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(não é Varoufakis)
Segundo fontainha próxima do Eurogrupo, a saída grega do Euro poderia acontecer durante um período de cinco anos. Ou seja, assistiríamos a uma suspensão, ao sacar de um cartão amarelo, até que melhores ventos económicos soprem daquelas bandas. A trégua entre a Troika e a Grécia poderia servir de epíteto para algo substancialmente mais grave. No fundo seria uma resolução à portuguesa, à "águas de bacalhau", uma nova modalidade de relacionamento entre devedores e credores. Nesse interregno do concerto das nações europeias, ganhar-se-ia tempo para rever algumas das premissas que sustentam o projecto europeu. À semelhança do período que antecede a acessão de novos membros da União Europeia, teríamos um termo de exclusão que resultaria do não cumprimento de regras estabelecidas. O Estado-membro em causa nunca deixaria de fazer parte dos processos de tomada de decisão, mas assumiria a qualidade de observador nalgumas dimensões de maior importância. Por outras palavras, algumas prerrogativas teriam de ser excluídas. Se falta à União Europeia uma genuína união política e fiscal, então estes instrumentos também poderiam fazer parte das "sanções". Qualquer Estado-membro que venha a quebrar a disciplina consagrada em tratados democraticamente concebidos, poderia eventualmente ver-lhe retirados alguns poderes respeitantes a processos de tomada de decisão. Nesta fase de campeonato tudo isto pode parecer outlandish, mas este é o momento para colocar em cima da mesa todas as cartas, mesmo as mais excêntricas. Uma outra hipótese seria proceder ao resgate da Grécia, mas em vez de agravar as condições financeiras, poderia haver uma multa política - ou seja, a Grécia deixar de poder decidir em relação a matérias em que existe conflito de interesse. Por mais idealistas e líricos que alguns intérpretes libertários queiram ser, a verdade cínica e irrefutável confirma que a Democracia tem um valor de mercado, quantificável em Referendos, mas não menos qualificável do ponto de vista de consequências políticas. O problema da Grécia e da Europa já afectou a cabeça de profissionais da política, muito mais esclarecidos e habilitados do que eu, mas à semelhança de Tsipras não atiro a toalha ao chão sem mandar uns recados que podem ser enviados directamente para o caixote de lixo se assim entenderem.
Amanhã é o primeiro dia do resto das nossas vidas - bem que podia ser o título da canção para acompanhar o filme de Tsipras e a lenda da Grécia no Euro. Mas antes de continuar a insistir no lirismo desta saga, convém sublinhar o seguinte respeitante a uma eventual saída grega do Euro. Em primeiro lugar, a mesma já está a decorrer. Há largos meses que milhares de milhões de euros têm vindo a fugir daquele país. As quantias detidas em depósitos bancários têm vindo a diminuir a um ritmo assinalável, mas não significa que tenham sido apagadas do balancete da economia europeia. Bem pelo contrário. Esses dinheiros foram transferidos para outros destinos onde o Euro é a divisa oficial. Por outras palavas, os outros países da Zona Euro têm beneficiado com este processo de letargia política e monetária. A máxima tempo é dinheiro serve na perfeição para diagnosticar metade do problema - a saída de capitais da Grécia e não o inverso. Segundo as últimas confissões de fontes oficiais, a haver uma saída grega, Tsipras e o que restar do seu governo, terá todo o interesse em infligir os maiores danos possíveis aos países da zona Euro - os únicos responsáveis por todos os males e aflições da nação helénica. De fonte de inspiração para revoluções ibéricas e não só, Tsipras passará a ser o arguido principal de algo mais gravoso - o semear de caos e dissensão na Europa. Nem vou arrastar outras nuances de vendetta, como o abraço fraterno a Putin e a clara demarcação em relação ao projecto de construção da União Europeia. Poderemos afirmar, com pouca margem de reserva, que um desfecho dissidente da Grécia, servirá em última instância para o início de algo negativo - o redesenhar de fronteiras ideológicas acentuadas. A traição da Esquerda será o mote para o avanço de propostas ultra-conservadoras um pouco por toda a Europa. Nessa medida, Tsipras pode ser chamado à liça como obreiro da ascensão de regimes deploráveis, nacional-facciosos. A Esquerda revolucionária que invoca a libertação esclavagista poderá bem ser a responsável pela morte do consenso, as facadas dadas na Europa que ostenta os falos maiores da Democracia. Não esqueçamos por um instante sequer que estes lideres foram eleitos. Emanam da opção terrena, da escolha livre e iluminada de quem acredita em ilusões, mas que encontrará no seu caminho um destino mais penoso. Legítimo, dirão alguns, mas pesaroso.