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A divisa falida de Moedas

por John Wolf, em 17.07.25

 

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De boas intenções está a autarquia cheia. Carlos Moedas é bom rapaz e educado, mas convenhamos, a cidade de Lisboa não está melhor. Bem (mal) pelo contrário. A capital é suja e ruidosa. Mas muito mais grave — a cidade já não pertence aos alfacinhas. Posso debitar à vontade sobre o assunto, mesmo sendo um eterno refugiado. Estou em Portugal há mais de 40 anos e bato-me pelo país e a capital com maior intensidade do que grande parte dos compadres. Sou um genuíno patriota. Só falta mesmo adotar a nacionalidade, embora não seja necessário para fazer honra à identidade e a cultura deste país. Até já escrevi um livro sobre Portugal a bater e a elogiar, na mesma demão, em cada página, e naquelas por escrever. Custa-me ver os portugueses expulsos do seu habitat. Os sucessivos presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, de um modo consistente e ganancioso, estenderam a passadeira às massas turísticas, aos estrangeiros endinheirados, fazendo de seus inimigos bairros tradicionais e costumes locais. A folclorização de Lisboa arrastou consigo os tuk-tuks e as lojas da pseudo-portugalidade. Não sei ao certo como reverter a situação, porque questiono se os políticos o desejem — o regresso a um estado cada vez mais ténue, distante. E aí reside  grande parte do problema — o provincianismo declarado ou dissimulado dos governadores do concelho: A falta de cultura, ensaiada por intelectuais (que palavra suja!) como Eduardo Lourenço, em tomos incontornáveis,  de pouco consolo serve. Esse défice de leitura é a culpada radical, o extremo mental que habita dentro de portas, no gabinete e na tesouraria. A ausência de (auto)percepção, a falta de visão civilizacional dos lideres também é da responsabilidade das gentes. Um povo encantado por promessas de grandeza, estrofes históricas, que se deixou carregar para a subúrbia acrítica, deslavada e inconsequente. O eleitor que também esfregou as mãos estendidas em busca de um módico rápido. A situação é grave. A paisagem, habitada por espécies invasivas, já não pode ser acalentada em estufas frias. As tribos vivem agora em reservas, arriscando a sua própria extinção. A divisa alfacinha já não vale grande coisa.

publicado às 21:01

Como me defendi da Banca

por John Wolf, em 02.04.14

Há mais de uma década morava muito perto de uma filial do banco Cetelem ao Jardim da Estrela e, a dada altura, o sistema de alarme dessa dependência bancária começou a disparar na calada da noite. A primeira vez que sucedeu seriam umas 3 da manhã. Acordei sobressaltado julgando tratar-se de um assalto e liguei à esquadra da PSP mais próxima. Em pouco mais de 4 minutos lá chegou o carro da polícia e uns quantos agentes. Mas tinha sido em vão: tinha sido um alarme falso. O aviso sonoro ruidoso afinal ficou a dever-se a uma falha técnica. Ok, disse eu. Muito obrigado senhores agentes. Até à próxima. E não pensei mais no assunto. Foi uma situação pontual, julguei eu. Mas não. O problema agravou-se, e, noite sim noite sim, lá disparava o raio da sirene e começei a perceber que o problema era crónico - uma maleita definitiva do equipamento anti-roubo. No dia seguinte peguei no telefone e liguei directamente para essa filial do banco para expor a questão e solicitar uma solução célere e definitiva. Sim, senhor. Esteja descansado que vamos "já" tratar do assunto. Mas assim não foi e, já com a minha cabeça a bater mal com tantas noites mal dormidas após semanas e semanas de desprezo do banco, subi a parada do jogo e mudei a estratégia empregue. Passei directamente ao ataque com a ajuda de um Fax. Já não ia mais naquela conversa da treta já estamos a tratar do assunto. Eles queriam lá saber se a vizinhança dormia bem ou mal (os bancários não dormem na dependência, pois não?). Desse modo, compus um documento Word com 200 páginas, mas apenas com um fundo negro sobreposto sobre si umas 20 vezes (copy-paste do fundo negro sobre o fundo negro, vinte vezes. É assim que se faz) e enviei directamente do PC para a sucursal a longa "bandeira negra" (a altas horas da noite). Como podem imaginar a máquina dos faxes ficou toda borrada. O pobre aparelho lia vezes sem conta as linhas do fundo negro e não avançava, não saía do mesmo lugar. No dia seguinte os empregados bancários devem ter ficado um pouco baralhados assim que entraram na loja. Epá, o que se passa aqui com o Fax! Parece uma fralda borrada. Como eu sabia que eles não imaginavam o que se tinha passado, esperei pela próxima noite e um novo disparo de alarme para enviar uma nova "mensagem" de 100 páginas, mas desta vez com um texto com o tamanho da font no máximo: POR FAVOR QUEIRAM REPARAR IMEDIATAMENTE O VOSSO SISTEMA DE ALARME. E assim continuei mais umas noites com pequenas variações sobre o texto enviado, mas com um novo destinatário incluído na minha lista de protesto. Sim, senhor. Enviei a mesma mensagem interminável para o presidente do banco incluindo o meu nome e a minha morada. Por essa altura do campeonato não me importava nada que julgássem tratar-se de um louco (certamente não andariam longe da verdade!) e, para meu espanto, volvidos apenas dois dias, não é que me bate à porta um estafeta com uma entrega especial: um embrulho com o logotipo do banco Cetelem estampado na frente e no verso. Agradeci ao estafeta a gentileza da entrega, e já no interior do meu apartamento, abro o pacote para ser surpreendido com uma garrafa de champanhe, uma agenda e uma carta com um pedido de desculpa pelas noites mal passadas. Fiquei realmente contente com o resultado desta estória e pensei o seguinte - o que seria de mim sem estas maravilhas tecnológicas? Provavelmente as minhas noites nunca mais seriam as mesmas. Mas mais importante do que isso, descobri que um fax pode ser um aliado formidável, uma arma de protesto notável. Depois não digam que eu não dou boas ideias! Hum?

 

* história verídica

publicado às 11:55






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