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No dia em que se tornam públicas as consequências da gestão ruinosa da CGD, o assunto quase passa despercebido nos telejornais, as televisões noticiosas mantêm a sua programação habitual com os ignóbeis programas de comentário futebolístico, num dos quais até está André Ventura, pelo que é bom ver que um político à beira de formar um partido tem as prioridades bem definidas, e apenas a RTP3 dedica um programa à situação na banca, pasme-se, com Faria de Oliveira, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, em clara operação de contenção de danos. Já dizia Rodrigo da Fonseca que "nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste”.
Se as Televisões desistem mesmo de acompanhar as campanhas autárquicas temos motivo para celebrar. Não precisamos de acompanhar as sessões brejeiras que correm as feiras de mangas arregaçadas e cabelo ao vento. Não necessitamos de ouvir a mesma conversa de sempre, de escutar as vozes alteradas daqueles que profanam o acervo da verdade. Não queremos ver as bandeiras de um mesmo caos, e testemunhar a oferta de esferográficas e porta-chaves. Que maravilha não termos de assistir a esse triste espectáculo que não acrescenta valor, que não ajuda ao discernimento - à decisão a tomar. O único problema que vislumbro neste black-out das estações de televisão serão os efeitos secundários que iremos sentir. Os partidos políticos não se irão contentar em colocar uma mira no ar. Os candidatos não vão deixar de apontar as armas e barões aos visados de sempre que enchem as praças de alegria de norte a sul do país. Irão procurar a sua sorte por outros meios de comunicação. Aguardem a ressonância. As rádios que nunca estiveram desligadas dos eventos, têm aqui uma oportunidade de ouro para regressar de um modo saudosista ao tempo das declarações de guerra e paz, anunciadas sobre a onda média. As emissões radiofónicas podem servir para afastar o efeito enganador das imagens. Os destinatários, embora não possam baixar o volume, podem-se concentrar nas ideias dos proponentes ou na sua ausência. As redes sociais vão ser também alvo da ira dos mais de setecentos candidatos a lugar comum que também reclamam os seus quinze minutos de fama política. Vamos ter videos a dar com o pau, literalmente. Os blogues vão servir para fornecer indecisos, comprometidos, ausentes e presentes (posso falar à vontade, não voto em Portugal) com chavões como estes que estou prá aqui a vender. Se a SIC, a TVI e a RTP não dão conta do recado, os candidatos da Amadora e arredores irão encontrar meios alternativos para chegar às gentes. Já vimos os lindos cartazes e outdoors das diversas e criativas campanhas autárquicas. Agora imaginem o pior. Imaginem o que não farão estas encomendas para ganhar as atenções dispensadas pelas estações de televisão. Nas próximas semanas seremos testemunhas de estranhas ocorrências. O espírito do desenrasca também faz parte das sedes de campanha. Pelo que percebi, e por forma a que haja motivo de reportagem, a matéria deve ter um cariz declaradamente nacional. Ora não vos parece um absurdo? Não era suposto as eleições autárquicas se centrarem nas questões locais, os problemas do concelho? Querem ver que daqui a nada temos um candidato da terra a mandar bitates com relevência nacional? Não querem ver que no meio da confusão ainda aparece alguém com uma ideia de jeito para o país? Querem ver que isto ainda acaba a bem.