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Uma pessoa pensa que já viu tudo na política portuguesa e, de repente, é surpreendida com um esquerdista amuado, qual criança mimada, a queixar-se da boa imprensa de Santana Lopes - e logo nas páginas do Público, cuja redacção anda com o Bloco de Esquerda ao colo desde que este nasceu, dando-lhe uma presença mediática que não corresponde à sua representatividade eleitoral. Isto, claro, sem falar no colinho que a esquerda em geral tem na comunicação social portuguesa, até em órgãos detidos pelo grande capital. O pluralismo democrático, em certas cabecinhas, é apenas terem palco os nossos, um vício de quem nunca se conseguirá livrar intelectualmente do autoritarismo e do totalitarismo que fazem escola por aquelas bandas, por mais loas que teçam à liberdade. Infelizmente, continuamos a comprovar que Alçada Baptista estava cheio de razão: "Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas”.
Nesta altura do campeonato, inclino-me para votar na Aliança de Santana Lopes. Mas se o Miguel Morgado se tornar líder do PSD, o que seria óptimo para o partido e para o país, ficarei perante um enorme dilema. De resto, provoca-me bocejos ouvir tantos putativos virgens impolutos (Rio segue destacado na liderança) que se escandalizam com agitações e alegadas tentativas de golpes palacianos porque, pasme-se, os agitadores só estão preocupados com lugares, como se, em democracia, a política intra-partidária fosse outra coisa que não isto e como se não andassem eles próprios nestas lides há décadas. Ide ler Maquiavel e relembrar que a política, num sentido restrito, é a conquista, manutenção, exercício e expansão do poder político. Se são inábeis nas últimas duas (como Rio demonstrou à saciedade durante o último ano), sofrem as consequências. É a vida, ou como diria Paulo Portas, "as coisas são o que são."
A crise de liderança do Partido Social Democrata (PSD) tem provocado mais alergias e urticárias no seio de outros partidos do que na própria casa da Rua de São Caetano à Lapa. Parece quase certo que o Derby social-democrata será disputado entre Santana Lopes e Rui Rio. Convém sublinhar o seguinte fenómeno separatista; Os mais contundentes sucessos de governação dos candidatos aconteceram na região norte - nas cidades da Figueira da Foz e do Porto. Numa lógica de bastiões e reservas estratégicas do PSD, faz algum sentido que assim seja, e tendo em conta o track-record de cada um dos adversários, se puxarem dos galões autárquicos para promoverem as suas causas, farão a vontade dos socialistas. Ainda recentemente, embora embriagado pelo oportunismo das eleições autárquicas, António Costa reforçou a sua dose ideológica de regionalismo e "autonomia" política dos concelhos desde que estes sejam do Partido Socialista (PS). Numa interpretação mais ampla, e à luz dos acontecimentos que decorrem na Catalunha, a bandeira do poder local pode ser um argumento subtil a ter em conta na gestão de um país. Quer Santana Lopes quer Rui Rio devem saber integrar as movimentações ideológicas excêntricas. Dirão muitos que o que acontece na Catalunha não interessa ao menino Jesus, mas não é bem assim. Quaisquer derrames não previstos, decorrentes da garraiada que opõe Madrid a Barcelona, terão impacto nos discursos políticos pan-europeus e nas contas europeias. A geringonça ficará indelevelmente colada ao ciclo económico favorável do turismo e ao dinheiro fácil do Banco Central Europeu. Numa lógica de modelos económicos que se esgotam e de alternância de vocalistas, o mais provável é o PSD agarrar o poder em Portugal quando este estiver na mó de baixo, a andar às voltas da nora de uma nova crise de excessos e devaneios orçamentais. Seja qual for o chefe da casa política do PSD, este deve alinhar ideias de um modo realista, mas desapaixonado. O PSD, não sendo governo, deve ter um papel de auditor interno, de agência de rating. Por outras palavras, deve fazer uso do capital de que dispõe. E o legado de que dispõe diz respeito à experiência na gestão de crises. Os outros, para serem coerentes com o seu currículo, continuarão a pintar um cenário cor-de-rosa, perfeito. O PSD deve levar em conta que as marés psicológicas são de duração limitada e que as escorregadelas financeiras dos governos marcam o início do seu fim. O PSD apenas deve ser paciente. A realidade falará por si. A ideologia acaba sempre por se trair e deixar ficar mal os crentes mais ferverosos. O PSD deve declarar a sua independência política das querelas típicas que polvilham o quadro governativo de Portugal. Se quiser sair por cima.
