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112 recebe enchente de chamadas de pessoas com ideias suicidas
Mas não, claro que nada justifica o protesto - ainda que este extravase a suposta legalidade. Não há descontentamento generalizado algum e o país está cada vez melhor. Só não vi tanta gente preocupada com a liberdade de expressão quando Relvas andou a silenciar jornalistas (conforme nos recorda o Pedro Picoito), ou até mesmo com a legalidade, quando relativizaram o episódio da licenciatura forjada. A verticalidade tem dias, como se sabe. Poucos ou nenhuns, infelizmente. Um dia, se e quando a direitalhada descer do pedestal estratosférico onde vive ultimamente, talvez seja tarde demais. Como costuma dizer o Professor José Adelino Maltez, o maquiavelismo "parecendo ter razão no curto prazo, logo a perde a médio e a longo prazos. Porque, além de ser uma péssima moral é uma não menos péssima política."
Escreveu Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, «E sobretudo, por amor de Deus, não tomemos a sério nada do que fazemos. Façamos uma antedescoberta da futilidade do que fazemos.» Se tudo o que fazemos é fútil, se a vida não tem sentido e, sendo assim, dos acasos que nos sucedem não podemos retirar lições, já que são apenas isso, acasos, ainda que pareçam ligados entre si e se revistam de um amargo sabor irónico que nos faz pensar nas palavras de Chesterton a todo o momento, e se esses acasos, especialmente quando são fruto de injustiças gritantes, nos roubam os sonhos e nos compelem no sentido da mera existência - por oposição à vivência - então a afirmação com que Camus principia O Mito de Sísifo ganha ainda mais força: «Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.» Escreveu Unamuno que os portugueses são um povo de suicidas. Ouvi hoje de manhã, na Antena 1, que o número de suicídios em Portugal aumentou. Provavelmente por causa da crise. O que se me afigura uma cobardia. Pôr cobro à vida por questões financeiras, por já não se conseguir viver ao mesmo nível de outrora, é próprio de espíritos fracos. Já colocar cobro à vida em virtude de um abalo existencial, é outra história completamente diferente. Surge então uma outra questão: onde é que se arranja coragem para tal? E mesmo que se consiga arranjar coragem, apresenta-se-nos ainda uma derradeira questão: e os outros que cá ficam? É que o suicídio é um egoísmo. E talvez seja nos outros que cá ficam que podemos encontrar o sentido da vida.
Leitura complementar: Do sentido da vida.