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Odeio quando contam apenas metade da história e o espectador é obrigado a preencher os buracos da narrativa. Mário Centeno parece insistir na ficção dos SMS, mas noutro domínio. O recorde Guinness do défice mais baixo das últimas quatro décadas esconde alguns factos relevantes. O mesmo é cozinhado à custa do superavit primário e não leva em conta a bengala colateral do Banco Central Europeu (BCE) que empresta o andarilho do programa de compra de títulos de tesouro. Mesmo assim a taxa de juro a 10 anos anda pelas ruas da amargura. Assim também eu bato marcas oficiais. A austeridade, traduzida em impostos e taxas do governo anterior, não foi enxotada nem de longe nem de perto. Ou seja, a geringonça deve agradecer aos que a antecederam e que foram obrigados a instituir as penalizações tributárias. Se fossem só ginjas, António Costa já tinha despachado a carga fiscal sentida por milhões de portugueses. Mas há mais. O investimento público, gerador de receitas, ou seja, os verdadeiros bens de capital, não se avistam - não se ouvem notícias de empresas a escolher Portugal como destino de investimento. A conversa do aeródromo Soares também é um erro de percepção mútua. Cria a falsa expectativa, já vivida antes, em torno de Otas e afins, e despoleta aquilo que os socialistas fazem com mestria - a especulação imobiliária dos terrenos circundantes e a concessão de favores a construtoras amigas. Existe aqui um padrão de comportamento claramente identificável. O turismo continua a servir de avalista para promessas políticas de perna curta. A dívida, que convenientemente tem sido ignorada, já ultrapassou a fasquia dos 130% do PIB, mas esse detalhe pode ser escamoteado com umas belas tricas de SMS. A geringonça deve agradecer a oposição pelo alarido em torno dos SMS, a CGD, e os actores Domingues e Centeno. Esse espectáculo encaixa bem no circo de distracções. Quando a torneira do BCE for fechada, quero ver como aguentam a tesouraria. Entretanto, temos Costa em campanha autárquica acompanhado por Marcelo Rebelo de Sousa que também terá culpas no cartório. Seria tão bom que o mundo fosse assim cor de rosa. E sem SMS desnecessários.
Tenho algumas questões a colocar ao operador. Um. Como é que António Costa obtém o número de telemóvel privado do jornalista do Expresso João Vieira Pereira? Dois. Já o tinha? Três.Telefonou à redacção do jornal para pedir o número ou cravou-o ao irmão? Quatro. Será que já tinha marcado o número privado do jornalista no seu smartphone? Cinco. Quantos números privados de jornalistas terá António Costa na sua carteira? Seis. Será que julga que pode exercer pressão beneficiando de um estatuto de imunidade/impunidade política? Sete. O envio do SMS a um "desconhecido" não configura um modo de assédio punível por lei? Oito. Qual o quadro de valores éticos que orienta a acção do candidato a primeiro-ministro deste país? Nove. Será que o envio de mensagens pela "porta do cavalo" faz parte do caderno de encargos do Partido Socialista? Dez. E desde quando é que argumentação racional e objectiva constitui um atentado ao carácter de António Costa? Onze. O que mais devemos esperar do candidato socialista? Doze. Será que não aguenta a natural pressão decorrente das suas pretensões políticas? Treze. Esperemos pelo próximo SMS.
Alberto Gonçalves, discorrendo sobre o fenómeno das SMS e apontando a sua gradual substituição pelo Facebook, escreve hoje algo que vai ao encontro de uma tendência no Facebook que me deixa cada vez mais exasperado. Eu não ando por aí nos murais de outras pessoas a fazer propaganda às minhas ideias políticas, nem me acho no direito de ir aos murais de quem discordo começar debates intermináveis, mas há quem ache que o meu espaço no Facebook pode servir para debitarem todo o tipo de disparates e propaganda. Às vezes ignoro, outras vezes respondo, mas cada vez vou tendo menos paciência, especialmente porque o tempo é precioso e não pode ser simplesmente desperdiçado em esforços inúteis. Escreve assim o colunista do DN: «Já não me lembrava, mas houve um tempo em que vivíamos descansados, sem o risco de que alguém suficientemente descarado para se julgar nosso amigalhaço e insuficientemente amigalhaço para ligar ou aparecer cá em casa perturbasse o nosso descanso com disparates.»