A saída de cena de Passos Coelho abriu espaço no PSD para um eventual retorno da política ao centro da acção do partido, especialmente se for Santana Lopes o novo líder escolhido pelos sociais-democratas.
O anterior Primeiro-Ministro tem uma formação académica em economia e herdou uma situação política de crise em que as questões económicas e financeiras predominavam sobre quaisquer outras. Ademais, a sua ascensão à liderança do PSD e, posteriormente, do Governo, ficou marcada por uma atmosfera intelectual e política de acolhimento de um projecto político liberal que, em boa parte, passou dos blogs e de alguns meios académicos para o PSD. À semelhança de Passos Coelho, muitos dos que o rodearam e apoiaram neste projecto são formados em economia ou engenharia e as suas actividades profissionais passam, em larga medida, pelo ensino e investigação nestas áreas ou pelo meio empresarial.
Tal como Passos Coelho, muitos destes liberais acreditam ou acreditavam na narrativa alemã de imposição da austeridade como forma de expiar os pecados cometidos por governos anteriores e pelos próprios portugueses que teriam vivido acima das suas possibilidades e que, por isso, deveriam ser castigados. Escusando-me de abordar neste texto o confronto entre as duas narrativas durante a crise do euro e a errada receita da austeridade excessiva em que os merkelistas, passistas e muitos outros acreditavam, aos leitores interessados nesta temática recomendo a leitura deste artigo de Paul De Grauwe ou deste de Jay Shambaugh, em que fica patente que o caso grego é singular e o seu diagnóstico foi erradamente alargado a outros países.
Ao longo dos últimos anos, a receita da austeridade foi perdendo muitos adeptos em várias instituições internacionais e países - mesmo enquanto o Governo de Passos Coelho ainda estava no poder e acreditava em ir além da troika. Ademais, quando chegou ao fim o período e o plano do resgate financeiro a que Portugal foi sujeito, o Governo composto pelo PSD e CDS mostrou não ter qualquer outro plano norteador da sua acção.
Após as eleições legislativas de 2015, a solução encontrada por António Costa, a chamada geringonça, provocou uma alteração estrutural no sistema político português e remeteu Passos Coelho para a oposição. Ao longo dos dois últimos anos, a estratégia oposicionista de Passos Coelho passou essencialmente por anunciar, num tom catastrofista, que as políticas de António Costa e Mário Centeno irão levar-nos novamente a uma situação económica e financeira periclitante. Com excepção da dívida pública, os indicadores económicos têm contrariado as previsões de Passos Coelho. É certo que a conjuntura internacional continua a favorecer a nossa economia, embora devamos estar atentos à forma como o próximo governo de Merkel se irá posicionar e relacionar com Macron a respeito da reforma da União Europeia, bem como ao impacto que o Brexit terá no funcionamento futuro das instituições europeias. Mas também é certo que António Costa e Mário Centeno transmitem a imagem de que as finanças públicas estão sob controlo, apesar do aumento da dívida pública, e que as políticas do actual governo têm favorecido o crescimento económico. Claro que vários políticos e comentadores afectos ao PSD procuram reivindicar os bons resultados para o anterior Governo, mas independentemente do que for verdadeiro a este respeito, é o actual Governo que está no poder e, por isso, muito facilmente consegue reclamar para si os louros do recente crescimento económico. Ademais, se com o anterior Governo, de acordo com Luis Montenegro, a vida das pessoas não ficou melhor mas o país ficou muito melhor, com o actual Governo as pessoas sentem melhorias reais nas suas vidas, que se traduzem no aumento dos seus rendimentos.
