerto que não iria impedir um "tudo à malha e fé em doidos". Em HD, claro está - para observarmos à lupa as verrugas políticas de todos eles sem excepção. Um freak show para bater as audiências, para bater nos políticos. Isso sim, seria televisão pública de qualidade.
José Sócrates comenta a execução orçamental. Por momentos julguei que tinha entrado numa dimensão paralela. Quando caí em mim, lembrei-me que isto é pago pelo erário público. Antes estivesse noutra dimensão.
Ainda não consegui perceber todos os contornos do fecho da televisão estatal Grega, mas podemos começar a gizar implicações de tal medida decorrente das condições impostas pela Troika. Os meios de comunicação social, de um modo geral, e sem excluir os de origem nacional, exprimem o drama que representa o despedimento de mais de 2500 trabalhadores da empresa pública Grega. E ficam por aí. Nada mais acrescentam à cessação de um dos sectores com maior sensibilidade política. Sem dúvida que o despedimento em massa é uma tragédia para somar a tantas outras, mas o relato não pode ficar por aqui. Somos obrigados a analisar as implicações políticas que resultam do corte dos canais de comunicação. O assalto à tomada que faz desvanecer as imagens dos ecrans e que leva também as vozes de protesto, é um assunto de extrema gravidade. Por um lado, e de um modo genérico, os regimes totalitários caminham de mãos dadas como os media. As televisões e as rádios estatais sempre foram megafones de notícias oficiais, mensagens tratadas em sede de favorecimento político, por forma a que os governos possam manter a população açaimada, à trela curta de informação. Sabemos todos que a Grécia (ainda) configura uma democracia e que esta decisão não foi tomada sem razão aparente, sem terem pensado nas implicações. O governo Grego, muito provavelmente, quis antecipar a revolta interna da estação de televisão; a implosão operada por dissidentes, opositores ao regime da Troika. Deste modo, antes que houvesse um caos desordenado, o governo Grego terá avançado para a perda definitiva de sinal, invocando razões de natureza orçamental. E esta decisão foi tomada porque o governo Grego terá assegurado a sua capacidade de comunicar por outra via. Através de uma plataforma mais vantajosa disponível no sector privado. Não é possível governar, mesmo que negativamente, estando totalmente às escuras. Em relação a isso não tenhamos dúvidas. Houve aqui, sem especularmos muito, jogadas de bastidores que garantem a vantagem dos poderes instalados. Imaginem que por motivos análogos, Portugal faz o mesmo; coloca a mira técnica da RTP no ar? Fecha a cadeado o portão dos estúdios de televisão e rádio. Manda calar a Fátima Campos Ferreira e selecciona uma estação de televisão do sector privado. Contrata os serviços de uma SIC ou de uma TVI. Estão a ver o filme? Estão a perceber o que está em causa? Se extrapolarmos o suficiente e os deixarmos, em breve lançarão um concurso público por forma a seleccionar o agente privado que melhor sirva os interesses do governo. Acontece que, no contexto actual de descalabro e descrédito, de crise política e de confiança, os interesses do governo são os falsos gémeos do bem-estar dos cidadãos. Se os governos fogem ao escrutínio da Res Publica e se escondem por detrás de uma cortina de silêncio, o resultado será ainda mais avassalador. Todos sabemos que é ofensivo desprezar os interlocutores. Ignorar a importância do diálogo é algo que viola a ética do progresso e é profundamente imoral. O que estamos a testemunhar colide com a Agora, os Sofistas e a invenção da retórica e da argumentação, nesse berço civilizacional, cada vez menos berço e que vai pelo nome de Grécia. Esta questão dramática não pode ser resolvida num programa de prós e contras, mas em defesa de direitos de expressão adquiridos com sangue, suor e lágrimas, não devemos assumir uma postura conformista. Pela primeira vez na vida peço para que não desliguem a televisão. Não estamos a assistir a ficção. Mas também não é um reality show.
