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Após um interregno de quase seis anos, por razões de ordem académica, tenho alguma dificuldade em reintroduzir-me neste ambiente e redigir um texto digno deste blog. Paradoxalmente, estive ocupado durante este tempo todo com a redação e a entrega da minha tese de doutoramento que espero poder defender em breve. Ou seja, fartei-me de escrever e não menos pesquisar. Mas isso não me habilita particularmente para a tarefa do escrutínio analítico do estado da arte do comentário político em Portugal. As campanhas seguem a todo o gás e os comentadores da praça (com rarissímas exceções) não são mais do que filiais falantes dos partidos de sua eleição. Ou seja, perderam, se é que alguma tiveram, a equidistância analítica objectiva que se exige na e da ciência do comentário político. De um modo despudorado inclinam os pratos da balança, servem-se de figuras de distorção ou simplesmente deixam-se guiar pelas emoções da ideologia desenfreada que os cega. O apelo às emoções que afirmam representar um perigo para a democracia são precisamente as mesmas que já os contaminaram. Se a democracia corre sérios riscos, o comentário político não. O comentariado político já caiu no marasmo que dá azo à perda da credibilidade, que apunhala a objectividade e destrói a possibilidade do contraditório. A espécie de ultra-ortodoxia de género ideológico que destilam não tolera o contraditório e aniquila a possibilidade de estabelecer pontes e consensos. Mas os comentadores não têm culpa. Foram doutrinados pelos gurus que seguem na bruma que tolda o pensamento e a reflexão. Resta saber quais são as contrapartidas esperadas ou os favores que ainda são devidos. Tenham medo, muito medo. O extremismo do comentário político já se encontra entre nós. Está vivo e é pouco recomendável. Não sei o que é preferível: comentário político que não é comentário político, ou silêncio total.
O caso de ontem nas redes sociais foi o novo pivô da SIC Notícias, Cláudio Bento França. Permitam-me recapitular e tecer breves comentários aos três previsíveis “argumentos” que logo começaram a ser derramados por aí contra aqueles que se regozijaram com o acontecimento:
1 - “Não é o primeiro pivô negro em Portugal”. Claro que não, mas foram e são tão poucos, devido ao que se segue nos próximos pontos, que não pode deixar de ser notícia.
2 - “A cor da pele não é relevante, o que importa é que as pessoas desempenhem cargos para os quais têm competência e que alcançaram por mérito próprio”. Assim seria num mundo ideal, que não é o nosso. Estamos perante a perniciosa ideia de meritocracia, um pilar do capitalismo contemporâneo que permite justificar e normalizar estruturas e relações de poder que contribuem para a perpetuação de desigualdades e discriminações. Nos últimos anos, vários autores têm evidenciado efeitos negativos da crença na meritocracia, sendo esta, aliás, o tema do mais recente livro de Michael Sandel (The Tyranny of Merit). Mas podem continuar a acreditar que não partimos todos de situações desiguais resultantes de diferentes condições económicas das famílias em que nascemos (que os sistemas de educação, saúde e segurança social não conseguem atenuar como seria desejável), que em sociedades capitalistas onde os brancos constituem a maioria étnica e a burguesia é a classe social dominante basta ser trabalhador e competente para se conseguir ascender socialmente sem que a classe social, a cor da pele, o sexo, a orientação sexual ou a aparência (atente-se nos comentários sobre as rastas de Cláudio Bento França) sejam barreiras ao sucesso, e, por último, podem também continuar a adoptar o pensamento mágico de que todas as pessoas em posições profissionais e políticas destacadas estão lá por mérito e devido à sua competência – as últimas duas décadas demonstraram à saciedade a imensa competência de tantos políticos, CEO’s e banqueiros portugueses. Ou seja, podem continuar a viver no vosso domínio ontológico privado e a achar que o mundo é o vosso umbigo, mas não esperem que a realidade social se conforme aos vossos simplismos intelectuais.