Ora, como ensinava Maquiavel - e aqui limito-me ao papel de observador, não emitindo qualquer juízo de valor sobre o que se segue - em política é a verdade efectiva das coisas que importa, são as consequências que devem prevalecer na tomada de decisão (ou na terminologia de Max Weber, a ética da responsabilidade deve preponderar sobre a ética da convicção), e são os resultados reais que importam aos cidadãos. Porque, citando O Príncipe, "Nas acções de todos os homens, e mormente dos príncipes, em que não há um tribunal para onde reclamar, olha-se é ao resultado. Faça, pois, um príncipe por vencer e por manter o estado: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos serão louvados, porque o vulgo prende-se é com o que parece e com o desenlace das coisas." Daí que Maquiavel, segundo José Adelino Maltez, seja “acima de tudo, o teórico do «homem de sucesso», do vencedor efectivo e não daquele que apenas tem vitórias ditas morais.” Nesta perspectiva, é fácil perceber quem é o homem de sucesso na contenda entre António Costa e Passos Coelho.
Um dos principais erros em que Passos Coelho e muitos liberais portugueses incorrem é a crença na distinção de uma realidade objectiva e única, que se impõe às ideologias e à política e que, alegadamente, eles conseguem discernir. Não explorando sequer os complexos problemas filosóficos da realidade e da verdade, creio ser útil complementar os ensinamentos de Maquiavel com a distinção de Harold e Margaret Sprout, no domínio das relações internacionais e da análise de política externa, entre o psychological milieu (ou meio psicológico) e o operational milieu (ou meio operacional) dos decisores políticos. O primeiro é o meio conforme é percepcionado pelo decisor, influenciado pelas suas crenças e vieses cognitivos, sendo o meio mais importante na formulação de decisões, ao passo que o segundo é o meio conforme este realmente é, no qual as decisões são executadas. A existência de incongruências entre os dois meios pode levar a más decisões e péssimos resultados. Parece-me que a incongruência entre o meio percepcionado por Passos Coelho e o meio operacional explica o fracasso da estratégia oposicionista insistentemente praticada.
Centrando-se esta estratégia meramente nas questões económicas, Passos Coelho e os seus apoiantes acabaram por se ver reduzidos à crítica ao crescimento da dívida pública e tornaram-se incapazes de gizar uma estratégia de oposição que permitisse combater o Governo de António Costa em várias frentes e eixos de acção política. Esta incapacidade parece-me resultar dos seus parcos ou nulos conhecimentos e interesses relativamente a outras áreas do conhecimento além da economia. Na realidade, a maioria dos liberais portugueses pouco ou nada tem a dizer de interessante, com autoridade e além dos seus dogmas ideológicos e da doxa plasmada em artigos de jornal e conversas de café, sobre o exercício do poder político (querem um Estado mínimo ou, alguns, mais extremistas, a dissolução do Estado) e sobre temas como, a título exemplificativo, a representação política e a reforma do sistema eleitoral, a administração da justiça, o mundo do trabalho e as relações laborais (acreditam que os empresários são vítimas dos trabalhadores e do Estado), as políticas sociais (são para substituir pela caridade), a educação ou a saúde (só deveriam ser prestadas por privados), ou a política externa portuguesa que tem de enfrentar os desafios colocados pela reforma de uma União Europeia confrontada com o Brexit.
Por tudo isto, estou em crer que o projecto liberal que teve na liderança de Passos Coelho o seu pináculo em termos de exercício do poder político continuará em declínio e que, se Santana Lopes ascender à liderança do PSD, a oposição deste partido ao Governo de António Costa será decisivamente norteada por critérios políticos e a sua acção política global marcada pela formulação de um projecto político alternativo para o país - algo que Passos Coelho manifestamente não tem.