Não se deve bulir no esterco, mesmo que o esterco insista em fazer uma escandalosa perninha política no infecto ambiente nacional como agente activo, mais um na constelação de comentadores das TV. Sócrates, o Primadonna, Estrénuo Playboy, Homem-Merda, insiste em desaparecer completamente da nossa escassa paciência. Mas há três conclusões a registar na sedimentação de uma desastrosa irrelevância passada, presente e futura: 1 – Estranhamente, o ódio pelo Homem-Merda baixou de volume. Porquê? Porque a constatação da sua nulidade e da sua impotência para agitar o já crítico ambiente social refreiam o ressentimento e o ódio. Mesmo a justíssima aversão geral pela diabólica masturbação em movimento manipulador permanente teve descanso, bastando um botão que prime a preferência pelo dr Morcego. Nós, os que abominamos fundadamente o Homem-Merda, na verdade, temos descansado do Homem-Merda: na medida em que se aproximou fisicamente, tornou-se-nos mais longínquo e inexistente no pensamento quotidiano do País político. Perante os indícios e os factos mais sujos do próprio percurso, a inanidade que hoje comenta na RTP aos domingos até desse manancial negro recbe tréguas. A inanidade insana comenta? Nós silenciamos. Ninguém fala no Homem-Merda. Praticamente nenhum media lhe dá antena. É como se não existisse. Ninguém diz: «Viste ontem o Sócras?» Para que haveríamos de dar atenção aos dislates facciosos e ambiciosos do Homem-Merda?! A mais eloquente mensagem que o Homem-Merda recebe dos media é, hoje, portanto, o desprezo. Claro que ao gigantesco desprezo pelo Homem-Merda, os adeptos do Homem-Merda chamam inveja e outras coisas só possíveis de aflorar na cornadura fantasiosa de tais esbirros. No entanto, não há redenção possível ao penúltimo Primeiro-Ministro mais decadente e traidor do interesse nacional. Pode dizer-se que regressou para desaparecer completamente. 2 – Os socratistas, que não passavam de anónimos enrustidos ou óbvios no friso parlamentar conspirativo e insultuoso de Tó Zé Seguro, ainda estrebucham aqui e ali. Os mais ciosos, os mais delambidos, os mais fanáticos, os mais tristes trastes são anónimos e infectam o ar político nacional com os valupis, os jumentos, os corporativos e as bicicletas. Há evidentemente socratistas e comportamentos socratizantes. Na análise e diagnóstico desse resto, não há cá Direitas nem Abéculas as mais estúpidas entre as mais estúpidas. Um fim de percurso político é o fim de um percurso político: Sócrates, o Homem-Merda, deu-se à maçada de intercortar as delícias de Paris com umas bojardas na Cloaca Mediática Lisbonense apenas para se dar conta que não existe, não é nada para ninguém e cada vez menos que alguma coisa. A pastilha na RTP é um flop, um fracasso triplo, em audiências, em influência, em capacidade de se justificar. Fazia-lhe falta uma prisão para passar a ter um décimo do relevo de Vale e Azevedo, mas o desprezo já é um começo de conversa. Note-se que se Seguro se deixasse condicionar pela maliciosa vampireza Soares ou pela hipocrisia conspurcadora do Homem-Merda e elogiasse a magnífica herança de um e de outro estaria a conferir importância ao senil conspirador e existência ao nulo Homem-Merda. Não. Não se lhes refere uma única vez, talvez só Soares mas num tom venerativo que vale o que vale. Para falar e elogiar o lixo, prolongar a narrativa mais conveniente, o que há é um reduto, um resto de herdeiros, basicamente um lastro, uma agremiação de detritos políticos, como Pedro Silva Pereira, Augusto Santos Silva, Viera da Silva, Maria de Lurdes Rodrigues ou Paulo Campos, entre poucos outros ex-governantes, com intervenções enviesadas e irrelevantes porque todos os vêem colados ao Homem-Merda, à sua rapina, à sua sofreguidão, à sua psicopática noção inimputável de si mesmo. Não há defesa da honra possível a quem viveu na desmesura e pela desmesura, estragando, merdificando, danando, onerando. Depois, há os abortos de Sócrates, os turcos, os queimados, os minoritários no PS parlamentar, gente com algum brilho fosco, mas demasiado devedores do fardo nojento do passado, tanto mais nojento quanto mais o cidadão anónimo sofra no presente as suas consequências: Fernando Medina [por vezes independente do lastro], Isabel Moreira, Pedro Marques, Pedro Delgado Alves, Pedro Nuno Santos [por vezes em renúncia da herança] e, claro, João Galamba, um dos mais fiéis discípulos e aprendizes de como traduzir em decibéis e em patético parlapatão todo o legado do Homem-Merda. Ei-los numa caminhada sem futuro para um projecto morto à partida, num dia em que pusermos um voto que elimine e exile qualquer colaboracionista com o saque pela política, a manipulação da Opinião Pública pela política, esse enriquecimento sossegado, por detrás do biombo dos soundbytes e das tretas de entreter, de que se fez o passado recente socialista. 