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Cada um dos candidatos presidenciais depende da força dos caracteres - a capacidade para formar palavras e frases que exprimam a força das suas ideias. A força do carácter (que é uma coisa distinta) não chega, como julga Maria de Belém. Existe algo ainda mais importante. Os (stors) Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa, o (padre) Edgar, o Tino (de rãs), o Jorge (Sequeira, ou se quiser), o D. Henrique (o neto), a Marisa (que não é fadista), o Morais (de nome e de ética) ou o (cândido, doce) Ferreira disputam entre si o primado da palavra. A palavra é a trabalhadora da esquina política, amestrada pelos chulos que disputam territórios. Os proxenetas também tentam convencer os clientes da sua superioridade, do seu talento. Os candidatos presidenciais em cena, praticam a língua portuguesa de acordo com o seu património cultural (duvidoso nalguns casos), fazendo uso de um cabaz de chavões e frases-feitas. Arremessam versos sem que se possa descrever a sua origem ideológica, etimológica, alegriana ou não. No domínio do jargão propriamente dito estamos servidos. A tragédia que se apresenta aos portugueses é de outra natureza, mas igualmente nefasta. Onde estão as reflexões profundas que se exigem? Onde encontramos um conceito de presidência que oblitere a conversa de taberna a que temos assistido? O nível intelectual, o sentido de Estado, a cultura de um povo ou a visão estratégica que culminariam no refundar da missão da presidência, simplesmente não se avistam. Os debates havidos, a que se somará mais uma bela dúzia, continuará a confirmar os nossos piores receios. Portugal, na sua recente história democrática, não conseguiu produzir uma verdadeira escola de presidentes. Ou são ex-militares moderados ou já foram presidentes de câmara, ou primeiros-ministro, mas não parece ter servido para grande coisa. O casting de candidatos à presidência obedece à matriz tipicamente lusa - a arte do desenrascanço, do aproveitamento das sobras, do oportunismo do momento. Nesta tosta-mista de considerações, somos servidos por mais chefes que índios. Não havia necessidade de lançar tamanha confusão. Até parece que as eleições vão servir para nomear um presidente para cada capital de distrito (?). E depois temos de levar com certas contradições de ordem filosófica. O carácter, essa dimensão de alma insondável pela estatística política, deve permanecer no seu silêncio sepulcral. O carácter não se comunica, embora se afirme. O carácter não se vence, e não pode ser sujeito a derrotas. O carácter não se confunde, portanto é singular. E o carácter não se hierarquiza e humilha o dos outros. Enfim, o carácter não se imprime em outdoors gigantes quando falta tudo e mais alguma coisa. Os homens e as mulheres por vezes também se medem aos palmos. E as palmas não irão abundar nos póximos tempos. Miséria.
António Costa julga mesmo que manda nisto tudo. Quer mesmo ser dono disto tudo. Mas não quer transformar a presidência da república num consulado socialista, embora dê ares dessa graça. Quer imitar o modo como se apropriou do parlamento e formou governo, mas de um modo mais perverso, cínico. Ao lançar a aposta múltipla nas eleições presidenciais, apelando às f(r)acções representadas por Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, não esclarece publicamente qual a posição que assume. Ou seja, não se coloca inequivocamente ao lado de um dos seus candidatos, mas generaliza e não fala a verdade quando descreve a área logística da sua preferência. E isso não passa de areia atirada aos olhos de Soares e dos diversos barões do Largo do Rato. Se formos minimamente astutos, percebemos a rasteira num piscar de olhos. António Costa apoia, com esta jogatana de "apoio aos dois camaradas", a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, porque este será o alibi ideologicamente perfeito para poder contradizer a acção presidencial quando esta começar a estrangular os seus intentos governativos. Não convém nada ao governo socialista ter um dos seus em Belém. Isso restringe a sua área de actuação. Se estiver lá o Marcelo é mais fácil ser extravagante e ousado. Convém a António Costa ter uma réplica, mesmo que mais colorida, de Cavaco Silva. Desse modo, o status quo das relações institucionais mantém-se sem grandes alaridos. O mauzão continuará a residir em Belém. Marcelo Rebelo de Sousa será a válvula de escape ideal, o embaixador do princípio do contraditório. Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa bem que se podem queixar, mas por outro lado, como são politicamente dispensáveis, o seu afastamento serve preciosamente outras guerras. Mais cedo ou mais tarde, com as atribulações de um governo feito a retalhos do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, a sua liderança será naturalmente posta em causa, e a haver guerras fratricidas, são menos uns quantos para confrontar. Veremos, mais adiante, como António Costa afasta a Ana Gomes que está mortinha por realizar um "regresso auspicioso". Não se esqueçam que as legislativas ou as presidenciais, por mais mediáticas e nacionais que sejam, servem para arrumar as casas partidárias de Portugal. Os portugueses e o interesse nacional são meros pretextos de ocasião. Um festival a 9 ou 10 candidatos, ou um rancho folclórico presidencial, é um mimo para a realização política deste calibre. Aguentem. Ainda vão ter de levar com muitos debates nas noites quentes da sensacionalista TVI, da vendida SIC e da pobrezinha RTP - uma TAP que rasteja pela paisagem de oportunistas nacionais. Marcelo ainda vai agradecer a alguém.
