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Repitam comigo: a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável, a dívida é insustentável.
Albert Camus, A Peste:
«Ao meio-dia, hora gelada, o médico, que saíra do carro, olhava de longe Grand, quase colado a uma montra cheia de brinquedos grosseiramente esculpidos em madeira. Pelo rosto do velho funcionário, as lágrimas corriam sem interrupção. E essas lágrimas perturbaram Rieux, porque as compreendia e as sentia também no fundo da sua garganta. Também ele se lembrava daquele infeliz noivado, em frente de uma loja de Natal, e de Jeanne voltada para ele para lhe dizer que estava contente. Do fundo desses anos longínquos, no próprio coração desta loucura, era certo que a voz fresca de Jeanne voltava até Grand. Rieux sabia o que pensava neste minuto aquele velho, que chorava e julgava, como ele, que este mundo sem amor era como um mundo morto e que chega sempre uma hora em que nos cansamos das prisões, do trabalho e da coragem, para reclamar o rosto de um ente e o coração maravilhado da ternura.»
Leitura complementar (posts desta série): Um; Dois; Três; Quatro.
José Luís Nunes Martins, Crónica do desassossego:
"O homem é do tamanho do sofrimento que for capaz de suportar por amor. Quando assim é, a chama da esperança que ilumina os sonhos não pode ser apagada por inverno algum. Quanto maior o sofrimento, maior será o interior de quem o experimenta, mais espaço passando a haver para acolher a alegria pura dos dias que estão para vir.
A solidão da dor aperfeiçoa o indivíduo na medida em que lhe permite aprofundar-se a partir dessa ferida que à superfície o faz gritar.
O sofrimento robustece o esqueleto e mantém o espírito humano erguido. (...)"
(imagem tirada daqui)
Peter Singer é, alegadamente, um utilitarista, sendo, inegavelmente, um dos filósofos contemporâneos mais respeitados. Contudo, defender a esterilização da humanidade por via a alcançar a extinção, justificando tal ideia com o facto de as próximas gerações virem ao mundo para sofrer, colocando as questões “Is life worth living? Are the interests of a future child a reason for bringing that child into existence? And is the continuance of our species justifiable in the face of our knowledge that it will certainly bring suffering to innocent future human beings?”, parece-me uma idiotice de quem já chegou a um patamar em que se pode dar ao luxo de dizer o que bem lhe apetecer.
Para mim que, entre as várias influências, tenho uma inspiração randiana, a vida humana é o principal valor. E é inviolável. Creio que para a maioria das correntes filosóficas e religiões se aplica o mesmo princípio. O sofrimento continuará sempre a existir. A dor continuará sempre a existir. Aliás, é parte inegável da vida. Além do mais, é impossível afirmar com toda a certeza que as futuras gerações terão uma pior qualidade de vida que as presentes.
Ironicamente, ou não, Singer revela, nesta posição, aquele que é precisamente o principal problema do utilitarismo. Este, tem por objectivo a procura única e exclusiva da felicidade, por via de decisões racionais e utilitárias que visem maximizar o bem-estar - como se fosse possível eliminar definitivamente o sofrimento e a dor. Isto é impossível de alcançar na sua plenitude. Porque não somos completamente racionais e porque por mais cálculos utilitários que se façam, é praticamente impossível determinar qual a escolha/decisão óptima. O utilitarismo, no seu extremo, leva à estagnação e ao niilismo - é este o seu principal problema. No caso de Singer, à defesa da extinção da humanidade.
Sou obrigado, portanto, a concordar com Wesley Smith:
Não deixa de ser um interessante tema de discussão por estes dias. Mais um a juntar ao relativismo moral que grassa no Ocidente.