3 - “Lá está a esquerda a abanar a bandeira do racismo outra vez quando Portugal não é um país racista, o que se comprova, entre outras coisas, por este caso, como por outros congéneres e até por termos um Primeiro-Ministro de ascendência goesa”. Em primeiro lugar, se aceitarmos este argumento, em que a selecção de um reduzido número de casos individuais (cherry picking, falácia de atenção selectiva) aparentemente valida uma tese (“Portugal não é um país racista”), então, a contrario, teremos de aceitar igualmente a selecção de outros casos, como Marega em Guimarães ou os assassinatos de Alcindo Monteiro e Bruno Candé, para confirmar a tese contrária (“Portugal é um país racista”). Como é óbvio, ambas as teses não podem estar certas, o que indicia a presença de vícios de raciocínio impeditivos de uma discussão racional. Ora, para começarmos a vislumbrar alguma racionalidade nesta discussão, importa desde logo questionar o que se entende por “Portugal”, se é o Estado-aparelho de poder, se é o Estado-comunidade. Com efeito, o Estado-aparelho de poder não prossegue políticas públicas racistas - pelo contrário. Já o Estado-comunidade - a sociedade portuguesa - é composto por indivíduos (e estes, por sua vez, compõem e moldam instituições e estruturas sociais formais e não-formais) com os mais diversos preconceitos racistas e outros que não têm quaisquer preconceitos. Portanto, o Estado-aparelho de poder não é racista, mas na sociedade portuguesa encontramos tanto indivíduos racistas como não-racistas. A discussão tem sido feita em termos maniqueístas e absolutos, i.e., de forma errada, porque a esmagadora maioria das pessoas não compreende que a realidade social é muito mais complexa que a sua mundividência e porque os actores políticos de ambos os lados têm interesse em alimentá-la naqueles termos para poderem dela retirar ganhos políticos.
Por último, permitam-me ainda sublinhar que se a direita persistir em deixar a esquerda reclamar como suas causas que deveriam ser transversais, ou seja, se deixar o combate às desigualdades económicas e sociais para a esquerda e continuar mais preocupada com certos espantalhos e os interesses de classes sociais privilegiadas, estará a condenar-se a uma ainda mais prolongada irrelevância política - leia-se, a não governar.
A figura de Marques Mendes nem sequer é controversa - é patética. Mas é a SIC que faz aquele boneco funcionar. O traficante de informação lá aparece semanalmente com postas frescas obtidas no mercado secundário da política. O homem vai à lota e não regateia as encomendas. Como aquilo que vende não é considerado fake news, ninguém o chateia muito. O porta-voz de tudo e todos pega no telemóvel logo pela manhã e colecciona temas e dilemas existenciais de partidos e políticos. A desregulação do mercado da informação e a ausência de regras de lobbying permite que um agente deste calibre possa veícular matéria de debate para encher a grelha do jornal e vender publicidade à antena de televisão. Ninguém pergunta nada, mas ele responde a tudo. É uma espécie de sucedâneo de si mesmo. Uma réplica crónica da sua mediania. Ou seja, na sua segunda vida de comentador de serviço, não consegue apagar a mediocridade da sua passagem política. O detective Mendes tem poderes especiais. Obtém dicas e rumores antes dos boatos. Avança com conjecturas depois do sucedido. Em suma, é um homem analógico. Chegamos a acreditar que os outros lhe concedem o beneplácito da confissão, da sinceridade. Se ele parece saber os factos antes dos eventos sucederem, penso que ele deve ser tido em conta na quota-parte da responsabilidade que decorre do conhecimento de causa. Num país de ligações especiais, canais de comunicação privilegiados, Marques Mendes é o mexilhão que rapa o tacho antes do jantar estar pronto. Por acaso gostava de saber quais são os seus fornecedores regulares, os traidores de cada agremiação partidária, provavelmente outros tristes caídos em desuso nas respectivas estruturas e direcções. Ou seja, a não ser que seja o próprio Presidente da República a preparar-lhe a ementa de considerações, serão outras figurinhas de segunda a fazer o take-away. O Mendes apenas tem de reaquecer os guisados, mas não sei se isso acrescenta grande coisa aos debates, à Democracia e à vida dos portugueses. O seu contributo é inócuo e serve de mea culpa colectiva. Depois podem todos seguir alegres e contentes, com a cartilha limpa pela explicação.