3- Sócrates, o Homem-Merda, ressente-se de Cavaco, é um vingativo sem público. A prestação na RTP gera tanto asco que ninguém lhe presta qualquer atenção, repito. Mesmo assim espera da rua a rebelião que arroje os seus inimigos para fora do Poder e da representação máxima da Republiqueta, tudo isto sob o solitário patrocínio de Soares, useiro e vezeiro em sugestões obscenas desse quilate. Daí o nojo absoluto emanado pelo longo e pornográfico elogio do Homem-Merda a Soares, no último Domingo, com comitante lambidela a Pacheco Pereira, essa lambisgóia, que o execra da mesmíssima forma. Pacheco, a quem faltou coragem para dar às escutas ao Homem-Merda a gravidade que efectivamente tinham, uma vez que a conspiração controleira contra as regras de um Estado de Direito para o controlar, controlando os Media, só passam mesmo impunes numa Imitação Reles de Estado de Direito e que Pacheco, na célebre negaça, só reforçou. A única coisa que Pacheco fez foi um ameaço de acção na Assembleia da República, era deputado, e nada aconteceu. O Homem-Merda, que hoje politicamente não é ninguém e talvez menos ainda que isso, veio para atacar Cavaco e ataca o Governo quando lhe incumbiria um silêncio pudico em qualquer caso. Não tem o dom da vergonha. Mas também não pode dar vazão a todo o seu rancor, usando da linguagem chula das escutas, «... a puta, a velha», entre os sorrisos e as delicadezas hipócritas em directo. Essa linguagem fica para os valupis. Está na TV. Por isso tem as poses da TV e a treta cínica e mentirosa da TV, coisa em que se acha doutor. Graças a Deus, o Homem-Merda não impacta. Não tem qualquer valoração no espaço mediático. Porquê? Segundo os socratistas, isso é porque a sociedade é uma coisa intelectualmente debilitada [quando vota PSD, quando não ensanguenta as ruas] e onde a cidadania, que não se verga ao deus da imagem, é uma actividade de franjas e onde a iliteracia, pobreza e envelhecimento alimentam sectarismos e convidam ao populismo. Lá está. As pessoas são burras porque não apreciam o brilho ofuscante do Homem-Merda. Não gostam do Homem-Merda porque são primárias. Não aturam o Homem-Merda porque são permeáveis ao populismo. Não suportam o Homem-Merda porque estão velhas e chafurdam na iliteracia. Estes diagnósticos socratistas do porquê ser geral abominar o Homem-Merda ainda figurarão num Atlas da Imbecilidade Sectária. Hoje o que temos é Soares de um lado e o Homem-Merda do outro, ambos apostados em incendiar as ruas para fazer nascer, como chifres nas suas cabeças insolentes, a democracia espontânea e despudorada que nos faltava com muita Esquerda na boca para ser fixe. Assim ensaiam condicionar este PS, passar por cima da cabeça de Seguro, ir à frente, sem hesitações na missão patriótica de incendiar e instabilizar a barcaça nacional cujos rombos principais foram perpetrados pelos socialistas e pelas suas políticas gloriosas e triunfais com dinheiro alheio. Pobres socratistas! Para eles, o facto de a Esquerda, a Direita, o Céu e a Terra terem derrubado, concordes, o seu deus mediático, o seu deus charlatão do desenvolvimento com hiper-dívida e mega-lata, não se deveu à constatação geral de que só o Homem-Merda é que estava bem e era o único a marchar sincronizado na grande parada democrática. Não. Esse derrube deveu-se às coligações negativas. A história do Homem-Merda como líder político é muito menos que a de um enorme fracasso, de derrota passada e de ambição letal para os interesses de um Povo e as boas contas de um Estado. Prova também que a merda moral, a desmesura despesista, o excesso de ego na vida pública deixa hoje o comentador-de-merda a falar sozinho no deserto que ajudou a gerar. O tempo deslumbrado e desonesto do Homem-Merda passou. Temos pena, mas não temos pena nenhuma. O Homem-Merda tinha uma ambição do tamanho da sua barriga – era ele o pântano em pessoa de que Guterres fugira – antro de imoderação e perpetuação por todos os meios lícitos e ilícitos, mais Vara menos Vara. Acabou. Debalde vai o corporações urdindo e treslendo a realidade, último reduto torrencial do spin e completo envenenamento da Opinião Pública. Acabou. Mas a peçonha ainda rabia. Acabou. De vez em quando põe a cabeça de víbora de fora. Estamos aqui para lhe amparar a sanha passional, os golpes baixos com que estrebucha e precedem o esmagarmos-lhe a cabeça.
O tema do Prós e Prós de hoje é "Cansados de tudo", e eu cansei-me deste programa com as banalidades vociferadas na primeira parte. Por isso, mudei de canal.
