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Enquanto as auto-proclamadas elites podem passear e fazer-se ver na pomposa inauguração do Museu Arte Arquitectura e Tecnologia (MAAT), importantes questões de design e construção são debatidas. Quem paga o gradeamento dos jardins da residência oficial do primeiro-ministro em São Bento? A factura do MAAT já sabemos quem paga. Tapar piscinas é deveras importante - meter água não é algo que possa remotamente ser sugerido. Enquanto o país se ocupa de futilidades de casa e jardim, uma outra realidade mais atroz avança sorrateiramente sem dar tréguas. Durante os últimos anos o Banco Central Europeu (BCE) foi a tal vaca voadora. Foi mungida até à medula do tutano para ficcionar as recuperações económicas dos países em apuros da Zona Euro. Acontece que o impacto da compra de títulos de dívida de países como Portugal teve efeitos limitados. Garantiu a tesouraria, o fundo de maneio, para que não houvesse um descalabro das funções mínimas do Estado. A cada nova emissão com juros mais baixos abriam garrafas celebratórias. Os propagandistas partidários serviram-se dessa bitola para demonstrar sucessos de governação. Nada mais errado. O BCE apenas serviu para criar e prolongar a ilusão. Encontramo-nos agora numa fase perniciosa do jogo. Mesmo que não hajam sanções a Portugal, e o abrandamento ou cancelamento de fundos, esta modalidade representa uma forma diversa de tributação. Subir as taxas de juro encarece tudo de um modo transversal. Afecta pensões e reformas, afecta o sector de saúde, afecta a educação, afecta os investimentos, e em última instância, impacta o preço de gradeamentos seja qual for o jardim. O Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, embora geminados por obra e graça de António Costa e Fernando Medina, podem passar as batatas quentes que quiserem de uma panelinha para outra porque não fará diferença alguma. Os quintais de uns são os quintais de outros. Portugal é um imenso jardim. Quando olho para o MAAT parece que um pé gigante esmagou o Guggenheim de Bilbau. A coisa é achatada e tem pouca utilidade no contexto da efectiva situação gravosa de tantos portugueses que podem lá pagar a conta da luz. É isto, mais coisa menos coisa.
António José Seguro não está à altura dos acontecimentos. António José Seguro não está à altura do país e António José Seguro não estará à altura do Partido Socialista. Mais valia não ter posto os pés em São Bento e gastar três horas do seu tempo. O seu tempo que até poderia ter sido o tempo de todos os portugueses, se o secretário-geral do PS entendesse que o que está em causa não são diferenças insanáveis entre o PS e o Governo. O que está em causa é um país que não se esgota nas instransigências programáticas e orçamentais do Largo do Rato. A hora que está em causa é muito maior do que a sua - é a hora de Portugal. António José Seguro até poderia ter prestado um pequeno serviço à nação, colocando-se na bagagem dos argumentos de Passos Coelho que hoje irá esgrimir-se de razões com Angela Merkel. Deste modo a birrita de Seguro apenas valida a ideia da necessidade de prolongar os efeitos dolorosos da austeridade. Passos Coelho vai confidenciar à Angela Merkel que tentou reestruturar o lider socialista mas que ele não foi na conversa. Seguro ainda não entendeu que regressar aos mercados de um modo limpo ou não é apenas uma parte do berbicacho nacional. Provado que está que serão necessárias várias gerações para alcançar o relativo equilíbrio da dívida e do deficit, significa que a visão política de qualquer candidato tem de integrar um novo modo de pensar. Acabou-se a feira das capelinhas - agora reges tu agora governo eu. A bifurcação radical da política faz parte da velha escola. Por esta e outras razões fica provado que António José Seguro é um político à antiga que quer regressar ao passado. Acontece que quer o presente quer o futuro nunca serão como o passado. Mas não quero matar a esperança dos socialistas. De certeza que na vossa casa deve haver alguém mais competente para ser o timoneiro do partido. Mas Seguro parece não servir para esse posto que por enquanto apenas diz respeito aos socialistas. O problema é que mais tarde pode dizer respeito aos portugueses. E aí será tarde demais.