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Uma vez que Portugal foi virado ao avesso, facilmente entendemos que o Governo de Portugal continue a empregar uma linguagem mais próxima do eufemismo laboral. Desse modo, qualquer dia deixam cair a expressão desemprego e a respectiva taxa, para sublinhar a excelência do nível de emprego que agora deve rondar os 75%. Por essa lógica de suavização conveniente, o défice orçamental de 5% é na realidade um superavit de 95%. Um superavit de uma entidade díficil de explicar. E aí por diante. Mas a questão é que a dada altura, o prego se vira, e a contínua utilização de figuras de estilo já não consegue tapar o sol com a peneira, a penúria dos Portugueses. A grande virtude das ciências exactas é assumirem a sua residência no território da incerteza, trata-se de uma volatilidade positivista que esclarece e determina a obrigatoriedade de começar de novo. Os números, por não mentirem, obrigam os experimentalistas a voltar à estaca zero e rasgar as premissas iniciais. Contudo, os governos não se regem por essa honestidade académica, mas também não há retórica política ou artimanha demagógica que possa alterar a dimensão quântica da desgraça. A partir de certo patamar, registamos sintomas de irreversibildade, que sondagens e estatísticas não conseguem desfazer. Encontramo-nos sem dúvida com a cabeça metida nesse vórtice. Não é o tal abismo, o beiral de um precipício que foi tão publicitado como o mal maior. O que está a acontecer é um modo continuum, que se desloca como uma bola de nervos que esmaga e que irá crucificar as pessoas, independentemente do sétimo dia ou de uma sétima avaliação.