Começo seriamente a pensar que Portugal deseja sofrer. Quase não tenho dúvidas que Portugal tem o que merece. No rescaldo de um programa de televisão que ontem não vi, e das palavras discorridas por um senhor que não escutei, mas baseando-me na vox populi das redes sociais, posso concluir que este país está condenado. Está arrumado por não ter meios intelectuais para realizar a destrinça entre a arte de ludubriar e o valor substantivo das acções e palavras. O país parece cair que nem um patinho na sedução gasta de um vendedor de banha da cobra. Uma pessoa desprovido de nojo, das sensações que equipam os homens sensatos, uma condição simultaneamente profunda e cutânea a que chamamos consciência e que torna, os convictos caídos em si, caídos em desgraça - humildes e arrependidos. Chamemos-lhe "ser cristão", se quiserem. Nem a matriz católica do país parece servir para actos de constrição. Em vez disso temos erva daninha que cresce em redor do templo, da reserva. Apenas os indivíduos dotados de um super-ego podem atropelar sem hesitações os direitos dos outros, e julgarem-se os primeiros mesmo que já estejam derrotados. Parece que Portugal sofre de uma doença regressiva, uma especie de Alzheimer político e selectivo que oblitera o percurso negativo de um homem e que elogia a capacidade para arranhar quem quer que se lhe atravesse pelo caminho. O regresso às cavernas parece um dado adquirido - quando a população aplaude o espernear de um bicho ferido. O desempenho instantâneo e brutal tomou conta do país político. Os ganchos e os socos dados por cima e por baixo. Assistimos à potência hiper-ventilada de faladores desprovidos de ética, que demonstram os seus talentos em duelos absurdos, em concursos para ver quem consegue botar-abaixo mais vómitos, e ainda maiores indisposições. Os assistentes são como claques de mentecaptos que anulam a grande obra humana. O país requer urgentemente um movimento sem face, sem aparência, sem hábitos ou vestimentas. Os intelectuais que invocam a liberdade de expressão e a Democracia, podem também invocar outras emendas que não a quinta, para salvar o país. A esquerda caviar ou a direita esclarecida, culpadas por esta transmissão televisiva e igual número de eleições, pode sair do seu falso exílio, o paradigma de cocktails e cultura onde discutem justiça social en passant, em redor de uma mesa de politicamente correctos. E essa corja que diz que nada tem a ver com o estado em que se encontra o país, também tem um pouco do DNA do mesmo embuste. O desejo de uma vida glamour, de privilégio, de sobranceria intelectual, de Paris. O que se nos apresenta é um caso de psicose colectiva, um comportamento desviante praticado por uma larga maioria televisiva pouco interessada em política, mas muito dada a novelas. Estou raivoso, sim senhor.
Não há muito a dizer sobre a entrevista de José Sócrates. O "animal feroz" continua mal educado, sem vergonha e a utilizar as mesmas tácticas de manipulação e distorção da verdade e de vitimização. Nunca foi, nunca será um estadista. É um politiqueirozinho, uma das piores criações do sistema das jotas, alguém que rebaixou o debate político a níveis que afectam negativa e indelevelmente um regime democrático, que esmagou moralmente Portugal com a sua arrogância, falta de educação, incompetência e nepotismo, e que depois de ter arruinado financeiramente o país é capaz de dizer que não apresentará nenhum pedido de desculpas aos portugueses por ter deixado o país nas mãos da troika porque não aceita esta responsabilidade.
Impõe-se, contudo, fazer duas notas a respeito da RTP. A primeira, para dizer que Paulo Ferreira e Vítor Gonçalves, tal como Judite de Sousa, são jornalistas fracos e mal preparados para enfrentar Sócrates. Não sei se haverá alguém no jornalismo nacional capaz de o enfrentar, mas não creio que custe muito ser combativo, falar mais alto que ele, falar por cima dele - uma das tácticas que o próprio usa amiúde para calar os jornalistas - e interromper os seus monólogos e distorções confrontando-o com factos objectivos, com as suas mentiras e com atitudes deploráveis que tomou e toma mas que tem por costume acusar os seus adversários de tomar, aproveitando logo para se vitimizar. Não é difícil enfrentá-lo, só é preciso ter algo que, infelizmente, parece desaparecido do jornalismo português: coragem.
A segunda, ainda a respeito do programa de comentário político que Sócrates terá na RTP e da contestação ao mesmo. Ao contrário do que algumas viúvas socráticas e o próprio querido líder querem fazer parecer, não está em causa a liberdade de expressão de José Sócrates. Sócrates tem todo o direito de responder aos seus adversários políticos. Pode fazê-lo noutras televisões, nos jornais, ou, por que não, em blog. Com certeza que seria sempre lido e ouvido por muita gente. Mas fazê-lo na televisão pública, paga compulsoriamente por todos nós, é uma afronta difícil de ajectivar. Por isso mesmo, este parágrafo de Esther Mucznik é certeiro. Também e especialmente por se prestar a ser um joguete nas mãos de políticos, a RTP há muito que já deveria ter sido privatizada.
Por último, relembremos estas sábias palavras de José Sócrates: