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Há dias, numa ligeira leitura da revista da Ordem dos Advogados, deparei-me com um artigo ignoto de José Luís Saldanha Sanches que, na sua costumeira ironia fina, criticava acerbamente a acção predatória do Estado, usando, para o efeito, uma imagem particularmente singular sintetizada na brilhante designação de "mão ablativa". Um exame minucioso das políticas fiscais do estadão permite-nos corroborar a pertinente expressão crismada pelo insigne fiscalista. O debate em torno do IMI é, a este propósito, um claro sinal da tal "mão ablativa". O assalto à mão armada - sim, Marques Mendes, de quando em vez, consegue dizer coisas acertadas - sobre a classe média está atingir o paroxismo da estupidez, como pode, aliás, verificar-se atentando num facto sobejamente evidente: a receita fiscal, com estas medidas extorsionárias, tem vindo a diminuir progressivamente. Não bastava o imenso patíbulo fiscal em que está estrangulado o país, e, agora, chega o avejão Gaspar, com a sua fleuma habitual, para obrar mais uma das suas terríficas aparições, prometendo a reposição da cláusula de salvaguarda do IMI, caso sejam feitos cortes adicionais na despesa. A desvergonha é tanta que a única coisa que o notável-académico-sem-talento-para-ser-ministro consegue dizer é que o Executivo está a estudar medidas para mitigar o enorme aumento de impostos. Estudar? Mitigar? Mas será que Gaspar, no seu azougado esquematismo teórico, não vê que a sobrecarga fiscal imposta aos portugueses provocará um dilúvio recessivo com consequências devastadoras. O aumento do IMI, tal como está previsto, é uma investida sem precedentes à propriedade privada. Bem sei que Portugal nunca foi um país muito dado aos louvores da propriedade, todavia, medidas deste jaez, mesmo considerando a tradicional alergia lusitana ao "proprietarismo", são de uma violência inusitada. Caros leitores, sejamos claros: o estado de excepção em que vivemos não desculpa tudo, nem mesmo os soezes ataques a alguns dos mais basilares direitos fundamentais. O confisco efectuado via IMI tem de ser rapidamente verberado e anulado, sob pena de muitos portugueses perderem o pouco e reduzido património que lhes resta. O "liberalismo" deste Governo está à vista: não passa de uma manifestação crua e dolorosa do famigerado "socialismo a frio" de Hensel.