Proponho uma simples reflexão, um pequeno exercício. O Partido Social Democrata (PSD) está obrigado a encontrar um lider que possa contestar de um modo profundo e eficaz as soluções de governação da geringonça. E existe uma pequena fissura por onde entra alguma sombra de dissensão entre o Partido Socialista (PS), a Coligação Democrática Unitária (CDU) e o Bloco de Esquerda (BE) - as autárquicas puseram as comadres a ralhar, umas mais do que as outras. Mas limitemos o âmbito destas considerações ao tema da liderança no PSD. Sem nutrir preferências por putativas candidaturas, gostaria de ressalvar os seguintes aspectos de uma hipotética candidatura de Santana Lopes. Começemos então pelo seguinte; a questão da antiguidade, do repescar de velhas figuras de outros ciclos e mandatos políticos. O PS é um bom exemplo dessa prática museológica. Lá estão o Ferro Rodrigues e o Carlos César que julgávamos que tinham descalçado as botas do combate, encostado às boxes - não é o caso, estão aí cheios de Viagra. Ou seja, Santana Lopes tem legitimidade para pensar um regresso - tem a mesma idade política daqueles socialistas. Mas há mais, quiçá de índole incontornável. Que eu saiba, durante o consulado de Santana Lopes na Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML), não fomos confrontados com algo equivalente a um Processo Marquês, um escândalo de desvio de fundos para benefício próprio ou alguma forma de tráfico de influências. Por outras palavras, se Santana Lopes for o adversário a abater, o PS terá de esgravatar muito para fundamentar teses de roupa suja, de falência técnica ou ética. E há mais. A própria missão da SCML é mais socialista do que o socialismo do Rato. Assim sendo, Santana Lopes, e decorrente do conceito de redistribuição de riqueza, é mais comunista do que Jerónimo e mais bloquista do que Catarina. Adiante. Avante. Não nos esqueçamos do seguinte; Santana Lopes está para Durão Barroso como Passos Coelho está para Sócrates. Ambos entraram para limpar borrada alheia, arrumar a casa e inverter processos de desarranjo político e económico. Ou seja, Santana Lopes, à falta de originalidade, tem argumentos que encaixam perfeitamente na matriz do poder instalado. António Costa deve ser considerado uma velha raposa, com a escola toda. Se um caloiro do PSD fosse promovido a regente, seria como entregar carne sacrificial ao rito de uma igreja ideológica e partidária que faz uso de todos os argumentos de desgaste e arremesso políticos. Vamos ver de que modo o PS volta a confrontar um seu velho adversário. No PS queriam o Rio, que é quase da casa, mas as bases do PSD já viram outros camaradas serem aliciados e depois corrompidos nos meses que se seguiram àquela noite longa de Outubro.
foto: Jornal de Negócios
Na política abundam macacos de imitação. Um camarada teve uma ideia genial há 50 anos e de repente aparece outro que a apresenta como se tivesse descoberto a pólvora. Até parece uma sina portuguesa. À falta de melhores ideias de governação, lá vão buscar ao sotão o raio da Regionalização que, apesar do entusiasmo e da verborreia, nunca chega a parte alguma. Mas convenhamos; o tema serve para encher chouriços, serve para acenar a cenoura de liberdade e autonomia à frente do chanfro de autarcas com aspirações a maiores voos. E nada acontece - não conseguimos e tal, tentamos em vão. Portugal sofre ciclicamente deste estado político psicótico; os actores têm um vaipe e metem a cassette para ver se pega - não pega. Contudo, não nos quedemos por aqui. Há mais. Assim que a pen das presidenciais é inserida na máquina, nascem logo uma série de candidatos nos principais partidos de Portugal. O Partido Socialista tem sempre à mão 3 ou 4 macróbios da terra (cito Eça...). O Partido Social Democrata também tem um punhado deles (peço perdão, deveria ser ao contrário - o punho é socialista). Pelo menos com Garcia Pereira sabemos com o que contamos: é um e apenas um - não há apostas múltiplas. E é aqui que vou buscar o saudoso António José Seguro que pode dar (ou já deu) o seu contributo a Portugal. O homem vai obrigar a mais macaquices de imitação. Pelo andar da procissão prevejo primárias presidenciais dentro dos partidos. Estou particularmente interessado no duelo entre os Antónios: o Vitorino e o Guterres (têm mais ou menos a mesma altura do chefe da casa civil do presidente, Nunes Liberato). Enquanto isso possa vira a decorrer, na casa dos segredos laranja, Santana Lopes e Marcelo parecem ser os pré-convocados para o frente a frente. A ver vamos. Agora a ideia de primárias presidenciais partidárias não seria mal metida, não senhor. Com tanto simpatizante que por aí anda, Portugal apenas pode sair vencedor. Afinal todos estes candidatos já deram provas do seu valor.
