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O Partido Socialista parece começar a entender as implicações da porcaria deixada pelo camarada Sócrates. Os socialistas têm dois caminhos à escolha: ou sim ou sopas. Se continuarem ao lado do recluso número 44, correm o risco (já correram, porventura) de contaminar os altos princípios e valores que norteiam a sua casa. Por outras palavras, os socialistas já devem saber que há muito pouco que podem fazer para safar o amigo. Neste intervalo, durante o qual as visitas a Évora foram mais que as mães, as investigações avançaram ainda mais, e todas as balelas de Soares sobre a inexistência de provas já não servem, se é que alguma vez serviram, para alguma coisa. Por esta ordem de ideias vai imperar a máxima: se não os podes vencer junta-te a eles. Os socialistas temem que o diabo vá tecê-las mesmo em cima de calendário eleitoral. Não seria muito simpático para António Costa ter de lidar com o proferir de sentença de Sócrates à boca das urnas. O secretário-geral, e candidato a candidato a primeiro-ministro, já tem problemas suficientes causados pelo conservador de soberanias europeias chamado Tsipras. No entanto, há algo de bizarro no entusiasmo da proposta legislativa. Confiscar os bens dos políticos significa exactamente o quê? Que a licença para o exercício da actividade política se mantém intacta mesmo após a determinação de ilícitos? Ah! Já percebi. É a ideologia, estúpido. Por serem socialistas acreditam na reintegração de delinquentes na sociedade, na tal ideia de justiça e solidariedade para como aqueles caídos em infâmia, perdão, desgraça. Como podem ver, não arrastei os bloquistas para estas arrelias. E há uma razão para tal, que se consubstancia na folha limpa daquele partido. Por mais que não alinhemos com as infantilidades de Catarina Martins e seus colegas, a verdade é que (por enquanto) nada há apontar na folha de cálculo de corrupção que eventualmente lhes diz respeito. Mas voltando aos socialistas, não sei se esta meia-mea culpa basta. Eles sabem que, possivelmente dentro do seu regime, da sua organização, há muito material de político alheio que pode vir a ser confiscado assim sem mais nem menos. É o que dá ter telhados de vidro pagos por um Santos Silva ou um sucedâneo qualquer.
Por vezes, nós, os comentadores das politiques quotidianas, esqueçemo-nos, talvez inconscientemente, de firmar, em pratos limpos, o óbvio. E o óbvio, nas últimas semanas, é o crescendo da violência verbal na política portuguesa. Por norma, a violência verbal proclamada pelos profetas jacobineiros não tem uma correspondência visível no dia-a-dia dos portugueses. O zé povinho sabe, com antecedência, que os clamores soaristas, prenhes de ódio e ressentimento, são uma mera descarga de adrenalina de um político freneticamente habituado à propagação de dichotes e à boa vida marialva. Aliás, não faço, ao contrário de muitos, parte do clube que dá grande valor à maledicência dos decanos regimentais, por uma razão simplicíssima: é evidente que, num cenário de aumento exponencial da violência, com repercussões no sistema político, Mário Soares e os respectivos compagnons de route seriam, com grande previsibilidade, os primeiros a apanhar, perdoem-me a expressão vernacular, no lombo. A vida é mesmo assim, e Soares, ainda que inconscientemente dominado pelos ardores de quem não aceita a alternância democrática, sabe que brincar com o fogo traduz-se, quase sempre, em péssimos resultados. Dito isto, é imperioso reconhecer que os apelos formulados por algumas notabilidades treteiras demonstram, se dúvidas existissem, que o faccionalismo socialista já não é capaz de tragar a legalidade democrática vigente. É certo que a violência papagueada pelos Lourenços e Rosetas não passa de uma converseta cheia de perdigotos, em que a aparência é tomada, com alguma burrice, pela realidade. Estes senhores sabem, perfeitamente, que aquilo que propuseram é, mais do que desaconselhável, uma enormíssima asneira. Mas é, igualmente, verdade que a irresponsabilidade de que se têm revestido visa, em última instância, deslegitimar o executivo perante a opinião pública, criando, ou pelo menos, ajudando a criar, as condições favoráveis à desestabilização violenta da ordem instituída. No fundo, atendendo à história pátria dos últimos 100 anos, nada do que se tem passado constitui uma assinalável surpresa. A canalhada jacobina entende, há muito, que o domínio das instituições demanda uma hegemonia que, a não ser efectivada pelos meios legais, terá, obrigatoriamente, de recorrer à brutalidade da violência armada. As condições presentes são, claramente, distintas das que caracterizavam o Portugal de antanho, mas Soares, devido provavelmente à sua parca formação política, continua, pelos vistos, a crer que a direita não dispõe do direito a governar o país, pelo que o único caminho a tomar, em caso de teimosia das gentes da não-esquerda, é a desestabilização política, com recurso, caso seja necessário, à violência de rua. Uma coisa é certa: se o presente exercício governativo falhar, a direita, sob os auspícios deste regime, jamais será capaz de governar em verdadeira paz de espírito com os seus e com os portugueses. Para bom entendedor meia palavra basta. Com gente desta é impossível fazer seja o que for de bom e positivo pelo país. Que a direita tire as suas próprias conclusões, é o que se exige por agora. E que vá, de preferência, a tempo.