Quem ontem assistiu à Gala do Panamá, apresentada por Ricardo Costa, no programa o Expresso da meia-noite, teve a oportunidade de ver os jornalistas mais frouxos e comprometidos à face da Terra. A única convidada digna foi a Elisa Ferreira (Socialista - como podem ver, não estou a enviesar-me ideologicamente) que rebateu a tendência de relativização dos males dos offshores operada pelos jornalistas e os seus convidados. Se repararam com atenção, havia um nervoso miudinho por aquelas bandas. Parece que esta história pode comprometer certas pessoas. O que vale é que o jornal Expresso, assim como a TVI, não valem grande coisa no universo de jornalismo sério e idóneo. O que vai safar os portugueses, ávidos por saber quais os ex-ministros e afins metidos ao barulho, é que os jornalistas de meia-tigela desta praça não têm o exclusivo do franchising do escândalo. Se não for o Expresso ou a TVI a "botar a boca no trombone", poderemos contar com a irresistível força do disclosure que já está em marcha a nível internacional. Correio da Manhã? Mexe-te. O Expresso está tão orgulhoso por colocar três tristes tigres (um foi águia) na capa do seu semanário - Luís Portela, Manuel Vilarinho e Ilídio Pinho. Que vergonha. E desde quando o Expresso tem a autoridade para servir o público às pinguinhas? Portugal precisa de uma bomba. E sem demoras. O Expresso, em particular, deveria ser alvo de investigação do tal consórcio internacional de jornalistas. Há sempre toupeiras e traidores dentro das organizações.
Estou mais que habilitado para oferecer o meu testemunho sobre o debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho de ontem à noite. Não o vi. Não o escutei. Não sei quem ganhou ou quem perdeu. Não sei qual dos jornalistas brilhou. Não sei qual deles foi ofuscado. Não sei quantos ataques pessoais foram desferidos. Não sei quem assumiu a responsabilidade pela vinda da Troika. Não sei quem prometeu repor pensões. Não sei quem jurou não proceder a cortes de 600 milhões de euros. Não sei quem não se lembra de um certo ex-primeiro ministro que passou a prisão domicilária. Não sei quem disse não saber que os indicadores económicos melhoraram. Não sei quem confessou ignorar melhorias no nível de desemprego. Não sei quem se esqueceu da gestão da câmara municipal de Lisboa. Não sei quem encarou o desafio de consertar um país que estava estragado há várias décadas. Não sei que nada sei. Nem quero saber. Não sei quem prometeu pintar Portugal de um modo maravilhoso. Não sei quem disse ser muito melhor que o outro. Não sei qual foi canal com mais tele-espectadores. Não sei que certos jornalistas decidiram levar em ombros um dos entrevistados. Não sei quem sabe que as sondagens de nada valem. Não sei em que dia da semana calha o dia 4. Apenas sei que não voto porque não estou capacitado para tal.
(enviada à Fremantle International em nome de princípios universais)
copiar, colar, assinar e enviar à pressenquiries@fremantlemedia.com
Dear Sirs,
I address this letter in the name of certain principles that should prevail in our societies.
The Portuguese production version of the TV show IDOLS has gone overboard and humiliated a failed contestant making a mockery of one of his physical features - in this disrespectful case, his ears.