Sabemos que a política e o futebol trabalham para o mesmo chulo. Pagam tributos na expectativa de sacar dividendos. Alimentam paixões, ódios e rancores. E com as Europeias ao virar da esquina e o Mundial a aproximar-se a passos largos, e tendo em conta a loucura que tomou conta do país nas últimas semanas, de Turim ao Jamor, julgo ser apropriado tecer algumas considerações. Sabemos que António Costa é benfiquista sem pudor, Santana Lopes sportinguista presidencial e Cavaco Silva taçista de ocasião. Depois temos uns imitadores de bairro, que desejam ser como os crescidos, e lá correm atrás da bola em Belém. Sim, João Almeida serviu-se (embora sem sucesso) desse acesso dos balneários. E Seguro? Joga em que equipa? (não há segundos sentidos aqui. Ok?). E Passos Coelho nutre amizade por que clube? Nem sequer pergunto por Assis que tem ar de emulador de Costa (aposto que é benfiquista). Mas atentemos ao seguinte. Já repararam que Passos Coelho nunca ousou declarar-se adepto deste ou daquele clube? E sabem porquê? Porque ele sabe que há coisas sagradas neste país que não devem ser arrastadas para a arena do jogo sujo. Mas eu tenho uma pergunta: se a austeridade fosse um clube de futebol que emblema seria? E qual seria o seu estádio? Não é que o futebol interesse muito ao país. Que eu saiba a bola apenas gera emprego e fortuna para uns quantos sortudos saídos na rifa desportiva - os que idolatram os homens da bola não participam nos lucros. Não senhor. Recebem apenas pequenas doses de falsa auto-estima (se a coisa correr de feição ao clube ou à equipa de eleição). Veremos se Seguro ou Passos Coelho, em desespero de causa, não deitam as patas ao esférico. A boleia do campeonato do mundo de futebol no Brasil é politicamente tentadora. Mas há um quadro ainda mais devastador que define este país. Mal acaba um festival começa logo o seguinte. Nem sequer falo do alinhamento na sua totalidade. Faço um mero apontamento. Portugal precisa tanto de se colocar em pé e estrabuchar que até dói. Para isso os portugueses têm energia e resmas de vontade. E não parece faltar nada; temos o Rock´in Rio, o Festival do Sueste, o Festival disto e daquilo, a Festa deste e daquele, e por aí fora. Seja qual for o analgésico empregue para afastar as mágoas e tristezas, a ressaca não se vai embora assim sem mais nem menos. Vai-se agravando até que o país caia em coma, atónito, mas pronto para a festa que se segue. Ao amanhecer, no lusco-fusco.
Na sua entrevista à gente do sr. Balsemão, Sócrates apoda de "pulhas" os JSD e chama "bandalho" a Santana Lopes. Cá ficamos à espera da resposta, pois este trecho recolhido no "feicebuque", mostra bem o tipo de gente que manda em Portugal, os tais "vinhos da mesma pipa". Nem os estrangeiros escapam, atirou-se aos financiadores alemães de quem o regime sempre dependeu, a Schäuble, “aquele estupor”... Sublinhando o seu total desconhecimento daquilo que é o sentido de Estado, coloca Merkel na aborrecida posição de deslealdade para com os seus ministros. Num excerto de Idi Amin e Berlusconi, a entrevista reduz-se a isto. O resto, tratando-se de inócuos temas da sua vida pessoal e de expectáveis postas de pescada eructadas, não valerá a pena ser publicado, mas aqui estão alguns desabafos de alguém que se considera como “um tipo que sempre foi a merda de um moderado!”
"É sempre pessoal, acharam que só podiam ganhar destruindo-me o carácter."
Tudo começou com o Freeport e a licenciatura?
