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Gabriela Canavilhas tem razão. Não foram 20 mil no Parque dos Príncipes em Paris. Eram seguramente mais. Era mais público.
Penso que Alberto João está redondamente enganado. Um candidato que se apresenta contra o partido não será expulso. É precisamente o oposto. O candidato que decide enveredar por outro caminho político está a mandar o Jardim às urtigas. Está a declinar qualquer associação com um regime que põe em causa os valores de rotativismo no poder e liberdade de expressão. Antes que este tivesse oportunidade de o enxovalhar com papel de seda laranja, o putativo candidato antecipa-se e excomunga Alberto João Jardim e as suas hostes. O ditador da Madeira nem sequer soube acertar na "margem da conferência" onde decidiu anunciar o seu diktat. Não poderia ser um fórum mais indicado do que aquele dedicado a "segurança, integridade e rotura" para Jardim demonstrar a sua coerência autoritária. Alberto João Jardim gosta de ser o enfant-terrible da treta, como se fosse o inventor da dissidência, mas é colega de Cavaco noutro circo. Expressões como "limpeza no partido" são adaptações pouco alteradas de receitas congeminadas por regimes nacional-socialistas de uma Europa não tão distante quanto isso. O défice democrático, deve ser, por isso, analisado numa escala transnacional mas também em termos ilhéus. Já agora alguém me pode recordar qual o buraco da Madeira? Alguém me pode dizer qual o valor da dívida? Alguém pode nomear o principal responsável pela calamidade do arquipélago? Alguém pode repetir quem lesou os cofres e a pátria? Bem me parecia. Na minha opinião, se o partido social-democrata fosse disciplinado, quem deveria ser expulso do partido e do país seria Jardim. Pelo andar da barca, Portugal continental está a assemelhar-se cada vez mais a uma ilha rodeada de água, qual jardim à beira-mar fundeado.
(imagem daqui)
Portugal está podre. E está podre não só pela acção dos carrascos da nossa autonomia nacional, como pela omissão de todos os restantes. Em especial, de todos aqueles envolvidos na academia e na política, pilares fundamentais de qualquer democracia saudável. Já nem falo da qualidade do sistema de ensino. Refiro-me apenas à generalidade dos indivíduos que em maior ou menor grau controlam verdadeiramente estes dois círculos. Há académicos e políticos "bons", isto é, que independentemente do seu trabalho, são genuinamente boas pessoas, íntegras e honestas? Há, mas geralmente não são actores relevantes no controlo dos respectivos sistemas em que actuam. Os que verdadeiramente controlam, na sua generalidade são medíocres e mal formados. Portugal transformou-se num imenso esgoto onde a putrefacção tornou o ambiente irrespirável. Mas isto aconteceu não só pela acção destes ignóbeis indivíduos, mas também pela omissão dos restantes, e por estes compactuarem, ou melhor, compactuarmos, com aquilo que muitos de nós sabem que acontece, que é injusto, que é errado, mas contra o qual ninguém diz nem faz nada - sabendo-se que quem por aí envereda normalmente acaba em maus lençóis. E porque compactuámos e compactuamos com estas coisas, era apenas lógico que se tornassem dominantes e normais na sociedade portuguesa. Perdeu-se completamente o sentido de justiça em Portugal. O país é um enorme esgoto de corrupção, que começa no Governo e na Assembleia da República, qualquer Governo e qualquer Assembleia da República, e perpassa todo o aparelho estatal, o funcionalismo público, as autarquias e as universidades. A democracia portuguesa não se vai reformar, não só porque aos controladores do regime não interessa que se reforme, mas também porque nem sob protectorado, em estado de necessidade, se conseguiu reformar, já que o memorando de entendimento com a troika não tem sido cumprido no que à reforma do estado diz respeito. A III República já morreu, mas o seu óbito ainda não foi declarado. O regime vai implodir, mais cedo ou mais tarde. A quem eventualmente leia isto, digo apenas que não só não estou em Portugal, como provavelmente não estarei quando o regime implodir. Mas quando isto acontecer, se os portugueses e portuguesas, homens e mulheres livres e de boa fé, quiserem regenerar Portugal através de um regime assente nos princípios da liberdade e da justiça, que não compactue com aquilo que apodreceu a III República, contem comigo, naquilo que possa ser a minha parca contribuição para um futuro mais digno para todos os portugueses que aquele que actualmente enfrentamos. Tenham bem presente apenas isto: não se conseguirá empreender tal projecto se os senhores feudais que controlam actualmente o país forem mantidos no poder, nas estruturas que já referi. Sem um saneamento básico nacional, esta empresa estará falhada à partida.