Começo a pensar que existe relação de sangue entre Mário Soares e José Sócrates. A relação simbiótica entre os dois merece um documentário do National Geographic. Há qualquer coisa aqui de empatia entre o hipopótamo e o pássaro que cata a carraça escondida atrás da orelha. Não sabemos se Soares vê em Sócrates o filho político que nunca teve, ou se pretende, com estas afirmações tontas, ajudar as causas socialistas. E desde quando é que os portugueses tiveram de aprender com os franceses a fazer política? Sem dúvida que existiram grandes pensadores políticos franceses, mas não foram contemporâneos de Soares ou Sócrates. São intemporais e pertença inegável de todos nós - amigos socialistas ou nem por isso. Alexis de Tocqueville, embora francês, contribuiu para o pensamento e a acção política norte-americana. Ou seja, o capitalismo diametralmente oposto ao socialismo, também radica nos franceses. Rousseau, por sua vez, esteve efectivamente exilado no sentido mais dramático e político. Soares, embora se queira apresentar como membro do clube dos diasporizados, que eu saiba, nunca conheceu os calabouços que Mandela experimentou ou a tortura de compatriotas caídos na malha limoeira da PIDE. O estudo comparativo de Soares deve ser considerado insultuoso e ofensivo por distintas razões. Portugal conheceu casos mais extremos de perseguição política e os visados não tiveram a sorte de sobreviver numa gaiola dourada em Paris. Quanto a Sócrates e o seu destino academico infantil, não encontro termo de comparação com o que quer que seja. Quatro anos de estadia de Soares, somados a dois anos de lua de mel de Sócrates, não produzem grandes dividendos políticos. Se quisermos ser cínicos e pouco complacentes, poderemos dizer, ao abrigo do contraditório, que os ares franceses podem ter contribuído negativamente para o modelo económico e social sonhado para Portugal no verão quente de 74 ou em tempos políticos mais recentes (A Europa, as Comunidades e a União Europeia estão a ser postas em causa e não o contrário). Parece que cada vez que Portugal e os seus governantes se viram para o exterior a coisa não corre de feição. E se Seguro um dia quiser estudar na Alemanha, será que poderá regressar com o crachá de exilado agrafado ao peito? Soares e Sócrates regressam de diferentes passados políticos, mas nem sequer podem ser chamados de retornados. Se Soares se quiser comparar a alguém, talvez se possa equiparar a Machete. Cada vez que abrem a boca entornam o caldo.
O ódio a Paulo Portas continua em alta. A razão de tamanha cegueira é fácil de perscrutar: o regime tem os seus favoritos, e, numa cultura de favoritismo distribuído a preceito, o ego alheio é sempre uma ameaça à estabilidade cósmica do modo-habitual-de-fazer-as-coisas. Soares é um bom exemplo do amiguismo atrás referido. Diz o papá do regime, na entrevista que deu, hoje, ao periódico I, que "a promoção do vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que Cavaco Silva teve de engolir depois de ter dito publicamente o contrário, como o país todo sabe, não augura nada de bom". Não augura nada de bom para quem? Para os fautores do amiguismo socialista? Provavelmente, não. Para o país, a resposta é, muito provavelmente, diferente. Mais à frente, Soares acrescenta que Portas não é "a pessoa indicada para discutir com a troika". Não é? Porquê? António Costa é a pessoa mais indicada? Porque é que Paulo Portas não é a personalidade política mais indicada para essa negociação? A resposta não é difícil de antolhar: se Portas conseguir, com bons resultados, acomodar os interesses nacionais nas negociações a encetar com a troika, é evidente que o peso político do actual vice-primeiro-ministro subirá em flecha. Como é simples de calcular, os donos do regime não desejam um desfecho em que Paulo Portas possa capitalizar politicamente os ganhos de uma boa negociação com os credores internacionais. O que importa a este gente é que o Governo falhe clamorosamente na concretização dos objectivos a que se propôs. Quando o ódio é assim tão pronunciado, o melhor mesmo é agir com celeridade, acautelando o que verdadeiramente interessa: o bem-estar dos portugueses.