"Começou, antes, em 2005, com um tal Santana Lopes! Um tipo com quem cheguei a ter simpatia. Montou uma campanha que me começou por fazer rir, até perceber que era a sério, era pessoal.
Um dia vinha de Sintra e vi um cartaz com a minha cara e disse: não me lembro de ter mandado fazer este cartaz! Dizia mais ou menos você conhece bem este tipo? Uma insinuação dessas... E assinado JSD, sempre a mesma técnica. Os pulhas! Se lhe estou a contar isto, tenho uma memória seletiva e sou otimista, é porque me lembro bem. Vi o cartaz nas Amoreiras, dei uma volta para ir a casa e telefonei à minha ex mulher. Disse-lhe para não levar os miúdo à escola pelo Marquês, porque fizeram um cartaz horrível...No outro dia de manhã ela ligou-me e disse que os cartazes estavam por toda a cidade (...) Antes da minha tomada de posse, o Santana recebeu-me. Fui lá e disse-lê : você desculpe, mas a nossa relação pessoal não existirá mais (...) O bandalho!"
“Todos os dias esse filho da mãe punha notícias nos jornais contra nós. E ligávamos para o gabinete da Merkel, e ela com quem me dava bem, dizia que vinha do gabinete dele”.
Sim, caro João, Santana acredita no Pai Natal, e eu também. É que o "irrevogável" e o "dissimulado" tiveram, pelo menos, a grande vantagem de pôr mais talante político onde antes existia um profundíssimo e inclemente deserto de ideias. E, não, não estou a falar de Álvaro Santos Pereira, um dos poucos que tentou remar contra a maré do eterno beija-mão.
Santana diz que é uma má altura para ser do PSD e do Sporting. Não percebo porquê. Se PSL não fosse do PSD, seria hoje o chefão da Santa Casa da Misericórdia?
Apesar destes painelismos não serem coisa de grande importância, por vezes mostram uma realidade bem escondida pelas regies televisivas. Desta vez, ao bem refastelado Dr. Rosas do pau de marmeleiro vermelho no toutiço, Santana disse duas ou três coisas que qualquer um está ao alcance de proferir numa fila de caixa de supermercado. Até que enfim!
Em poucas frases, disse aquilo que a maioria dos colegas de partido não se atrevem sequer a sugerir. Colocou o Mr. Deficit na prateleira do desperdício e da má gestão, sugerindo "aquilo" que todos sabem e não podem dizer. Pelos vistos, não gostou da ladainha do 5 de Outubro e a conclusão final, consiste no facto de o "grande homem" ser um claro embaraço para os próprios aliados.
"No jobs for the boys, but... power to all our friends"
Apenas uma nota: não se esqueça Santana Lopes de que a Santa Casa da Misericórdia existe há cinco séculos e está presente em quase todos os antigos territórios que fizeram parte de Portugal. Não é um clube de futebol, nem será também um Partido qualquer ou uma "Cambra" Municipal para preencher calendário. Simplesmente não serve de brinquedo e não podendo ir à falência, não convém começar a "inventar".
Percebeu?
O conluio entre o PSD e o PS na Assembleia Municipal de Lisboa, denunciado nas páginas do SOL por Pedro Santana Lopes, é uma evidência indesmentível. E o mais grave é que o mesmo se concretizou da parte do PSD na AML com o maior desrespeito para com os seus parceiros - CDS, MPT e PPM - e o programa da coligação, numa abominável lógica de Bloco Central "de interesses". Um momento particularmente significativo neste âmbito foi o facto dos Grupos Municipais do PS e do PSD terem deliberadamente inviabilizado toda e qualquer proposta alternativa de reforma administrativa que os demais deputados municipais pretenderam submeter revelando, ademais, uma estranha dificuldade em lidar com a pluralidade de opiniões. Uma coisa, altamente louvável, é procurar consensos e praticar uma oposição construtiva, apresentando sempre alternativas. Outra, bem diferente, é fazer política baseada em acordos de alcance desconhecido e com claro desfavor daqueles que confiaram o seu voto a uma coligação alargada candidata à principal autarquia do País.
