por John Wolf, em 05.09.15

Aviso
Informo os leitores deste artigo para a violência contida na linguagem e as imagens gráficas que podem ferir os mais sensíveis.
A alteração da medida de coacção de José Sócrates, de prisão preventiva no estabelecimento prisional (#44) em Évora para prisão domiciliária sem pulseira electrónica em Lisboa (#33), significa, em termos substantivos, que o processo está a avançar no sentido correcto e expectável. Os indícios de prática dos crimes que lhe são imputados serão por esta hora provas que constarão de uma acusação formal. Por mais que Sócrates coloque um sorriso de triunfador com saída em ombros, a verdade é que em breve teremos notícias da acusação e dos elementos que sustentam a mesma ou mesmas. Os quase dez meses de "infâmia" serviram certamente para solidificar os factos que lhe vinham sendo imputados. Quem esperou este tempo todo pode esperar mais um pouco. Não me refiro a Sócrates. É o povo de Portugal que merece a nossa maior consideração.
Notas
- Os jornalistas da TVI e SIC, nos seus programas de serviço notícioso, revelaram a sua enorme mediocridade e a sua vocação para abandonar os princípios deontológicos que são a espinha dorsal do exercício da sua profissão: viraram a casaca. A partir do momento que a alteração da medida de coacção foi conhecida, apressaram-se a "lavar" a culpa de Sócrates, invocando artigos e códigos de Direito Penal para dirimir os seus pecados, para readmití-lo na sociedade de que fazem parte - Rogério Alves e outros colaboracionistas deram uma ajuda preciosa. Por alguma razão temem o ex-primeiro ministro. Devem-lhe favores? Ou apenas faltará aos jornalistas matéria para vender aos anunciantes? Não sei. Não tenho a resposta, mas já vimos isto antes - o sistema a revelar a sua podridão ética.
- Os refugiados sírios e de outras nacionalidades que abandonam cenários de guerra e conflito, regimes desprovidos de Democracia, tudo farão para chegar à Europa. São casos como o de Sócrates que lhes dão alento. Nos seus territórios, que já nem se assemelham a países, processos de presumíveis delinquentes como Sócrates, já teriam transitado em julgado passadas algumas horas após a detenção, e face aos crimes em causa, as mãos do acusado já teriam sido cortadas ou o mesmo já teria sido enforcado na praça pública ou atirado do alto de um prédio. Por estas razões de cultura democrática da Europa, Sócrates pode sorrir à vontade, nasceu com a presunção virada para a lua. Portugal dar-lhe-á o tratamento justo - acreditem. Pode demorar, mas Sócrates vingará o sistema judicial de Portugal, tantas vezes vilipendiado e difamado quer por deputados, partidos, advogados, juízes, magistrados superiores ou demais praticantes de política - ou seja, os mesmos que criaram o sistema, que plantaram a matriz judicial neste país.
- António Costa, por outro lado, bem que tentou fingir a normalidade dos dias que correm assim que foi agarrado por uma jornalista-estagiária com a notícia, mas tem em mãos um caso bicudo. O seu camarada Sócrates, a quem deseja suceder como chefe de Portugal, irá colocar a boca no trompete. Sim, no trompete. Não acredito que colocará a lábia no trombone. O trompete implica guinchar por isto e por aquilo, provavelmente numa entrevista palmada por um dos pasquins que lhe tem seguido os passos com muita dedicação. Soprar aos ventos do trombone estará reservado para quando a acusação formal for anunciada. Nesse momento de desespero, o radical Sócrates servir-se-á de tudo para lançar espalhafato, e arrastará para o lodo associados poupados até ao momento.
- A um mês das eleições o timing para alteração da medida de coacção não poderia ter sido melhor. Agora dirão que Carlos Alexandre é membro-sombra da coligação, que recebeu um telefonema deste ou daquele, mas em termos substantivos estará apenas a fazer o que lhe compete. O momento não é nada bom para o Partido Socialista. Mas o juiz não controla as horas nem a agenda dos partidos. O assunto Sócrates volta a ocupar uma posição central nos escaparates pré-eleitorais. E o reavivar da memória da existência de alguém que deixou Portugal em estado lastimoso e que assinou o memorando de entendimento com a Troika não constitui um tabu - é coisa boa. A história persegue os homens, embora eles julguem o contrário.