O petismo é, de facto, um poiso de petralhas, para usar o jargão do indispensável Reinaldo Azevedo. Só isso explica o porquê de a "presidenta" do Brasil, Dilma Rousseff, ter estado, em primeiro lugar, com António José Seguro e Mário Soares aquando da sua chegada ao país. Há gestos que definem um(a) político(a). E este foi um deles. Misturar uma visita de estado com lamechices de cunho político-partidário é tudo, mas rigorosamente tudo o que um chefe de Estado não deve fazer. Se não ensinaram isso a Dilma, lamento. Ainda para mais sabendo que tem no elenco governativo que lidera um diplomata da estirpe de António Patriota. Mas adiante. A única questão que importa colocar é saber se Aníbal Cavaco Silva, chefe desta República da treta, teve a coragem suficiente para fazer o devido reparo à dita "presidenta". Duvido que o tenha feito. Cavaco não sabe o que significa a palavra coragem. Nunca soube. Quanto a Seguro, a única coisa que me apraz perguntar é o seguinte: no grupo de Bilderberg também se ensina a tripudiar o protocolo de visitas de Estado? Provavelmente, sim. A esquerda lusófona é mesmo uma súcia. Valha-nos Deus.
O Rafael abordou há pouco a enésima atoarda do papá da República, o decano Mário Soares. Pelos vistos, segundo o venerando ex-presidente e ex-tudo, Paulo Portas tem sido chantageado pelo Governo. Estão a ver a lógica da coisa? Imaginem o seguinte: Portas, num belo dia de Verão, resolveu juntar-se a Passos e dar-lhe , em conformidade com os parâmetros estabelecidos pelo seu partido, um apoio político bem delimitado, exigindo em troca algumas pastas ministeriais. Contudo, passado algum tempo, Passos, o suserano-mor, após uma breve indisposição, decidiu cortar as asas a Portas, chantageando-o e intimando-o. "Ou aceitas o que te digo, ou ponho cá para fora o teu envolvimento no caso dos submarinos". Sim, caríssimos leitores, não é difícil imaginar esta cena operática. Passos, um vilão torpe, passe o pleonasmo, ameaçou entalar a reputação de Portas, usando para isso a chantagem do xadrez. Ou sim, ou cadeia. Agora, um pouco mais a sério: Soares vive em que planeta? Marte? Há limites para a estultícia, ainda para mais quando é do domínio público que Soares nunca foi flor que se cheire. Mais: ouvir Soares pronunciar a palavra chantagem é quase o mesmo que associar Jorge Jesus à vitória final no campeonato. A dissonância cognitiva tem destas coisas.
Soares falou. E quando o pai-da-fundação-custeada-por-todos-nós fala, a probabilidade de ouvirmos um disparate tonitruante é, efectivamente, enorme. Pelos vistos, o mentor da capitulação de Sócrates perante o FMI anda a falar com gente dos partidos da coligação com o objectivo de derrubar o Governo. Isto não vos soa a golpismo? É que em qualquer outro país, que seja democrático e civilizado, afirmações destas já teriam dado lugar a um grande bruáaa. Mas estamos em Portugal. Sim, o problema é esse, estamos em Portugal. E neste país o realismo mágico domina e escavaca tudo. Mais: se Soares tivesse um pingo de vergonha na cara não abriria mais a boca, nem sequer para propor coligações entre a esquerda. Podemos estar muito mal, e, de facto, estamos, mas com gente desta na oposição é melhor não arriscar. O país e o regime não aguentarão muito tempo com elites tão desconchavadas.