O velho princípio estratégico da guerra fria, está a ser transposto para o conflito inter-tribal. Respondendo à Face Oculta PS, eis que hoje surge a notícia de uma Face Oculta PSD, na qual Santana Lopes teria recebido uns dinheiros do conhecido sucateiro. A bem dizer e em época de Centenário, nada melhor caracterizaria a actual situação que o ferro-velho. Tal como noutros tempos em que existiam mísseis apontados para o campo oposto, temos uma destruição mútua assegurada. Nada nos admiraria se subitamente a tal Face Oculta desaparecesse na penumbra e para sempre...
São as vantagens da coexistência pacífica.
Nestes desvairados tempos de incoerências várias, a presidência da ainda estrebuchante república, decidiu condecorar Santana Lopes. Segundo corre, agraciará aquele a quem terá apodado de "má moeda", com a Ordem de Cristo!
O descaramento desta gente ultrapassa todos os limites do imaginável. Como ousam reivindicar sacerdócios de independência da luta partidária, quando semanalmente interferem na vida interna do partido que todos sabem ser o seu?
Se o homem tanto quer controlar o governo, demita-se. Volte para casa, prepare uma lista para o congresso do PSD e candidate-se a 1º ministro. Basta de tolices!
O Partido Socialista declara estar o presidente Cavaco ao serviço da oposição.
Diz-se que em política ou história, a memória é curta. Durante anos a fio, o país soube e gozou com as quase públicas desavenças entre o 1º ministro Cavaco Silva e o presidente Soares. No seu segundo mandato, Mário Soares tornou-se no promotor da alternativa ao desgastado governo do PSD e as "presidências abertas" nada mais foram, senão uma clara demarcação de Belém em relação ao governo de maioria absoluta. Inventaram-se direitos à indignação, Soares falou "privadamente em público" - até alto e em bom som diante de quem o quis ouvir, em pleno restaurante Bel Canto (1992, eu próprio escutei as suas palavras) - e todos conheciam a profunda aversão mútua que se foi criando entre os dois homens. Mais tarde, quando Cavaco quis tornar-se presidente - a velha historieta do grão-vizir que se quer tornar califa no lugar do califa - e alijou o PSD como ..." esse partido"..., Sampaio surgiu na corrida a Belém e proporcionou-se ainda a alegria a Mário Soares, de "acabar o mandato dando posse a um governo socialista". Assim, sem qualquer tipo de equívocos. É esta a alegada presidência de todos os portugueses.
O sr. Sampaio desautorizou as forças de segurança e os militares, publicamente humilhando-as quando não devia nem podia. Durante anos foi uma espécie de Marechal Carmona do governo Guterres, sem que as más políticas, o despesismo e a incúria nos mais diversos sectores, o tivessem alguma vez distraído dos seus afazeres num qualquer campo de golfe. Quando o governo passou a ser de maioria absoluta PSD-CDS, a deslealdade foi nítida, total e nem sequer valerá a pena referir o triste episódio do governo Santana Lopes, onde a reserva mental e o serviço prestado a terceiros vieram a produzir efeitos devastadores para a credibilidade do próprio sistema constitucional.
Cavaco faz agora a vontade à oposição, como durante alguns anos estrategicamente aquiesceu a tudo aquilo a que o governo do PS quis implementar. Nesta fase de maioria relativa, o governo teria forçosamente de negociar e fazer aquilo que os seus congéneres europeus normalmente praticam. Encontrar o rumo que lhe permita a obtenção de aliados no Parlamento, mesmo que pontuais.
É cada vez mais disparatada, esta tendência para os intervenientes da política se distanciarem do seu próprio passado como agentes responsáveis. Mudando de posto, julgam poder eximir-se a qualquer tipo de escrutínio.