Depois não digam que eu não avisei. No desfecho dos resultados das eleições presidenciais, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém e Marisa Matias podem chegar a "acordo" para derrubar Marcelo Rebelo de Sousa. Qual primeira qual segunda volta. Ao homem que apenas dorme quatro horas por dia (dizem que de noite), basta uma meia-volta para levar de vencida a competição. Nenhum dos "participantes" pode aspirar a Belém. Faz-me lembrar aqueles atletas de alta competição que trabalham no duro, mas que não perdem o tino. Aquele lançador de peso(s) ou o ginasta acrobático, que à luz da sua auto-percepção, afirma sempre, e de um modo humilde: "já é um privilégio participar nos jogos olímpicos" (ou), "vim para ganhar experiência" (ou então), "sou realista, não posso aspirar a ganhar medalhas". Mas aqui observamos algo diverso. Um candidato que cultivou a proximidade com o cidadão comum, que é capaz de estar à conversa com a Ofémia lá da praça, ou que é capaz de desafiar um proto-intelectual para um tira-teimas de retórica. Quem quer ir à bola com a Maria de Belém? Quem quer receber a taça de Portugal de Sampaio da Nóvoa? Quem quer levar com as tretas psico-ideológicas da Marisa? A resposta nem precisa de ser dada. Marcelo Rebelo de Sousa é o homem que não é de ocasião. O professor foi aos treinos. Entrou na casa (e na cabeça) dos portugueses sem ser calculista, porque ao longo dos anos alimentou mais dúvidas do que certezas em relação a uma tirada presidencial. Os outros candidatos simplesmente não reúnem os requisitos necessários - nem se conseguem olhar ao espelho. A excentricidade saudável, com uns temperos maníacos, não é para todos. Nem que se somem todos chegam aos calcanhares de Marcelo. Quanto mais a Belém.
Este é o tratamento que os candidatos presidenciais de Portugal pedem.
Esqueçam os partidos. Esqueçam a Esquerda ou a Direita. Esqueçam os tiros nos pés do Partido Socialista. Esqueçam o actual Presidente da República. Olhem para o homem. Passem os olhos pela mulher, e façamos um simples exercício;
1. Um(a) Presidente da República deve ser o embaixador dos Portugueses no seu próprio país. Deve ser um cidadão comum na acepção de cada um imaginar-se sócio da responsabilidade desse cargo.
2. Um(a) Presidente da República deve ser legitimado pelo cidadão político, mas não necessariamente pelo cidadão partidário - os valores que deve corporizar não são pertença de um qualquer sistema ideológico. São abstractos e arquetipais.
3. Um(a) Presidente da República deve ter um cadastro limpo. Por outras palavras, nunca deve ter estado associado a processos de falência ética, quer de um governo ou de lideres passados e presentes.
4. Um(a) Presidente da República deve ter um nível cultural que transcenda o nível de "técnico de ideologia política" e ser capaz de reconhecer as suas limitações intelectuais.
5. Um(a) Presidente da República deve ter dotes de comunicação. Por um lado deve ser sinceramente afável no trato das gentes que representa, e por outro lado não revelar dificuldades guturrais ou de dicção.
6. Um(a) Presidente da República deve forçosamente ter o domínio de diversos idiomas estrangeiros, incluindo a língua de países vizinhos e não dissimular a sua pronúncia provinciana, se for esse o caso.
7. Um(a) candidato(a) a Presidente da República nem deve sequer considerar uma candidatura se for necessário muito esforço para se poder qualificar como candidato.
8. Um(a) candidato(a) a Presidente da República não pode ser o último recurso por não haver melhores candidatos.
9. Um(a) candidato(a) a Presidente da República deve romper em definitivo com a sua matriz partidária para se qualificar como representante de todos os Portugueses.
10. Um(a) candidato(a) a Presidente da República tem todo o direito a sonhar com as regalias inerentes ao posto e o sem número de viagens que irá realizar.
11. Um(a) candidato(a) a Presidente da República não pode pensar em Belém como o fim da carreira, um lar de terceira idade - a estação terminal para sacar mais benefícios.
12. O candidato a Presidente da República Portuguesa não existe.
Então como poderão ter um Presidente da República?