The MEDIA should NEVER be a vehicle for expressions of discrimination, racism or xenophobia. Although apologies were presented by SIC TV channel to the targeted contestant, I believe more must be done by the very ones that invented the original formula. In other words, the contract and implicit production and broadcast rights must be revised, OR EVEN CANCELLED.
Democracy, although consolidated in Portugal, must still fine tune some of its behaviors. An obligation that all open societies are subject to, East and West. All countries demonstrate distinct forms of imbalance, but if they were to go unnoticed and unchallenged, then deeper forms of betrayal would certainly flourish.
We have witnessed in Portugal, on a prime-time TV programme meant to entertain and amuse, a clear example of bullying that must also be condemned by the creators of the show. Fremantle Media International must produce a serious and responsible reply to this incident.
Yours Sincerely,
John Wolf
Por cá, duas semanas de catastrofismo, bolas de cristal, sondagismo e comentório da cada vez mais abominável SICk. Aqui está um resultado prenhe de ilações a tirar.
Qual quê? Silêncio certo e tão seguro como uma costa desértica.
Se houvesse alguma coerência e sentido de ética, a SIC já deveria ter prescindido de uma série de comentadores. Em vez disso, concede-lhes direito de antena - direito de resposta. Maria João Ruela, ou qualquer outro dos seus colegas dessa estação de televisão (ou de outra que queiram elencar), pode brincar às adivinhas, às perguntas e respostas, e fingir exercer jornalismo, mas não tem culpa no cartório. A repórter é um(a) pau-mandado e faz o que o patrão lhe manda fazer. O ex-ministro Miguel Macedo fez o que outros já fizeram (o barão do PS Jorge Coelho demitiu-se após a queda da ponte de Entre-os-Rios) e salvaguarda o princípio de responsabilidade política por mais remota que seja a sua ligação a forças desviantes, a erros de governação e ilegalidades. E essa regra transcende as interpretações decorrentes das minhas preferências ideológicas. Marques Mendes, embora inócuo e inconsequente, e de utilidade duvidosa, serve para ilustrar as várias nuances do absurdo que assola Portugal nos tempos que correm. O senhor explica " ter entrado nesta empresa com mais três pessoas depois de ter deixado a vida política ativa", mas sublinhou que nunca exerceu "qualquer cargo" e "por razões da vida" acabou "por não prestar qualquer atividade profissional a esta sociedade". Com o caneco; eu entro em minha casa todos os dias, sirvo-me da casa de banho, uso a cozinha e deito-me na minha cama, mas não digo que tenho casa há dez anos e que nunca me servi dela por razões de vida. Então por que carga de água Marques Mendes fez parte da empresa? Para servir de porteiro? Para decorar a fachada? Mas o homem não fica por aí. Aproveita a cadeira do estúdio para picar o ponto com: "Eu pauto-me por princípios e na vida tem de haver princípios, cada um responde pelos seus atos e em democracia, no Estado de Direito, ninguém está acima da lei, sejam amigos, sejam conhecidos, sejam parentes, sejam familiares, seja quem for, a lei é igual para todos e se alguém comete um ilícito tem de haver mão pesada da parte da Justiça", defendeu. Contudo, o mais grave destas cenas picarescas, é que para a semana que vem, bancadas repletas de cidadãos portugueses continuarão a sintonizar o tal canal para escutar com atenção mais balelas, ruelas - também sei encostar o queixo à mão.