Existem dois interesses em colisão. Um, consiste na almejada reeleição presidencial - para quê? Com que fim? -, embora o cargo surja aos olhos de todos desprovido de importância substancial e como mera trincheira de resistência de sector e mesa de banquete de vaidades. O outro, conduz ao sonho da reedição da maioria absoluta, também não se compreendendo qual o propósito da mesma. Numa situação gravíssima, pareceria normal que o governo e o PS se interessassem na obtenção de uma ampla frente de consenso que permitisse as reformas necessárias e que o país aguarda com resignação. Uma vez mais, o interesse nacional não parece sobrepor-se às ambições de facção e o passado já nos ensinou sobejamente, qual o final reservado à cegueira perante evidências.
Belém e S. Bento, duas faces da mesma moeda cujo valor facial é hoje tanto, como a do desaparecido Escudo.
Pouco há para comentar. O debate foi nulo e demonstrou à saciedade a total ausência de projectos para a capital, ficando os munícipes com a garantia de a CML não passar de mero entreposto para a circulação de personalidades cujos objectivos são claramente outros. Para trás ficaram os tempos da "Lisboa irreconhecível" do sr. Abecassis e a temporária estadia do sr. Sampaio antes de ascender ingloriamente à residência de Belém. Esquecida fica a obra cultural - inegável - de João Soares e a consequente despesa que isso representou. De Carmona lembramos - e homenageamos a coragem - a lápide colocada no local do regicídio e de Costa fica a memória dos contentores, do Hotel Altis à beira da Torre de Belém e do escabroso projecto do Terreiro do Paço martimonizado. Quanto a Santana, sobrou a miragem Gehry.
Os lisboetas podem ter a certeza de um esgrimir de argumentos fraquíssimos, inconsistentes e que na prática se traduzirão em mais demolições, mais estacionamentos em terrenos onde existiam prédios de habitação, mais terciário, mais fachadismo oficial, mais adulteração de espaços históricos. Em suma, o betão e os grandes interesses imobiliários especulativos nacionais e estrangeiros continuarão a ditar a lei. "Por Bem" prosseguirão as suspensões clandestinas do PDM, a retirada oportunista de edifícios do inventário municipal e claro, a tordesilhesca partilha de lugares cativos.
Como curiosidade, aqui deixo um e-mail enviado por um amigo residente na zona de S. Mamede, ao Príncipe Real. Dá-nos uma ideia do vergonhoso processo de parquimetrização da cidade e da caça à multa a todo o transe. Coisas sem importância para os srs. Santana e Costa e respectivos sucedâneos Zé e Roseta.
Olá, Nuno
Interessa-me apenas a política local, neste momento.
Recentemente, levaram daqui os parquímetros podres e marcaram a zona como reservada a residentes... só que não puseram parquímetros novos e os lugares estão ocupados em massa por forasteiros. Chega a Polícia Municipal, uns g... que não vêem um palmo à frente da cara, e vai de trancar e multar a torto e a direito, em zonas ao calhas, residentes com senha identificativa incluídos, como eu... dizendo, para cúmulo, aos de fora que puderam ouvir, que, estando do lado direito, se pusessem os carros fora do passeio não seriam multados... os guardas que vieram cobrar a massa das trancas, duas horas depois, disseram que isto era mentira. Fui à procura de um homem a quem disseram isto por dois carros e encontrei-o, estava numa obra ali perto... Ameaçaram-me com acusação de ofensas à autoridade.
A história é demasiado comprida para caber aqui. Estou farto de escrever à Câmara sobre isto: a repressão antes do ordenamento. Nunca conseguiram impor a lei, nem ordenar, ou seja, garantir o estacionamento prometido aos residentes, mas ainda facturam com isso. Mas tudo direitinho e de cabeça baixa, a pagar. Disse-lhes: «os senhores fazem um trabalho mau, mal informado, incompleto, não percebem nada do que se passa aqui há anos, em suma, são incompetentes, e ainda ganham dinheiro com isso!». Não gostaram de ouvir: «Vêm à caça. Matam meia dúzia de veados, e voltam para donde vieram, todos contentes. Amanhã está tudo na mesma. Os senhores não servem para nada. Não são bem vindos». Quando começo a mandar vir, já aprendi, vêm logo mais cinco portugueses a apoiar.
Os guardas, claro, começaram a dizer que já estava a falar de mais, etc.
Levaram-me 340 euros.
Abraço
F