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Quando escrevi o post anterior, ainda não tinha visto a notícia sobre a reposição parcial dos salários na função pública. Deixarmo-nos enredar na tentativa de dividir para reinar, ou seja, na oposição entre trabalhadores do sector público e os do sector privado, é um favor que fazemos ao governo, pelo que, sobre isto, só tenho a acrescentar que:
i) o governo liderado pelo senhor "que se lixem as eleições" e do qual fazem parte inúmeras pessoas que muito se insurgiram contra os aumentos salariais na função pública protagonizados pelo governo de José Sócrates em ano de eleições, é o mesmo que incorre na mais que velhinha e primária jogada eleitoralista de agradar aos funcionários públicos, parecendo acreditar mesmo que consegue fazer destes estúpidos;
ii) vindo i) de um governo que nutre um profundo desprezo pelo sector público e que se regozija quando se fala no privado, no empreendedorismo e afins, acrescenta ao eleitoralismo contornos de um cinismo particularmente abjecto, de que Maquiavel ficaria orgulhoso;
e iii) o spin pró-governamental que se queixa de que a Constituição e o Tribunal Constitucional e as pessoas não querem ou não deixam reduzir a despesa pública já era, per se, risível, mas em virtude de i) torna-se particularmente ridículo - e isto sem levar em consideração brincadeiras como o já esquecido guião da reforma do Estado. Contratam para o governo uns tipos que de política só percebem do carreirismo partidário ou das tretas que as agências de comunicação lhes impingem e depois admiram-se que o spin seja patético. Até nisto somos um atraso de vida.
Que ofereça um tacho ao João Miranda? O simplismo demagógico e o esforço são tão pronunciados, que de certeza encontrarão alguma coisa que lhe sirva na perfeição. Director de spin doctoring da São Caetano, por exemplo.
E o João Miranda está cada vez mais hilariante. Tenta rebater o único estudo sério sobre a TSU em meia dúzia de linhas, das quais o ponto 3 não tem qualquer relação com os resultados do estudo, e termina assim: "No entanto só fiz uma leitura muito na diagonal e pode-me ter escapado alguma coisa."
Candidatos a economistas e fiscalistas há muitos. A spinners também. Pessoas que percebam de política há muito poucas - seguindo na esteira do trio Passos-Gaspar-Relvas, um desastre político em roda livre.
Afonso, no que diz respeito a mariquices e capacidades argumentativas, estamos conversados desde que tu e o Rodrigo amuaram por eu ter evidenciado as falhas gritantes do vosso patético vídeo para a Finlândia.
P.S. - Vamos continuar com esta competição criançola para ver quem tem o dito cujo maior? Sinto-me um privilegiado por gastarem as vossas energias e notáveis capacidades intelectuais e argumentativas com a minha pessoa mas ou montam uma central blogosférica abrantina a sério ou isto assim nem chega a ser minimamente desafiante e estimulante.
Folgo em ver que o Rodrigo está a aprender rapidamente. Entre as técnicas clássicas dos Abrantes ou dos spin doctors em geral, o Rodrigo aplicou três em apenas dois posts:
1 - Vitimização. Eu não presumi nada. Eu realizei um juízo de valor com base no que me é dado observar do teu comportamento, comparando atitudes/opiniões perante situações semelhantes, que têm resultados diferentes em função do partido que está no governo. E desta avaliação resultou a classificação de contorcionista e abrantes, sendo este último termo utilizado para designar spin doctors em geral, pelo menos por mim. A capacidade e possibilidade de crítica está no cerne de qualquer sociedade livre e democracia liberal saudável. Já vai sendo tempo de em Portugal deixarmos de ser umas virgens ofendidas e começarmos a saber lidar com as críticas que nos façam, sem vitimizações.
2 - Colocar palavras na boca/escrita dos interlocutores. Esta o Rodrigo já tinha tentado aplicar hoje. Nem eu nem o André dissemos que concordávamos com as medidas do ministro. Mostrámo-nos, isso sim, defensores da privatização da RTP e prometemos ser os primeiros a aplaudir se esta alguma vez ocorrer.
3 - Desviar o assunto - Aproveitando o ponto anterior, o Rodrigo introduziu outra temática que, se tem importância, não deixa de ser lateral em relação ao que está em questão: Miguel Relvas tentou chantagear uma jornalista, ameaçando-a com a publicação na Internet de dados da sua vida privada. Não preciso de caracterizar alguém que tem uma atitude destas, pois não?
Um dos grandes males da política portuguesa é o culto do chefe nos partidos políticos, que normalmente implica um seguidismo acéfalo, tornando a política em futebolítica. Os partidos não são, ou não devem ser, claques de futebol. Para mim, acima deste clubismo estúpido estão os princípios e as políticas prosseguidas. Se estas, na essência, são as mesmas, erradas, quer esteja o PS, o PSD ou o CDS no poder, e se a única coisa que os distingue é aquilo a que acham por bem (ou mal) destinar o dinheiro dos outros, então criticarmos uns e defendermos outros quando adoptam exactamente o mesmo tipo de medidas e, pior, quando tomam atitudes moralmente reprováveis em moldes semelhantes, é verdadeiramente um acto hipócrita e revelador do pântano em que vivemos.
O Rodrigo diz que eu digo que ele não é da minha direita. Passando ao lado do facto de eu não ter dito coisa do género, tendo apenas citado o Ricardo Lima, o Rodrigo até tem razão. Alguém faz o favor de lhe explicar que a social-democracia não é de direita?
Ler isto primeiro, e depois o André Azevedo Alves, Um verdadeiro espírito livre (2):
"O Rodrigo Moita de Deus sente-se, compreensivelmente, pressionado, mas da minha parte não tem nada a temer. Lido com blogues e bloggers há quase uma década. Se fosse pessoa para fazer o que o Rodrigo Moita de Deus teme, já todos – até o próprio o Rodrigo Moita de Deus – teriam dado por isso."
O Rodrigo diz que eu não gosto de discordâncias. Claro que ele não é obrigado a ler-nos e a perceber que neste blog, por exemplo, temos uma esquerdista feminista e europeísta e um conservador católico tradicionalista. Por acaso estou quase sempre em desacordo com eles. E não tenho por hábito amuar quando alguém de uma tribo de que faça parte discorda de mim (vídeo para a Finlândia, ring a bell?). Mas compreendo o fim da irreverência do Rodrigo. São "ossos do ofício".
* título roubado ao André Azevedo Alves.
"A malta do 31 podia aprender umas coisas com os Abrantes. Com quase 1 ano de governo ainda parecem amadores."
*título roubado ao 31 da Armada