fotografia JW por Kenton Thatcher www.kentonthatcher.com
Jogo limpo e política não combinam. Aliás, iria mais longe. Política é uma actividade suja pela sua própria natureza. Alguém no seu perfeito juízo acredita, por um instante sequer, que António Costa prescindiria da sua principal ferramenta de comunicação política? O alegado presidente da Câmara Municipal de Lisboa sabe muito bem que as batalhas se ganham nas televisões, em directo, ou enquanto motivo de reportagem das peregrinações de norte a sul do país. António José Seguro faz o que lhe compete. Expõe a vantagem comparativa do seu adversário, mas ao fazê-lo, demonstra as suas fragilidades. Contudo, a pergunta deve ser colocada de outra forma. A SIC apoia qual dos candidatos e porquê? A estação de televisão nem sequer é tímida na declaração da sua preferência. Existe uma relação histórica entre as vitórias socialistas e o tempo de antena cedido pela SIC. Assim foi na campanha de Guterres e assim será com António Costa, que não precisa nem deseja debates com Seguro. Costa tem feito um bypass a Seguro de um modo prepotente e com um sentido de desprezo deplorável. Trata o homem como se não existisse e este não encontra modo de dar nas vistas. António Costa tem uma agenda social carregada que lhe granjeia grande visibilidade. É a entrega do troféu da Volta a Portugal, é a primeira fila na Moda Lisboa, é a inauguração disto e daquilo, e, para Seguro, pouco sobra. Seguro tem rapidamente de inventar uma fórmula, de se lançar numa operação dirigida por si. Se eu fosse Seguro, participava numa conferência TED(io). Convidava membros parlamentares de todos os partidos, mas excluiria António Costa, para um debate em directo numa sala ampla com eco e tudo. Se eu dirigisse a campanha de Seguro, certamente que teria ideias um pouco mais ousadas e desconcertantes. Porque de politicamente correcto, este Seguro tem em demasia.
Porque é que o caso BES vai dar em nada? Porque Ricardo Salgado soube montar a sua defesa de um modo inexpugnável. Ao longo de décadas a família Espírito Santo foi envolvendo tudo e todos, resgatando para o seu círculo de dependência, políticos, empresários, partidos, instituições, fundações, clubes de futebol e homens de cultura. Quem são então os responsáveis pela promiscuidade e os ilícitos que decorrem de proximidades e conveniências? São todos. São todos os governos de Portugal havidos antes e depois do 25 de Abril. Foram todos os políticos próximos ou extintos pela perda de mandatos. E porque razão apenas agora rebenta a bomba do Grupo Espírito Santo? Em parte, ou integralmente, porque este seria o momento certo para arrasar com a candidatura de António Costa que assentou grande parte da gestão camarária na obra e na empreitada, na conversão imobiliária, e, umas instituições financeiras, mais do que outras, beneficiam com decisões políticas que implicam investimentos que apenas são possíveis com empréstimos da banca. Parece que o país inteiro sabe mas não quer saber quais as implicações desta teia de interesses. Ou é espectador ou participa no esquema. Manuel Salgado é primo de Ricardo Salgado? É apenas um detalhe, mas serve para ilustrar a promiscuidade, o antro de relações perigosas/proibídas em que se transformou Portugal. A pegada do BES é enorme e envolve tantas empresas e grupos económicos que assistiremos a um jogo de soma-zero, o exercício de lavagem colectiva de mãos - uma extensão da lavagem de dinheiros. Depois temos o falso jornalismo do grupo Impresa, pela voz da SIC ou através dos textos assinados no Expresso que ostenta a ilusão de um sistema de justiça implacável para gaudio do povo sedento de sangue. Três milhões para o bailout de Ricardo Salgado pode parecer muito à luz do Euromilhões, mas não passa de uma ninharia quando comparado com os juros que o país irá pagar nos próximos tempos pela quebra de confiança e o descalabro material, efectivo. Que se faça a lista de compras de supermercado para saber quem virou a cara a tanta prevaricação, e nesse longo rascunho estarão todos os convivas em que possam pensar - Sócrates, Cavaco Silva, Guterres, Manuela Ferreira Leite, Mário Soares, Passos Coelho, Duarte Lima (para mencionar apenas alguns), assim como célebres escritórios de advogados e empresas de constituição de offshores. Acreditam mesmo que veremos a luz do dia em relação a este caso? Se o BES cair, cai o país inteiro. Cai a PT. Cai a Caixa. Cai tudo. Caem todos. Seria bom que assim fosse, mas não me parece que Portugal abandonará as práticas que fazem parte da sua matriz, dos poderes que estão instalados e que foram contaminando o resto da paisagem económica e financeira. O Grupo Espírito Santo até pode evaporar, desaparecer da face da terra, mas o dia da ressurreição dará vida a um outro corpo, com outro nome, mas com os mesmos rituais de obediência e recompensa. Extravio, prevaricação, pecado por pouco.
