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O ano está no fim e o balanço é francamente mau.
Governa um Governo que não nasce de umas eleições, mas de um acordo parlamentar entre socialistas e partidos que por um princípio de equidade, nem deviam ter representação parlamentar (estão proibidos constitucionalmente os partidos de extrema direita ou fascistas, logo comunistas e extrema esquerda deviam levar pela mesma medida).
Este governo atira-se aos impostos como fonte de financiamento do estado (o que, modestamente, não me parece o caminho) e obviamente vai afastando presumíveis investidores externos.
O PR eleito por uma vasta maioria, revela uma necessidade premente de estar em todo o lado, tornando-se num hiperactivo Primeiro-ministro, um super Presidente da República sempre bem com Deus e com o diabo (afinal, foi sempre esse o seu percurso).
A área de fogo ardida foi este ano várias vezes superior ao "normal".
O super juiz é pressionado por forças "ocultas" para deixar Sócrates viver em paz dos seus rendimentos.
Para finalizar, o casal homossexual mais mediático e cheio de filhos adoptados iniciou um processo de divórcio.
Não sei que mais poderá acontecer, mas até ao fim do ano ainda alguma água vai passar por baixo da velha ponte sobre o Tejo.
Estava a esquecer-me do Presidente não eleito da capital, que tem demonstrado ser um verdadeiro tripeiro e adepto de bicicletas.
Como é de moda dizer, " fiquem bem".
O Estado Sentido teve acesso ao dialogo entre Noronha do Nascimento, ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, que ordenou a destruição das escutas a José Sócrates, e Pinto Monteiro, ex-procurador-geral que cumpriu a ordem, durante a apresentação do livro do ex-primeiro ministro.
Noronha de Nascimento (NN): Ó camarada, cá estamos, não é?
Pinto Monteiro (PM): É verdade. Como foram as férias?
NN: Porreiras, pá. Esta coisa da jubilação prévia é fixe. Sabes, aquela coisa das escutas do Zé, deixaram-me sem cabelo.
PM: Também nunca tiveste muito, isso aí à frente parece uma pista de aterragem. De bombardeiros.
NN: Sempre com as piadolas. Olha que tu, fazes o que eu digo e ganhas uma Grã-Cruz. Era de quê mesmo?
PM: Ordem Militar de Cristo, por serviços públicos à pátria.
NN: Ehehe, já viste? Quem é teu amigo?
PM: O Cavaco? Foi ele que me deu esta coisa. É pesada... Olha, o Zé vai falar!
NN: Mais ainda? Já não chega o stress que tivemos à pala das conversas dele? O gajo não aprende.
PM: O Mário Soares chamou-o de engenheiro, não foi?
NN: Pá, não gozes com os velhotes que vamos lá chegar.
PM: Se fosse com a reforma do bochechas era fixe.
PM: Já agora, porque é que vieste? Eu já disse aos jornalistas que tinha sido convidado.
NN: Pois, o Zé, às vezes, é parvo. Eu disse-lhe para se manter quieto e sossegado e o gajo parece que anda com fogo no rabo, sempre de um lado para o outro.
PM: Piadas à Santana Lopes, Nascimento?
NN: Nada disso. Pá, só vi aqui para saber se estou nos agradecimentos. Quer dizer, se não fosse eu, e tu um bocadinho, o gajo em vez de escrever sobre tortura nos países escrevia sobre tortura nas prisões. E provavelmente, seria autobiográfico.
PM: Coitado do homem... Cuidado, ele vem aí. Finge que não me conheces!
E pronto, fica lançado o exclusivo. Este dialogo é veridico. Mas as escutas que possibilitaram a transcrição foram destruídas. Acabei de as deitar para o caixote de lixo.
Seguindo o método do Rui A., aqui fica a minha lista de vencedores e vencidos:
Vencedores: Paulo Portas, Rui Moreira, António Costa e José Sócrates.
Vencidos: Passos Coelho, Luís Filipe Menezes, António José Seguro, Alberto João Jardim e Vítor Baía.
O esgoto a céu aberto que o Samuel denuncia no seu post de hoje é apenas uma de entre incontáveis pústulas purulentas gretadas na derme de Portugal desde a tomada de assalto de que o país foi alvo após o 25 de Abril, agravada com a chuva dourada sacada aos contribuintes de outros países a partir da adesão à UE.
Com efeito, nas imortais palavras de Alberto Pimenta, em Portugal o sonho do pequeno filho da puta é ser um grande filho da puta, propósito que os filhos da Revolucinha perseguem com afinco draconiano, ou melhor dizendo, draculiano.