Ainda não consegui perceber todos os contornos do fecho da televisão estatal Grega, mas podemos começar a gizar implicações de tal medida decorrente das condições impostas pela Troika. Os meios de comunicação social, de um modo geral, e sem excluir os de origem nacional, exprimem o drama que representa o despedimento de mais de 2500 trabalhadores da empresa pública Grega. E ficam por aí. Nada mais acrescentam à cessação de um dos sectores com maior sensibilidade política. Sem dúvida que o despedimento em massa é uma tragédia para somar a tantas outras, mas o relato não pode ficar por aqui. Somos obrigados a analisar as implicações políticas que resultam do corte dos canais de comunicação. O assalto à tomada que faz desvanecer as imagens dos ecrans e que leva também as vozes de protesto, é um assunto de extrema gravidade. Por um lado, e de um modo genérico, os regimes totalitários caminham de mãos dadas como os media. As televisões e as rádios estatais sempre foram megafones de notícias oficiais, mensagens tratadas em sede de favorecimento político, por forma a que os governos possam manter a população açaimada, à trela curta de informação. Sabemos todos que a Grécia (ainda) configura uma democracia e que esta decisão não foi tomada sem razão aparente, sem terem pensado nas implicações. O governo Grego, muito provavelmente, quis antecipar a revolta interna da estação de televisão; a implosão operada por dissidentes, opositores ao regime da Troika. Deste modo, antes que houvesse um caos desordenado, o governo Grego terá avançado para a perda definitiva de sinal, invocando razões de natureza orçamental. E esta decisão foi tomada porque o governo Grego terá assegurado a sua capacidade de comunicar por outra via. Através de uma plataforma mais vantajosa disponível no sector privado. Não é possível governar, mesmo que negativamente, estando totalmente às escuras. Em relação a isso não tenhamos dúvidas. Houve aqui, sem especularmos muito, jogadas de bastidores que garantem a vantagem dos poderes instalados. Imaginem que por motivos análogos, Portugal faz o mesmo; coloca a mira técnica da RTP no ar? Fecha a cadeado o portão dos estúdios de televisão e rádio. Manda calar a Fátima Campos Ferreira e selecciona uma estação de televisão do sector privado. Contrata os serviços de uma SIC ou de uma TVI. Estão a ver o filme? Estão a perceber o que está em causa? Se extrapolarmos o suficiente e os deixarmos, em breve lançarão um concurso público por forma a seleccionar o agente privado que melhor sirva os interesses do governo. Acontece que, no contexto actual de descalabro e descrédito, de crise política e de confiança, os interesses do governo são os falsos gémeos do bem-estar dos cidadãos. Se os governos fogem ao escrutínio da Res Publica e se escondem por detrás de uma cortina de silêncio, o resultado será ainda mais avassalador. Todos sabemos que é ofensivo desprezar os interlocutores. Ignorar a importância do diálogo é algo que viola a ética do progresso e é profundamente imoral. O que estamos a testemunhar colide com a Agora, os Sofistas e a invenção da retórica e da argumentação, nesse berço civilizacional, cada vez menos berço e que vai pelo nome de Grécia. Esta questão dramática não pode ser resolvida num programa de prós e contras, mas em defesa de direitos de expressão adquiridos com sangue, suor e lágrimas, não devemos assumir uma postura conformista. Pela primeira vez na vida peço para que não desliguem a televisão. Não estamos a assistir a ficção. Mas também não é um reality show.
Não chega a TVI elevar a pré-destaque o assunto da mala Chanel, no Jornal das 8 de anteontem, que vem, louca com um exclusivo, a SIC com uma entrevista a Pepa Xavier.
Só o facto de estas duas estações darem importância a este assunto, mostra-nos, telespectadores, várias coisas:
1- Desistiram de informação a sério: um fait-divers com honras de pré-destaque e entrevistas com a pivot é um atirar a toalha ao chão. As prioridades estão todas trocadas.
2- Não dá para mais: tentar fazer crer que a informação é cara e as grandes reportagens são longas e não dão lucro é mais uma lengalenga para desculpar a quebra no compromisso para os telespectadores. Ao dar palco a acontecimentos que dificilmente passariam por notícia estão a mentir a quem os vê, ouve ou lê.
3- Quem fica a ganhar é a RTP que nem se meteu no assunto: se órgãos, ditos de ''referencia'', como o Expresso, o Público ou o DN, também publicaram matéria sobre este assunto, vai um vale-tudo a esmifrar o assunto para ver quem ganha mais cliques e visualizações. Podem ter ganho algumas visitas extra, mas a grande vencedora é a RTP que soube que uns cliques não compram credibilidade.
Sobre a entrevista de Maria José Ruela, basta transcrever as perguntas para perguntar em que rua anda algum jornalismo português:
-Filipa, faça-me um verdadeiro desejo para 2013.
-Estava disponível para ajudar uma pessoa desempregada a vestir-se bem para uma entrevista de emprego?
-Acha que isso [a pergunta anterior] é um desejo legitimo para 2013, melhor que uma mala Chanel?
Devo confessar que simpatizei com o actor que representou o papel de especialista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O artista Artur Baptista da Silva convenceu a crítica com o seu desempenho. As várias nuances gravosas com que expressou os seus diálogos, o refinamento dos gestos que acompanháram os momentos de maior tensão dramática. Sim senhor. Isto é bom. Há anos que a SIC produz ficção em televisão, mas nunca havia atingido este grau de credibilidade. E isto é bom teatro, é quase sétima arte. O papel desempenhado foi maior que o homem - serviu o interesse nacional, por demonstrar que até os burlões estão seriamente preocupados com o estado da nação. E a SIC e o Expresso sentem-se ofendidos e querem vingar o desfalque. Porquê? Não concedem (todos os dias ou semanalmente) tempo de antena e páginas inteiras a mentirosos compulsivos, a farsantes profissionais? Nem vou responder. Só sei o seguinte; o Sr. Artur Baptista da Silva mostrou como se faz. Não apresentou uma amostra de diploma da Universidade Lusófona, não fez algumas cadeiras e não lhe ofereceram outras. Não senhor. O homem fez a coisa com estilo, com o grau de exigência de quem consome apenas o melhor. Um alto cargo na ONU, um mandato no Banco Mundial, um duplo doutoramento em Harvard, conferências internacionais. Enfim, a crème de la crème que não chega a ser crime, na minha humilde opinião. Pergunto, o que preferem: um dignatário credenciado que mente todos os dias ou um condenado a chamar as coisas pelos nomes? Qual dos dois oferece mais garantias neste mundo de poses e cartões de visita. O homem-embuste não disse nenhuma mentira, o seu nariz não cresceu nem decresceu. É patético que a SIC ou o jornal Expresso queiram processar o homem que lhes passou a perna. Fica demonstrado como funcionam as coisas nos meios de comunicação social. Em condições normais, a haver cabeças a rolar, nunca seria a do Baptista. Se desejam apurar responsabilidades e aplicar processos disciplinares, será na estação de televisão SIC ou no Expresso que isso tem de acontecer. Seria o expectável. Despedimento com justa causa por incompetência flagrante. O método investigativo desses meios de comunicação social revela o seu modus operandi. De nada serve o Nicolau Santos retirar o laço e aparecer de camisa de ganga, num registo de hippie enganado, e apregoar que em décadas de carreira nada disto lhe havia acontecido. Não senhor. Assim não vão lá. Agora vão ser obrigados a confirmar a identidade de todos que se apresentam ao serviço ou aqueles que se fazem de convidados. Será que sou quem sou? Ou será que isto não passa de uma invenção da minha cabeça equivocada pela quadra natalícia? São muitas perguntas deixadas no ar pelo pai Natal.