Se eu pudesse caracterizar esta cloaca infecta numa só frase, escolheria dizer que Portugal é a negação do ditado "quem não deve não teme": neste bairro do inferno, é exactamente o oposto que sucede.
Quem é que nunca foi ameaçado por um qualquer sequaz das maiorias vigentes, ao pisar-lhe os calos em diferendo profissional?
Quem é que nunca ouviu da boca de uma ex-namorada o alerta "olha que ele é informático nas Finanças, troca lá uns dados e lixa-te a vida"?
Quem é que nunca se viu ultrapassado numa repartição pública, da mais singela estação de Correios ao Hospital mais apinhado, por um palhaço qualquer vizinho dos funcionários de serviço?
Quem é que pode hoje existir sem saltar um batimento cardíaco de cada vez que o carteiro vem e deposita uma carta registada?
E no entanto nada acontece? A bola e o humor de WC continuam mais fortes que a hemoglobina?
Mesmo quando era inegável o fim que isto ia ter?
Mereceis quanto vier pela porta.
Bom dia a todos.
O título do meu post de ontem é de um filme realizado por Walter Hill em 1981. Nele, um grupo de homens americanos, compondo uma patrulha da Guarda Nacional em exercício de rotina, é confrontado com o mais traiçoeiro e imprevisível de todos os inimigos.
À semelhança do que acontece quando, na esfera individual, o corpo trai o seu hospedeiro e se vira contra si mesmo, também a terra sobre a qual edificamos sociedades pode albergar, em latência, adversários prontos a demonstrar a fragilidade e o carácter efémero, transitório, de tudo quanto sobre ela se constrói, realçando o paradoxo da condição humana enquanto grãos de poeira cósmica que brilham com fulgor até à sua extinção meros instantes depois.
No mesmo ano, na sua apreciação do filme, denotou Roger Ebert a evidente e previsível metáfora em torno da guerra no Vietname, alvitrando, e eu tenderia a concordar, do carácter intencional dessa previsibilidade. De facto, Hill deixa aos actores pouca - se alguma - margem para a composição das personagens, urdindo com mestria o impacto avassalador da Natureza e das cambiantes rítmicas ao longo do filme. Não deve ser desprezada, contribuindo para este efeito, a banda sonora de Ry Cooder, cujas construções atmosféricas realçam a verosimilhança do argumento. Às personagens, assim, é conferido um estatuto estatisticamente plausível, palpável, representativo.
As árvores, pântanos, montes e valas assistem serenas ao desenrolar da trama, e dos adversários também ficamos com a ideia que sempre ali estiveram e sempre ali estarão.
O civilizadíssimo grupo reage aos doestos que lhes são dirigidos com pânico, perplexidade, descrença e anarquia. Reverbera-me a familiar, de repente, nesta época de entropia acrescida. E foi aqui que a obra me fez querer revê-la pela enésima vez por perceber nela, com ou sem intenção, um carácter visionário.
Certos atributos da humanidade, senão mesmo todos, obedecem às mesmas leis da Natureza que regem a estrutura do Universo, às escalas do infinitamente grande e da invisível pequenez. A amostragem das personagens é válida para a América de 1981 como sê-lo-ia para qualquer país ocidentalizado, trinta anos depois. Talvez até com maior correlação na nossa actual portugalidade.
O eleitorado nada faz senão seguir o ciclo de Kübler-Ross: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. A fase da negação durou duas décadas, mais ou menos o mesmo período dominado pelo socialismo espertalhaço, preconizado por Soares, Cavaco, Guterres, Durão e Sócrates, e ancorado conforme já referi em sucessivos sufrágios em que foi sempre a inconsequência a maior vencedora.
Estamos na fase da raiva, que por definição não pode durar mais vinte anos. Alguns dos instalados já perceberam isto, e tentam apressar a entrada no próximo estágio, o da negociação. António José Seguro, por exemplo, fá-lo com o intelecto de um protozoário. Outros há, em todo o espectro ideológico, que sucumbem a uma falência cognitiva sem retorno, mais valendo calarem-se de vez.
Como sempre, a descoordenação é ubíqua e paira no ar a questão acerca do paradeiro dos adversários. De um sabe-se que já assoma novamente com a cabeça de fora: a Besta de Alijó, o filósofo de Paris, Aquele Cujo Nome Não Dizemos, e que fareja o poder como sabujo em manhã de Agosto. Outros afiam as presas na esperança de poderem parasitar a confusão instalada.
O eleitorado marca vigílias. Está portanto mais perto da depressão, não podendo negociar.
A mim, particularmente, não agradaria que isto terminasse em aceitação.