Parece que teremos uma reedição da frente de esquerda de outros tempos, mas desta vez amalgamando Estaline e Trotsky. Pelo menos, é isso que o Grande Coordenador Louçã parece desejar, mesmo que a contragosto. Seria excelente verificarmos a mistura daquela água choca da Lubianka, com o mais fino azeite da Lapa. Enfim, urge começarmos desde já a sugerir siglas para essa possível frente eleitoral comuno-comuna. Já tivemos outras noutros tempos e deram no que deram de tal forma, que hoje em dia o PC sujeitou-se a capturar a denominação do partido demo-cristão da sra. Merkel: CDU.
Nos idos anos de 1976, existiu a FEPU - nos seus melhores dias atingiria a bonita soma de 19,04% dos votos, arrebanhados pelo PC, MDP-Tengarrinha e FSP do Manecas das Intentas -, logo seguida da APU dos 18,8%. Outros tempos, mas de possível e desejável remix.
Aceitam-se sugestões.
A caricatura de Cid era mais ou menos isto. "Pescada" aqui
Dele apenas conservo a lembrança da fabulosa caricatura de Cid - hoje difícil de encontrar, não se sabe bem porquê, a não ser num ou noutro alfarrabista -, em que aparecia um tipo de cabelo oleoso e com entradas, sem olhos ou nariz, mas de dentuça arreganhada. Nos cartoons surgia sempre como Balsinha, o que também nos dá uma ideia acerca da falta de imaginação da nossa "secreta" que se atreveu a reutilizar o nome de uma paródia que muitos ainda recordam com gozo. Que desleixo!
Há uns dias, no suburbano pastiche Globos d'Ouro, surgiu um estrondoso auto-elogio que agora pode ser facilmente entendido como um ataque preventivo, bem à maneira das antigas preparações de artilharia na frente leste. Quem durante anos a fio leu o seu semanário, viu os noticiários e ouviu o rol de comentadeiros no seu canal de televisão, terá deparado com um ininterrupto manchar de reputações - nalguns casos com toda a razão, há que dizê-lo -, estorietas que tresandavam a invencionice para vender papelada, insinuações e outros saltos mortais sempre em prejuízo de outrem.
Pouco nos importa saber algo acerca da vida privada do fulano, mas será um saboroso aperitivo a degustar pelo seu público habitual, qualquer informação acerca das actividades do grupo em que pontifica. Em suma, os nossos Murdoch ao estilo berlusconiano, deverão explicar o porquê da sanha contra toda e qualquer concorrência mediática que garanta a democracia na informação, venha ela de grupos empresariais ou da própria futura televisão a sair de um dos canais da estatal RTP.
Bem a propósito, aqui está um exemplo tirado deste site:
José Gomes Ferreira diz toda a verdade na SIC.
Quando um jornalista(?) como Crespo se arma em comentador e fala sobre o que não sabe o resultado é este. Se estivessemos num jogo de futebol, e após o terceiro apito do árbitro, o marcador assinalaria a goleada. Foi a primeira declaração pública de relevo do futuro secretário-geral da CGTP. Na linha firme dos anteriores, os comunistas não brincam em serviço: pode não se concordar com tudo mas ali há muita qualidade. E muitas verdades foram ditas para desgosto do entrevistador.
O "cabeça de lista" por Lisboa do Partido da Terra em entrevista à SIC. Mais notícias aqui.